
"Tenho que preservar minha biografia", disse o ent�o ministro da Justi�a e Seguran�a P�blica Sergio Moro ao anunciar sua sa�da do governo de Jair Bolsonaro em abril de 2020.
O ex-juiz da Lava Jato havia aceitado o cargo logo ap�s a elei��o do atual presidente, em novembro de 2018. Com menos de um ano e meio na fun��o, ele pediu demiss�o por discordar do que via como tentativas de interfer�ncia pol�tica de Bolsonaro na Pol�cia Federal.
Pouco mais de dois anos depois de sua sa�da do governo, agora senador eleito do Paran� pelo Uni�o Brasil, Moro declarou apoio � reelei��o de Bolsonaro.
Lula foi condenado pelo ex-juiz da Lava Jato, mas recuperou seus direitos pol�ticos depois que o Supremo Tribunal Federal anulou os processos que tramitaram em Curitiba, por considerar que Moro agiu com parcialidade.
"Lula n�o � uma op��o eleitoral, com seu governo marcado pela corrup��o da democracia. Contra o projeto de poder do PT, declaro, no segundo turno, o apoio para Bolsonaro", anunciou Moro por meio de sua conta no Twitter, em post com mais de 250 mil curtidas.
A Transpar�ncia Internacional expressou rep�dio �s declara��es de Moro e do ex-procurador Deltan Dallagnol, que tamb�m anunciou apoio a Bolsonaro.
"Cada qual � livre para expressar sua prefer�ncia entre as op��es do 2º turno das elei��es ou optar pelo voto nulo. Fomentar a intoler�ncia a qualquer escolha � incompat�vel com a defesa da democracia. Mas associar a luta contra a corrup��o ao apoio ao candidato Jair Bolsonaro � prestar imenso desservi�o � causa e desvirtuar o que ela fundamentalmente representa", diz a entidade, em nota.
"Desde 2019, a Transpar�ncia Internacional vem documentando e denunciando in�meros epis�dios de corrup��o no governo Bolsonaro e as vastas evid�ncias de crimes cometidos pelo pr�prio Presidente da Rep�blica e seus familiares. Ainda mais grave, denunciamos ao mundo, em diversos relat�rios, o desmanche, sem precedentes, dos arcabou�os legais e institucionais anticorrup��o que o pa�s levou d�cadas para construir."
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O an�ncio provocou rep�dio de antigos apoiadores de Moro que defendem uma posi��o de neutralidade no segundo turno.
"O apoio de Moro a Bolsonaro torna ainda mais deprimente o fim da Lava Jato. Quanto ao meu empenho pessoal, nos �ltimos anos, posso dizer apenas que falhei miseravelmente", disse no Twitter o jornalista Diogo Mainardi, fundador do portal Antagonista, mas que recentemente se desligou do ve�culo.
"Para derrotar um bandido � preciso apoiar outro bandido? Isso n�o � pragmatismo, e sim mau-caratismo", disse ainda em sua conta social.
J� o deputado federal Alexandre Frota (SP), que acaba de deixar o PSDB devido ao apoio do governador de S�o Paulo, Rodrigo Garcia, a Bolsonaro, lembrou as suspeitas contra a fam�lia presidencial ao criticar a decis�o de Moro.
"Sergio Moro foi expulso do Minist�rio em uma reuni�o marcante, Moro sempre disse que combateu a corrup��o, como ele vai explicar que agora apoia o Bolsonaro das rachadinhas do Queiroz, dos 51 apts [apartamentos] comprados com dinheiro de propina? Moro vai conviver com Fl�vio Bolsonaro?", escreveu no Twitter.
"Rachadinhas do Queiroz" � uma refer�ncia ao suposto esquema de desvio de recursos por meio de funcion�rios fantasmas que teria sido operado por Fabr�cio Queiroz no antigo gabinete de deputado estadual de Fl�vio Bolsonaro, hoje senador.
J� a men��o aos "51 apts comprados com dinheiro de propina" se refere a um levantamento feito pelo portal UOL que identificou 51 im�veis adquiridos ao menos parcialmente com dinheiro vivo por Bolsonaro e pessoas de sua fam�lia.
O presidente e seus filhos refutam as acusa��es e negam qualquer ilegalidade.
Pragmatismo e proximidade ideol�gica
Para a cientista pol�tica Fl�via Biroli, professora da Universidade de Bras�lia (UnB), Moro decidiu apoiar Bolsonaro por pragmatismo, para n�o ficar isolado no Congresso.
Ela lembra que o presidente conseguiu eleger v�rios aliados para o Senado, como os ex-ministros Damares Alves (Republicanos-DF), Marcos Pontes (PL-SP) e Tereza Cristina (PP-MS).

Na sua vis�o, Moro visa se posicionar pr�ximo desse grupo para conseguir fun��es importantes dentro do Congresso. Um parlamentar precisa de articula��o para, por exemplo, presidir comiss�es ou relatar projetos de lei considerados mais relevantes.
"Eu acho que a dimens�o pragm�tica � importante. O projeto do ex-juiz S�rgio Moro sempre foi ele mesmo. Esse � o principal projeto dele. Me parece que ele est� fazendo c�lculos pensando no mandato dele e nos poss�veis cargos que ele poderia ocupar no Congresso", analisa.
Al�m disso, Biroli destaca a proximidade ideol�gica entre Moro e Bolsonaro como outro fator que levou o ex-juiz a apoiar seu antigo desafeto, j� que ambos est�o no campo conservador e defendem, por exemplo, um endurecimento da atua��o policial.
"Em termos ideol�gicos, o alinhamento do Sergio Moro ao bolsonarismo, que se revela, cada vez mais, n�o pela sua cr�tica � corrup��o, mas mais pelo car�ter de extrema-direita que tem, pela despreocupa��o com a relev�ncia das institui��es democr�ticas, � algo que, do meu ponto de vista, � absolutamente esperado. Nesse sentido, � coerente", destacou.
J� do ponto de vista do combate � corrup��o, Biroli diz que seria mais coerente Moro ter ficado independente no segundo turno, sem apoiar qualquer um dos concorrentes.
"Ningu�m esperaria que ele apoiasse Lula, mas pelo bem da coer�ncia ele n�o apoiaria Bolsonaro, ainda mais com tudo que ele pr�prio denunciou ao sair e todos os registros que existem de corrup��o no governo Bolsonaro", ressaltou a professora.
Ap�s a declara��o de apoio, Bolsonaro disse ter "certeza de que Sergio Moro ser� um grande senador".
"T� superado tudo. E daqui pra frente � um novo relacionamento. Ele pensa, obviamente, no Brasil e quer fazer um bom trabalho para o seu pa�s e para o seu Estado. Ent�o, passado � do passado, n�o tem contas a ajustar. N�s temos � que, cada vez mais, nos entendermos pra melhor servimos a nossa p�tria", declarou Bolsonaro.
Cr�ticas �s alian�as com Centr�o
Parte dos apoiadores da Lava Jato j� havia criticado Moro quando ele decidiu encerrar sua carreira de juiz e aderir ao governo Bolsonaro. Para esses cr�ticos, sua decis�o manchava a credibilidade da opera��o que havia condenado Lula e impedido o petista de disputar a elei��o contra o atual presidente em 2018.
Sua demiss�o do minist�rio ocorreu ap�s Bolsonaro determinar a troca do comando da Pol�cia Federal, com a exonera��o do diretor-geral Maur�cio Valeixo, que havia sido escolhido por Moro.
"Ontem, conversei com o presidente e houve essa insist�ncia do presidente (na troca do comando da PF). Falei ao presidente que isso seria uma interfer�ncia pol�tica e ele disse que seria mesmo", afirmou o ex-juiz, ao anunciar sua demiss�o.
"O presidente me disse, mais de uma vez, que ele queria ter uma pessoa do contato dele que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informa��es, colher relat�rios de intelig�ncia", disse ainda Moro, na ocasi�o, comentando que n�o era apropriado que o presidente tivesse acesso direto a esse tipo de informa��o.
Foi aberta uma investiga��o para apurar as acusa��es de Moro, mas em mar�o deste ano a Pol�cia Federal encerrou a apura��o afirmando em um relat�rio n�o ter encontrado provas de interfer�ncia. O ex-ministro questionou a credibilidade dessas conclus�es.

"A Pol�cia Federal produziu um documento de 150 p�ginas para dizer que n�o houve interfer�ncia do presidente na PF. Mas certamente, as quatro trocas de diretores da PF falam mais alto do que as 150 p�ginas desse documento", disse Moro.
Ap�s sair do governo, o ex-ministro tamb�m n�o poupou cr�ticas �s alian�as de Bolsonaro com pol�ticos do Centr�o - grupo de partidos que costuma apoiar qualquer governo em troca de cargos e verbas federais.
Um dos momentos marcantes da parceria do governo com o Centr�o foi a nomea��o do senador Ciro Nogueira, presidente do PP, para comandar o minist�rio da Casa Civil, em julho de 2021.
Depois, em novembro daquele ano, Bolsonaro se filiou ao PL, partido presidido por Valdemar da Costa Neto, que foi condenado e preso no esc�ndalo do Mensal�o - esquema de compra de apoio no Congresso no primeiro governo Lula.
"Eu n�o tenho d�vida que hoje quem manda no governo Bolsonaro � o Valdemar da Costa Neto. Quem manda no presidente Bolsonaro � o Valdemar da Costa Neto, que faz essas indica��es todas (para ocupar cargos no governo). Ou talvez ali o Ciro Nogueira", disse Moro em janeiro deste ano, em entrevista ao canal do YouTube do jornalista Felipe Moura Brasil.
"Ou seja, hoje voc� tem um governo que � comandado pelo Centr�o. Tem at� algumas pessoas boas dentro desses partidos, mas tem muitos pol�ticos ali fisiol�gicos. N�o tenho nenhuma quest�o pessoal, mas veja bem, algu�m que foi condenado criminalmente por receber suborno, mandando no presidente da Rep�blica, eu acho complicado", continuou, na mesma entrevista.
Deltan Dallagnol tamb�m apoia Bolsonaro
Moro n�o foi o �nico expoente da Lava Jato a aderir � candidatura de Bolsonaro. O ex-chefe da for�a-tarefa da Lava Jato no Minist�rio P�blico Federal do Paran�, Deltan Dallagnol, tamb�m manifestou seu apoio � reelei��o do presidente.
O ex-procurador foi eleito deputado federal pelo Podemos do Paran� com 344 mil votos, sendo o mais votado para o cargo no Estado.
Em v�deo publicado nas redes sociais horas ap�s os resultados do 1º turno, Dallagnol disse que sua elei��o era uma mensagem clara do povo: "Corruptos, voc�s n�o vencer�o".
Ap�s essa fala, ele lista na grava��o sete fatores que o motivam a n�o apoiar Lula:
"Agora vou fazer oposi��o � candidatura do Lula ou ao seu governo por sete raz�es: mensal�o, petrol�o, aumento da viol�ncia, saque �s estatais, defesa da censura, apoio a ditaduras e a maior crise econ�mica da hist�ria. No segundo turno meu voto vai ser em Bolsonaro, contra Lula e o PT. N�s precisamos unir o centro e a direita no Congresso em torno do combate � corrup��o", afirmou o ex- procurador, em um v�deo publicado nas suas redes sociais.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63153126
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