
Para distintos p�blicos, o espet�culo alcan�a significados diferentes. Os profissionais da �rea, analisam exaustivamente os lances do jogo de narrativas e gestos, acompanhado por diversos grupos qualitativos de eleitores e por m�tricas das redes digitais que consolidam n�vel de men��es, sentimentos e clusters em que as tem�ticas viajam fora das “bolhas”. Os profissionais envolvidos na estrat�gia comunicacional das campanhas revisam os melhores lances para distribu�-los nas redes digitais e no hor�rio eleitoral gratuito, potencializando o alcance do debate. Quem est� com voto cristalizado, contudo, n�o mudou - os mais enf�ticos, inclusive, acompanharam como uma torcida � beira do est�dio, passando pano para as “faltas” de seus candidatos. Reproduzem material das campanhas que recortam e manipulam trechos de an�lises, para exaltar em suas pr�prias redes, como o seu candidato “venceu o debate”.
Entre os s�mbolos n�o mencionados diretamente mais marcantes do confronto est�o, de um lado, Lula com o broche da campanha “Fa�a Bonito”, de combate � viol�ncia sexual contra crian�as e adolescentes, j� que, por decis�o do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), n�o poderia mencionar as mais recentes declara��es de Jair Bolsonaro. Este, por seu turno, carregou ao lado o agente pol�tico, agora eleito senador, que foi juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justi�a, exonerado ao denunciar interven��o de Bolsonaro em �rg�os de controle para proteger os pr�prios familiares. Bolsonarismo e lavajatismo voltam a se unir, dada a conveni�ncia do momento, demonstrando que o combate � corrup��o, embora o que na pr�tica seja aquilo que menos importa, esteja, ao lado da religi�o e da manipula��o grosseira de temas relacionados aos valores crist�os, assunto que importa para arrancar votos dos eleitores de Lula.
Os dois contendores tiveram bons momentos. Lula melhor no primeiro bloco, ao atacar a incompet�ncia de Bolsonaro e m� gest�o na pandemia da COVID, al�m da insensibilidade do presidente ao debochar de pessoas doentes e com falta de ar, da total aus�ncia de empatia com as mortes. Lula tamb�m deixou Bolsonaro sem a��o ao indagar quantas universidades e institutos t�cnicos teria implantado nesta gest�o. Bolsonaro se esquivou lan�ando a culpa por n�o ter feito � pandemia e � guerra na Ucr�nia. Por seu turno, Bolsonaro foi melhor no terceiro bloco, em que insistiu na tem�tica da corrup��o, evocando a sua narrativa sobre o tema, que foca no PT e exime os partidos que hoje est�o em seu governo do esquema.
No campo da tem�tica da corrup��o, Lula falha, a esta altura da campanha, ao n�o apontar com quem est�o, nesta elei��o, os pol�ticos envolvidos no n�cleo do esc�ndalo do Petrol�o. Nesse terceiro bloco, Lula, pela m� gest�o de seus 15 minutos de fala, entregou a Bolsonaro cinco minutos finais corridos, em que o presidente deitou e rolou em suas associa��es esp�rias que misturam religi�o, comportamento, Deus, sat� e gest�o. S�o assuntos que fazem o deleite daqueles eleitores menos informados, com falhas no repert�rio de informa��o, devidamente preenchidas por uma comunica��o h�bil em construir o Brasil paralelo. De fato s�o eleitores que j� est�o com Bolsonaro.
O debate envolveu uma mir�ade de temas e narrativas j� conhecidas de quem acompanha a conversa, com destaque de programas de distribui��o de renda. Ao mesmo tempo em que Bolsonaro tentou desqualificar o Bolsa Fam�lia e enaltecer o Aux�lio Brasil calibrado pelo Congresso Nacional; escorregou ao reiterar preconceitos contra moradores das comunidades vulner�veis, associando-os ao narcotr�fico. As campanhas miram, nesse enfrentamento, algo pr�ximo entre 3% e 5% do eleitorado indeciso, que poder� definir uma elei��o apertada. Se o debate, no momento em que corria n�o alcan�ou esse p�blico, os seus recortes disseminados nas redes poder�o alcan��-lo, n�o se sabe ainda com que potencial para influenciar votos. Da disputa entre Lula e Bolsonaro, inequ�voca � a desigualdade de recursos econ�micos e abusos de poder pol�tico em apoio ao segundo, sob a letargia de segmentos importantes dos �rg�os respons�veis por apresentar den�ncias, t�o ativos em passado recente.
No mais, o jogo segue sendo jogado, em Minas Gerais, com pastores invocando Deus e o diabo, press�es de empres�rios sobre empregados, coopta��o de prefeitos sob recados sutis de que quem n�o se envolver e mudar votos n�o ser� contemplado com nada al�m das transfer�ncias constitucionais obrigat�rias. Claro, que, a dois anos da pr�xima elei��o, h� prefeitos cautelosos, n�o t�o dispostos a se expor em defesa de uma candidatura que poder� perder o pleito, tornando o desgaste em v�o. Mas esses s�o os lances que, para al�m da ribalta dos debates sem evidentes “colapsos” de uma das partes, de fato t�m potencial para fazer a diferen�a. Mas claro, estes, n�o s�o exibidos pelas c�maras.