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Estado de Minas LULA ELEITO

Como Lula deve enfrentar desafio do antipetismo em seu 3� mandato

Sentimento pol�tico de rejei��o ao partido se expressa agora como um dos n�cleos vitais do bolsonarismo, que passa a condi��o de oposi��o ao governo.


31/10/2022 08:57 - atualizado 31/10/2022 10:19


Lula no discurso após anúncio da vitória
Lula no discurso ap�s an�ncio da vit�ria no segundo turno (foto: VIEW press via Getty Images)

Luiz In�cio Lula da Silva retorna � Presid�ncia da Rep�blica com grandes desafios em diferentes �reas e tendo � frente um conhecido sentimento pol�tico que est� inflamado pela disputa eleitoral: o antipetismo. A vit�ria sobre o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) se deu em uma elei��o apertada, com uma diferen�a de pouco mais de 2 milh�es de votos (50,9% a 40,1% dos votos v�lidos).

Presente desde os primeiros anos da funda��o do partido — em fevereiro de 1980, em S�o Paulo —, o antipetismo se reconfigura conforme a �poca: h� pouco mais de cinco anos, a Opera��o Lava Jato e o mote do combate � corrup��o representavam o centro do movimento. Atualmente tem sua maior relev�ncia como um dos n�cleos vitais do bolsonarismo, que capturou e reuniu o sentimento conservador de parte significativa da popula��o brasileira.

� um novo cen�rio de batalha pol�tica, com os dois contendores em posi��es bem definidas: o PT de volta ao poder e o bolsonarismo, agora consolidado, na condi��o de oposi��o.

"A tend�ncia � que esse antipetismo se transforme em uma esp�cie de disposi��o antissistema. Porque o PT ser� o sin�nimo do sistema. Dif�cil prever o que vai acontecer, mas, uma vez que o PT se torne vidra�a, um sentimento difuso se concentrar� na figura do partido", diz Pablo Ortellado, professor de gest�o de pol�ticas p�blicas na USP e pesquisador do eleitorado bolsonarista.

"J� funciona assim no discurso, mas acho que vai ficar ainda mais forte e � razo�vel esperar que isso seja o motor de uma mobiliza��o bolsonarista nos anos vindouros."

O tamanho e as caracter�sticas do antipetismo atual

Em abril e maio de 2022, pesquisa com 5 mil pessoas conduzida pelos professores de Ci�ncia Pol�tica C�sar Zucco (FGV-SP), Fernando Mello (Universidade da Calif�rnia) e David Samuels (Universidade de Minnesota) constatou que 24% do eleitorado se declara petista enquanto 29% afirmam ser antipetistas.


Partidários de Bolsonaro em evento em Brasília
Partid�rios de Bolsonaro em evento em Bras�lia (foto: Getty Images)

� um n�mero bastante pr�ximo ao captado (30,2% que se declaram "antipetistas") pela pesquisa Atlas da semana passada, com 4,5 mil entrevistados. J� a rejei��o a Lula como candidato presidencial esteve em um patamar superior, variando entre 40% e 45% em diferentes institutos.

Antes da consolida��o do bolsonarismo, que serviu de guarda-chuva para diversos setores conservadores, o antipetismo mais radicalizado reunia algumas caracter�sticas b�sicas:

"O antipetismo � uma esp�cie de cora��o dessa oposi��o populista ao globalismo, ao que chamam de marxismo cultural e ideologia de g�nero e a tudo isso que � percebido como obra das elites culturais. Um �dio generalizado aos partidos e aos atores pol�ticos e contra progressistas nos costumes: os artistas, o pessoal do teatro, a Rede Globo, a academia e a universidade", analisa Ortellado.

Entre 2005 e 2015, esc�ndalos de corrup��o fizeram o antipetismo crescer entre as classes m�dias e altas e entre pessoas mais escolarizadas. O �pice desta fase ocorreu com a ascens�o do ex-juiz Sergio Moro e do procurador Deltan Dallagnol na opera��o Lava Jato.

Moro se tornou ministro da Justi�a de Bolsonaro, aproximando lavajatismo do nascente bolsonarismo. O grande estremecimento se deu quando o ex-juiz fez den�ncias de interfer�ncia na Pol�cia Federal por parte do presidente e se demitiu do governo. Na reta final da elei��o de 2022, Moro se reconciliou com Bolsonaro e at� fez parte da equipe do presidente para os debates do segundo turno.

"O lavatismo hoje foi cooptado pelo bolsonarismo. Pouco tempo atr�s os dois se diferenciavam. Os setores que eram contra a uma reaproxima��o entre Moro e Bolsonaro eram bastante minorit�rios dentro do lavajatismo", diz o cientista pol�tico Vinicius do Valle, diretor do Observat�rio Evang�lico.

"Mas numericamente o lavajatismo n�o se compara aos evang�licos, que s�o o principal segmento popular de hoje. � a for�a social de maior tamanho, de maior volume dentro do eleitorado brasileiro e que tem o comportamento de uma ideologia. E de uma ideologia antipetista."


Homem lê Bíblia
Religi�o foi um tema que dominou a campanha de 2022 (foto: Getty Images)

A elei��o de 2022 teve a religi�o como uma de suas grandes protagonistas e os evang�licos como fiel da balan�a na disputa.

Um conjunto de pesquisas analisado pelo Centro Brasileiro de An�lise e Planejamento (Cebrap) mostra os evang�licos como o f�lego que a campanha bolsonarista precisava para se manter na disputa.

Alguns pastores de denomina��es neopentecostais fizeram press�o por voto no atual presidente e amea�aram fi�is com puni��o divina e medidas disciplinares caso optassem por Lula. Not�cias falsas circularam dizendo que o petista proibiria prega��o de pastores, criminalizaria a f� evang�lica e at� retiraria o nome de Jesus Cristo da B�blia.

"Esta elei��o foi muito traum�tica no universo evang�lico. A derrota pol�tica pode se combinar com uma derrota moral com Lula mostrando que essas lideran�as n�o estavam falando a verdade em rela��o � persegui��o religiosa", diz Valle.

Dessa forma, na an�lise do cientista pol�tico, h� condi��es para uma aproxima��o entre Lula e os evang�licos.

"Lula pode fazer essas sinaliza��es de estar presente, de participar de reuni�es [de denomina��es religiosas] e tudo isso quebrando um pouco o estigma", afirma.

"� poss�vel tamb�m que as pr�prias institui��es, para se aproximar do governo, fa�am uma recomposi��o das suas lideran�as. E se haver� l�deres que v�o tentar se aproximar do campo lulista como j� ocorreu no passado. O �nus de permanecer na oposi��o ser� perder o acesso ao poder."

O poder de articula��o de Lula

Outro fator que pode pesar na rela��o com o antipetismo s�o as caracter�sticas pol�ticas de Lula.

A soci�loga Esther Solano, professora da Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp), analisa que o presidente eleito tem mais habilidade na articula��o se comparado a Dilma Rousseff em seu tempo de Planalto, per�odo em que a sigla viveu sua maior crise.

"Lula tem uma capacidade de tr�nsito e negocia��o pol�tica maior e, assim, mais condi��es de manter a governabilidade. Agora, claro, vai depender obviamente de fazer um bom governo. De conseguir os resultados econ�micos pragm�ticos."

Para a cientista pol�tica Fl�via Biroli, professora da Universidade de Bras�lia (UnB), ainda que a direita tenha maioria expressiva no Senado e na C�mara, � preciso observar como setores menos alinhados ao bolsonarismo e que integram o Centr�o v�o se posicionar em rela��o a Lula — e como o presidente eleito vai compor alian�as estrat�gicas para avan�ar suas pol�ticas de governo.

"Concedendo vantagens a esses grupos ser� que haver� uma disposi��o de manter uma oposi��o direta a Lula no sentido de enfraquec�-lo? Para o bolsonarismo vai ser importante bloquear o governo. Mas eu apostaria que para boa parte dessa direita vai fazer aquilo de manter na corda para obter vantagens. Essa direita vai operar de vez em quando com o bolsonarismo na sociedade, mas nem sempre isso vai interessar."

Victor Ara�jo, pesquisador vinculado ao CEM (Centro de Estudos da Metr�pole) da USP, afirma que "o PT sempre teve que conviver como antipetismo durante os seus governos e isso n�o o impediu de governar. Os desafios agora ser�o outros e maiores. O PT vai encontrar uma economia estagnada, uma situa��o fiscal delicada e um pa�s dividido no plano dos afetos (polariza��o afetiva). Esses s�o os verdadeiros desafios para a pr�xima gest�o".

Lula ter� que encontrar sa�das sob a perspectiva de retra��o da economia mundial devido � Guerra da Ucr�nia e herdar� um rombo nas contas p�blicas que em agosto avan�ou 406,7% em termos reais e teve o pior resultado desde 2020.

O bolsonarismo j� se sobrep�e ao antipetismo?

"O antipetismo foi um fator muito importante para o surgimento de Bolsonaro e para a sua elei��o em 2018. Mas hoje o bolsonarismo absorve e ultrapassa o antipetismo", analisa Biroli, da UnB.


Toalhas de Bolsonaro e Lula
Antipetismo virou um dos n�cleos do bolsonarismo (foto: Reuters)

A compreens�o do novo cen�rio pol�tico brasileiro passa por observar como o movimento se estruturar� nos pr�ximos meses. A cientista pol�tica observa que o bolsonarismo � menor do que a quantidade de votos que atual presidente recebeu, mas se tornou mais extremo durante a elei��o.

"� um movimento muito mais consolidado que em 2018, mais radicalizado e mais claramente concentrado em setores que se dispuseram n�o s� a se manterem alinhados a Bolsonaro depois de tudo que ocorreu nesses quatro anos, mas que tamb�m definiram com mais clareza uma posi��o mais radical."

"Que for�a ter� esse movimento menor, mas mais radicalizado, para criar instabilidade no pa�s?", pergunta Biroli.

Valle, do Observat�rio Evang�lico, recorda que o resultado dos processos envolvendo Bolsonaro e o bolsonarismo na Justi�a podem determinar zigue-zagues no cen�rio pol�tico.

"Bolsonaro vai ser preso, vai ser punido por alguma coisa? Vai ser provado alguma coisa contra ele ou n�o? � disso que vai decorrer o espa�o que o bolsonarismo vai ter de atua��o."


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