(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ENTREVISTA

Elei��o de Bolsonaro n�o � imposs�vel, mas � improv�vel

Autores de livro sobre como os presidentes brasileiros foram escolhidos desde a redemocratiza��o apontam que eleitorado � pouco sujeito a eventos de campanha


18/09/2022 04:00 - atualizado 18/09/2022 07:40

Tiago Garrido e Alberto Carlos Almeida- autores do livro 'A mão e a luva: O que elege um presidente'
Tiago Garrido e Alberto Carlos Almeida avaliaram como os candidatos se moldaram � opini�o p�blica para vencerem corrida at� o Planalto (foto: Arquivo pessoal)
�s v�speras do primeiro turno das elei��es presidenciais de 2022, os acontecimentos que rondam as campanhas dos principais candidatos s�o muito discutidos sob a l�gica do poss�vel impacto eleitoral. Cada passo e fala � avaliado a partir de como pode influenciar na defini��o de quem subir� a rampa do Pal�cio do Planalto no ano que vem. Para os autores do livro “A m�o e a luva: O que elege um presidente”, lan�ado neste ano pela Editora Record, a vontade do eleitor n�o est� t�o sujeita a epis�dios espec�ficos.

O livro foi escrito pelo doutor em Ci�ncia Pol�tica, Alberto Carlos Almeida, e pelo professor e mestre em Geografia Tiago Garrido. Os autores partem da analogia utilizada por Machado de Assis em seu segundo romance e comparam a hist�ria da personagem Guiomar na escolha de seus pretendentes com a forma como a opini�o p�blica escolhe para a presid�ncia, o candidato (ou a luva) que melhor se encaixa aos seus anseios no momento.

“A m�o e a luva: O que elege um presidente” analisa cada uma das elei��es presidenciais desde a redemocratiza��o e estabelece paralelos para apontar que os pleitos s�o definidos por um eleitorado menos sujeito � mudan�as r�pidas do que se imagina. Em entrevista ao Estado de Minas, os autores explicam como chegaram �s conclus�es apontadas no livro e fazem proje��es para as elei��es deste ano.

ENTREVISTA

Estado de Minas: Voc�s apontam o controle da infla��o, o aumento do poder de compra e o cen�rio do desemprego com grande relev�ncia na defini��o de elei��es anteriores. Estes s�o realmente os fatores mais decisivos e outros aspectos como a pauta de costumes, ser menos ou meias progressistas correm por fora?

Alberto Carlos Almeida: No primeiro cap�tulo a gente divide o eleitorado em tr�s partes: a moralidade da direita, a moralidade da esquerda e o centro. Toda a sociedade voc� pode dividir assim, tem pesquisas mostrando isso. Tem pessoas que s�o mais conservadoras, que querem lei e ordem, que acham que a sociedade � fr�gil, que temos que seguir as regras que a� est�o e os recalcitrantes tem que ser punidos. O outro lado s�o os progressistas, a esquerda, que assume que muitas regras s�o ruins para os mais fracos e elas tem que ser subvertidas e mudadas.  Existe tamb�m o pessoal do centro, aqueles que t�m um pouco de cada uma dessas prefer�ncias. Essa quest�o dos costumes � como a base de tudo. 

Essa � a base: a pessoa mais conservadora vai avaliar melhor a economia no governo Bolsonaro do que a pessoa menos conservadora e vice-versa. Esses temas agora est�o aflorados, eles foram mobilizados por Bolsonaro a partir da elei��o passada para trazer eleitores explicitamente para ele. Isso � parte do jogo, mas o determinante na elei��o � esse eleitor que muda de voto e esse eleitor que muda de voto est� no centro, nem na esquerda nem na direita.


Tiago Garrido: Esse eleitor mais de centro, ele tem muito esclarecida a descri��o do trabalho do presidente. Ele sabe o que esperar do presidente. Ele sabe que a principal tarefa do presidente � melhorar a vida dele, ent�o quando isso n�o acontece ele vai punir o candidato. Ele sabe que o presidente � muito respons�vel pela quest�o do controle da infla��o, pela quest�o do desemprego, pelo poder de compra dele. As outras quest�es e moralidades relativizam isso. Se for um eleitor de direita, muito afinado com essa ideia de comunidade moral, ele vai relativizar a quest�o da crise e se for um eleitor de esquerda, ele vai ficar tamb�m muito indignado com essa situa��o de crise econ�mica, ele vai ficar muito escandalizado com o fato de pessoas ainda votarem no Bolsonaro. Quando a gente conversa com as pessoas, elas ficam muito intolerantes com rela��o a existir pessoas querendo votar no presidente, a existir milhares de pessoas l� no 7 de Setembro. Agora um eleitor que muda de voto, ele nem bate palma e nem se escandaliza. Ele simplesmente entende e vai l� e ele muda o voto e vai fazendo altern�ncia do poder acontecer.


Voc�s terminam o cap�tulo sobre as elei��es de 2014 dizendo que em disputas muito apertadas, recursos de campanha acabam sendo fundamentais para definir o resultado final. Neste ano, o cen�rio est� pr�ximo ao de 2014 ou mais estabilizado?

Alberto: No �ltimo cap�tulo do livro a gente utiliza um indicador como chave, que � o da avalia��o de governo. A avalia��o do governo Bolsonaro � bastante negativa. Ela vem melhorando, mas num ritmo muito lento. Bolsonaro tem um ruim/p�ssimo bem mais alto do que Dilma (Rousseff) tinha pr�ximo das elei��es de 2014. A Dilma tinha uma avalia��o de �timo/ bom entre 36% e 40% e o do Bolsonaro � de 28%, � bem diferente. Existe aquela ‘navalha de Occam’,  que � um crit�rio utilizado na ci�ncia para quando voc� tem duas teorias que explicam muito bem o mesmo fen�meno. Neste caso, a maneira de selecionar a melhor teoria � aquela que explica com o menor n�mero de vari�veis. No nosso caso, usamos a vari�vel da avalia��o de governo, com ela voc� consegue ver muita coisa. Pela avalia��o do governo Bolsonaro, se ele vencer ser� a primeira vez que isso acontece. Nada � imposs�vel, mas � improv�vel que algu�m ven�a com uma avalia��o assim. Nesse sentido, a campanha atual � diferente de 2014.


Tiago: Se voc� for relembrar, a elei��o de 2014 foi bastante emocionante do ponto de vista das pesquisas. Em agosto, por exemplo, morre o Eduardo Campos e a� a Marina (Silva) assume uma curva de alta e l� no fim do m�s j� est� tecnicamente empatada com a Dilma nas prefer�ncias de voto. O A�cio (Neves) ultrapassou a Marina na reta final, a Dilma foi a primeira candidata em campanha de que foi ao segundo turno com menos de 45% das inten��es de voto e o resultado se deu de uma forma apertad�ssima, com uma diferen�a de alguns poucos milh�es de votos. Hoje, se voc� olhar a campanha no caso do Bolsonaro, ele tem tido uma melhora na avalia��o, por�m essa melhora � lenta. Al�m disso, as inten��es de voto para o segundo turno v�m repetindo as inten��es de voto nas pesquisas de 2006, basicamente aquela rela��o de 60 a 40.


No livro, voc�s afirmam que a in�rcia � uma caracter�stica da opini�o p�blica, que ela n�o se altera em curtos per�odos de tempo. Nesse sentido, qual o impacto do que acontece em ano eleitoral e durante a campanha? 

Alberto: No nosso modelo de an�lise, n�s propomos que a campanha eleitoral n�o muda o estado de opini�o p�blica. Quando eu menciono o estado de opini�o p�blica � assim: ou a maioria quer mudan�a ou a maioria quer continuidade. Ent�o, o que que a campanha eleitoral consegue? Ela consegue posicionar seu candidato. Essa � a genialidade da campanha: posicionar seu candidato em fun��o do estado da opini�o p�blica. Recentemente eu vi o programa eleitoral de Lula na televis�o e ele diz: 'o governo Bolsonaro � p�ssimo. No meu governo era muito diferente'. Ele t� se posicionando e dizendo: 'olha voc�s comigo tem mudan�a do que est� a� agora e mudan�a com a seguran�a de algu�m que j� fez isso e fez melhor'. 

Outro exemplo � se voc� pegar as pesquisas p�blicas do Ipec, voc� v� que vem aumentando o percentual de pessoas que avaliam o governo Bolsonaro como �timo e bom e que votam em Bolsonaro.Isso significa que quem avaliava bem o governo e n�o votava no presidente passou a votar devido � campanha,  porque viu que ele � o candidato que vai dar continuidade ao que est� a�. Bem como tamb�m vem aumentando a propor��o de pessoas que avaliam o governo Bolsonaro como ruim e p�ssimo e que vota em Lula, porque ele se assumiu como a op��o de mudan�a. Ent�o a campanha tem esse poder de posicionar o candidato em rela��o � opini�o p�blica.

Tiago: Toda mobiliza��o ou do partido do candidato tenta criar ali um n�cleo gravitacional para atrair aqueles eleitores que tradicionalmente votam no candidato de direita ou na esquerda. Porque embora as pessoas se identifiquem, que o eleitorado do Nordeste, por exemplo, se identifique mais com o PT ou que o eleitorado evang�lico se identifique mais com Bolsonaro, o eleitor precisa ser lembrado disso. A campanha vai dizer: ‘olha, o candidato que cuida dos mais pobres, que se preocupa com o trabalhador � o Lula’ ou ‘o candidato que se preocupa com os valores da fam�lia � o Bolsonaro’. A campanha tem esse papel, o Bolsonaro foi l� recrutou a esposa dele, a primeira-dama para fazer campanha com o tom evang�lico e tudo mais. Isso n�o necessariamente alcan�a eleitores novos, mas voc� n�o est� permitindo que esses eleitores se desgarrem e v�o parar em alguma outra candidatura no primeiro turno.


Uma campanha eficiente ent�o precisa moldar o candidato ao anseio da opini�o p�blica no momento?

Alberto: Os pol�ticos de todos os lados v�o achar que eles podem ganhar qualquer elei��o. N�s estamos fazendo an�lise fria, de fora e est� dizendo que tem elei��o que n�o d� para ganhar. A gente utiliza at� o exemplo d’O Pr�ncipe, de Maquiavel. Um homem de virt�, que tenta controlar algumas vari�veis do mundo, constr�i uma barragem para evitar que uma enchente destrua o local onde ele vive. Vamos supor que o PT tenha feito isso em 94, a� vem uma enchente completamente fora do padr�o e destr�i a barragem, que foi o Plano Real. N�o havia nada ali que levasse o PT a ganhar, assim como n�o tinha como PSDB ganhar em 2006 ou 2010. Durante a campanha eleitoral, todos n�s, eu, voc�, a imprensa, a gente se comporta como se  tudo fosse controlado. Por exemplo, o Lula deu uma declara��o, disse que o com�cio do Bolsonaro parece uma reuni�o da ku-klux-klan e por isso ele vai cair nas inten��es de voto. O Bolsonaro falou de princesa, de imbroch�vel, ent�o ele vai cair nas inten��es de voto. N�o necessariamente. A inten��o de voto t� grudado em outras coisas, na economia, na infla��o, na avalia��o de governo, que vem da�. O que a gente t� dizendo � isso: tem elei��o que est� ganha e elei��o que est� perdida. A gente n�o est� dizendo para n�o concorrer. Se o PT n�o tivesse concorrido em 2018, algu�m teria ocupado o seu segundo lugar e talvez hoje fosse o favorito. Ent�o voc� tem que disputar sempre.

Tiago: Recentemente, o ex-presidente do Ibope, (Carlos Augusto) Montenegro  deu uma entrevista e falou que a elei��o j� est� decidida, s� falta o eleitor ir votar. No caso do nosso livro, a gente basicamente j� diz isso com um ano de anteced�ncia. A gente faz ali uma uma leitura probabil�stica fundamentada em algumas ressalvas e a gente indica que, um ano antes da elei��o, j� � poss�vel saber quem vai vencer no ano seguinte. � claro que est� condicionado a alguns fatores. Ent�o a gente aponta, com um ano de anteced�ncia, uma alta probabilidade de que o Lula seja o vencedor dessas elei��es. Lembrando que uma pequena probabilidade tamb�m pode acontecer. Nas elei��es de 2016 os Estados Unidos, as pesquisas indicavam que a probabilidade de Trump vencer era de 30% e a barreira era de 70%. E Trump foi eleito. 


O livro trata sobre as elei��es presidenciais, mas � poss�vel aplicar a mesma l�gica de an�lise nas disputas por governos estaduais e prefeituras?

Alberto: Ela se aplica. O prefeito � uma figura mais pr�xima do eleitor, quando voc� pega os dados de elei��es municipais, a aprova��o que o prefeito precisa para ser reeleito tende a ser maior que a avalia��o que a de  um governador, talvez porque esteja mais pr�ximo, n�o sei isso a� precisa ser mais estudado. O presidente e o governador s�o mais distantes do eleitor, s�o figuras mais distantes, na cidade o prefeito convive mais com a popula��o. 

No caso dos governadores, d� para ver que todos os governadores que disputaram a reelei��o com mais de 46% de avalia��o do mandato como �timo ou bom foram reeleitos at� hoje. Pode acontecer de algum n�o ser? Pode, claro que pode, mas � improv�vel. Por outro lado, todos os governadores que tiveram menos de 33% de avalia��o como �timo e bom perderam. E entre 33% e 46% voc� tem governadores que ganham e que pedem. A gente utiliza isso para para um modelo anal�tico da elei��o presidencial. Mas acontece tamb�m para Governador.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)