!['Estamos contrapondo [apoio de Zema a Bolsonaro] com a presença mais constante de Lula em Minas e com a atuação dos deputados eleitos', disse Janones(foto: Túlio Santos/EM/DA Press) ANDRÉ JANONES](https://i.em.com.br/FAl7xIqLSa6eE59v6OaupUe8ysU=/790x/smart/imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2022/10/08/1404627/andre-janones_1_54475.jpg)
Conselheiro do ex-presidente de Luiz In�cio Lula da Silva (PT) para a estrat�gia digital da campanha ao Pal�cio do Planalto, o deputado federal reeleito Andr� Janones (Avante-MG) diz n�o temer o apoio do governador mineiro Romeu Zema (Novo) ao presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno. O parlamentar admite a for�a de Zema, reeleito no primeiro turno, mas n�o cr� que ele ser� capaz de transformar os votos “Luzema” em “Bolsozema”. Para evitar que os rivais naveguem em �guas sem tormentas, o PT e os partidos aliados apostam em constantes vindas de Lula a Minas.
“A gente n�o teme [o apoio de Zema a Bolsonaro], mas n�o existe salto alto no sentido de que o governador n�o tem nenhuma for�a. �bvio que tem a for�a dele e seu peso. N�o � nada assustador, com potencial de virar a elei��o, mas estamos cientes do peso do apoio. Por isso, estamos contrapondo com a presen�a mais constante de Lula em Minas e com a atua��o dos deputados eleitos”, disse Janones em entrevista ao Estado de Minas.
Segundo mais votado entre os deputados federais mineiros, atr�s apenas de Nikolas Ferreira (PL), Janones est� otimista com os reflexos do apoio da senadora Simone Tebet (MDB) a Lula. Para o parlamentar do Avante, Bolsonaro est� a “um passo de instalar uma ditadura” e tem responsabilidade pela “guerra santa” que dominou as redes sociais nesta semana. “S� quem n�o cr� em Deus pode se sentir t�o � vontade para usar o nome de Deus ao seu bel-prazer como Bolsonaro faz. Isso o deixa � vontade para tentar manipular as pessoas”, criticou.
Interlocutores de Zema e do PL afirmam que ele vai se engajar na campanha de Bolsonaro, subindo, inclusive, nos palanques. O entorno de Lula teme que o governador transforme votos “Luzema” em “Bolsozema”?
Acho muito dif�cil [a mudan�a de voto]. O eleitorado mineiro j� tem experi�ncia em rela��o a votar em um candidato para o governo e em outro [de campo pol�tico distinto] para a Presid�ncia. Tivemos o chamado “Lul�cio”, na �poca de Lula e A�cio Neves e, depois, “Dilmasia”, Dilma e Antonio Anastasia. Lula � um estadista, de comportamento republicano, sabe ser presidente. Ter um presidente que n�o foi apoiado pelo governador n�o prejudica em nada a rela��o com Minas e a vida dos mineiros, pela experi�ncia que tivemos em quatro elei��es. � a quinta elei��o em que se repete esse fen�meno. A gente n�o teme [o apoio de Zema a Bolsonaro], mas n�o existe salto alto no sentido de que o governador n�o tem nenhuma for�a. �bvio que tem a for�a dele e seu peso. N�o � nada assustador, com potencial de virar a elei��o, mas estamos cientes do peso do apoio dele. Por isso, estamos contrapondo com a presen�a mais constante de Lula em Minas e com a atua��o dos deputados eleitos.
Qual o principal movimento da campanha de Lula neste in�cio do segundo turno?
Fiquei muito otimista com o apoio de Simone Tebet. Ela dialoga muito de perto com o agro e com outros setores que ainda t�m alguma resist�ncia em rela��o a Lula — principalmente por conta dos discursos agressivos de Bolsonaro, de muitas fake news divulgadas. Tebet consegue dialogar do centro � direita com muita proximidade e legitimidade. � a consolida��o da chamada ‘frente ampla’, desse movimento pr�-democracia. Estamos vencendo o jogo. A gente n�o pode deixar virar, mas estamos na frente e temos tudo para vencer no dia 30.
O que muda na estrat�gia digital de Lula para o segundo turno?
Quando entrei na campanha de Lula, disse achar n�o ser preciso um giro de 360 graus, porque, se a campanha estivesse sendo malfeita, Lula n�o estaria em primeiro. Mas a gente precisava criar uma maior proximidade de Lula com seu eleitorado e, tamb�m, lutar com as armas deles [apoiadores de Bolsonaro]. De forma �tica, tentando evitar a divulga��o de not�cias falsas, mas utilizando as mesmas armas deles, com t�cnicas de guerrilha. Conseguimos desempenhar isso bem no primeiro turno. J� levei uma sugest�o � coordena��o da campanha: precisamos ter um movimento mais centralizado. �s vezes, estou aqui defendendo a volta do ‘Minha casa, minha vida’; outro deputado, no Sul de Minas, est� dizendo que Lula criou o Samu; e outro, no Norte, est� falando que Lula vai manter o Aux�lio Brasil em R$ 600. Precisamos alinhar maior centraliza��o na comunica��o. O bolsonarismo faz isso muito bem. At� por n�o ter nenhum apre�o pela democracia, fica mais f�cil dar uma ordem e dizer para todo mundo fazer. O PT, por ser muito plural e democr�tico, tem um pouco mais de dificuldade de fazer esse movimento centralizado.
Em suas redes, h� v�deos com antigas falas de Bolsonaro – ontem, por exemplo, publicou um compilado com falas r�spidas dele a respeito de mulheres. Ao postar essas imagens, o senhor utiliza palavras como “exclusivo” e “urgente”, por mais que n�o sejam. Isso vai de encontro � ideia de “lutar com as armas” do bolsonarismo?
N�o tenho o desejo de ser um bom orador; quero ser bom comunicador, que fala da maneira que o receptor melhor entende N�o posso falar “juridiqu�s” com pessoas simples, que n�o receberam condi��es de compreender aquele linguajar. Tamb�m n�o posso falar “n�s vai” ou “n�s v�” em um tribunal. Em cada momento, h� a comunica��o adequada. O atual momento – e quem levou para esse patamar foi o bolsonarismo – � o momento do sensacionalismo, do grito, da coisa chamativa, “aten��o” e “urgente”. Eles trouxeram o debate para esse n�vel de despolitiza��o. A gente precisa vencer a elei��o para salvar a democracia. Bolsonaro est� a um passo de instalar uma ditadura pelo vi�s democr�tico. Sempre foi o sonho dele. Ele j� � o chefe do Executivo, se conseguir aumentar o n�mero de ministros do Supremo, teria maioria no Judici�rio. E, talvez, os tr�s Poderes nas m�os, porque elegeu uma boa base e ainda h� o Centr�o, que ele conseguiria agradar. Para salvar a democracia, temos de usar as mesmas armas que eles, mas com uma diferen�a: apesar de muita gente dizer que estou divulgando fake news, ningu�m consegue apontar exatamente qual � a fake news que divulguei. Na live que fiz no Templo de Salom�o, disse que “supostamente” Bolsonaro teria feito “isso ou aquilo”. Deixo no ar para que, tecnicamente, tenha a minha defesa jur�dica. De fato, n�o fiz nenhum tipo de afirma��o. � at� onde minha �tica me permite ir. N�o consigo passar dessa linha, como eles passam sem nenhum tipo de pudor. Para chegar ao n�vel deles, ter�amos de fazer muito pior.
Nesta semana, as redes foram dominadas por um debate religioso. Lula foi associado ao satanismo e Bolsonaro � Ma�onaria. A que atribui tamanha evid�ncia a esse t�pico?
Primeiro, ao fato de Bolsonaro n�o ter religi�o – e � n�tido que ele n�o tem; basta olhar os comportamentos dele. S� quem n�o cr� em Deus pode se sentir t�o � vontade para usar o nome de Deus ao seu bel-prazer como Bolsonaro faz. Isso o deixa � vontade para tentar manipular as pessoas. O que ele faz �, sem nenhum tipo de escr�pulo, se aproveitar da humildade e do medo das pessoas para divulgar fake news, como fizeram em 2018 com a “mamadeira de piroca” e ao dizer que absurdos seriam ensinados nas escolas. Estamos em um Estado laico, mas ele conseguiu levar o debate a esse n�vel. Cabe a n�s, agora, venc�-lo levando a verdade. Ele nunca apontou onde havia “mamadeira de piroca” e onde Lula ou Haddad falavam sobre isso. Eu, n�o: o v�deo est� l�, com imagens dele falando. Ele diz que j� bateu em mulher, que � favor�vel � tortura e a favor do canibalismo – que n�o comeu carne humana porque ningu�m quis ir com ele.
O senhor e Nikolas Ferreira debateram publicamente sobre a inten��o de ser o deputado mais votado do estado. Por que acha que ele, aliado de Bolsonaro, venceu a disputa?
Eles se concentraram em um candidato s�, em uma estrat�gia de Bolsonaro de pagar a d�vida que tinha com o Centr�o. Deu-se a Nikolas a vota��o majorit�ria; todas as for�as foram concentradas nele. Foi a primeira vez que vi um candidato a presidente pedir votos s� para um candidato a deputado – at� porque, h� uma base de deputados apoiando e voc� n�o pode se envolver diretamente em uma �nica elei��o. A primeira-dama, os ministros e os filhos do presidente pediram votos s� para ele [Nikolas]. O objetivo era exatamente este: criar o Tiririca de Minas. � um candidato que n�o tem pauta pr�pria, a estilo de Carla Zambelli, em S�o Paulo, e de H�lio Neg�o, no Rio. N�o t�m pauta, hist�ria e trabalho. Na verdade, Bolsonaro foi eleito deputado federal em Minas – os votos foram em Bolsonaro. � uma estrat�gia para puxar candidatos do Centr�o. Pegue a lista dos candidatos eleitos pelo PL e vejam quantos s�o da ala ideol�gica – acredito que s� Nikolas, Junio Amaral e Maur�cio do V�lei. Os restantes s�o deputados do Centr�o, da pol�tica fisiol�gica, que trabalham com emendas. � uma maneira de Bolsonaro pagar sua d�vida com o Centr�o.
