
Na �ltima sexta-feira (10/6), o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, fez algumas considera��es sobre a Opera��o Lava-Jato. Segundo o magistrado, "ningu�m pode esquecer" que a corrup��o ocorreu no Brasil. Fux mencionou os R$ 51 milh�es em dinheiro vivo apreendidos em um apartamento ligado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima em 2017. Tamb�m fez refer�ncia aos recursos desviados da Petrobras e ao esc�ndalo do mensal�o.
"Ningu�m pode esquecer o que ocorreu no Brasil, no mensal�o, na Lava-Jato, muito embora tenha havido uma anula��o formal, mas aqueles R$ 50 milh�es eram verdadeiros, n�o eram notas americanas falsificadas. O gerente que trabalhava na Petrobras devolveu US$ 98 milh�es e confessou efetivamente que tinha assim agido", disse o ministro.
Ao mencionar que a corrup��o revelada pela Lava-Jato efetivamente existiu e que anula��o de parte dos processos foi "formal", o presidente do STF retomou um tema controverso: a credibilidade e o peso pol�tico da for�a-tarefa que j� foi considerada a maior opera��o de combate � corrup��o no Brasil.
No ano passado, Fux foi voto vencido no julgamento do STF que anulou as condena��es da Justi�a Federal em Curitiba contra o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT). Tamb�m foi vencido no julgamento que declarou o ex-juiz Sergio Moro parcial ao condenar o petista na a��o do tr�plex do Guaruj� (SP).
Deflagrada em 2014, a Lava-Jato atingiu como um vendaval as elei��es de 2018. Levou � pris�o um ex-presidente da Rep�blica, jogou por terra candidaturas de pesos pesados da pol�tica e, para muitos, contribuiu para a vit�ria de Jair Bolsonaro na corrida presidencial. Passados quatro anos, a opera��o ainda atrai pol�micas.
Para Lu�s Henrique Machado, advogado do senador Renan Calheiros (MDB-AL) nos processos da Lava-Jato, a for�a-tarefa perdeu relev�ncia para o eleitor. "A opera��o chega nestas elei��es enfraquecida em termos de argumenta��o pol�tica. N�o ter� efeito pr�tico", acredita.
Machado acredita que as narrativas ser�o usadas, mas n�o com for�a suficiente para influenciar o voto, como ocorreu em 2018. "Tanto que a pessoa que mais sofreu as consequ�ncias da Lava-Jato, o ex-presidente Lula, aparece � frente das pesquisas", exemplifica. "Em 2022, o furac�o se tornou uma brisa. O debate persiste, mas n�o como em 2018. De fato, a Lava-Jato gerou a descren�a da classe pol�tica, o que terminou, como consequ�ncia, elegendo o atual presidente, Jair Bolsonaro", observa.
Aury Lopes, advogado de defesa do ex-deputado federal Eduardo Cunha, concorda com Machado de que utilizar a Lava-Jato hoje, como argumento pol�tico, ter� efeito restrito na elei��o. "Embora (a Lava-Jato) tenha tido um m�rito inicial, revelou-se um imenso antro de irregularidades. Mas acho que n�o � uma moeda forte em termos de argumento pol�tico. Terminou de maneira desprestigiada, com um final muito triste, com as irregularidades, que, bem ou mal, vinham sendo denunciadas", disse.
Velha pol�tica
Ap�s despertar o sentimento da antipol�tica nas �ltimas elei��es, a opera��o poder� levar a um efeito contr�rio em 2022: o retorno da pol�tica tradicional. "Acredito que alguns caciques, que n�o conseguiram a reelei��o em 2018, possam voltar agora em 2022. Pode ser a volta da pol�tica tradicional, que, em grande parte das vezes, � quem realmente discute projetos de na��o. Diferente do atual governo, que prioriza as pautas de costumes", projeta Machado.
Em 2018, a Lava-Jato transformou Sergio Moro em her�i nacional. Passados quatro anos, e ap�s uma passagem no governo Bolsonaro, o ex-juiz enfrenta dissabores na pol�tica. Ap�s muitas idas e vindas, desistiu de concorrer � Presid�ncia da Rep�blica pelo Uni�o Brasil. E avalia se vai disputar um cargo p�blico pelo Paran�.
"A partir do momento em que o Moro ingressa na pol�tica, fica evidente que, l� atr�s, j� havia um projeto de poder. A partir do momento em que ele sai do governo Bolsonaro e integra um partido pol�tico, a gente entende o que aconteceu. O tempo vai confirmando, por meio das a��es desses personagens, quais eram as inten��es iniciais deles", analisa Machado. O advogado de Renan Calheiros relembra, ainda, a popularidade do ex-juiz. "O que era mais dif�cil era reverter uma decis�o do Moro, porque ela vinha com muita carga de popularidade.
Procurado pelo Correio, o ex-juiz responde �s cr�ticas com n�meros. "S� em Curitiba, a Lava-Jato garantiu que R$ 14 bilh�es fossem recuperados ap�s 79 opera��es da Pol�cia Federal e Minist�rio P�blico, a abertura de 130 a��es penais, que resultaram em 174 condenados. Tamb�m n�o podemos esquecer os 209 acordos de colabora��o premiada e 17 acordos de leni�ncia fechados", enumera.
"Querem negar os fatos, o trabalho de institui��es p�blicas e servidores comprometidos com a �tica e o combate � corrup��o. Agora, querem me cobrar at� o preju�zo decorrente � roubalheira que a Lava-Jato descobriu durante as gest�es do PT. Uma total invers�o de valores", rebate.
Moro atribui o desmonte da Lava-Jato ao fato da pauta do combate � corrup��o perder for�a. "Quando a lei n�o vale para todos, a maioria dos brasileiros sempre sair� perdendo. Por isso, antigos integrantes da Lava-Jato se viram obrigados a mudar de rota para poderem dar seguimento � sua luta por um Brasil mais justo, menos corrupto e menos desigual. Muitos se unir�o a n�s nesta nova jornada, tanto que recebo apoios onde quer que eu v�", afirma o ex-juiz.
Bancada anticorrup��o
Coordenador da Lava-Jato de Curitiba, o ex-procurador da Rep�blica Deltan Dallagnol se diz "perplexo" em ver o ex-presidente Lula ocupando posi��o de destaque nas pesquisas. "Sou absolutamente contra que qualquer pessoa, em rela��o � qual pesam fortes evid�ncias de corrup��o, ocupe posi��es relevantes de decis�o na vida p�blica. Vejo com certa perplexidade o ex-presidente Lula ocupar essa posi��o", disse ao Correio.
Dallagnol atribui a performance do petista a dois fatores. "Em primeiro lugar, h� uma m�quina de narrativas num tempo de p�s-verdade. Para muitas pessoas, cren�as passaram a se sobrepor a fatos, e elas se realimentam das cren�as nas bolhas sociais em que elas vivem", observa o ex-procurador e pr�-candidato a deputado federal pelo Podemos.
"Em segundo lugar, atribuo isso a uma percep��o equivocada de que, dentro do governo Lula, houve uma grande prosperidade econ�mica, que decorreu da gest�o dele, quando na verdade n�s sabemos que foi uma �poca de explos�o do mercado de commodities", argumenta.
Para Dallagnol, o que mais limitou a continuidade da Lava-Jato foi o Congresso Nacional, ao rejeitar a reforma da anticorrup��o e aprovar "mudan�as legislativas que minam o combate � corrup��o". Esses movimentos, segundo ele, continuam. Ele cita, como exemplo, as articula��es de advers�rios pol�ticos para impugnarem a pr�-candidatura dele no Paran�.
"Certamente os pol�ticos corruptos que sempre estiveram no Congresso Nacional n�o querem que pessoas que combatam a corrup��o cheguem l�. Porque, no momento em que a gente tiver um Congresso que combata a corrup��o, n�o s� os esquemas que existem v�o deixar de existir, mas eles correm o risco de ser punidos pelos crimes praticados. Ent�o, eu vejo como natural a rea��o", avaliou. O ex-procurador frisa que a maneira de virar o jogo e retomar o debate anticorrup��o no pa�s � por meio do voto consciente. "Se n�s queremos resolver esse problema da corrup��o, � importante mudar o Congresso Nacional", frisa.
Dallagnol diz que as acusa��es s�o rid�culas. "De mais de cem agentes p�blicos, dois sa�ram para a pol�tica. Em segundo lugar, porque se houvesse um projeto pol�tico, eu teria sa�do para concorrer ao mandato eletivo em 2018, no auge da Lava-Jato, quando eventualmente me elegeria para qualquer cargo p�blico", argumenta.
A Opera��o Lava-Jato foi encerrada oficialmente em 12 de janeiro de 2021, em sua 79ª fase.
