
Assim como Ros�ngela, outras mulheres t�m os respectivos maridos como padrinhos nas elei��es. Muitos deles, aparecem e falam no curto espa�o destinado aos candidatos a cargos no legislativo na propaganda eleitoral.
S�o os casos de Fl�via Franchiscini (Uni�o Brasil), S�fora Mota (Podemos) e Nereide Pedregal (Avante), que usaram a estrat�gia em suas campanhas no Paran�, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, respectivamente.
No Cear�, a esposa do candidato ao governo do estado, Capit�o Wagner (Uni�o Brasil), adotou um nome na propaganda e na urna para n�o deixar d�vidas da rela��o com o marido. Virou Dayany Do Capit�o.
O fen�meno chama a aten��o no ano em que houve recorde no n�mero de candidatas. S�o 33,4% do total de postulantes.
"O apadrinhamento masculino � uma das principais estrat�gias discursivas das campanhas eleitorais das mulheres", afirma a cientista pol�tica M�rcia Alves.
Esse recurso, comum no universo pol�tico, captura o prest�gio de uma lideran�a conhecida do p�blico e transfere valores como confiabilidade e compet�ncia a um estreante.
"Mulheres n�o s�o naturalmente vistas como capacitadas para atuar em espa�os de poder", diz Alves. Tal racioc�nio tem raiz na ideia de que as mulheres pertencem ao espa�o privado e representam o sentimento, enquanto os homens atuam no espa�o p�blico com a raz�o.
Cientes da presen�a desses estere�tipos na sociedade brasileira, as campanhas mobilizam s�mbolos conhecidos do p�blico, como o de esposa.
Ros�ngela lan�ou-se ao p�blico em 2016, com a p�gina "Eu MORO com ele", no Facebook. Por ali, a advogada agradecia manifesta��es de apoio que o ent�o juiz recebia.
Nas redes sociais, diz que viveu a Lava Jato dentro da sua casa e faz brincadeiras como "ping pong dos conjos", em que fala curiosidades do relacionamento com Moro. O atual candidato ao Senado pelo Paran� tamb�m ia concorrer por S�o Paulo, mas teve sua candidatura barrada pelo Tribunal Regional Eleitoral do estado.
"Se um marido ajudando sua esposa � machismo, uma esposa ajudando seu marido � o qu�?", perguntou ela, quando questionada sobre o assunto. "Ele � um entusiasta de meus projetos e luta ao meu lado para que se concretizem. Isso n�o � e nunca deve ser machismo. � incentivo e amor."
Levantamento do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) mostra que, no pleito de 2018, 172 pessoas com parentesco pol�tico foram eleitas para a C�mara dos Deputados. Dentre os homens eleitos, 33% tinham familiares pol�ticos, contra 36% das mulheres eleitas.
A grande diferen�a est� no grau de parentesco. Apenas 8% dos homens com parentesco pol�tico eleitos tinham uma companheira que tamb�m atuava na vida p�blica, n�mero que salta para 54% em rela��o �s mulheres.
A baixa presen�a feminina na pol�tica brasileira explica parte dessa discrep�ncia. Em 2018, as mulheres ocuparam apenas 15% das cadeiras na C�mara dos Deputados e, ainda hoje, s�o minoria no alto escal�o de governos de distintas ideologias. Em 2020, s� uma mulher foi eleita na prefeitura de uma capital.
As cotas eleitorais de g�nero foram criadas para corrigir essa distor��o. Desde 2018, os partidos precisam distribuir o fundo eleitoral proporcionalmente ao n�mero de candidatas que lan�arem -ao menos 30%. Os partidos, no entanto, descumpriram a regra este ano.
"Os homens tamb�m v�m de fam�lia pol�tica, mas eles seguem v�rios caminhos para chegar � cadeira. O impacto da fam�lia parece ser maior para as mulheres do que para os homens", afirma a cientista pol�tica Danusa Marques.
A pesquisadora estudou capital familiar e pol�tica em seu doutorado, em 2012. Ela analisa que, entre os homens, � mais comum a passagem do bast�o: um pai ou av�, por exemplo, apadrinhando o filho ou neto.
Em rela��o �s mulheres, o apadrinhamento est� mais ligado ao aumento da influ�ncia do pol�tico. Decidir concorrer ao Senado, por exemplo, e tentar eleger a mulher na vaga que deixou na C�mara.
Apesar disso, essas mulheres n�o seriam, necessariamente, "enviadas".
"Isso n�o significa que a pessoa vai ser um pau mandado. � poss�vel ter apoio de algu�m e seguir a sua trajet�ria pol�tica", afirma.
Se eleita para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, S�fora Mota (Podemos) diz que seu marido, o apresentador de TV Alexandre, n�o vai ter interfer�ncia alguma em seu mandato.
"Como nunca teve", diz, rindo. "O meu mandato � sempre meu. N�o tem partido que manda, n�o tem homem que manda, n�o tem nada. Isso � uma quest�o muito cara para mim."
S�fora concorreu � C�mara dos Vereadores de Porto Alegre em 2012 pelo Republicanos, quando n�o atingiu o n�mero suficiente de votos. Na �poca, ela diz que a sua candidatura foi providencial para a sigla, que planejava lan�ar o apresentador como candidato no futuro.
Seu marido, por�m, nunca concretizou o plano de entrar na pol�tica, mas ela diz que se apaixonou pelo of�cio quando assumiu o mandato de Jos� Freitas (Republicanos), de quem era suplente.
M�e de uma crian�a autista, S�fora levanta a bandeira da inclus�o das pessoas com defici�ncia e da maternidade at�pica, como a dela.
Para vencer a elei��o, ela est� disposta a aparecer ao lado do marido. "N�s vivemos em uma sociedade machista. Eu sou feminista, mas eu n�o sou burra. Eu acho que a mulher tem que ocupar os espa�os. Independentemente de como ela chega, ela tem que chegar", afirma.
O apoio na campanha � permitido, mas h� regras. A lei autoriza que apenas 25% do tempo seja ocupado por apoiadores em inser��es e blocos de propaganda na TV ou no r�dio. Em redes sociais, folhetos e bandeiras, n�o h� limita��o. Quem desrespeita a regra precisa apenas parar de veicular a pe�a -n�o h� multa ou perda de tempo.
"Por isso, muitos candidatos correm o risco. A legisla��o n�o tem uma san��o que assusta", explica Marcelo Weick, membro da Abradep (Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Pol�tico).
Em uma de suas pe�as eleitorais, S�fora fala praticamente o mesmo tempo que o seu marido. Questionada, a candidata diz n�o ter calculado o tempo, e afirma que n�o recebeu nenhuma notifica��o at� agora. "O jur�dico orientou e aprovou a pe�a", conta.
Advers�rios podem alegar, em alguns casos, que a propaganda confunde o eleitor em rela��o a quem � o candidato.
Newsletter Elei��es 2022 Um resumo com o que de mais importante a Folha destaca sobre a elei��o *** Em setembro, Fl�via Francischini (Uni�o Brasil), que concorre a uma vaga na Assembleia Estadual do Paran�, precisou mudar o nome que apareceria na urna eletr�nica. Ela gostaria de usar apenas o sobrenome, o mesmo do marido, Fernando, que teve o mandato de deputado estadual pelo Paran� cassado por divulgar desinforma��es sobre a urna eletr�nica.
No seu hor�rio eleitoral, ela segue usando apenas o sobrenome. "Preciso do seu voto para que a Fl�via Francischini continue o nosso trabalho", diz ele.
"Meu marido n�o est� pedindo votos para mim, ele est� afirmando que eu irei devolver �s 427 mil vozes que foram silenciadas injustamente", afirma Fl�via.
No Rio, a voz do ex-deputado federal Ant�nio Pedregal, atual secret�rio de Envelhecimento Saud�vel no Governo do Rio, n�o � ouvida na propaganda da esposa Nereide (Avante), mas ele est� l�.
O marido aparece calado atr�s da ex-vereadora, que pede votos para se eleger deputada federal e, como diz, dar voz aos idosos em Bras�lia.
Procurada pela Folha, a assessoria do Avante disse n�o ter o contato da candidata e passou o do marido. Ant�nio Pedregal n�o atendeu.