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Estado de Minas ELEI��ES 2022

Boicote a pesquisas por eleitores de Bolsonaro pode distorcer resultados?

Ministros de Bolsonaro v�m pedindo a apoiadores do presidente para que se recusem a responder pesquisas eleitorais


11/10/2022 06:12 - atualizado 11/10/2022 11:25


Apoiador de Bolsonaro da formalização da candidatura dele em 2022
Ministros de Bolsonaro v�m pedindo a apoiadores do presidente para que se recusem a responder pesquisas eleitorais (foto: Buda Mendes/Getty Images)

O que aconteceria se muitos eleitores de um s� candidato resolvessem boicotar pesquisas eleitorais, deixando de respond�-las?

O resultado poderia, sim, ser distorcido, segundo especialistas em estat�stica e pesquisas sociais.

At� agora, no entanto, as informa��es dispon�veis n�o indicam que este foi um fator que influenciou os resultados das pesquisas no Brasil at� aqui, segundo os profissionais do mercado e da academia ouvidos pela reportagem.

Logo ap�s o primeiro turno da elei��o, o ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro, Ciro Nogueira, pediu que os eleitores que apoiam o atual presidente se recusem a responder qualquer pesquisa at� o fim da elei��o.

O ministro das Comunica��es, F�bio Faria, foi outro que fez o apelo: "Pe�o a todos que apoiam o presidente que N�O respondam nenhuma pesquisa do IPEC, DataFolha e similares no 2º turno", escreveu em sua conta no Twitter.

Em outros pa�ses, as mudan�as de comportamento do eleitorado e o surgimento de um eleitor desconfiado do sistema t�m aumentado os desafios. Nos Estados Unidos, um relat�rio da Associa��o Americana de Pesquisa de Opini�o P�blica publicado em 2021 apontou que grupos cruciais para a elei��o de Donald Trump n�o estavam participando das pesquisas. O estudo buscava entender por que as pesquisas indicavam lideran�a da democrata Hillary Clinton na elei��o de 2016, quando ela acabou perdendo para Donald Trump.

A BBC News Brasil pediu entrevista ao Datafolha, que n�o respondeu, e ao Ipec, que disse que a porta-voz n�o teria agenda para responder aos questionamentos.

A consultoria Quaest disse que leva em conta a preocupa��o com subnotifica��o no que se refere a eleitores de Bolsonaro e que h� ferramentas estat�sticas capazes de lidar com essa quest�o (veja mais detalhes abaixo).

Boicote a pesquisas pode distorcer resultados?


Donald Trump gesticula enquanto fala e olha para a frente
Nos EUA, relat�rio apontou hip�tese de que certos grupos cruciais para a elei��o de Trump simplesmente n�o estavam participando das pesquisas (foto: Getty Images)

Os especialistas ouvidos pela reportagem s�o un�nimes em dizer que, se muitos eleitores de um s� candidato decidirem n�o responder �s pesquisas eleitorais, isso pode distorcer resultados. Nenhum deles aponta, no entanto, que considera que isso foi um problema identificado no primeiro turno.

O cientista de dados Tom�s Veiga, que � mestre em estudos populacionais e pesquisas sociais pela ENCE-IBGE e consultor s�nior na EY, diz que um movimento assim "pode ser um problema".

Para Veiga, em teoria � poss�vel compensar a n�o participa��o de um grupo nas pesquisas, mas na pr�tica � mais complicado. "Voc� teria que pes�-los de alguma forma - pesando o candidato (em quem eles pretendem votar) para mais, por exemplo -, mas voc� n�o saberia qual � esse peso", resumiu.

A l�gica por tr�s das pesquisas � exatamente a de buscar uma amostra que vai poder representar o todo (neste caso, total de eleitores) - j� que n�o � poss�vel entrevistar todo mundo, como lembra a estaticista Adriana Silva, professora e consultora na ASN.Rocks.

"E hoje o que acontece nas pesquisas eleitorais, dada a situa��o de vida real, s�o amostragem por cotas - e elas, sim, s�o separadas ent�o por nichos. Ent�o, se um determinado nicho decidir falar diferente ou n�o falar, aquilo vai ter um peso no resultado final", diz ela, que tamb�m � professora de p�s gradua��o em Analytics na FGV e na ESALQ/USP.

Adriana Silva diz que, diante desse cen�rio, v� duas possibilidades: "n�o esperar uma resposta t�o precisa" (ou seja, aumentar a margem de erro) ou "restringir a popula��o" (deixar determinado perfil de fora da pesquisa, alertando, claro, que aquele resultado n�o se refere a toda a popula��o). Ela pondera que a segunda op��o pode n�o fazer sentido estrat�gica e politicamente, mas que, "pensando estatisticamente, � uma abordagem v�lida".

O professor de estat�stica da Universidade de Bras�lia (UnB) Alan Silva tamb�m diz que a recusa de um grupo espec�fico - e n�o uma recusa aleat�ria, em grupos variados - pode influenciar a taxa de erro. E aponta que aumentar a margem de erro pode ser uma alternativa.

"� claro que ningu�m quer uma margem de erro muito alta porque tudo ficaria empate t�cnico. Mas com a recusa, sua amostra vai diminuindo e voc� n�o consegue atingir aquele (n�vel de) erro que voc� pr�-determinou."

O professor tamb�m diz que os institutos poderiam divulgar dados sobre as recusas e mais detalhes sobre como est�o recalculando. E afirma que pesquisas por telefones tendem, na avalia��o dele, a ser uma forma mais f�cil de o entrevistado deixar de participar. "Quando voc� � abordado na rua, n�o tem muito como escapar. No telefone, ele liga e voc� desliga, n�o tem nem chance de tentar explicar nada."

'Pesquisa de inten��o n�o � previs�o'


Fila de eleitores no Rio de Janeiro neste domingo, 2 de outubro
Especialistas defendem que pesquisa de inten��o de voto deve ser vista como retrato do momento, e n�o como previs�o (foto: EPA)

Os tr�s especialistas em estat�stica entrevistados fazem o alerta de que, em qualquer discuss�o sobre pesquisas de inten��o de voto, � importante lembrar que elas devem ser encaradas como um retrato da opini�o do eleitor naquele dia, e n�o uma proje��o para o dia da elei��o.

"� uma inten��o de voto. A pessoa responde uma coisa que � o que ela pretende fazer naquele momento", aponta o cientista de dados Tom�s Veiga.

O professor Alan Silva compara: "Se eu perguntar qual � a sua idade, a princ�pio fica imut�vel em certo per�odo de tempo. Mas a opini�o muda."

Para a estaticista Adriana Silva, a pesquisa de opini�o "hoje infelizmente est� sendo interpretada de uma forma que n�o deveria ser", j� que "n�o � modelo de previs�o, n�o prev� futuro", diz.

Ela explica que h� ferramentas para buscar prever o comportamento das pessoas, mas que isso depende de muito mais que apenas uma pesquisa de opini�o. Inclusive menciona o trabalho do estat�stico Nate Silver, respons�vel pelo FiveThirtyEight.com, que ganhou notoriedade nas elei��es de 2012 nos EUA ap�s prever corretamente o resultado nos 50 estados.

"Se voc� vai ver a base do estudo dele, n�o foi pesquisa de opini�o somente, foi um modelo de predi��o, em que ele levou v�rias pesquisas em considera��o, cen�rios econ�micos, cen�rios do que vinha acontecendo e virou um modelo de predi��o", afirmou Adriana Silva.

Ela lembra que profissionais da �rea j� fazem modelos para prever, por exemplo, quando uma pessoa deixar� de ser cliente de determinada empresa e que trabalho semelhante poderia ser feito para parte dos eleitores. "S� que repara a complexidade desse tipo de an�lise", diz ela, que complementa que � necess�rio entender classe social, renda, estilo, coisas que a pessoa gosta de fazer e outras informa��es sobre o indiv�duo para tentar prever a opini�o pol�tica dele.

'Situa��o lament�vel'

Diretor da Quaest, o professor e cientista pol�tico Felipe Nunes disse � BBC News Brasil que a consultoria tem, desde que come�ou a trabalhar com pesquisa para as elei��es de 2022, preocupa��o com subnotifica��o relacionada a eleitores de Bolsonaro. Ele reconhece um risco de transformar a participa��o nas sondagens em um gesto pol�tico.

"Embora seja lament�vel esse tipo de situa��o, h� ferramentas estat�sticas capazes de lidar com isso", respondeu.

Nunes explicou que a Quaest pergunta em quem o eleitor disse ter votado no segundo turno de 2018. "Temos monitorado essa vari�vel desde o come�o do projeto, e vamos intensificar esse monitoramento agora incluindo a pergunta sobre em quem o eleitor votou no primeiro turno. Isso vai nos permitir identificar se a amostra tem ou n�o tem esse tipo de eleitor representado", disse.

Esses dados, segundo ele, indicam que n�o houve esse problema at� aqui. Mas ele refor�a que a empresa vai "intensificar o controle dessa situa��o no campo".

Ele argumentou, ainda, que tem um controle "muito grande" sobre a taxa de n�o resposta. "Somos a �nica empresa que coleta dados de quantas tentativas s�o necess�rias para conseguir uma entrevista. Ao longo do �ltimo ano, aumentou a m�dia de tentativas para se conseguir uma entrevista. Mas n�o temos dados de outras elei��es para comparar e saber se � um movimento normal pelo volume de pesquisas ou algo espec�fico desta elei��o", afirmou.

Nunes disse, ainda, que a legisla��o brasileira impede os institutos de trabalharem com margens de erro maiores. "Somos obrigados a informar antes da realiza��o do campo a margem de erro estimada. Mas todos sabemos que isso subestima as margens reais. A Quaest come�ou a publicar os dados com margem de erro por sub-grupo justamente para tentar avan�ar esse debate. Mas ningu�m prestou aten��o nisso e continuamos a ver jornalistas assumindo que as estimativas publicadas s�o 100% precisas, o que n�o � verdade."

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63200355


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