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Estado de Minas ENTREVISTA

Alessandro Vieira: 'Constru��o da federa��o exige escuta muito atenta'

Em entrevista ao Correio, pr�-candidato � Presid�ncia defende cautela na ado��o de modelo que, segundo ele, pode sufocar pequenas legendas


07/02/2022 14:50

Alessandro Vieira gesticula com as mãos
Entrevista com o senador Alessandro Vieira - partido cidadania Sergipe (foto: Minervino J�nior/CB/D.A.Press )
Com interesse direto em uma eventual federa��o que reuniria o Cidadania, o PSDB, o PDT e o Podemos, o senador Alessandro Vieira aguarda o consenso entre as legendas para bater o martelo sobre a candidatura ao Pal�cio do Planalto. Eleito na onda da "nova pol�tica" de 2018, Vieira computou 474.449 votos - e acredita ter honrado o voto de confian�a dado pelos eleitores de Sergipe. Em 2022, apesar de o eleitorado sinalizar interesse por pol�ticos mais experientes, o parlamentar acredita que ainda h� espa�o para novos rostos. � por isso que defende a cautela na discuss�o acerca das federa��es, para que regras impostas a "toque de caixa" n�o limitem a ascens�o de novas lideran�as e n�o sufoquem partidos menores, como o Cidadania.

Nesta entrevista ao Correio, o senador ressalta, ainda, que a consolida��o da fus�o com o PSDB n�o inviabiliza sua candidatura � presid�ncia - da qual n�o quer abrir m�o "em prol de um candidato que n�o mostra viabilidade agora", referindo-se a Jo�o Doria (PSDB-SP).

Apesar de n�o declarar quem apoiaria num eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro, o parlamentar mant�m severas cr�ticas ao atual presidente. Define-o como o "pior da hist�ria". Apesar disso, Vieira n�o acredita que a polariza��o permanecer�. "N�s teremos um nome da terceira via", aposta. Confira os principais trechos da entrevista.


O senhor votou contra o indicativo de se formar uma federa��o (com PSDB, Podemos e PDT) votado pela Executiva do Cidadania. O senhor questiona a alian�a com esses partidos ou a forma como o processo est� sendo conduzido? 


A forma de constru��o da federa��o exige uma escuta muito atenta da base do partido, dos diret�rios estaduais e dos parlamentares, porque � um casamento de quatro anos. Ent�o eu vou ter regras fixadas agora para as elei��es de 2022, 2024 e 2026, isso � muito complexo. Um regramento malfeito vai matar o surgimento de novas lideran�as nos estados e munic�pios, porque vou cristalizar agora o partido com o comando daquele que hoje � maior, e isso n�o � bom para democracia, na minha opini�o.


O senhor defende mais debate, ent�o.


N�o tenho nada contra o instrumento da federa��o, da fus�o, mas ela deve acontecer com prazo que permita ter uma discuss�o mais profunda, e ela n�o aconteceu ainda. Na reuni�o do Cidadania, est�vamos votando o indicativo favor�vel a uma federa��o sem conhecimento de regras, e isso � inaceit�vel, na minha opini�o. S� serve para manter cart�rio partid�rio e para salvar candidaturas � reelei��o de quem n�o fez trabalho de base e que agora tem dificuldade de construir uma nominata. Eu confio e gosto da federa��o, tenho certeza e apresentei projetos no sentido de que o Brasil precisa concentrar mais o n�mero de partidos. Mas isso n�o pode ser feito de qualquer jeito, sen�o voc� vai matar a renova��o pol�tica.

O que vai acontecer agora?


No dia 15, vamos voltar ao diret�rio nacional, e vou sustentar essa mesma posi��o. Se at� l� n�o tivermos uma constru��o de regras aceitas pelos dois partidos, com esse grau de complexidade, meu voto � contr�rio. Se n�s construirmos regras vi�veis e aceitas pelos dois partidos, independentemente de qual seja o partido, meu voto � favor�vel, porque meu interesse n�o pode ser maior do que os interesses do Cidadania.


Ent�o, ainda � preciso balizar esses interesses dos dois lados?


Com muita clareza, eu tenho que garantir renova��o, eu tenho que garantir representatividade, diversidade. Vamos dizer que eu fa�a uma federa��o com o PSDB, que � bem maior que o Cidadania, tem pouco mais que o dobro de votos, e estabele�o uma regra de que, quem hoje � prefeito, quem tem mandato, comanda a federa��o nos pr�ximos quatro anos. Isso vai matar o surgimento de novas lideran�as dentro do partido. N�o consigo enxergar isso como algo positivo para n�s.

Esse modelo restringe as possibilidades do partido?


Com certeza. E olha que minha situa��o � a mais c�moda do mundo, sou um senador no meio do mandato. Um senador majorit�rio n�o tem fidelidade partid�ria compuls�ria, ent�o voc� pode fazer o que quiser. Minha preocupa��o n�o � comigo, � com a democracia brasileira e com a base do partido. Eu tenho restri��es muito grandes em rela��o ao PSDB, por parte de Minas Gerais e Rio de Janeiro, segundo e terceiro maiores col�gios eleitorais do Brasil. Vou ignorar isso? Tratar essa quest�o inadequadamente? � preciso mais tempo para discutir, e acho que n�o vamos conseguir ter esse tempo.

Seria poss�vel concorrer com o Doria em uma federa��o com o PSDB?


Recentes pesquisas mostram-nos empatados. S� que ele � conhecido pelo Brasil inteiro, eu sou conhecido por um ter�o do pa�s. Ele tem uma rejei��o de 60 pontos percentuais, eu n�o tenho rejei��o. Ent�o, n�o vejo problema. N�o sou candidato de mim mesmo. Tenho uma preocupa��o muito grande em garantir uma alternativa pro centro democr�tico, e ela n�o precisa ter o meu nome. Mas precisa ter regras claras, democr�ticas e uma objetividade. Eu posso abrir m�o da minha candidatura em prol de um candidato que n�o mostra viabilidade agora, sem nenhum tipo de planejamento ou constru��o? N�o acho certo. N�o acho que seria vi�vel ou interessante. Mas a gente est� construindo o tempo inteiro, tentando viabilizar uma federa��o ou coliga��o, que � outra forma absolutamente vi�vel de trabalho pol�tico.

Como foram as conversas com os partidos?


Fomos procurados efetivamente pelo Podemos, PSDB, PDT e MDB. A senadora Simone Tebet e o presidente Baleia Rossi manifestaram interesse de trabalhar em prol de uma federa��o. Mas � preciso formar melhor a base, com mais detalhes. As consequ�ncias de uma federa��o n�o s�o apenas para 2022. V�o impactar nas elei��es de governador, prefeitos, vereadores e novamente presidente da Rep�blica. No final, nenhum indicativo foi aprovado, a Executiva rejeitou indicativos favor�veis a A, B ou C. Temos at� o dia 15 para nos informarmos bem com os partidos, conversar bem com as pessoas. Ter uma decis�o madura.


O senhor considera os senadores Rodrigo Pacheco e Simone Tebet representantes do Centro Democr�tico. Existe possibilidade de apoio ou uni�o com esses nomes?


Em primeiro lugar, precisamos de pessoas que tenham capacidade para gerir um pa�s do tamanho do Brasil. Em segundo, precisamos de algu�m com capacidade de romper a bolha de polariza��o. Nesse momento eu n�o vejo essa capacidade por parte de Bolsonaro, Lula, Doria, Ciro ou Sergio Moro. N�o estou fazendo an�lise das qualidades deles; � uma an�lise pol�tica, s�o nomes que polarizam. Alguns porque gostam de confronto, que � o caso do Ciro; outros porque j� t�m amarras e inimizades, como o Moro. O Brasil n�o precisa de mais quatro anos de conflito; precisa de quatro anos de uma gest�o s�ria, equilibrada, s�bria.

Pacheco, Tebet e o senhor preencheriam essa lacuna?


E eu vejo que eu, Pacheco e Simone temos condi��es de fazer coisas nesse sentido, por n�o termos os problemas que esses outros nomes carregam. Al�m disso, tamb�m n�o temos rejei��o. Temos a possibilidade de chamar o Brasil para uma conviv�ncia civilizada, construtiva, para resolver os problemas que n�s temos. Se isso vai acontecer ou n�o, n�o posso prever, mas estou trabalhando para que se concretize. Se Ciro, Moro ou Doria demonstrarem essa capacidade, que hoje eu n�o vejo, tamb�m n�o tenho problema nenhum em assumir isso e construir algo. Mas n�o vejo possibilidade nenhuma de isso acontecer com Lula e Bolsonaro, por conta do n�vel de polariza��o que eles representam.

O que o eleitor deve considerar em 2022?


Precisamos trazer os adultos � sala para resolver a desigualdade brutal que o povo brasileiro est� sofrendo. O Congresso precisa formar uma maioria para aprovar as reformas que precisamos, come�ando pela reforma tribut�ria.

A reforma tribut�ria seria o primeiro passo para a recupera��o do Brasil?


Sem d�vidas, porque � o caminho mais t�cnico e racional para reduzir a desigualdade social. Primeiro temos que recuperar o nosso Or�amento, que est� sequestrado pelo Centr�o, por interesses de corrup��o. Tem de resgatar isso para que o Executivo tenha poder de gest�o novamente.

H� outras urg�ncias?


N�o estou menosprezando a import�ncia de outras pautas como a educa��o, por exemplo. Nesses �ltimos quatro anos, por m�rito do Bolsonaro, o sistema educacional brasileiro, que j� n�o tinha bons resultados de 20 anos para c�, foi destru�do. � preciso colocar a educa��o como eixo do Executivo, a fim de preparar essa gera��o para o mercado de trabalho do futuro.

Os candidatos � presid�ncia perdem muito tempo com quest�es ideol�gicas e debatem pouco medidas que poderiam resultar mudan�as efetivas?

Sem d�vida nenhuma, h� uma escolha deliberada pela polariza��o, por assuntos que geram repercuss�o midi�tica. Com falas que buscam uma "est�tica das redes sociais", que n�o seguem a raz�o, mas sim o algoritmo, o que gera mais repercuss�o. � uma frase grosseira ou um frango com farofa. Mas o que a gente precisa n�o � o frango com farofa - nada contra, porque eu gosto. Precisamos de gente s�ria sentando � mesa, que questione por que as coisas n�o avan�am. Qual o grande gargalo que temos hoje? Como � que eu fa�o uma maioria parlamentar sem corrup��o? � poss�vel fazer isso? Na minha vis�o, sim, com muito trabalho e com compartilhamento de poder.


Como ocorreria isso?


Precisamos ter a clareza, tanto interna quanto para o eleitorado, de como vamos governar. Vamos recriar um mensal�o do PT ou Or�amento Secreto do Bolsonaro? Qual vai ser o m�todo? Na minha vis�o, temos de fazer uma constru��o a partir da virada do primeiro para o segundo turno, quando voc� j� sabe a composi��o do Congresso. E voc� faz uma constru��o para governar, na linha mais ou menos do que fazem os pa�ses parlamentaristas. Eu preciso construir maioria com o povo sabendo dessa constru��o. E n�o com a compra de votos.

O senhor foi eleito em 2018 num contexto de anseio por renova��o da pol�tica. Essa tend�ncia de renova��o deve perdurar no legislativo, ou o eleitor vai buscar mais pol�ticos experientes?

Existe uma relativa taxa de renova��o alta no parlamento a cada quatro anos. Sempre tem uma renova��o, especialmente na C�mara dos Deputados. De fato, 2018 foi acima da m�dia e veio com uma onda de gente que realmente n�o se preparou para cumprir essa miss�o, e isso gera uma decep��o. O pr�prio governo Bolsonaro gera uma decep��o nas pessoas. Mas isso n�o impede que se tenha, ainda assim, o surgimento de pessoas que consigam recuperar esse sentimento de esperan�a. E temos casos de pessoas que chegaram em um primeiro mandato e que funcionaram.

O senhor se inclui nessa lista?


Sem nenhum tipo de falsa mod�stia, o meu mandato funcionou nesses quatro anos. Como defesa ao eleitor, como defesa do interesse do Brasil, como representa��o, como busca de recursos para o meu estado. Temos como m�tricas o n�mero de relatorias, de presen�a em comiss�es, de projetos. Com isso, fico entre os cinco que mais desempenham entre os 81 senadores. Ser parlamentar exige humildade, exige preparo para montar uma boa equipe. Acho que tem sim, espa�o, para acreditar em renova��o com qualidade.

Para o senhor, Bolsonaro � o "o pior presidente da hist�ria". Por qu�?


S�o v�rias raz�es. Bolsonaro n�o tem projeto de pa�s, n�o trabalha. Ele certamente � o presidente que menos trabalhou na hist�ria. Voc� n�o tem not�cia de uma reuni�o de Bolsonaro discutindo como reduzir o pre�o dos combust�veis, como combater o desemprego, nada. � s� conversa fiada, internet e pequenos eventos midi�ticos para manter uma base polarizada. Do ponto de vista �tico, fez tudo ao contr�rio do que prometeu.

Por qu�?


Ele prometeu um Brasil que ia deixar para tr�s o Centr�o, que ia ser mais liberal, que ia privatizar, que ia ser honesto. E o que ele entregou foi o governo e o Or�amento ao Centr�o, como nunca aconteceu na hist�ria. N�o tenho d�vidas de que ele foi o pior presidente. Nunca fui eleitor do PT. N�o vou dizer que o governo do Lula e da Dilma foram fant�sticos. Mas o que Bolsonaro faz de destrui��o, eu n�o consigo lembrar, na nossa hist�ria, de algu�m ter feito.

Num segundo turno entre Lula e Bolsonaro, o senhor ficaria com Lula?

Num eventual segundo turno, n�s teremos um nome da terceira via. Tenho grande convic��o de que teremos um nome da terceira via.

* Estagi�rio sob a supervis�o de Carlos Alexandre de Souza


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