O criador da pe�a, o jornalista e pesquisador de deepfake Bruno Sartori, relata na publica��o ter usado a tecnologia para inserir o rosto de Lula no corpo de outra pessoa e transferir o timbre de sua voz para a fala original. Ele j� compartilhou outros exemplos em seu perfil, como um v�deo que simula o pr�-candidato S�rgio Moro (Podemos) recitando um poema sat�rico e um homem falando com a exata voz da ex-presidente Dilma Rousseff. Procurado pela reportagem, Sartori n�o quis se manifestar.
Deepfakes, como o nome sugere - algo como "mentira profunda", em tradu��o livre -, � uma categoria de farsa que vai al�m das fake news tradicionais. Diferentemente do que ocorre nas montagens tradicionais, os personagens retratados aparecem em v�deos e podem gesticular, falar e inclusive imitar a voz das v�timas - nesse caso, a t�cnica se chama deepdub.
Os conte�dos s�o feitos por meio de intelig�ncia artificial. Para desavisados, � muito dif�cil distinguir o que � real do que � falso - uma dica � se atentar para certa estranheza nas express�es faciais, discrep�ncias no tom da pele, entre outras min�cias.
Segundo o pesquisador Anderson Soares, chefe do centro de intelig�ncia artificial da Universidade Federal de Goi�s (UFG), dois fatores criam o ambiente perfeito para a dissemina��o de deepfakes. Primeiro, o avan�o das ferramentas digitais e o amadurecimento da tecnologia nos �ltimos anos. Segundo, o fato de haver v�deos e �udios dispon�veis em abund�ncia para que o computador recolha os dados de apar�ncia e voz de que precisa.
Soares afirma que a tend�ncia � que a t�cnica se popularize e passe a estar dispon�vel mesmo para quem n�o trabalha com tecnologia nos pr�ximos anos. Via aplicativo de celular, por exemplo - alguns j� existem, como o Reface App. "Em breve, qualquer pessoa vai conseguir produzir um v�deo ou voz falsa, � quest�o de pouco tempo".
Entretanto, o pesquisador argumenta que o melhor caminho n�o � proibir o uso da ferramenta. Ela pode ser �til para melhorar a dublagem de filmes, por exemplo, e bani-la afetaria a competitividade do Brasil no ramo da tecnologia. "O caminho � que os �rg�os competentes tenham agilidade para coibir pr�ticas anti�ticas, sobretudo no que diz respeito �s elei��es, e a sociedade precisa ser educada para reconhecer v�deos falsos", afirma.
Na campanha eleitoral de 2018, o ent�o candidato a governador Jo�o Doria (PSDB) foi alvo de uma deepfake. � �poca, passou a circular nas redes um v�deo com cenas de sexo envolvendo seis mulheres e um homem, que na grava��o foi identificado como sendo o tucano. O material foi explorado por advers�rios para enfraquec�-lo na disputa.
"Hoje eu vi um v�deo vergonhoso nas redes sociais, que foi produzido por algu�m que s� quer o meu mal e o mal da minha fam�lia. Uma produ��o grotesca. Fake news. Pedi a um perito criminal que verificasse essas imagens. Pedi tamb�m medidas judiciais e criminais contra os autores desse v�deo. Lamento muito que a campanha em S�o Paulo tenha chegado a esse n�vel de ferir a nossa fam�lia", disse o tucano naquela ocasi�o.
N�o � dif�cil, hoje, encontrar esse tipo de montagem envolvendo pol�ticos na internet. Um caso famoso foi o que simulou o presidente Jair Bolsonaro (PL) elogiando as vacinas. Outro mostra o rosto do presidente no personagem mexicano Chapolim Colorado. Tamb�m h� um exemplo em que o chefe do Executivo canta a can��o "Admir�vel Gado Novo", de Z� Ramalho; Silvio Santos j� apresentou o Jornal Nacional; Lula j� cantou uma m�sica de Pabllo Vittar; e at� o ex-presidente americano Donald Trump j� chamou Bolsonaro de "Bolsolino".
Questiona sobre como se prepara para enfrentar v�deos falsos, a equipe de Lula afirmou que n�o comenta estrat�gias de comunica��o.