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Estado de Minas ELEI��ES 2022

Por que EUA est�o monitorando de perto vota��o no Brasil

Riscos � democracia, semelhan�as entre Trump e Bolsonaro e Lula e Biden e Amaz�nia explicam interesse maior dos americanos agora do que nos �ltimos pleitos.


23/09/2022 07:49 - atualizado 23/09/2022 08:15


Apoiadora de Bolsonaro em manifestação
Apoiadora de Bolsonaro em manifesta��o (foto: Reuters)

N�o h� muitas coisas em que ferrenhos opositores em Washington - como o estrategista de Donald Trump Steve Bannon e o senador socialista Bernie Sanders - consigam concordar. Mas ambos, e muitos outros pol�ticos e agentes p�blicos, reconhecem de modo un�nime que h� muito em jogo quando os brasileiros forem �s urnas, no pr�ximo dia 2.

"Esta ser� uma das elei��es mais intensas e dram�ticas do s�culo 21", afirmou Steve Bannon � BBC News Brasil.

"O destino da democracia do Brasil e de sua rela��o com os Estados Unidos ser� decidido nas pr�ximas elei��es", declarou o senador Patrick Leahy, um dos cinco senadores aliados de Sanders a propor no Congresso do pa�s uma resolu��o para "apoiar as institui��es democr�ticas brasileiras".

E embora autoridades brasileiras nos EUA se esquivem de comentar ou digam que o pleito � um "n�o assunto" na rela��o entre os dois pa�ses, em uma recente recep��o na capital americana em comemora��o aos 200 anos da independ�ncia do Brasil esse era justamente o pano de fundo da maior parte das conversas.


Lula e Bolsonaro
Lula teria semelhan�as com Biden e Bolsonaro, com Trump (foto: Getty Images)

No espelho

Os destinos das duas maiores democracias das Am�ricas parecem ter se entrela�ado nos �ltimos tempos. EUA e Brasil enfrentam desafios semelhantes e compartilham interesses comuns. Ambos lideram o ranking de pa�ses com maior n�mero absoluto de mortos por covid-19 e enfrentam n�veis de infla��o acima de 8%.

Os dois pa�ses tamb�m produzem commodities semelhantes - e por isso competem nos mercados internacionais. Enquanto o Brasil � o maior produtor de soja e laranja, seguido pelos EUA, respectivamente na segunda e quarta posi��es, os americanos est�o � frente na produ��o de milho, carne bovina, peru e frango, com o Brasil em segundo ou terceiro.

Mas enquanto competem com o Brasil, os EUA veem o pa�s se tornar o principal destino de investimentos da China em 2021, um golpe consider�vel para os americanos em sua zona de influ�ncia mais �bvia, a Am�rica Latina, na disputa com ares de Guerra Fria entre Washington e Pequim.

Por tudo isso, era de se esperar que o interesse sobre quem deve comandar o Brasil no ano que vem fosse alto. A novidade, no entanto, est� na quantidade de manifesta��es p�blicas sobre o assunto de altos funcion�rios ou representantes dos EUA meses antes da vota��o.

"H� um interesse maior e isso se deve � amea�a de ruptura democr�tica", diz Carlos Gustavo Poggio, especialista em rela��es Brasil-EUA e professor do Berea College, no Kentucky.

Desde a redemocratiza��o, argumenta ele, os pleitos foram pac�ficos, sem sobressaltos. "Agora temos um presidente que n�o deixa muito claro se vai obedecer aos resultados das urnas e que tem uma rela��o pr�xima com os militares", diz Poggio.


Banners da campanha de Lula em Brasília
Banners da campanha de Lula em Bras�lia (foto: Getty Images)

Desde que venceu a elei��o em 2018, Bolsonaro tem repetido acusa��es de fraude eleitoral sem nenhuma evid�ncia. O Brasil tem urnas eletr�nicas desde 1996 - e nenhuma fraude sistem�tica foi registrada at� hoje.

Durante uma recente visita ao Reino Unido para assistir ao funeral da rainha Elizabeth, Bolsonaro disse que, se receber menos de 60% dos votos, "aconteceu algo de anormal no TSE", o Tribunal Superior Eleitoral. Nas pesquisas de inten��o de voto, no entanto, ele nunca ultrapassou 35% e est� cerca de 10 pontos percentuais atr�s de Lula.

Embora tenha dito pontualmente que, se perder, "vai passar a faixa e se recolher", Bolsonaro lan�ou sistematicamente suspeitas ao processo eleitoral, mesmo tendo admitido n�o ter provas do que diz, e sobre sua pr�pria rea��o diante dos resultados.

Para muitas autoridades americanas, seu posicionamento ecoa o de Donald Trump, que lan�ou falsas alega��es de fraude sobre a democracia americana antes e depois de sua derrota para Joe Biden.

"Brasil e Estados Unidos s�o espelhos um do outro", diz o ex-vice-secret�rio de Estado dos EUA Thomas Shannon, que tamb�m atuou como embaixador dos EUA no Brasil no in�cio dos anos 2010. "O que acontece com uma dessas duas democracias acontece com a outra", ele completa.

Em um discurso recente � na��o, Biden foi claro ao dizer que acreditava que o movimento de Trump, o Maga (Make America Great Again ou Torne a Am�rica Grande de Novo, na tradu��o para o portugu�s) era uma amea�a � democracia.


Apoiadores de Trump invadem o Capitólio em 6 de janeiro de 2021
Apoiadores de Trump invadem o Capit�lio em 6 de janeiro de 2021 (foto: Reuters)

H� quem veja no forte interesse dos EUA nessas elei��es no Brasil uma forma de os americanos confrontarem seus pr�prios fantasmas de 6 de janeiro de 2021, quando os apoiadores de Trump invadiram o Capit�lio dos EUA enquanto a vit�ria eleitoral de Biden estava sendo certificada. O saldo foi de cinco mortos e de cenas que trincaram a auto-imagem do pa�s.

O historiador da Brown University, James Green, que estuda Brasil h� mais de 40 anos, diz que foi a primeira vez que ele viu o termo pejorativo "Rep�blica de Bananas", que pessoas nos EUA costumavam reservar aos vizinhos com processos pol�ticos ca�ticos na Am�rica Latina, sendo aplicado por americanos ao seu pr�prio pa�s.

Em julho, diante de uma plateia americana, o ent�o presidente do TSE, Edson Fachin, afirmou em Washington que o Brasil corria o risco n�o s� de repetir o 6 de janeiro, mas de vivenciar algo ainda "mais grave".

Diante de tudo isso, os americanos come�aram a se mover mais intensamente desde o fim do primeiro semestre. Em entrevista � BBC News Brasil, em maio, a subsecret�ria de Estado para Assuntos Pol�ticos, Victoria Nuland, afirmou que "o que precisa acontecer no Brasil s�o elei��es livres e justas, usando as estruturas institucionais que serviram bem a voc�s (brasileiros) no passado".

Pouco antes, uma conversa entre o chefe da CIA, William Burns, e ministros de Bolsonaro foi vazada. No di�logo, Burns pedia ao presidente brasileiro que parasse de lan�ar d�vidas sobre as elei��es. Bolsonaro negou que a conversa tivesse ocorrido.

Os pol�ticos tamb�m entraram em campo. O senador Leahy juntou-se a Bernie Sanders e outros quatro senadores democratas para apresentar uma resolu��o de apoio �s institui��es democr�ticas no Brasil que recomenda, entre outras coisas, que os EUA reconhe�am o vencedor do pleito brasileiro imediatamente ap�s o an�ncio do resultado pelo TSE, para desencorajar qualquer possibilidade de contesta��o.

E na C�mara dos Representantes, os democratas tentaram - e n�o conseguiram - aprovar uma medida que suspenderia a ajuda militar ao Brasil se as For�as Armadas abandonassem sua neutralidade pol�tica.

"�s vezes a mensagem � formal, outras vezes � vazamento, mas tudo est� tentando transmitir o pensamento de Washington", diz Nick Zimmerman, consultor s�nior do Brazil Institute e ex-assessor de pol�tica externa da Casa Branca no governo Barack Obama.


Amazônia em chamas
Enquanto o Brasil acelerou a devasta��o da Amaz�nia, a pauta do aquecimento global se tornou priorit�ria nos EUA e na Europa Ocidental (foto: Getty Images)

Para Zimmermann, o que est� em jogo n�o � s� a situa��o no Brasil, mas uma quest�o mais ampla de pol�tica internacional dos Democratas e de parte dos Republicanos sobre as amea�as globais � democracia.

"A ordem democr�tica multilateral constru�da ap�s a Segunda Guerra Mundial est� em risco de uma forma que jamais esteve nos �ltimos 80 anos. E isso � algo que os Estados Unidos v�o lutar para defender", diz Zimmerman.

Trump dos Tr�picos e Lula em estilo Biden

Questionar o processo eleitoral n�o � a �nica semelhan�a entre Trump e Bolsonaro, que tamb�m � conhecido fora do Brasil como "Trump dos Tr�picos".

Ambos fizeram campanha como outsiders, prometendo lutar contra as elites pol�ticas, mesmo que Bolsonaro j� fosse um veterano no Congresso Nacional.

Ambos incentivaram o nacionalismo e a posse de armas, e denunciaram os chamados "globalismo" e "ideologia de g�nero". Ambos dominaram a comunica��o direta com o eleitor via redes sociais.


Donald Trump faz um discurso
Bannon compara o bolsonarismo ao movimento Maga, de Donald Trump (foto: Reuters)

"Bolsonaro � um grande her�i para todos n�s", diz Bannon, que v� o Brasil como parte fundamental de um movimento populista de direita global.

"Ele est� no n�vel do [primeiro-ministro h�ngaro conservador e autorit�rio] Viktor Orb�n como algu�m que defende a soberania e construiu um movimento popular de bases. Ele tem evang�licos, ele tem pessoas da classe trabalhadora. Se voc� olhar para o bolsonarismo do Brasil, � muito parecido com o movimento Maga", diz Steve Bannon.

Do outro lado dessa disputa eleitoral, est� Lula, cuja trajet�ria os americanos comparam com a do pr�prio Biden.

Ambos vieram de origens humildes, de fam�lias de trabalhadores bra�ais, e se tornaram refer�ncias nacionais na pol�tica, ocupando alt�ssimos postos antes de voltar �s urnas: Biden como vice-presidente de Obama, Lula como presidente.

Ambos sempre tiveram na negocia��o seu principal ativo e costuraram coaliz�es amplas para garantir que os dois l�deres populistas de seus pa�ses tivessem apenas um mandato.

No caso de Lula, h� 8 ex-candidatos a presidente entre seus aliados, que incluem do l�der do movimento dos trabalhadores sem teto, Guilherme Boulos, ao ex-presidente do Bank of Boston, Henrique Meirelles.

Do lado americano, Biden foi capaz de unir desde o socialista Bernie Sanders a alguns republicanos, como o ex-secret�rio de Estado de George Bush, Colin Powell, falecido em 2021.

Al�m da intrigante semelhan�a entre os dois principais candidatos l� e c� e da possibilidade de uma elei��o contestada, h� outra raz�o pela qual o Brasil est� na agenda dos pol�ticos americanos e europeus.

Nos �ltimos anos, o Brasil acelerou o processo de desmatamento da Amaz�nia, a maior floresta tropical do mundo. O governo Bolsonaro reduziu o or�amento para conter a devasta��o do bioma. No ano passado, seu ent�o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi investigado e acusado pelos EUA de estar envolvido no tr�fico ilegal de madeira, o que ele nega. Ao mesmo tempo, o tema foi se firmando como prioridade tanto no atual governo dos Estados Unidos como na Europa Ocidental.

Agenda Verde e Esquerda

Para Shannon, ficou claro ao mundo que decis�es tomadas no Pal�cio do Planalto v�o impactar a vida de bilh�es de pessoas no Planeta.

Durante sua campanha eleitoral de 2020, Biden sugeriu que os americanos liderassem a cria��o de um fundo internacional de bilh�es de d�lares que ajudaria o Brasil a pagar pela preserva��o da �rea florestal.

A promessa, no entanto, nunca saiu do papel. O principal motivo, segundo pessoas a par do assunto na administra��o, foi a falta de confian�a de que o governo Bolsonaro cumpriria as metas firmadas.

Bolsonaro afirma que o Brasil � refer�ncia na preserva��o ambiental e que as pol�ticas adotadas para a regi�o s�o tamb�m uma quest�o de soberania nacional e de desenvolvimento econ�mico.

Lula tem falado muito sobre sua inten��o de proteger a Amaz�nia e conseguiu atrair o apoio de Marina Silva, ambientalista internacionalmente respeitada e sua ex-ministra do Meio Ambiente por cinco anos.

Marina, no entanto, deixou de ser ministra de Lula denunciando falta de prioridade da agenda verde no segundo mandato do petista e, tanto Lula quanto sua sucessora, Dilma Rousseff, levaram a cabo a constru��o de uma s�rie de hidrel�tricas no meio da Amaz�nia, o que causou s�rios danos � floresta e sua popula��o nativa.


Joe Biden observando
Biden chegou a propor cria��o de fundo internacional pr�-Amaz�nia durante sua campanha em 2020 (foto: EPA)

Se a nova postura mais verde de Lula agrada aos Estados Unidos, h� muito mais insatisfa��o com sua rela��o pr�xima com os regimes de Cuba, Nicar�gua e Venezuela - o que Lula tem tentado suavizar com declara��es sobre a necessidade de altern�ncia de poder nesses pa�ses.

Lula tamb�m foi um grande defensor do BRICS, bloco formado por �ndia, R�ssia, China, �frica do Sul e Brasil, que alguns viam como um desafio ao poder ocidental.

Em contraste, sob Bolsonaro em 2019, pela primeira vez na hist�ria, o Brasil votou a favor do embargo dos EUA a Cuba, junto com os pr�prios EUA e Israel, e contra 187 outros pa�ses.

Diante de Biden, Bolsonaro teria lembrado que ele funciona como um escudo contra o que chama de "dissemina��o do comunismo" na Am�rica Latina.

Ainda assim, mesmo sob protestos dos americanos, o presidente brasileiro visitou o presidente Vladimir Putin em Moscou em 2022, apenas duas semanas antes do in�cio da guerra na Ucr�nia.

Para Shannon, independentemente de quem ven�a a elei��o, o Brasil ser� um grande jogador internacional, com quem os EUA precisam trabalhar, sem pretens�es de dominar.

"A diferen�a entre o Brasil e os EUA � que os EUA s�o uma superpot�ncia global e eles sabem disso", diz ele. "O Brasil � uma superpot�ncia e ainda n�o descobriu."

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63003434

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