O Estado de Minas foi �s ruas de Belo Horizonte para ouvir os eleitores e refletir, junto a eles, se falta uma fiscaliza��o dos candidatos que foram votados e dos pol�ticos que foram eleitos.
Delcir Alves, aposentado, n�o recorda em quem votou para os cargos do Congresso Nacional em 2018, assim como n�o se lembra em quem escolheu para represent�-lo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Quanto ao vereador, nas elei��es de 2020, dois anos atr�s, ele tamb�m n�o se recorda. No entanto, afirmou que a “consci�ncia est� tranquila”.
“N�o fiscalizei meus candidatos, mas eu fico com a minha consci�ncia tranquila. O que aconteceu, eu n�o sou culpado de nada”, afirmou.

Samuel Evangelista, t�cnico em contabilidade, tamb�m n�o se lembra em quem votou para deputado federal e estadual h� quatro anos, e justificou que a falta de fiscaliza��o desses candidatos se d� pelo “distanciamento” dos parlamentares.
“Eu n�o acompanho, n�o fiscalizo. S� acompanho atrav�s da m�dia, mas no dia a dia n�o. (...) Acho que os deputados s�o mais distantes. Os do Poder Executivo todos os dias est�o na televis�o. Eu acompanho mais prefeito, governador e presidente”, explicou.
Mas fiscalizar pol�ticos � fun��o do cidad�o? Sim. O Tribunal Superior Eleitoral afirma que “o cidad�o tem papel fundamental na fiscaliza��o de seus representantes e que mais do que ser eleitor, compete a ele acompanhar de forma permanente o que est� sendo executado”. E assim tamb�m afirma o cientista pol�tico, Thiago Silame. Entretanto, o professor afirmou que o fato de esquecer em quem votou n�o reflete uma falta do cidad�o.
Fiscaliza��o dos eleitos
“N�o necessariamente significa uma neglig�ncia por parte do cidad�o. Em decorr�ncia das caracter�sticas do nosso sistema eleitoral que � complexa, a maioria dos eleitores n�o elege um deputado, portanto, ele sequer saber� quem ele pode fiscalizar. Contudo, em uma democracia, cabe aos eleitores fiscalizarem aqueles que exercem o poder independentemente se o seu candidato foi eleito ou n�o”, disse.
O cientista tamb�m ressaltou que o esquecimento se d� por dois fatores importantes: o sistema pol�tico de voto proporcional em lista aberta e pela alta oferta de candidatos. Para ele, esses fatores ajudam a “confundir” a cabe�a do eleitor.
“Adotamos o voto proporcional em lista aberta. Isto torna a elei��o um pouco confusa para o eleitor compreender, pois temos uma competi��o entre os partidos e dentro dos partidos. Ent�o, primeiro chega-se ao n�mero de cadeiras que cada partido vai obter em uma elei��o atrav�s do c�lculo do quociente eleitoral e depois distribui-se as cadeiras para os mais votados de cada partido.
Soma-se a isto a mudan�a nas regras eleitorais de 2017 que estabeleceu que o candidato. para conseguir uma vaga, tem que obter 10% de vota��o nominal considerando o quociente eleitoral”, disse em rela��o ao sistema pol�tico brasileiro.
Soma-se a isto a mudan�a nas regras eleitorais de 2017 que estabeleceu que o candidato. para conseguir uma vaga, tem que obter 10% de vota��o nominal considerando o quociente eleitoral”, disse em rela��o ao sistema pol�tico brasileiro.
“O outro fator � que os partidos podem lan�ar 100% das cadeiras em disputa mais um. Por exemplo, Minas Gerais elege 53 deputados federais. Cada partido pode lan�ar at� 54 candidaturas. Isso inflaciona a competi��o. A oferta de candidatos � muito alta. O fato � que a maioria dos eleitores n�o elege apenas um deputado, por isso fica dif�cil se lembrar em quem ele votou, muito porque provavelmente o candidato que o eleitor escolheu n�o foi eleito, mas o seu voto foi contado para o partido”, completou.
Jo�o Francisco dos Santos, aposentado, contou que tamb�m se sente confuso com o tanto de candidatos que precisa analisar e depois decidir o voto. Ele afirmou que se lembrar do voto para presidente � mais f�cil.
“Lembrar em quem votar para presidente � f�cil demais. Agora, para deputado estadual e federal j� � complicado, os n�meros s�o maiores. A quantidade de deputados � maior. Ent�o, a pessoa fica mais confusa. Quando � presidente a pessoa s� foca nele, porque s�o menos candidatos”, disse.
Para a cientista pol�tica Marta Mendes, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora, outro fator explica o porqu� as pessoas esquecem em quem votaram para os cargos legislativos: a falta de envolvimento com o meio pol�tico. Para ela, sem aumentar a viv�ncia pol�tica, � mais f�cil esquecer quaisquer quest�es que envolvem o tema.
“Outro fator � a natureza da rela��o que as pessoas t�m com a pol�tica. Porque se a maior parte da popula��o vota e depois n�o l� sobre pol�tica, n�o acompanha os seus representantes, n�o acompanha o notici�rio pol�tico, n�o t�m o h�bito da leitura, n�o t�m h�bito de acompanhar por meio de portais na internet, n�o est� inserida em conversa sobre pol�tica, ou n�o faz parte de grupos que poderiam aumentar a sua viv�ncia pol�tica, por meio de movimentos sociais, por meio da filia��o de partidos”, afirmou.
“Isso pode estar mostrando para gente que a escolha n�o � uma escolha significativa para o eleitor. Significativa no sentido de que existe um v�nculo com aquele candidato com aquela candidata”, completou, a professora.
Como n�o esquecer?
O professor e cientista pol�tico Thiago Silame afirmou que, para n�o esquecer o seu voto, � importante entender as atribui��es do Poder Legislativo e como ele se comporta dentro do sistema pol�tico.
“Penso que uma alternativa para o eleitor � tentar analisar que, muitas vezes, o Poder Executivo trabalha em conjunto com o Poder Legislativo. Seria prudente para o eleitor votar em um candidato do mesmo partido do Executivo. Ent�o, se ele votar para o candidato a presidente do Partido A que ele vote em Deputados Federais da mesma legenda. Assim, ele ter� pelo menos a possibilidade de pensar que ele est� possibilitando a governabilidade do presidente e governador que ele est� escolhendo”, disse.
J� Marta Mendes, professora da UFJF, ressaltou a import�ncia de mudar a rela��o que a popula��o tem com a pol�tica, j� que a democracia n�o se resume �s elei��es.
“� preciso mudar essas percep��es que a popula��o tem sobre a pol�tica, para reaproximar as pessoas da pol�tica, para criar um tipo de engajamento sustent�vel, duradouro, que vai muito al�m das elei��es, porque a democracia n�o pode se restringir �s elei��es. Uma democracia restrita �s elei��es vai ser sempre uma democracia muito falha, muito insuficiente, que vai ficar muito aqu�m do que a democracia pode e deve significar na vida de um povo”, afirmou.
J� para Rosimere Eixemberger, secret�ria executiva aposentada, a estrat�gia ser� uma colinha junto ao t�tulo de eleitor.
“Eu n�o me recordo em quem votei. Mas tenho uma colinha junto com o meu t�tulo para eu ver agora, na pr�xima elei��o, em quem eu votei”, disse.
O "Beab� da Pol�tica"
A s�rie Beab� da Pol�tica reuniu as principais d�vidas sobre elei��es em 22 v�deos e reportagens que respondem essas perguntas de forma direta e f�cil de entender. Uma demanda cada vez maior, principalmente entre o eleitorado brasileiro mais jovem. As reportagens est�o dispon�veis no site do Estado de Minas e no Portal Uai e os v�deos em nossos perfis no TikTok, Instagram, Kwai e YouTube.