Os desafios de Bolsonaro e Lula para vencer em Minas no segundo turno

Minutos depois de saber que disputaria o segundo turno da elei��o nacional contra Luiz In�cio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (PL) n�o escondia o desejo de priorizar Minas Gerais para tentar reverter a vantagem de 6,1 milh�es de votos do petista. Na porta do Pal�cio da Alvorada, em Bras�lia, ao mesmo tempo em que lamentava o resultado no estado, Bolsonaro j� citava contatos feitos com interlocutores do governador reeleito Romeu Zema (Novo). Lula venceu em Minas no primeiro turno por 48,29% a 43,60% dos votos v�lidos. Os percentuais s�o similares aos vistos no cen�rio nacional, onde o petista levou a melhor com 48,43% ante 43,20% do atual presidente.

O candidato � reelei��o se cercou de cabos eleitorais importantes no estado. Al�m de Zema, seu entorno tem o senador eleito Cleitinho Azevedo (PSC), Nikolas Ferreira (PL) e Bruno Engler (PL), deputados federal e estadual mais bem votados no estado, respectivamente. Do outro lado, Lula aposta em manter os eleitores mineiros, que t�m hist�rico de votar em pol�ticos de campos opostos nos pleitos para governador e presidente – depois dos fen�menos “Lul�cio” (Lula e A�cio Neves) e “Dilmasia” (Dilma e Antonio Anastasia), desta vez a jun��o deu forma ao “Luzema”.

O apoio de Zema foi anunciado na ter�a-feira, menos de 48 horas ap�s o resultado do primeiro turno. Bolsonaro e seus aliados em Minas festejaram, porque, segundo interlocutores ligados ao Executivo estadual e ao PL, o governador pretende subir em palanques ao lado do presidente e pedir votos de forma expl�cita. Na quinta-feira passada, trajando sua tradicional camisa social branca bordada com uma bandeira de Minas Gerais, Zema fez discurso pr�-Bolsonaro em evento da Federa��o das Ind�strias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Durante a fala, o pol�tico do Novo disse ser “PTf�bico”.

Zema teve cerca de 6 milh�es de votos, quase 1 milh�o a mais do que Bolsonaro em Minas. A reboque da uni�o eleitoral entre eles, o PL deve embarcar na base aliada ao governo na Assembleia Legislativa. Nos c�lculos de Bruno Engler, os votos de Zema no primeiro turno, somados aos recebidos por Carlos Viana (PL), podem render uma virada em 30 de outubro. “Analisando os resultados oficiais e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Zema teve 800 mil votos a mais que o presidente. E o senador Carlos Viana teve mais de 700 mil votos. Ent�o, precisamos trazer esse 1,5 milh�o de pessoas com o apoio do governador”, avalia o parlamentar.

Famoso por v�deos virais na internet, Cleitinho tamb�m celebrou a composi��o com Zema. “Segundo turno � uma nova elei��o, zerou tudo. Come�am todos do zero. � muito importante esse apoio.” J� Nikolas Ferreira recorreu a um dado hist�rico que aponta a import�ncia de Minas nos pleitos presidenciais. “Quem ganha em Minas, geralmente, ganha no Brasil. Ent�o, a gente tem um trabalho muito forte. Estou empenhado na campanha do presidente, dedicando toda a minha for�a para ganhar principalmente os jovens. Viajarei pelo pa�s tamb�m para reverter a situa��o. No primeiro turno, vencemos a mentira dos institutos de pesquisa e agora vamos quebrar essa mentira que o PT est� fazendo”, afirma.

Desde 1955, com a vit�ria de Juscelino Kubitschek, todos os presidentes democraticamente eleitos venceram tamb�m os pleitos em Minas. Al�m de decisivo, o estado � um espelho do cen�rio nacional. Ap�s a a redemocratiza��o do pa�s, em 1989, o resultado em Minas varia, em m�dia, apenas 3,04 pontos percentuais da apura��o em todo o Brasil.

Embora esteja sem palanque formal em Minas desde a derrota de Alexandre Kalil (PSD) para Zema, os aliados de Lula creem que o governador n�o tem poder para reverter o movimento “Luzema” – com parte da popula��o entregando ao Novo os votos para o governo, mas escolhendo o PT para ocupar a Presid�ncia. Os votos dados a Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) s�o caminhos vistos como vi�veis para minimizar o impacto da alian�a entre Zema e Bolsonaro. “N�o vou dizer que o palanque n�o faz falta. Claro que faz. Mas temos de lutar com as armas que a gente tem. Eles precisam de muita coisa – de palanque e do governador – porque precisam virar o resultado. Eles perderam a elei��o aqui; a gente ganhou. A press�o sobre n�s � menor. Ela existe, mas � menor”, afirma o deputado Andr� Janones (Avante-MG), que ajuda a tra�ar as estrat�gias digitais da campanha de Lula.

O PT e os partidos da coaliz�o de Lula trabalham, ainda, para montar agendas regionais comandadas por vencedores das disputas � C�mara e � Assembleia Legislativa. H� ainda a expectativa por duas vindas do presidenci�vel a Minas, em proje��o que n�o considera a caminhada agendada para hoje, em Belo Horizonte. “A gente joga pelo empate. Eles t�m de virar o jogo. Temos de ampliar o placar, mas conseguimos uma boa vit�ria aqui no primeiro turno”, afirma Janones.

Para o tamb�m deputado federal Reginaldo Lopes (PT), coordenador da campanha de Lula em Minas, a alian�a entre Zema e Bolsonaro � fruto de certa similaridade ideol�gica. “� natural que a concep��o sobre o papel do estado leve Zema a ter uma alian�a pontual com Bolsonaro. Mas o pr�prio Zema sabe, porque conviveu quatro anos com Bolsonaro, que o presidente n�o fez nada por ele e n�o fez nada por Minas”, garante. Na vis�o do petista, os eleitores mineiros t�m, na mem�ria, boas impress�es dos governos de Lula e Dilma Rousseff. “Vamos ter uma excelente rela��o federativa. Queremos ter excelente rela��o com os governadores. Com certeza, Zema sabe disso – e sabe do compromisso de Lula com Minas”, pontua.

Na segunda-feira, em evento que deu a largada na campanha para o segundo turno, no comit� petista, em S�o Paulo (SP), Lula manifestou desejo de voltar a Minas mais vezes at� a vota��o. Fora a caminhada agendada para hoje, em BH, o n�cleo de articula��o petista trabalha para viabilizar mais um ou dois compromissos do candidato em terras mineiras. “Vamos conversar mais com o povo, vamos voltar a percorrer o Brasil em todos os estados que t�m segundo turno e em alguns estados que n�o t�m segundo turno n�s vamos, porque estou convencido de que vamos alargar a nossa vantagem no Nordeste e em Minas Gerais. Vou visitar regi�es de Minas que eu deveria ter visitado e n�o pude visitar”.