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Estado de Minas ELEI��O ANTES DAS URNAS ELETR�NICAS

Voto em papel sujeito � interpreta��o ampliava o caos nas elei��es

Num pa�s com 20% de analfabetos, preencher o voto em papel n�o era uma tarefa simples. Na apura��o, opini�o dos mes�rios gerava recursos e impugna��es


28/08/2022 04:00 - atualizado 28/08/2022 19:52

Policial em eleições manuais
Em meio �s urnas, guarda era montada para que ningu�m invadisse o recinto e roubasse o material (foto: Arquivo EM (1990))
A possibilidade de fraudes justificava a presen�a de candidatos e fiscais de partido nos locais de apura��o, mas a fun��o desses atores ia al�m de buscar a garantia de elei��es honestas. O censo de 1991 apontava que cerca de 20% da popula��o maior de 14 anos no Brasil era analfabeta e o dado n�o considerava o analfabetismo funcional, quando a pessoa reconhece letras e n�meros, mas n�o � capaz de interpretar textos. Este era o cen�rio em que o voto dependia de que os eleitores seguissem normas r�gidas e manifestassem seu desejo pol�tico de forma escrita.  

O resultado desta soma de fatores era uma s�rie de problemas na hora de preencher as c�dulas. Isso tornava a leitura de cada voto pass�vel de discuss�es entre representantes partid�rios, escrutinadores e pedidos de impugna��o em profus�o. A ex-vereadora de BH e deputada estadual  Luzia Ferreira atuou como fiscal de partido nas elei��es de 1982 e conta como a fun��o implicava em disputar a interpreta��o de cada voto.


“Os partidos ofereciam um treinamento para os fiscais saberem o que era permitido, o que era considerado um voto nulo, como voc� fazia para impugnar um voto e at� uma urna quando era poss�vel constatar ind�cios de irregularidades. Por exemplo, em uma urna em que 90% dos votos eram para um determinado candidato, a gente poderia identificar uma poss�vel fraude. Ent�o o pr�prio fiscal e o delegado de partido faziam um pedido de impugna��o na hora e isso depois iria para um julgamento de um Juiz Eleitoral. Esse processo tamb�m acontecia se um voto n�o estivesse em conformidade com as regras. Se houvesse diverg�ncia entre o presidente da mesa e o fiscal que alegava o problema, isso tamb�m iria para um julgamento do juiz. A gente preenchia um documento com uma justificativa para a impugna��o”, recorda.

Relembrando os tempos de fiscal, Luzia ainda conta que a aten��o devia come�ar j� no momento da chegada das urnas, quando era necess�rio conferir se estavam todas lacradas e com o n�mero de c�dulas condizente com o registrado no momento do fechamento, ao fim da vota��o. Na apura��o, os fiscais precisavam conferir se o eleitor havia assinalado o X no local correto nos votos para presidente, governador, prefeito ou senador (que vinham gravados na c�dula), se o nome do deputado ou vereador n�o estava sendo computado para um hom�nimo de outro partido pelo escrutinador, se voto de algum candidato advers�rio tinha alguma irregularidade (como estar escrito no campo errado, com nome n�o registrado no TRE ou com algum recado que poderia anular a c�dula). Eram situa��es comuns e deveriam ser reportadas imediatamente, criando um clima de tens�o constante.

“Era exaustivo. Muito barulho e muita gente, principalmente no in�cio. No come�o da apura��o era um formigueiro de gente e todo mundo em cima dos escrutinadores, o que para eles tamb�m era inc�modo. Era bem cansativo, porque s�o 8 horas que voc� ficava em p�, n�o podia sentar. A gente tamb�m n�o comia direito. Lev�vamos um lanche porque fic�vamos com medo de sair para almo�ar e o pessoal abrir uma urna e que voc� ia perder. A� a gente chegava em casa, colocava o p� para cima e ficava horas ali para tentar se recuperar e, no outro dia, come�ava de novo. Nenhuma saudade dessa �poca”, afirma.
 
Mesários em eleições manuais
Mes�rios fazem fila para entregar urnas em frente a um gin�sio em BH (foto: Arquivo EM (1982))
 

Recontagem 

Adriana Fulg�ncio foi servidora do TRE-MG entre 1980 e 2010 e atuou nas elei��es tamb�m como chefe de cart�rio da 31ª Zona Eleitoral de BH. Na organiza��o da apura��o, ela recorda que, al�m dos pedidos de impugna��o de urnas e c�dulas, as solicita��es de recontagem de votos eram muito comuns e inerentes � forma como o processo era realizado.

“As reclama��es eram muito recorrentes. O fiscal ficava muito em cima mesmo.  Eles at� trocavam, um rendia o outro porque cansava muito. Na apura��o, voc� tinha que contar c�dula por c�dula. S� no manusear, voc� pode se enganar, errar, e tem tamb�m o cansa�o. Para computar as parciais, tinha um mapa onde eram preenchidos os n�meros. �s vezes, no final do dia, com o pessoal cansado, a soma total n�o fechava. A� tinha que recontar, descobrir onde estava o erro para poder corrigir e preencher todo aquele mapa de novo. Isso levava a muitos erros. � humano”, explica.

O relato de Adriana � corroborado por Ricardo Bothrel ao recordar seus dias como escrutinador e presidente de mesa na apura��o das elei��es manuais: “Eu vou te falar, se voc� abrisse uma urna e contasse, o resultado seria X. Se voc� recontasse, o resultado seria Y. Porque era imposs�vel”.


O voto em papel no Brasil

S�rie especial do Estado de Minas recorda o per�odo das elei��es manuais no pa�s, uma realidade desconhecida por boa parte dos eleitores atuais, que j� come�aram a escolher seus representantes pol�ticos atrav�s da urna eletr�nica. 

Com entrevistas de personagens que atuaram nos pleitos com voto em papel e registros do acervo dos Di�rios Associados, a reportagem apresenta o cen�rio de obst�culos no acesso � democracia e de vulnerabilidade a erros e fraudes que tinham o poder de mudar o curso das elei��es.

As mat�rias ser�o publicadas at� a ter�a-feira (30/8). Leia as outras reportagens da s�rie: 
Atraso, tumulto e fraudes: as elei��es com voto em papel no Brasil
Apura��o dos votos em papel poderia durar at� duas semanas em BH
Fraudes no Brasil: "No voto em papel, 3 �s vezes virava 8"
 
 
Colaborou: Renato Scapolatempore
 
Ver galeria . 15 Fotos Apuração manual de votos da eleição de 1990 em Belo HorizonteCristina Horta/Arquivo EM - 4/10/1990
Apura��o manual de votos da elei��o de 1990 em Belo Horizonte (foto: Cristina Horta/Arquivo EM - 4/10/1990 )
 


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