
Ningu�m que assistiu a Michelle Bolsonaro andando de um lado a outro do palco enquanto discursava em frente a um p�blico de 30 mil pessoas na pra�a da Apoteose, no Rio de Janeiro, diria que a primeira-dama � uma mulher t�mida.
"N�s vamos sim trazer a presen�a do Senhor Jesus para o governo. E vamos declarar que essa na��o pertence ao Senhor", disse Michelle, com o dedo em riste, na Marcha para Jesus, em 13 de agosto. Em um tom levemente mais alto, ela continuou: "As portas do inferno n�o prevalecer�o sobre a nossa fam�lia, sobre a igreja brasileira e sobre o nosso Brasil."
No entanto, pessoas pr�ximas repetem com frequ�ncia os adjetivos "t�mida" e "discreta" para descrev�-la. O pastor Silas Malafaia, que � amigo da fam�lia e celebrou o casamento dela com Jair Bolsonaro (PL), diz que Michelle tem um "talento natural" para falar, mas foi a igreja que a ajudou a ter coragem e desenvoltura para falar em p�blico.
A imagem de uma mulher t�mida e discreta combina com a postura que Michelle projetou durante a campanha em 2018, quando sua participa��o se resumiu a algumas falas e � defesa dos direitos dos surdos. No entanto, em 2022, a primeira-dama assumiu um papel mais incisivo e participativo, se tornando central na campanha.
O protagonismo � relativamente recente — at� julho, ela praticamente n�o teve participa��o na pr�-campanha, deixando de acompanhar Bolsonaro em diversos eventos com mulheres, como um almo�o com empres�rias em S�o Paulo e um encontro com evang�licas no Maranh�o.
O comit� da campanha esperava que participasse do programa eleitoral do PL, gravado em junho, mas a primeira-dama acabou frustrando essas expectativas e foi substitu�da pela deputada e ex-ministra Fl�via Arruda (PL-DF).
Em agosto, no entanto, Michelle se tornou onipresente na campanha. Em eventos religiosos, diz que marido � "escolhido de Deus", afirma sem provas que a esquerda vai fechar igrejas, faz coreografias e canta m�sicas gospel. Tem acompanhado o marido em encontros com defensores e discursa at� em eventos com empres�rios — como em um almo�o e em um evento da Caixa em S�o Paulo no dia 9 de agosto.
Nesses eventos, no entanto, o tom � diferente — no evento da Caixa, por exemplo, Michelle falou sobre iniciativas do banco p�blico para combater a viol�ncia contra mulher. A Caixa esteve envolvida recentemente em den�ncias de ass�dio que levaram � sa�da do presidente Pedro Guimar�es.
Refor�ar a imagem de Michelle como mulher evang�lica � uma movimenta��o estrat�gica da campanha de Bolsonaro, afirma a cientista pol�tica Graziella Testa, professora da Funda��o Getulio Vargas (FGV). "A figura da Michele � muito importante nesse momento, sobretudo para buscar o voto feminino e quebrar a resist�ncia das mulheres, que � o calcanhar de Aquiles do Bolsonaro", diz ela.
A alta rejei��o de Bolsonaro entre o p�blico feminino (53% de acordo com a pesquisa Datafolha mais recente, de 18/8) fez com que participar da campanha se tornasse um compromisso inevit�vel para a primeira-dama — e uma exig�ncia cada vez maior de aliados. Toda a organiza��o de sua participa��o, no entanto, passa pelo presidente — o pessoal da campanha n�o tem acesso direto � primeira-dama.
Segundo Silas Malafaia, h� esfor�os para prejudicar Bolsonaro junto ao eleitorado feminino "por causa desse jeito mach�o que ele tem". "Ent�o ela est� vendo o marido tomar pancada como se ele n�o gostasse de mulher e resolveu botar a cara", afirma Silas Malafaia.
Bolsonaro tem muito menos votos entre as mulheres, de acordo com o Datafolha divulgado em 18/8: 33% dos eleitores em geral votariam no presidente, mas o �ndice cai para 29% entre as mulheres.
A diferen�a � maior ainda na pesquisa Quaest, divulgada no dia 17/8: Bolsonaro tem 30% de inten��o de voto entre as mulheres, �ndice que sobe para 37% entre os homens.
"Mesmo entre os conservadores, h� uma diferen�a consider�vel entre homens e mulheres", diz Testa. "A gente v� que homens evang�licos votam diferente de mulheres evang�licas. Ent�o, Bolsonaro precisa aumentar sua aceita��o entre as mulheres conservadoras."
Michelle tem vantagem para buscar esse eleitorado, diz Testa, tamb�m porque ela � evang�lica, enquanto o presidente se declara cat�lico.
"E o posicionamento que ela sempre teve como primeira-dama, sobretudo nas pautas sobre as pessoas com defici�ncias, sobre crian�as, � um discurso de cuidado, da mulher numa posi��o de cuidado", continua a professora.
"Isso passa a imagem de que a sua influ�ncia sobre o presidente poderia impactar positivamente, que a figura dela poderia aliviar essa postura mais violenta do presidente, que incomoda esse eleitorado que eles est�o buscando."
Sil�ncio sobre covid
Um ex-membro do governo que tamb�m � evang�lico e se distanciou dos Bolsonaros em 2020 diz que Michelle sempre foi "forte e ativa", mas preferia ficar longe dos holofotes para evitar cr�ticas. "� muito comum entre os crentes a ideia de que o mundo (os n�o-religiosos) n�o (nos) entende", afirma.
Outras pessoas pr�ximas a Michelle, no entanto, deram uma justificava diferente para o atraso da entrada da primeira-dama na campanha, segundo o portal Metr�poles. Ela n�o teria podido participar por causa de efeitos tardios de uma contamina��o por covid — a doen�a teria causado labirintite � primeira-dama.
A pandemia de covid, inclusive, � um tema sobre o qual a primeira-dama n�o se pronuncia muito. O m�ximo foi uma declara��o dada por meio da Secretaria de Comunica��o do Planalto em 2021, quando o �rg�o disse que Michelle tomou a vacina (contra a qual Bolsonaro levantava d�vidas) nos EUA.
"Como j� pensava em receber o imunizante, resolveu aceitar", disse o �rg�o em nota. "A primeira-dama reitera a sua admira��o e respeito ao sistema de sa�de brasileiro, em especial, aos profissionais da �rea que se dedicam, incansavelmente, ao cuidado da sa�de do povo."
No final daquele ano, Michele participou do pronunciamento de Natal do presidente ao lado do marido, mas nenhum dos dois comentou a pandemia.

Piadas e buqu�s
Se a postura de Bolsonaro ou a forma como ele fala sobre as mulheres afasta parte desse eleitorado, a primeira-dama n�o d� sinais de que se incomoda com declara��es do marido — mesmo quando ela � o alvo.
Em julho, durante uma conversa com apoiadores no Pal�cio do Planalto, Bolsonaro fez uma piada com Michelle ap�s apoiadores elogiarem sua esposa.
"Como ela falava muito alto comigo em casa, eu falei 'vai aprender Libras' e ela aprendeu Libras", disse ele, provocando risadas dos presentes.
Integrante do Minist�rio de Surdos e Mudos da Igreja Batista Atitude, no Rio de Janeiro, Michelle diz que aprendeu Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) por influ�ncia de um tio que � surdo e se aprofundou na linguagem em 2015.
Na mesma conversa, o presidente fez uma piada com dinheiro. "Ganho R$ 33 mil, mas n�o gasto quase nada, quem gasta � a mulher", disse rindo. "Inclusive todo dia quando levanto ela me pede R$ 5 mil."
Pessoas que conhecem a primeira-dama de perto dizem que ela n�o se incomoda com as falas.
"Ele � mach�o, e mulher gosta de mach�o, na minha vis�o mulher n�o quer um homem frouxo", diz Silas Malafaia.
"Ele sempre foi assim, � uma brincadeira inofensiva. Na verdade ele a respeita muito, � muito dedicado", diz um pol�tico carioca que conhece o casal.
Com 27 anos de diferen�a entre eles, Bolsonaro e Michelle se conheceram em 2006 quando ela trabalhava como secret�ria na C�mara dos Deputados.
Um dos gabinetes pelos quais passou foi o do deputado Dr. Ubiali, parlamentar de esquerda filiado ao PSB. Quem passava pelo corredor conseguia ver a imagem de Michelle em um espelho, na mesa onde ela recepcionava o p�blico. O escrit�rio ficava bem pr�ximo ao gabinete de Bolsonaro, que na �poca era deputado federal.
"Um dia eu cheguei e tinham entregado um buqu� de flores gigantesco", conta Ubiali � BBC News Brasil. "N�o dava nem para ver a mesa, o buqu� ocupava tudo. Eu perguntei o que era aquilo e todo mundo apontou para o gabinete do lado. Foi assim que fiquei sabendo que existia uma paquera entre Bolsonaro e Michelle."
Ubiali — que desde ent�o n�o teve mais contato com a primeira-dama — diz lembrar muito pouco da secret�ria, mas s� tem elogios, apesar das diferen�as ideol�gicas — hoje ele tenta se eleger novamente pelo PSB, que apoia Luiz In�cio Lula da Silva (PT) para a Presid�ncia. Ubiali diz que Michelle era uma "mo�a bonita e educada", n�o muito extrovertida, que recebia o p�blico muito bem. Ele tamb�m usa os adjetivos "t�mida" e "discreta".

Depois do gabinete de Ubiali, Michelle foi trabalhar para a lideran�a do PP, onde ganhava R$ 2.900. N�o demorou para Bolsonaro contratar a secret�ria para trabalhar em seu gabinete, onde ela foi sucessivamente promovida e passou a ter um cargo mais alto, segundo a Folha de S. Paulo. O sal�rio desse cargo era R$ 8 mil na �poca (o equivalente a R$ 17,7 mil em valores corrigidos pelo INPC). Em 2017, Bolsonaro disse ao jornal O Globo que "agiu dentro da lei" ao contratar a namorada.
Dois meses depois, em novembro de 2007, Michelle foi de namorada a esposa quando os dois se casaram no civil, sem alarde. No ano seguinte, 2008, a proibi��o do nepotismo na administra��o p�blica fez com que Michelle tivesse que ser exonerada. Desde ent�o ela passou a se dedicar a atividades na igreja e hoje define sua profiss�o como "int�rprete de Libras".
A cerim�nia religiosa e a festa de casamento aconteceram em 2013 em uma mans�o no Rio de Janeiro, com direito a vestido branco, 150 convidados, choro emocionado do capit�o e discurso apaixonado.
"Voc� � um peda�o de mim", declarou Bolsonaro a Michelle na ocasi�o.
Por Michelle, Bolsonaro tamb�m reverteu uma vasectomia para o casal poder conceber a filha, Laura, nascida em 2010, antes do casamento religioso. O pr�prio pol�tico — que j� tinha os filhos Fl�vio, Eduardo, Carlos e Renan de outros casamentos — revelou que j� tinha decidido n�o ter mais filhos.
Mas ele mudou de ideia, contou, para realizar o sonho de Michelle de ser m�e novamente — ela j� tinha uma filha, Let�cia, de um relacionamento anterior, mas queria um fruto da uni�o com Jair. Hoje, Let�cia tem 19 anos e tem um contrato para revender com exclusividade em Bras�lia produtos do maquiador Augustin Fernandes, amigo de Michelle.
Ao lado e t�o longe
Se o casamento com Michelle e o protagonismo que ela ganhou na campanha s�o formas de se aproximar do eleitorado feminino e rebater as acusa��es de machismo, a fam�lia da esposa cumpriu um papel parecido para Bolsonaro quanto �s acusa��es de racismo.
Nascida na Ceil�ndia, uma das regi�es mais pobres do Distrito Federal, Michelle tem quatro irm�os e � filha de Maria das Gra�as Firmo, uma dona de casa, e Vicente de Paulo, um motorista de �nibus aposentado. Conhecido como "Paulo Neg�o", o pai de Michelle j� foi citado diversas vezes por Bolsonaro para rebater cr�ticas sobre falas consideradas racistas.
Entre os epis�dios, est�o momentos como quando o ex-militar usou um termo usado para medir o peso de gado para falar de pessoas negras de um quilombo. O caso aconteceu em 2017, no clube Hebraica do Rio de Janeiro. Outro momento foi quando foi questionado por Preta Gil, no programa de TV CQC: "Bolsonaro, se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que voc� faria?"
Bolsonaro respondeu que n�o iria "discutir promiscuidade de quem quer que seja". "Eu n�o corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados. E n�o viveram em ambiente como lamentavelmente � o teu", afirmou.
O ent�o deputado afirmou que sua fala na Hebraica foi tirada de contexto e que n�o tinha entendido a pergunta de Preta Gil. E diversas vezes citou a fam�lia da esposa para dizer que n�o � racista. Al�m do sogro, j� mostrou uma foto do cunhado, um jovem negro, em uma dessas ocasi�es.
Mais velha entre os cinco irm�os, Michelle come�ou a trabalhar logo depois do Ensino M�dio. Antes de conseguir emprego como secret�ria na C�mara, foi demonstradora de produtos em um supermercado e chegou a considerar a carreira de modelo — mas desistiu da ideia por conselho de uma colega da igreja. Foi em Ceil�ndia, inclusive, que ela se converteu ao protestantismo.
Diferentemente do lado paterno, o lado materno da fam�lia de Michelle foi mantido � dist�ncia pelo casal presidencial desde que Bolsonaro decidiu concorrer � Presid�ncia.

A av� materna, Maria Aparecida — que disse � revista Veja que ajudou a criar Michelle — cumpriu pena por tr�fico de drogas no anos 1990. E Maria das Gra�as, a m�e, foi indiciada por falsidade ideol�gica em 1989, mas o processo ficou anos parado na Justi�a e acabou arquivado por prescri��o. Nenhuma das duas foi convidada para a posse em 2018.
Um parente do lado materno foi convidado para a posse, no entanto: o sargento da PM aposentado Jo�o Batista Firmo Ferreira, tio de Michelle. Jo�o foi preso um ano depois, em 2019, acusado pelo Minist�rio P�blico de participar de uma mil�cia que atuava na comunidade Sol Nascente, no Distrito Federal.
Jo�o Batista negou as acusa��es e seus advogados disseram que tudo se tratava de um mal entendido. Em 2020 ele teve direito a esperar o julgamento em liberdade, mas foi condenado pela Justi�a a dez anos de pris�o em 2021.
� �poca, Bolsonaro atribuiu a divulga��o do caso como um ataque a Michelle e uma tentativa da m�dia de prejudic�-lo relacionando o casal com pessoas que n�o eram pr�ximas.
Em agosto de 2020, a fam�lia de Michelle voltou ao notici�rio com a morte de sua av� por complica��es causadas pela covid em um hospital de Bras�lia. O Planalto publicou uma nota de pesar ap�s parentes reclamarem publicamente da falta de assist�ncia da neta famosa.
"Ela sente e afirma que � um momento de tristeza e dor para toda a fam�lia", dizia o comunicado oficial da Secom. "A senhora Michelle Bolsonaro lamenta que alguns parentes tratem certos momentos t�o pessoais com oportunismo em desrespeito ao sofrimento de todos. A primeira-dama permanece recolhida em casa e espera que o momento de luto seja respeitado, acima de quaisquer quest�es pessoais e familiares."
Dep�sitos de Queiroz
Naquele mesmo m�s de agosto, Bolsonaro se irritou e respondeu agressivamente a um jornalista ao ser perguntado sobre um outro assunto envolvendo o nome de sua mulher — o inqu�rito que investigava o suposto esquema de "rachadinhas" no gabinete de Fl�vio Bolsonaro, filho do presidente, na �poca em que ele era deputado estadual no Rio de Janeiro.
"Rachadinha" � como � popularmente conhecido o crime de desvio de recursos p�blicos por meio da contrata��o de funcion�rios que repassam parte do seu sal�rio — pago pelo Estado — para o pol�tico que os contratou.
"Estou com vontade de encher tua boca na porrada, t�?", disse o presidente a um rep�rter do jornal O Globo ao ser questionado sobre o assunto.
O nome da primeira-dama apareceu no caso quando o Minist�rio P�blico investigava Fabr�cio Queiroz, ex-policial e ex-assessor de Fl�vio, apontado como o operador do esquema. Ao quebrar o sigilo fiscal do investigado, o MP encontrou dep�sitos do ex-policial para a conta banc�ria de Michelle que somavam o valor de R$ 89 mil, feitos entre 2011 e 2016. Bolsonaro disse � �poca que os dep�sitos eram pagamentos por um empr�stimo que havia feito a Queiroz anteriormente.
Queiroz chegou a ser preso, mas a investiga��o foi interrompida ap�s parecer da Procuradoria-Geral da Rep�blica. O �rg�o, comandado por Augusto Aras, indicado por Bolsonaro, � respons�vel por autorizar investiga��es e apresentar den�ncias na Justi�a contra o presidente.
Nesse caso, Aras pediu o arquivamento. O processo ent�o foi arquivado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), j� que os ministros entenderam que n�o podem dar continuidade se n�o existir pedido da acusa��o.

O caso foi muito negativo para a imagem de Michelle, at� ent�o bastante preservada. Na internet, o apelido pejorativo "Micheque" foi replicado intensamente em memes e cr�ticas. Somente entre 22/8 e 21/9 de 2020, o apelido foi usado quase 9 milh�es de vezes nas redes sociais Twitter, Instagram e Facebook, segundo a consultoria Quaest.
Boom de popularidade
Hoje, no entanto, associa��es com os esc�ndalos n�o impediram o aumento da popularidade da primeira-dama nas redes sociais.
Entre 26 de julho e 25 de agosto, Michelle ganhou 185 mil novos seguidores no Instagram, com um pico de ganho no come�o do m�s — que coincidiu com seu maior protagonismo na campanha. A consultoria Bites, que fez um levantamento recente sobre a atua��o da primeira-dama, a classificou como "um dos principais ativos digitais" do presidente.
Para Graziella Testa, da FGV, a campanha n�o tem nem preocupa��o em tentar descolar a imagem de Michelle do esc�ndalo envolvendo Queiroz.
"Nesse momento, n�o existe uma tentativa de buscar um eleitorado que se sentiu impactado por essas pautas", diz a pesquisadora.
Nas elei��es de 2018, afirma, o eleitorado que se incomodava com esse tipo de pauta, para quem o combate � corrup��o era uma pauta central, teve a tend�ncia a votar em Bolsonaro. "Mas tamb�m teve a tend�ncia a votar em Bolsonaro o eleitorado conservador. E talvez para esse eleitorado conservador, a pauta da corrup��o n�o seja t�o relevante."
Para o eleitorado que se importa com a corrup��o, diz ela, a atua��o de Michelle n�o importa muito. "E para o eleitorado evang�lico essa associa��o (com o caso Queiroz) n�o � t�o relevante", afirma.
Outra pol�mica que n�o parece afetar negativamente o eleitorado composto por mulheres evang�licas s�o as acusa��es de intoler�ncia religiosa contra religi�es afro-brasileiras.
No in�cio do m�s, Michelle compartilhou em sua conta no Instagram um v�deo de Lula recebendo uma chuva de p�talas de rosas em um ritual de umbanda e escreveu "Isso pode n�? Eu falar de Deus n�o". O v�deo havia inicialmente sido compartilhado pela vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos), que escreveu "Lula j� entregou sua alma para vencer essa elei��o" e "lutamos contra os principados e potestades das trevas".
O compartilhamento foi repudiado por entidades religiosas afro-brasileiras, mas essa cr�tica pode n�o afetar o eleitorado que a campanha busca conquistar, dizem analistas. Pelo contr�rio: na vis�o de analistas, visa justamente engajar o p�blico evang�lico neopentecostal.
De acordo com a an�lise do historiador e te�logo Andr� Neto para o Observat�rio Evang�lico, o alto volume do discurso religioso do bolsonarismo � um esfor�o constante para identificar sua candidatura com evang�licos — inclusive em pontos problem�ticos.
"Os cultos de matriz africana ainda s�o estigmatizados e identificados com 'o mal' entre os evang�licos, especialmente os pentecostais e neo-pentecostais", escreveu Neto em uma an�lise publicada nesta ter�a (23). "Os protestantes hist�ricos, embora tenham aderido ao bolsonarismo, n�o t�m tradi��o em falar sobre dem�nios."
Na segunda-feira (22/08), Michelle falou sobre persegui��o religiosa durante um culto no Distrito Federal — mas para atacar candidatos de esquerda. Sem provas, afirmou que as igrejas crist�s ser�o perseguidas se Bolsonaro n�o vencer a disputa eleitoral.
"Orem para os que est�o sendo enganados. N�s estamos vendo o que o comunismo est� fazendo nos pa�ses, perseguindo igrejas, queimando igrejas cat�licas, v�o perseguir os crist�os do Brasil", afirmou a primeira-dama.
� um tipo de cr�tica mais incisiva que Michelle n�o tinha quando sua principal pauta era o programa do governo para incentivar o voluntariado, o P�tria Volunt�ria, no qual ela � presidente do conselho.
Lan�ado em 2019, o programa visa incentivar doa��es e voluntariado a entidades assistenciais. Em 2021, Michelle viajou por diversas cidades para promov�-lo. No mesmo ano, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que o total arrecadado e repassado a entidades at� aquele momento (R$ 5,89 milh�es) era menos do que os R$ 9 milh�es gastos pelo programa com publicidade. A Presid�ncia da Rep�blica, a Casa Civil e o Minist�rio da Cidadania n�o responderam aos questionamentos sobre o assunto.
Toda a visibilidade que a primeira-dama est� tendo com essa mudan�a de postura cria a possibilidade para que Michelle procure uma carreira pol�tica pr�pria, avalia Graziella Testa.
"A visibilidade — que ela pode ganhar ainda mais numa eventual reelei��o — pode gerar um capital pol�tico para buscar uma elei��o. Eu n�o me surpreenderia se isso acontecesse. Tudo vai depender muito do que vai acontecer nesta elei��o", afirma.
At� agora, a primeira-dama n�o deu sinais p�blicos de se interessar por esse caminho, embora esteja se estabelecendo como figura influente politicamente no mundo religioso.
Um ex-aliado de Bolsonaro, no entanto, avalia que uma futura candidatura de Michelle n�o seria do interesse do presidente. "N�o deu certo com a ex", explica o ex-bolsonarista, se referindo a Rog�ria Nunes Braga, primeira mulher de Jair e m�e de seus tr�s filhos mais velhos.
Com ajuda de Bolsonaro, Rog�ria foi eleita vereadora no Rio de Janeiro em 1992 e 1996. No entanto, a independ�ncia da mulher, que n�o consultou o marido quanto a algumas vota��es, acabou gerando rusgas entre o casal, que se separou em 1998. O pr�prio Bolsonaro admitiu o problema em uma entrevista � revista Isto� Gente em fevereiro de 2000.
"Meu primeiro relacionamento despencou depois que elegi a senhora Rog�ria Bolsonaro vereadora, em 1992", afirmou o capit�o. "Acertamos um compromisso. Nas quest�es pol�micas, ela deveria ligar para o meu celular para decidir o voto dela. Mas come�ou a frequentar o plen�rio e passou a ser influenciada pelos outros vereadores. Eu a elegi. Ela tinha que seguir minhas ideias. Acho que sempre fui muito paciente e ela n�o soube respeitar o poder e liberdade que lhe dei."
Naquele ano, Bolsonaro emancipou o filho Carlos, na �poca com 17 anos, para ele poder concorrer ao cargo de vereador e capitalizar os votos dos seus simpatizantes. Carlos foi eleito com 16 mil votos — sua m�e, no mesmo pleito, n�o conseguiu se eleger. "N�o foi uma elei��o de filho contra m�e, mas sim de filho com o pai", disse Bolsonaro ao jornal O Estado de S. Paulo na �poca. "Para mim, ela j� est� morta h� muito tempo."
Hoje, os desentendimentos com a ex-mulher est�o resolvidos. Rog�ria � filiada ao PL, mesmo partido do presidente, e — assim como Michelle — pede votos para Bolsonaro nas redes sociais, onde disse que ele "nunca foi um homem agressivo".
- Este texto foi publicado originalmente em http://bbc.co.uk/portuguese/brasil-62668831
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