Marcelo sente que est� adoecendo, Alexia parou de bater papo com os vizinhos e Luciene s� quer que acabe logo: o duelo eleitoral entre o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) deixou muitos brasileiros esgotados ap�s uma campanha polarizada e cheia de desinforma��o.
O Brasil est� a quatro dias de decidir, no domingo (30), se reelege Bolsonaro ou reconduz ao Planalto para um terceiro mandato Lula, o favorito nas pesquisas de inten��o de votos.
E em uma disputa acirrada pelos 4% de eleitores que dizem que ir�o votar em branco ou nulo e o 1% de indecisos, as apari��es dos candidatos inundam ve�culos de imprensa e redes sociais, dominando as conversas.
"Estou vivendo isso 24 horas [por dia] e � horr�vel", acrescenta este recepcionista banc�rio, de 51 anos, sem conseguir deixar de conferir seus grupos de WhatsApp durante sua hora de almo�o, do lado de fora de um shopping de Bras�lia.
Sentado em uma cadeira na praia de Copacabana, Jos� Guilherme Ara�jo n�o consegue fugir do ru�do eleitoral.
"Me sinto exausto, de saco cheio!", diz � AFP este advogado de 65 anos, de barba, cabelos brancos e sunga verde com a bandeira do Brasil, que votar� nulo.
"S� se fala de elei��o nos principais canais de TV, � horr�vel. Procuro assistir canais fechados para fugir desse assunto", acrescenta.
- Evitar problemas -

O confronto final entre Lula e Bolsonaro estava quase definido desde o ano passado, quando o ex-presidente recuperou seus direitos pol�ticos ap�s ter anuladas as condena��es por corrup��o.
Muitos eleitores t�m a impress�o de que a campanha come�ou ali.
Em S�o Paulo, Alexia Ebert silenciou o grupo de WhatsApp do condom�nio, transformado em um fluxo cont�nuo de discuss�o pol�tica e desinforma��o. "N�o aguentava mais", diz a estudante, de 22 anos.

Alguns, como Aline Tescer, se queixam da aus�ncia de propostas para os pr�ximos quatro anos. "Me vejo como na elei��o passada, que n�o t�nhamos muita op��o. S�o sempre as mesmas coisas, as mesmas acusa��es e me sinto sem op��o de voto", diz a mulher de 35 anos, de S�o Paulo.
J� Luciene Soares diz estar "decepcionada" com "a falta de respeito" instigada pelo presidente.
"Eu prefiro n�o dizer em quem eu voto, fica uma coisa pessoal porque voc� tem medo da rea��o das pessoas. N�o converso com as pessoas sobre pol�tica porque d� briga, d� morte", diz esta comerciante de 48 anos, de Bras�lia, vestindo uma blusa verde e amarela, as cores da bandeira, s�mbolo nacional da qual, "infelizmente", os bolsonaristas se apropriaram.
"Entre nossos amigos, nossa fam�lia, a gente fala: 'Nossa, tomara que acabe logo'".
- "Anestesia" -
Esse cansa�o n�o � medido nas pesquisas de inten��o de votos, publicadas semanalmente, mas especialistas o notam nas ruas e na internet, em um pa�s que conta em 2022 com 171,5 milh�es de usu�rios de redes sociais (80% da popula��o, 14% a mais que em 2021), segundo o estudo Digital, das ag�ncias We Are Social e Hootsuite.O alto n�vel de consolida��o dos votos e o bombardeio de informa��o "acabam anestesiando o eleitorado" e "cansando-o", diz Amaro Grassi, soci�logo do departamento de An�lise de Pol�ticas P�blicas da Funda��o Get�lio Vargas.
"Essa presen�a permanente de conte�do de campanha � um fator novo (...) N�o come�ou nesta elei��o, mas hoje est� muito acentuada", acrescenta.
"Agora falam sobre pol�tica o tempo todo nas redes sociais, at� nos sites de fofoca", diz a paulista Iamylle Kauane, que veio passar f�rias no Rio.
Tomando �gua de c�co na praia de Copacabana, esta assistente social de 21 anos espera o fim das elei��es "para que possa voltar ao normal".
Segundo Grassi, "a maior parte da popula��o vai querer voltar � vida, virar essa p�gina", mas "acho inevit�vel que v� ficar um clima de acirramento pol�tico".
No entanto, h� militantes incans�veis.
"N�o me sinto cansado dessa elei��o", diz Leandro Albino Oliveira, de camisa branca e a cabe�a coberta com um dos chap�us que vende em uma praia carioca. "N�o vamos descansar at� que nosso presidente seja reeleito", diz o homem de 36 anos.