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Estado de Minas ELEI��ES 2022

Aumento do Aux�lio Brasil n�o trar� votos para Bolsonaro, diz cientista pol�tico

Para Felipe Nunes, diretor da Quaest, forte polariza��o pol�tica tornou eleitor mais politizado e cr�tico.


04/07/2022 16:18 - atualizado 04/07/2022 16:32


Bolsonaro
Com pacot�o social, Bolsonaro tenta evitar derrota em primeiro turno para Lula (foto: Reuters)

A menos de tr�s meses do primeiro turno da elei��o, o presidente Jair Bolsonaro (PL) caminha para aprovar no Congresso um controverso pacot�o de benef�cios sociais que podem somar mais de R$ 40 bilh�es.

A proposta de altera��o da Constitui��o, que j� foi aprovada no Senado e ser� analisada nesta semana na C�mara dos Deputados, inclui o aumento do Aux�lio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e o repasse de R$ 1 mil para motoristas aut�nomos comprarem combust�vel, entre outras medidas.

O pacote � visto na campanha de Bolsonaro como fundamental para o presidente subir nas pesquisas de inten��o de voto, que indicam hoje uma poss�vel vit�ria do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) j� no primeiro turno.

O impacto da medida, por�m, deve ser nulo, na vis�o do cientista pol�tico Felipe Nunes, diretor da Quaest, empresa que vem realizando mensalmente pesquisas sobre inten��o de voto e sentimentos dos eleitores brasileiros.

Esses levantamentos mostram que o Aux�lio Brasil n�o conseguiu melhorar a avalia��o de Bolsonaro. Na verdade, entre os que recebem o benef�cio, seu desempenho � at� pior: de acordo com a pesquisa de junho, 51% dos benefici�rios t�m percep��o negativa do atual governo, contra 47% dos que n�o recebem o aux�lio.

Para Nunes, isso � reflexo de uma maior politiza��o do eleitorado, que ficou mais cr�tico ao analisar medidas de curto prazo do governo.

"O impacto (eleitoral) � zero, ou seja, n�o tem nenhuma diferen�a estatisticamente significativa na avalia��o do governo Bolsonaro quando a gente compara as pessoas que recebem o aux�lio com as pessoas que n�o recebem", ressalta.

"Essa evid�ncia � muito clara de que esse tipo de pol�tica n�o funcionou para os efeitos eleitorais que o governo esperava", acrescenta.

Al�m da inefic�cia dessas medidas, Nunes tamb�m considera que o recente esc�ndalo de corrup��o envolvendo o Minist�rio da Educa��o, com a pris�o do ex-ministro Milton Ribeiro, dificulta a miss�o de Bolsonaro de expandir sua base de apoio para al�m do eleitorado mais fiel que o acompanha hoje.

Apesar disso, diz que � cedo para cravar que Lula vencer� no primeiro turno. Na sua avalia��o, a disputa em S�o Paulo ser� central para definir isso. Se o candidato petista continuar na frente no principal col�gio eleitoral do pa�s, suas chances de liquidar r�pido a disputa aumentam, afirma o diretor da Quaest.

"Se o presidente n�o for capaz de virar o jogo em S�o Paulo com uma m�nima margem � frente do Lula, � muito dif�cil que o cen�rio nacional seja diferente (do que apontam as pesquisas hoje), porque, sem vencer em S�o Paulo, o maior col�gio eleitoral do Brasil, o PT foi capaz de ganhar (a elei��o presidencial de) 2006, 2010, 2014. Imagine o que significa o PT ter vantagem nesse estado", analisa.

Nunes, que h� poucas semanas esteve em Nova York conversando com investidores internacionais, diz que o mercado j� "precificou" uma poss�vel vit�ria de Lula: ou seja, a vantagem do petista na corrida eleitoral hoje n�o deve trazer instabilidade como ocorreu em 2002. Na verdade, sua vis�o � de que h� at� uma prefer�ncia maior pela volta do petista nesse segmento do que pela reelei��o do atual presidente.

"N�o h� uma rejei��o do mercado financeiro a uma poss�vel continuidade do Bolsonaro, mas, hoje, o meu sentimento � que eles preferem que o Lula volte ao governo, principalmente pela quest�o da estabilidade pol�tica que ele poderia gerar", acredita.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista concedida na quinta-feira (30/06).


Felipe Nunes
Para Felipe Nunes, forte polariza��o pol�tica tornou eleitor mais politizado e cr�tico (foto: Divulga��o)

BBC News Brasil - Bolsonaro tenta aprovar no Congresso um grande pacote de benef�cios sociais. Se de fato sair do papel, isso pode provocar uma recupera��o do presidente na disputa eleitoral?

Felipe Nunes - � comum, em anos eleitorais, vermos a m�quina governamental funcionando com o objetivo de tentar melhorar a sensa��o de bem-estar do eleitor. Acontece nas prefeituras, nos governos estaduais e, claro, no governo federal. A diferen�a agora � que o n�vel de politiza��o e de informa��o do eleitor aumentou muito nos �ltimos anos, o que faz com que ele esteja mais cr�tico em rela��o a esse tipo de medida de curto prazo. E ficou um pouco deflagrada a ideia de que o aux�lio estaria sendo criado como uma tentativa de solucionar um problema pol�tico eleitoral, e n�o (seria) uma agenda de fato em que o governo acredita.

Eu pessoalmente acho que o efeito � menor do que o governo tem apostado at� aqui. O m�ximo que essas pol�ticas (de curto prazo) conseguem fazer � diminuir a vontade das pessoas de reclamarem do governo. Elas, em momento nenhum, criam identidade, paix�o, admira��o pelos l�deres pol�ticos. E sem admira��o, sem confian�a, sem paix�o pelos pol�ticos, isso n�o se transforma em votos.

BBC News Brasil - O que dizem as pesquisas da Quaest sobre o impacto do Aux�lio Brasil para o voto?

Nunes - O impacto � zero, ou seja, n�o tem nenhuma diferen�a estatisticamente significativa na avalia��o do governo Bolsonaro quando a gente compara as pessoas que recebem o aux�lio com as pessoas que n�o recebem. Ou seja, n�o tem nenhuma diferen�a de opini�o ou de atitude movida, ou pelo menos correlacionada, com o recebimento ou n�o do aux�lio. Essa evid�ncia � muito clara de que esse tipo de pol�tica n�o funcionou para os efeitos eleitorais que o governo esperava.

O que a gente percebe � que o eleitor de baixa renda tem um n�vel de interesse em elei��o, um n�vel de politiza��o, maior do que tinha em 2018 e 2014. Essa politiza��o, esse maior conhecimento de informa��o, contribui para um cen�rio de mais dificuldade de persuas�o em rela��o aos projeto e �s pol�ticas.

BBC News Brasil - Essa maior politiza��o est� relacionada � forte polariza��o pol�tica do pa�s?

Nunes - Exatamente. De 1994 a 2002, o Brasil vivia o que eu chamo de polariza��o pol�tica. Ou seja, PT e PSDB tinham agendas diferentes, mas a sociedade n�o estava polarizada. A partir de 2006 come�amos a vivenciar o que a gente chama de polariza��o social que � quando essa polariza��o pol�tica vai pra sociedade e a gente come�a a ver grupos pol�ticos votando de maneira diferente: homens votam de um jeito, mulheres de outro; pobre vota de um jeito, rico de outro; Nordeste vota de um jeito, o Sul de outro.

S� que agora, depois de 2018, h� uma polariza��o afetiva. O que � isso? As pessoas n�o se identificam mais como advers�rias politicamente, elas se identificam como inimigas. Ou seja, o grau de radicaliza��o chegou a tal ponto que o sentimento � que o outro � meu inimigo e n�o o meu advers�rio.

Isso faz com que as pessoas tenham mais interesse em buscar argumentos, a receber informa��es para poder participar desse debate p�blico. A pol�tica hoje chegou nas mesas de bar, nos almo�os de fam�lia, as pessoas est�o cada vez falando mais sobre isso, algumas com mais informa��o, outras com menos, mas o fato � que essa polariza��o quase que exige que as pessoas tenham mais informa��o pra n�o parecerem bobas nas conversas com seus pares.

BBC News Brasil - O fato de o cen�rio econ�mico j� vir de um processo longo de piora, com infla��o em alta e renda em queda, reduz tamb�m o efeito dessas medidas a poucos meses da elei��o?

Nunes - Meu primeiro ponto � que pol�ticas de curto prazo tendem a ter menor retorno eleitoral. Mas tem outro componente: essas mesmas pol�ticas, independentemente se s�o de longo ou de curto prazo, quando s�o combinadas com processos inflacion�rios muito cr�ticos, o efeito positivo (da transfer�ncia de renda) � anulado pelo efeito negativo do aumento dos pre�os. Isso aconteceu tanto no caso do aux�lio emergencial nos anos anteriores, como tamb�m tem acontecido com o Aux�lio Brasil nesse ano.

BBC News Brasil - Embora o programa de transfer�ncia de renda tenha mudado de nome, h� um legado do Bolsa Fam�lia que � muito associado ao governo PT. Isso tamb�m atrapalha o ganho de dividendo pol�tico para Bolsonaro com o Aux�lio Brasil frente ao seu principal advers�rio hoje, o ex-presidente Lula?

Nunes - N�o adianta nada o governo propor mudan�as pol�ticas, projetos, se ele n�o conseguir estabelecer uma comunica��o clara e direta com o eleitor que fa�a com que o eleitor reconhe�a o atual governo como respons�vel por essas medidas. Eu acho que houve a� um erro na estrat�gia de comunica��o do governo. O outro ponto � que o concorrente principal do Bolsonaro � um candidato que n�o levanta nenhuma d�vida a respeito da continuidade ou n�o dessas pol�ticas.

Quando a gente junta esse equ�voco de comunica��o com o fato de que o principal opositor n�o � uma amea�a ao fim dessa pol�tica, voc� n�o tem incentivos para que o eleitor pense neste atributo como relevante na hora do voto.

BBC News Brasil - O Sr. mencionou a diferen�a de votos entre homens e mulheres. Em 2018, havia uma rejei��o maior do eleitorado feminino a Bolsonaro na campanha, mas isso acabou perdendo for�a, e ele foi eleito com apoio da maioria desse grupo. O cen�rio � diferente agora?

Nunes - Mulheres conservadoras, mulheres evang�licas foram fundamentais para o crescimento do Bolsonaro na reta final da elei��o de 2018. Isso est� bem documentado em pesquisa. A diferen�a � que a agenda do governo Bolsonaro nos �ltimos tr�s anos fala diretamente sobre os interesses que as mulheres vocalizam de maneira mais transparente. Eu estou falando dos posicionamentos que o governo teve durante a pandemia, como nega��o da vacina, nega��o do uso de m�scara. Posi��es desse tipo afetam as mulheres em primeiro lugar porque s�o elas que se preocupam com os filhos, com as quest�es privadas de dentro de casa.

Mas tem um segundo componente que � o efeito do agravamento da crise econ�mica que n�o est� pautada sobre o desemprego. N�o � o desemprego que est� aumentando, � a infla��o, e isso afeta a mulher que organiza as compras de casa, que lida com a alimenta��o dos filhos. Ou seja, as duas agendas, a da pandemia e da economia, falam diretamente sobre os interesses das mulheres, mais especificamente do que os homens, o que gera esse racha mais expl�cito que a gente acompanha nas pesquisas.

BBC News Brasil - Pesquisa da Quaest de junho mostrou que o eleitor do Bolsonaro confia bastante na capacidade do presidente de combater a corrup��o, mas o governo agora enfrenta o esc�ndalo do suposto desvio de recursos por meio de pastores no Minist�rio da Educa��o e risco de uma nova CPI. Qual o impacto disso para a elei��o?

Nunes - Em 2018, corrup��o era, na cabe�a do eleitor, o principal problema do Brasil. Hoje � a economia. Esses recentes esc�ndalos mais pr�ximos ao presidente n�o t�m efeito, na minha avalia��o, sobre o eleitor do Bolsonaro, aqueles 25% que classifico como f�-clube bolsonarista. � um grupo que tem atitudes completamente alinhadas ao presidente, independentemente do que acontece na vers�o p�blica do governo. Na minha opini�o, at� pela rejei��o ao PT, esse grupo vai continuar com esse apoio.

O problema desses esc�ndalos, dessas acusa��es, est� justamente no que a gente chama de eleitor que poderia ser do Bolsonaro, mas tamb�m poderia ser do Lula. � aquele que n�o � ideol�gico nem pra esquerda, nem para direita, e vota de acordo com seu estado de bem-estar social. Esse eleitor, numa discuss�o sobre corrup��o, ele tinha menos argumentos para dizer: "olha, o governo Bolsonaro se envolveu com corrup��o e tal". A partir desses �ltimos esc�ndalos, isso caiu por terra e vai dificultar a capacidade do eleitor bolsonarista tradicional de convencer esse eleitor a vir para o lado bolsonarista. Ele portanto vai ter mais incentivos para ir paro lado de l�, que � o lado do Lula.


Ministro da Educação, Milton Ribeiro
Ex-ministro da Educa��o Milton Ribeiro admitiu em �udio priorizar dois pastores com dinheiro do governo federal (foto: Ag�ncia Brasil)

BBC News Brasil - Diante desse cen�rio dif�cil para Bolsonaro atrair o voto de centro, o Sr. considera prov�vel Lula vencer no primeiro turno, ou h� obst�culos?

Nunes - Elei��o n�o � s� racionalidade, elei��o tamb�m � emo��o. E as elei��es brasileiras s�o marcadas por choques ex�genos que mudam completamente o quadro, como facada (em Bolsonaro, em 2018), a queda do avi�o do Eduardo Campos (em 2014). Ou seja, h� fen�menos imponder�veis, as coisas ainda podem mudar.

Agora, se tem um fator que eu acho que � preponderante pra entender se haver� ou n�o mudan�a desse quadro, � a elei��o do Estado S�o Paulo. De todas as elei��es brasileiras p�s-redemocratiza��o, a �nica em que o (candidato presidencial do) PT venceu S�o Paulo foi em 2002. Hoje o Lula est� na frente em todas as pesquisas que s�o publicadas no estado de S�o Paulo, o que indica que S�o Paulo se transforma no campo de batalha: � o local que o presidente vai ter que conseguir virar o jogo, abrir vantagem, pra conseguir que o resultado seja diferente (do que apontam as pesquisas hoje).

Se o presidente n�o for capaz de virar o jogo em S�o Paulo com uma m�nima margem � frente do Lula, � muito dif�cil que o cen�rio nacional seja diferente, porque, repito, sem vencer em S�o Paulo, o maior col�gio eleitoral do Brasil, o PT foi capaz de ganhar (a elei��o presidencial de) 2006, 2010, 2014. Imagine o que significa o PT ter vantagem nesse estado.

Ent�o, a disputa entre Tarc�sio (de Freitas, pr�-candidato do Republicanos apoiado por Bolsonaro) e (o petista Fernando) Haddad (pelo governo de S�o Paulo) passa a ser a elei��o realmente mais importante para entender se a decis�o (na elei��o nacional) vai se dar pr� ou contra Lula, no primeiro ou no segundo turno.

BBC News Brasil - Apesar da dificuldade de Bolsonaro, as pesquisas indicam que Tarc�sio � um candidato competitivo em S�o Paulo?

Nunes - Sim, at� porque ele fala com um p�blico pra al�m do bolsonarismo. Todo os candidatos de S�o Paulo est�o tentando dialogar com o centro. O Haddad est� tentando dialogar com o centro. O Tarc�sio est� tentando dialogar com o centro. O Rodrigo Garcia (governador pr�-candidato � reelei��o pelo PSDB) tamb�m. Ali � que est� na disputa.

O Tarc�sio se transforma no candidato mais importante para tentar salvar o governo de um vexame. Nenhum presidente que tentou a reelei��o perdeu at� agora na hist�ria brasileira: Fernando Henrique, Lula e Dilma foram reeleitos. Bolsonaro seria o primeiro.

BBC News Brasil - Enquanto Bolsonaro enfrenta dificuldades nacionalmente, o que explica essa competitividade maior do Tarc�sio em S�o Paulo?

Nunes - A elei��o de S�o Paulo est� muito fragmentada, ao contr�rio do Brasil. O Haddad tem percentual de voto alto, Tarc�sio tem percentual de voto alto, mas h� outros nomes. O M�rcio Fran�a (pr�-candidato do PSB) e o pr�prio (atual governador) Rodrigo Garcia se colocam como advers�rios importantes.

Ent�o, para o Tarc�sio basta ter 20% para garantir um segundo turno, j� que h� outros candidatos fortes. � diferente da disputa presidencial: para que haja segundo turno, o Ciro Gomes (pr�-candidato do PDT) tem que crescer em cima do eleitor do Lula. A Simone Tebet (pr�-candidata do MDB) tem que crescer em cima do eleitor do Lula. Do contr�rio, fica cada vez menos prov�vel que esse cen�rio (de haver um segundo turno) aconte�a.


Apoiadores de Bolsonaro
Apesar de mal avaliado pela maioria da popula��o, Bolsonaro mant�m uma base fortemente mobilizada (foto: Reuters)

BBC News Brasil - A terceira via hoje tenta ultrapassar Bolsonaro e disputar o segundo turno com Lula. Considera poss�vel, tendo em vista que o presidente tem a m�quina p�blica e a proje��o do cargo de presidente?

Nunes - Eu acho que mais do que a m�quina p�blica, o Bolsonaro conseguiu construir algo que � muito relevante: Bolsonaro � uma lideran�a popular. Ele tem grupos organizados no Brasil inteiro que defendem o seu projeto pol�tico, defendem a sua maneira de governar, a sua forma de conduzir os processos pol�ticos. Eu diria que, tirando ele e Lula, nenhum outro pol�tico nacional conseguiu fazer isso de maneira t�o organizada.

E isso � o que cria dificuldades para Tebet, paro Ciro crescerem no processo. Eles teriam que encontrar um caminho que � justamente o de tirar votos do Lula, quando na verdade hoje o que a gente est� observando � o contr�rio: o eleitor do Ciro tem alta propens�o de, na reta final da elei��o, migrar paro Lula. Porque ele at� gosta mais do Ciro do que do Lula, mas j� que o Lula � quem tem chance de ganhar a elei��o contra o Bolsonaro, como o eleitor do Ciro rejeita mais o Bolsonaro do que o Lula, ele acaba podendo fazer uso daquilo que a gente chama voto estrat�gico para j� definir a elei��o logo de cara.

BBC News Brasil - Qual sua avalia��o sobre as escolhas dos candidatos a vice-presidente: Geraldo Alckmin no caso de Lula, e general Braga Netto no caso de Bolsonaro?

Nunes - Essas escolhas dizem muito (sobre as estrat�gias dos candidatos). O que Lula est� tentando fazer � dar para o mercado e a classe pol�tica um recado de modera��o. Ele est� dizendo o seguinte: "olha, se voc�s n�o gostarem do que eu fizer, me tirem, o vice � o Alckmin", um pol�tico que se aliou � direita muitas vezes, sempre foi de centro, governou S�o Paulo com uma agenda muito clara.

No caso do Bolsonaro � o inverso. Ele est� radicalizando. Ela est� dizendo: "olha, voc�s est�o achando que eu sou o problema, pode ser muito pior, voc�s podem ter um Braga Netto no governo". Eu acho que a escolha do presidente Bolsonaro j� � quase uma prepara��o para uma poss�vel derrota. Caso ele perca, continua tendo apoio de um setor importante da sociedade que s�o as For�as Armadas.

Ent�o, enquanto o Lula modera para tentar dar um recado e aumentar suas chances de vit�ria, o Bolsonaro radicaliza com essa escolha, dando um recado de certo tensionamento institucional, ou do que poderia ser o p�s-elei��o. Eu digo isso porque a Tereza Cristina, do ponto de vista eleitoral, agregaria muito mais � campanha, se o objetivo do presidente fosse eleitoral e n�o de uma certa prepara��o do que pode vir mais a frente.

BBC News Brasil - V� risco de, em caso de derrota do Bolsonaro, termos algum tipo de turbul�ncia nas ruas envolvendo For�as Armadas, ou algo parecido com a tentativa de invas�o do Congresso dos Estados Unidos ap�s a derrota de Donald Trump para Joe Biden?

Nunes - Acho que haver� uma tentativa, caso aconte�a (a derrota do presidente). Acho que Bolsonaro est� preparando alguns argumentos muito fortes para, caso perca, ele conseguir explicar para sua base que perdeu por fraudes nas urnas, ou porque o sistema � corrompido, ou porque o Supremo... Ele est� preparando justificativas que ajudem a explicar a derrota, e ao mesmo tempo, com apoio de, pelo menos, uma parte das For�as Armadas, conseguir criar uma confus�o para atrapalhar o que seria o governo de um opositor seu.

Agora, eu n�o acredito que o mercado, a imprensa, os setores econ�micos queiram entrar num processo de ruptura real ou de golpe. Acho que ser� muito mais uma movimenta��o pol�tica no sentido de dificultar a governabilidade e a estrutura pol�tica de Lula caso ele ven�a a elei��o, do que de fato uma ruptura em si como a gente observou em 1964.

BBC News Brasil - Lula tem tido alguns encontros com empres�rios. Como est� o clima na elite econ�mica com rela��o a essa aproxima��o e a possibilidade de vit�ria do petista?

Nunes - H� 20 dias, eu estive uma semana inteira em Nova York (EUA) a convite do banco Genial dando palestras para grupos de investidores internacionais que t�m interesse no Brasil. O que eu pude perceber l� � que h� um movimento de uma certa precifica��o da possibilidade do Lula ser presidente de novo.

Ao contr�rio do que aconteceu em 2002, quando houve uma especula��o financeira enorme (diante da perspectiva de elei��o do Lula) que gerou instabilidade no pa�s, esse ano eu vi um cen�rio diferente. Achei que os investidores internacionais aceitariam com uma certa naturalidade uma eventual vit�ria do Lula. N�o ficariam chateados se o Bolsonaro vencesse, mas tamb�m n�o tem qualquer tipo de rejei��o forte a um poss�vel terceiro governo Lula.

Eu acho que isso se replica tamb�m nos setores econ�micos brasileiros. A rea��o desses setores � de compreender que h� uma possibilidade real de que o Lula seja presidente novamente, e com isso as pessoas j� precificam esse processo, o que acaba criando um cen�rio normal para essa mudan�a pol�tica de um presidente mais � direita, para um presidente mais � esquerda.


Alckmin e Lula
Lula surpreendeu ao escolher seu antigo rival Alckmin para concorrer como seu vice (foto: Reuters)

BBC News Brasil - O fato de Lula j� ter sido presidente, com um governo pragm�tico, contribui para essa aceita��o?

Nunes - � uma mistura da mem�ria que as pessoas t�m do governo, mas tamb�m pelas escolhas que ele est� fazendo. A escolha do Alckmin (como candidato a vice-presidente) � um exemplo disso. E Lula tem dado declara��es p�blicas em reuni�es com empres�rios de que quer voltar a gerar estabilidade no pa�s. S�o sinais de discurso e de posicionamento que acabam ajudando na formata��o de uma vis�o menos cr�tica. Embora, isso n�o queira dizer, nem no caso da popula��o, nem no caso da elite brasileira, que haja qualquer perd�o em rela��o a esc�ndalos de corrup��o.

Eu gosto sempre de lembrar que metade da minha amostra (das pesquisas eleitorais da Quaest) diz que o Lula foi corretamente punido pela Lava Jato. N�o � que as pessoas perdoaram, acham que ele virou inocente. � que na opini�o delas, e eu acho que isso se estende ao mercado financeiro, as escolhas do governo Bolsonaro s�o piores do que as escolhas de um eventual terceiro governo Lula.

BBC News Brasil - O governo Bolsonaro tem resultados econ�micos ruins e se afastou da agenda liberal. Por que sua percep��o � que o mercado n�o ficaria chateado com a vit�ria de Bolsonaro?

Nunes - Os investidores internacionais olham para o governo e reconhecem que o governo fez uma arruma��o econ�mica que veem como positiva. Estou dizendo o que eu ouvi, principalmente na atua��o do Banco Central, eles acham que houve mais acertos do que erros. Muitos elogiam o ministro Paulo Guedes. Ent�o, n�o h� uma rejei��o do mercado financeiro a uma poss�vel continuidade do Bolsonaro, mas, hoje, o meu sentimento � que eles preferem que o Lula volte ao governo, principalmente pela quest�o da estabilidade pol�tica que ele poderia gerar.

- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62017980

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