O presidente Jair Bolsonaro marcou para a tarde da pr�xima segunda-feira um encontro com embaixadores estrangeiros para, mais uma vez, desacreditar a seguran�a do processo eleitoral brasileiro. Os principais nomes do corpo diplom�tico acreditado em Bras�lia come�aram a ser convidados na �ltima quinta-feira.
A iniciativa partiu do Pal�cio do Planalto e n�o do Itamaraty. O convite de Bolsonaro, assinado pelo cerimonial da Presid�ncia da Rep�blica, omite o assunto da reuni�o. "Fui incumbido de convidar vossa excel�ncia para encontro do senhor presidente da Rep�blica com chefes de miss�o diplom�tica, a ser realizado �s 16h de 18 de julho de 2022, no Pal�cio da Alvorada", diz a convoca��o. O chanceler Carlos Fran�a deve participar.
Os embaixadores, no entanto, j� sabem das inten��es de Bolsonaro. Na semana passada, o presidente anunciou que convocaria os representantes diplom�ticos para tentar convenc�-los de suas teses sobre as urnas eletr�nicas. O encontro tamb�m servir� para um contraponto � decis�o do ministro Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de ampliar a presen�a de miss�es estrangeiras como observadoras das elei��es gerais, a contragosto do Planalto. Bolsonaro tamb�m pretende rebater palestras no exterior do pr�prio Fachin e do ministro Lu�s Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), nas quais alertaram a comunidade internacional para os riscos de ruptura democr�tica no Brasil.
Representantes de pa�ses europeus confirmaram presen�a, entre eles da Fran�a, de Portugal e da Su��a. R�ssia, Reino Unido e os Estados Unidos tamb�m devem enviar seus diplomatas ao Alvorada. Os embaixadores n�o devem se manifestar durante o encontro, tampouco depois.
Pa�ses sul-americanos tamb�m foram convidados, como Col�mbia e Equador, cujos governos de direita s�o alinhados a Bolsonaro. Diplomatas de pa�ses vizinhos, como Chile e Argentina, governados pela esquerda, disseram que n�o tinham recebido convite.
Estranhamento
Reservadamente, embaixadores admitem o estranhamento com o plano do presidente de acusar supostas fraudes em elei��es passadas, nunca comprovadas, e criticar o uso de um sistema de vota��o pelo qual se elegeu e que tem mecanismos de seguran�a reconhecidos internacionalmente.
Eles dizem, por�m, que foi igualmente incomum terem sido convocados pelo TSE para uma audi�ncia sobre as elei��es, em maio. Por terem ido ao encontro de Fachin, integrantes da Uni�o Europeia (UE) dizem que agora se sentem compelidos a atender ao chamado de Bolsonaro.
Naquela ocasi�o, 68 diplomatas compareceram � Justi�a Eleitoral e ouviram de Fachin que "arremessos populistas" de l�deres pol�ticos na Am�rica Latina geram "acusa��es levianas de fraude, que conduzem a semanas de instabilidade pol�tica no per�odo p�s-eleitoral". Bolsonaro acusou o ministro de usurpar fun��es do Executivo e de se imiscuir nas rela��es internacionais. O presidente acusou Fachin de "estupro � democracia".
A expectativa dos diplomatas � assistir a uma apresenta��o de PowerPoint, como outras que a Presid�ncia e o Minist�rio da Defesa j� apresentaram, com supostas amea�as ao sistema de vota��o eletr�nica. A ofensiva do Planalto na seara da pol�tica externa coincide com o aumenta da press�o p�blica das For�as Armadas por mudan�as no processo de fiscaliza��o das elei��es, com a inclus�o de um teste de integridade nas se��es eleitorais, no dia 2 de outubro, que usa uma segunda urna-teste e c�dulas de papel, definidas pelos militares como um processo de "vota��o paralela".
Segundo dois embaixadores europeus, o encontro servir� para ouvir os argumentos de Bolsonaro, inclusive para informar aos respectivos governos sobre os planos dele. "Ouvimos os argumentos de um lado e agora vamos ouvir os do outro", justificou um embaixador, sob anonimato.
A ideia de que pode haver uma tentativa de golpe de Estado no Brasil come�ou a ser reportada em telegramas e relat�rios por miss�es diplom�ticas ao exterior no ano passado. A insist�ncia do presidente em desacreditar as urnas deixou diplomatas em alerta.