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Estado de Minas ELEI��O ANTES DAS URNAS ELETR�NICAS

Apura��o dos votos em papel poderia durar at� duas semanas em BH

Na confus�o da contagem de votos, escrutinadores, chefes de cart�rio, candidatos e fiscais de partido disputavam espa�o em volta de grandes mesas


28/08/2022 04:00 - atualizado 28/08/2022 19:58


Embora o cen�rio das apura��es dos votos em papel seja descrito como um espa�o ca�tico, barulhento e hostil, caracter�sticas nocivas para o momento crucial de uma democracia, as fun��es de cada ator naquele processo eram bem definidas. Basicamente, funcionava desta maneira: as urnas onde os votos haviam sido depositados eram levadas at� gin�sios, galp�es ou outros espa�os amplos onde mesas eram dispostas para o trabalho dos escrutinadores. Estes, por sua vez, eram os respons�veis por fazer a leitura de cada voto sob o olhar atento dos candidatos e fiscais de partido previamente cadastrados na Justi�a Eleitoral.

Antes de contar, era preciso entender os votos e determinar se eles eram ou n�o v�lidos. As possibilidades para que o escrutinador determinasse que o desejo do eleitor manifestado na c�dula deveria ser anulado ou para que os fiscais de partido apontassem irregularidades e pedissem sua impugna��o eram v�rias. Erros de grafia, caligrafia ileg�vel, nomes marcados no lugar errado, mensagens de apoio ou cr�ticas escritas na c�dula, falta de rela��o entre o nome escrito e o n�mero do partido, nome do candidato escrito de forma diferente do cadastrado na Justi�a Eleitoral, entre outras quest�es, eram motivo constante de discuss�o durante os dias de apura��o.

Invariavelmente, ainda que n�o houvesse fraudes comprovadas, toda essa disputa voto a voto resultava em uma apura��o morosa e cansativa. Raquel Lott foi chefe de cart�rio da 26ª Zona Eleitoral de Belo Horizonte e trabalhou nas elei��es entre 1988 e 2006. Ela conta como era a rotina de quem trabalhava para transformar milh�es de c�dulas de papel na defini��o de quem governaria o pa�s ou o estado durante os pr�ximos anos.
Apuração de eleição manual
Apura��o dos votos em 1990: mes�rios, fiscais e candidatos de olho na contagem (foto: Cristina Horta/Arquivo EM (1990))

“Demorava demais porque eram muitos votos. A 26ª era uma zona eleitoral muito grande e com muitas sess�es. Na vota��o manual, voc� n�o pode abrir uma urna e dizer: ‘ah, deu errado, vamos contar no dia seguinte’. Quando uma urna era aberta, todos os votos precisavam ser apurados no mesmo dia. Ent�o j� teve urna em que a apura��o demorou 7 horas. A gente contava, contava e, se chegasse no final e houvesse algum erro, contava de novo. Ent�o isso, ao longo dos dias, ia aumentando o cansa�o. J� teve apura��o que durou 15 dias em Belo Horizonte, e isso era o normal. Em menos de 10 dias n�o acabava a apura��o em BH”, recorda.

Lott tamb�m relembra que os primeiros dias de apura��o eram os mais conturbados, com uma grande quantidade de fiscais de partido, candidatos, jornalistas e mesmo eleitores curiosos que ficavam nas arquibancadas dos gin�sios acompanhando os resultados parciais. Conforme os resultados das urnas iam sendo publicados, o movimento acabava restrito aos que tinham chances restantes de elei��o, mas isso n�o significava uma apura��o mais tranquila, j� que os escrutinadores sentiam o cansa�o acumulado dos dias seguidos lendo e contando as c�dulas.

Infográfico- eleição manual
Como funcionavam as elei��es manuais e as fun��es de cada ator (foto: Soraia Piva/EM/D.A Press)

 
“Os primeiros dias eram mais tensos porque tinha muito mais fiscais. Eu falo que no primeiro dia de vota��o municipal, para vereador e prefeito, todo mundo acha que est� eleito. Todo mundo tem um vizinho, um primo que vai l� ser fiscal ent�o a apura��o vira um tumulto. Na medida em que os candidatos v�o perdendo o voto, v�o vendo que n�o ser�o eleitos, diminui o n�mero de fiscais, mas, em contrapartida, os escrutinadores e os outros funcion�rios v�o cansando”, disse a ex-servidora do Tribunal Regional Eleitoral de Minas (TRE-MG).

Ricardo Bothrel atuou como escrutinador nas elei��es manuais em Belo Horizonte entre 1988 e 1994. Ele lembra, sem muitas saudades, de como era exercer a fun��o durante as apura��es no per�odo. “Era um ‘au�’, sabe? A gente chegava l� pelas 7h, come�ava a apurar �s 8h e ficava at� a �ltima urna fechar. Como eu era o presidente de mesa, ainda tinha que colocar os resultados nos boletins. Eram umas seis vias, branca, azul, rosa, verde… voc� tinha que preencher, colocar uma em cima da outra certinho para bater as linhas e as colunas, batia o carbono e fechava. Isso tudo com os caras bufando aqui nas minhas costas, n�? Cutucando, batendo no ombro. Quando tinha uma urna pol�mica, com recontagem, tinha 20, 30 pessoas em volta da mesa. Meu Deus!”, recorda.
Ver galeria . 15 Fotos Apuração manual de votos da eleição de 1990 em Belo HorizonteCristina Horta/Arquivo EM - 4/10/1990
Apura��o manual de votos da elei��o de 1990 em Belo Horizonte (foto: Cristina Horta/Arquivo EM - 4/10/1990 )

 
O voto em papel no Brasil

S�rie especial Nos tempos do voto em papel, do Estado de Minas, recorda o per�odo das elei��es manuais no pa�s, uma realidade desconhecida por boa parte dos eleitores atuais, que j� come�aram a escolher seus representantes pol�ticos atrav�s da urna eletr�nica. 

Com entrevistas de personagens que atuaram nos pleitos com voto em papel e registros do acervo dos Di�rios Associados, a reportagem apresenta o cen�rio de obst�culos no acesso � democracia e de vulnerabilidade a erros e fraudes que tinham o poder de mudar o curso das elei��es.

As mat�rias ser�o publicadas at� a ter�a-feira (30/8). Leia mais reportagens da s�rie:
 
Voto em papel sujeito � interpreta��o ampliava o caos nas elei��es 
 
 
 Colaborou: Renato Scapolatempore



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