Militares est�o na linha de frente na campanha de Bolsonaro pela reelei��o

O presidente Jair Bolsonaro (PL) nunca escondeu o alinhamento ideol�gico com as For�as Armadas. Desde a �poca em que era deputado, o chefe do Executivo afirmava ter como objetivo priorizar as pautas militares. Ao concorrer pela primeira vez ao Planalto, escolheu o general Hamilton Mour�o (Republicanos) como vice. Agora, na disputa pela reelei��o, ter� outro general da reserva como postulante a vice, Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil.

Num eventual segundo mandato de Bolsonaro, a tend�ncia � de que os militares continuem em posi��es-chaves no governo. Al�m de escolher novamente um militar como vice, o presidente tem confiado � classe miss�es importantes para tentar garantir a continuidade da gest�o.

O Poder Executivo passou a ter mais militares ocupando cargos na administra��o p�blica federal com o in�cio do mandato de Bolsonaro. Um relat�rio do Tribunal de Contas da Uni�o (TCU), do ano passado, mostrou que no governo federal mais que dobrou a presen�a de militares em cargos at� ent�o ocupados por civis.

De acordo com o TCU, no �ltimo ano da gest�o do ent�o presidente Michel Temer, 2.765 militares ocupavam fun��es no Executivo federal. Em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro, o n�mero estava em 3,5 mil. J� o levantamento mais recente da Corte de contas, relativo a 2020 e divulgado em 2021, mostrou a presen�a de 6.175 integrantes das For�as Armadas na administra��o p�blica.

O fen�meno j� havia sido criticado pelo ministro Lu�s Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). O magistrado citou a "militariza��o" do governo federal.

O cientista pol�tico Andr� C�sar, da Hold Assessoria Legislativa, destacou o alinhamento pol�tico-ideol�gico do presidente com os militares, baseado, principalmente, nas pautas conservadoras, al�m da pr�pria forma��o militar do chefe do Executivo. "Captaram setores das For�as Armadas que tendem a apoiar uma agenda conservadora, como ele (Bolsonaro) apresenta", afirmou.

Para o especialista, o presidente continuar� alinhado com a classe. "Setores da sociedade compram esse discurso de que os militares t�m a melhor agenda para o pa�s. E ele consegue vender isso. Quando coloca Mour�o e, quatro anos depois, Braga Netto como vice, � porque deu certo, e dobrou a aposta. Na minha avalia��o, entre os dois, Braga Netto � muito mais radical do que o atual", observou.

Marcelo Pimentel — oficial do Ex�rcito na reserva e mestre em ci�ncias militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Ex�rcito — ressaltou que o protagonismo dos militares no governo federal � negativo e vem refletindo nas pesquisas de inten��o de voto para as elei��es de outubro.

"� p�ssimo sob qualquer �tica que se possa observar. Isso n�o � o meu achar. Basta ver o protagonismo muito claro no governo pela quantidade de militares, pela proje��o pol�tica. A aprova��o do governo � baix�ssima", frisou. "Considerando, tamb�m, comparar os demais presidentes que concorreram a mandatos, em nenhum caso o presidente em exerc�cio tinha uma posi��o desvantajosa em rela��o ao desafiante", acrescentou, numa refer�ncia ao fato de o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) aparecer na lideran�as das pesquisas, com Bolsonaro em segundo lugar.

O cientista pol�tico Leandro Gabiati apontou o hist�rico de interfer�ncia dos militares em temas da administra��o p�blica. "As For�as Armadas t�m autonomia e opinam, d�o palpite e se manifestam em assuntos que deveriam estar limitados � sociedade civil", disse. "� uma particularidade da nossa democracia. A gente teve o regime militar, que se estabeleceu por 29 anos e que ainda administrou o pr�prio regime democr�tico. Essa � uma caracter�stica do nosso regime pol�tico."

Bolsonaro tamb�m tem usado as For�as Armadas para encampar suas teorias conspirat�rias sobre o processo eleitoral. Ele chegou a sugerir que os militares fizessem uma apura��o paralela dos votos, e causou mais tens�o entre os Poderes.

O ministro da Defesa, Paulo S�rgio Nogueira, tem sido um agente importante nessas a��es. Apesar de afirmar que os militares n�o querem ser protagonistas, mas que participam do tema porque foram convidados pela Justi�a Eleitoral, ele endossa os pedidos de Bolsonaro para que as For�as Armadas fa�am apura��es paralelas e auditorias das urnas eletr�nicas.

O PowerPoint apresentado por Bolsonaro na reuni�o com embaixadores estrangeiros, na semana passada, no Pal�cio da Alvorada, foi elaborado com o aux�lio do tenente-coronel Mauro Cid, chefe da Ajud�ncia de Ordens da Presid�ncia. O militar � alvo de uma investiga��o que tramita no STF por vazamento de dados sigilosos de um inqu�rito sobre amea�as �s urnas eletr�nicas.

Para Marcelo Pimentel, o excesso de interfer�ncia dos militares no governo tornou o pa�s inst�vel. "O Brasil, que deveria ser o motivo de estabilidade regional, passa a ser visto como um poss�vel foco de instabilidade. Basta ver o evento com os embaixadores, com os representantes dos chefes de Estado. O vexame internacional protagonizado por um capit�o do Ex�rcito, numa apresenta��o em PowerPoint feita pelo seu ajudante de ordem", criticou.

A an�lise do advogado constitucionalista Guilherme Amorim Campos da Silva � de que os militares est�o agindo fora dos limites constitucionais. "Os anteriores convites para seus representantes apresentarem sugest�es n�o os legitimam, em hip�tese nenhuma, a questionarem abertamente a confiabilidade do processo eleitoral e o sistema das urnas eletr�nicas", ressaltou. "As For�as Armadas constituem uma institui��o de Estado, e n�o de governo, que est�o a servi�o do presidente da Rep�blica para politizar o debate."