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Estado de Minas ELEI��O

Acertos e autocr�ticas dos institutos de pesquisa sobre 2022

Diretores avaliam resultados, discutem estrat�gias adotadas entre os turnos e projetam como ser�o os pr�ximos pleitos no Brasil


07/11/2022 04:00 - atualizado 07/11/2022 07:31

As pessoas fazem fila para votar durante as eleições legislativas e presidenciais, em Brasília, Brasil, em 2 de outubro de 2022
Os diretores entrevistados pela reportagem avaliam que os institutos saem das elei��es com um balan�o positivo (foto: S�rgio Lima/AFP - 2/10/22)

Nas elei��es de 2022, as pesquisas eleitorais foram colocadas no foco das discuss�es pol�ticas em diversos momentos. Diante de resultados das urnas que fugiam do diagn�stico divulgado pelos levantamentos ao longo da campanha, os respons�veis pelos levantamentos se viram no alvo de ataques de campanhas, eleitores e at� mesmo de parlamentares que chegaram a propor medidas de criminaliza��o para quem errasse os resultados. Terminada a disputa, o Estado de Minas conversou com diretores de institutos que avaliaram o saldo final do pleito, discutiram estrat�gias adotadas entre os turnos e como se preparar para os anos futuros.

Ap�s o resultado do primeiro turno, o candidato � reelei��o, Jair Bolsonaro (PL), reservou parte de sua primeira fala para criticar pesquisas eleitorais. “Acho que se desmoralizou de vez os institutos de pesquisa. O Datafolha estava dando 51 a 30 e pouco, a diferen�a foi quatro, isso tudo ajuda a levar voto para o outro lado e isso vai deixar de existir. At� porque acho que n�o v�o continuar fazendo pesquisa, n�o � poss�vel”, disse.

DatafolhaIpec, dois dos mais tradicionais institutos, apontavam, na v�spera da vota��o, Bolsonaro com uma inten��o de voto de 34%. Nas urnas, ele teve 43,2% dos votos. Para o cientista pol�tico e CEO do Instituto AtlasIntel, Andrei Roman, as pesquisas do primeiro turno tiveram dificuldades em realizar um recorte de renda eficiente e tamb�m foram afetadas pelo chamado ‘voto envergonhado’.

"Houve uma super representa��o da popula��o mais pobre, que ganha at� dois sal�rios m�nimos. Muitas pesquisas n�o usaram dados da Pnad"

Andrei Roman, CEO do Instituto AtlasIntel



“Houve uma super representa��o da popula��o mais pobre, que ganha at� dois sal�rios m�nimos. Muitas pesquisas n�o usaram dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios (Pnad). Em alguns casos, esse p�blico representava mais de 50% das amostras, enquanto ela � de cerca de 30%, 35%. Houve tamb�m casos de eleitores t�midos. A Futura fez uma pesquisa que cruzava inten��o de voto com o sexo dos entrevistados e dos pesquisadores e mostra uma tend�ncia maior de declara��o de votos em Bolsonaro quando o entrevistado e o entrevistador eram homens”, explica Roman, que tamb�m aponta que houve uma mobiliza��o maior para votos em Bolsonaro e absten��o de eleitores moderados que poderiam ter votado em Lula.


O desafio da absten��o

O cientista pol�tico e CEO da Quaest Pesquisa e Consultoria, Felipe Nunes, diz que uma pausa metodol�gica � necess�ria para refletir sobre as diferen�as entre os resultados das pesquisas e a vota��o do candidato � reelei��o presidencial e que a conclus�o de que os institutos n�o s�o capazes de medir voto em Bolsonaro � errada. Ele destaca que a absten��o � um desafio para conseguir um levantamento preciso.
“Todos os institutos calculam suas amostras tendo como refer�ncia os 152 milh�es de pessoas registradas e aptas a votar. A distribui��o de entrevistas por regi�o, sexo e faixa de idade, por exemplo, adv�m do total do eleitorado como divulgado oficialmente pelo TSE, n�o apenas dos 118 milh�es que de fato foram votar no domingo. Basta entrar no site do TSE e conferir os planos amostrais que est�o registrados l�. Todos os institutos, sem exce��o, registram amostras para o universo de eleitores. N�o interessa se a pesquisa � domiciliar, por ponto de fluxo, por telefone ou pela internet. Todo mundo usa o total de eleitores como refer�ncia”, explica.

Uma mulher se prepara para votar durante as eleições legislativas e presidenciais, em São Paulo, Brasil, em 2 de outubro de 2022
Nas elei��es de 2022, as pesquisas eleitorais foram colocadas no foco das discuss�es pol�ticas em diversos momentos (foto: Miguel Schincariol/AFP - 2/10/22)


Nunes complementa dizendo que, pelo voto ser obrigat�rio, muitas pessoas respondem �s pesquisas como se fossem votar, mas n�o comparecem no dia da elei��o. “� como no caso do racismo, muito pesquisado no pa�s. Ningu�m diz que � racista em uma pesquisa de opini�o porque sabe que seria mal julgado por quem est� fazendo a entrevista. � o mesmo que acontece com a quest�o da absten��o. Quase ningu�m em uma pesquisa admite que n�o vai votar. Os resultados obtidos na pesquisa continuam servindo para tentar estimar os resultados totais de vota��o em rela��o a um eleitorado, j� sabendo que haver� um desvio em rela��o a quem nunca � entrevistado, porque n�o se interessa por pol�tica, e em rela��o a quem declara, mas n�o vota”.

A press�o no segundo turno

Pesquisa divulgada pela Quaest na v�spera do segundo turno apontava Lula com 52% das inten��es de voto contra 48% de Bolsonaro. Nas urnas, o cen�rio da vit�ria foi mais apertado, com vit�ria de 50,9% ante 49,1% do candidato � reelei��o. Para Felipe Nunes, � preciso entender porque Lula aparece sistematicamente maior nos levantamentos.

“A �nica explica��o plaus�vel � a absten��o, hip�tese que p�de ser testada ap�s a publica��o da primeira pesquisa Genial/Quaest para o segundo turno. Diferentemente do que v�nhamos fazendo ao longo do primeiro turno, a pesquisa de segundo turno da Quaest foi propositadamente em busca de reproduzir o perfil do eleitorado que emergiu das urnas no dia 2 de outubro. Foi um trabalho mais dif�cil do que o normal, mas conseguimos encontrar os 36% que votaram em Lula no primeiro turno, os 32% que votaram em Bolsonaro, os 7% que votaram em outros nomes e os 24% que n�o foram votar ou votaram branco e nulo. Essa n�o � uma pesquisa usual, porque nos for�a a aumentar a busca pelo eleitor que geralmente n�o responde pesquisa, pelo mesmo motivo que n�o vai votar”, explica.

A partir do mapeamento, Nunes aponta que a maioria das absten��es se deu na faixa de eleitores de baixa renda, 28%, enquanto apenas 16% dos eleitores de renda mais alta n�o foram �s urnas.

Adesivos e panfletos de candidatos políticos são vistos no chão enquanto as pessoas fazem fila para votar durante as eleições legislativas e presidenciais no bairro da Taquara, zona oeste do Rio de Janeiro, Brasil, em 2 de outubro de 2022
Pesquisadores acreditam em modelo h�brido de pesquisas para as pr�ximas elei��es (foto: MAURO PIMENTEL/AFP - 2/10/22)


Alguns epis�dios espec�ficos foram apontados como fatores que alteraram o cen�rio eleitoral e podem ter influenciado na dist�ncia entre as pesquisas e o resultado das urnas. Para o CEO do Atlas, esc�ndalos de compra de votos divulgados na �ltima semana em reportagens como as veiculadas pelo programa Profiss�o Rep�rter, da Rede Globo, ainda precisam ser estudados. 

“Tem alguns elementos bem estranhos em rela��o ao que aconteceu no segundo turno, n�o acho que a a��o da PRF (Pol�cia Rodovi�ria Federal) impactou tanto, mas o que a gente est� vendo � que existem evid�ncias de compra de voto que � algo que a gente vai tentar entender melhor”, aponta Andrei Roman, que tamb�m cita as a��es de tr�nsito ocorridas no domingo da vota��o.

"A pesquisa de segundo turno da Quaest foi propositadamente em busca de reproduzir o perfil do eleitorado que emergiu das urnas no dia 2 de outubro"

Felipe Nunes, CEO da Quaest Pesquisa e Consultoria



Para o cientista pol�tico e diretor do Instituto Ranking Brasil, Ant�nio Ueno, os casos envolvendo nomes ligados ao bolsonarismo nas semanas derradeiras do segundo turno influenciaram no resultado final da vota��o. “Consideramos que dois fatores mudaram muito o cen�rio na reta final, o primeiro foi a resist�ncia � pris�o de Roberto Jefferson e consideramos tamb�m que Bolsonaro perdeu no m�nimo 500 mil votos s� no epis�dio da Carla Zambelli (que perseguiu um homem com arma em punho na v�spera da elei��o). Se n�o, a gente cravava”.

O Ranking Brasil chegou bem pr�ximo do resultado final das urnas, indicando vit�ria de Lula por 50,5%, contra 49,5% de Bolsonaro. O Instituto do Mato Grosso do Sul come�ou a fazer pesquisas nacionais em 2018 e, neste pleito, fez apenas uma pesquisa para o segundo turno.

Metodologia das pesquisas eleitorais

O Instituto Paran� Pesquisas apontou vit�ria de Lula por 50,4% contra 49,6% de Bolsonaro. Para o diretor Murilo Hidalgo, o resultado pr�ximo ao das urnas foi fruto da metodologia da pesquisa, que se manteve a mesma nos dois turnos. “A principal aposta foi o resultado colocado em campo. A gente n�o fez nenhuma pondera��o com resultado de primeiro turno e resultados anteriores. A gente acreditou que os resultados coletados em campo foram fi�is. A gente manteve os mesmos m�todos nos dois turnos. Fazemos nosso recorte levando em considera��o apenas posi��o geogr�fica, sexo, faixa et�ria e escolaridade, porque pensamos que a renda � um aspecto muito sens�vel, as pessoas nem sempre respondem com rigor”, afirma.

"Consideramos que dois fatores mudaram muito o cen�rio na reta final, o primeiro foi a resist�ncia � pris�o de Roberto Jefferson e consideramos tamb�m que Bolsonaro perdeu no m�nimo 500 mil votos s� no epis�dio da Carla Zambelli"

Ant�nio Ueno, diretor do Instituto Ranking Brasil



Hidalgo trata tamb�m sobre a forma de coleta de amostragem e aposta em um modelo para as pr�ximas pesquisas. “Quando algu�m nos contrata, tem as op��es de coleta em campo e via telefone. Cada m�todo tem vantagens e desvantagens. No futuro a gente pretende implantar uma linha h�brida. Pega uma cidade que tem um PIB alto, como Curitiba, e voc� tem 20% morando em pr�dios de alto luxo e condom�nios que pessoalmente voc� n�o entra. Em 2024, j� devemos ter pesquisas h�bridas”.

Para Felipe Nunes, da Quaest, o m�todo apresentado como ‘likely voter’ � uma estrat�gia que deve ser mais utilizada no futuro e pode ajudar a apurar a precis�o das pesquisas. O cientista pol�tico aponta que esta � uma forma de atender a demanda social, que espera das pesquisas eleitorais uma previs�o do resultado do pleito.

“Temos que aprender com os norte-americanos, que por conta do voto facultativo, j� incorporam aos resultados eleitorais modelos de likely voters que ajustam os dados brutos das pesquisas a partir da maior ou menor chance de um eleitor participar da elei��o. N�o d� mais para gente ignorar essa demanda social. As pessoas querem ler os resultados das pesquisas como se elas fossem capazes de adiantar o resultado. Mesmo falando que elas n�o s�o capazes de ser progn�sticos, � assim que todo mundo l� os resultados”, avalia. 

Saldo foi considerado positivo

Os diretores avaliam que os institutos saem das elei��es com balan�o positivo. Felipe Nunes aponta que a sociedade brasileira p�de experimentar um volume in�dito de pesquisas com metodologias e focos diversos para acompanhar o cen�rio eleitoral. Ele complementa dizendo que levantamentos cumpriram seu papel de mostrar a leitura de um contexto.

“As pesquisas n�o se prop�em a adivinhar o resultado de uma elei��o, embora a compreens�vel ansiedade de todos os brasileiros em saber quem vai venc�-las possa causar essa leitura equivocada. As pesquisas t�m que revelar tend�ncias do humor do eleitor, e, neste sentido, foram amplamente exitosas. Mostraram, em sua totalidade, que Lula era o primeiro colocado na prefer�ncia do eleitorado, e que estava perto de vencer no primeiro turno. � bom lembrar que os governistas defenderam at� o �ltimo dia o contr�rio, que Bolsonaro venceria com 60% dos votos”, explica.

Nunes aponta que as pesquisas conseguiram mostrar que Bolsonaro mostrou for�a suficiente para se manter competitivo apesar das crises enfrentadas ao longo do mandato e tamb�m que essa resist�ncia n�o seria suficiente para que ele terminasse na frente no primeiro turno. O cientista pol�tico tamb�m v� �xito nos levantamentos ao indicar que um candidato da terceira via n�o teria for�a para disputar o pleito e que o candidato � reelei��o se aproximava continuamente do petista no segundo turno. 

“Os crit�rios para a avalia��o do trabalho dos institutos t�m que estar respaldados pela sua capacidade de antecipar os movimentos que podem acontecer na elei��o, n�o em sua capacidade de adivinhar o n�mero de votos que um candidato vai ter. Isso � futurologia, outra atividade, longe de ser algo cient�fico”, conclui.

Criminaliza��o dos institutos

A discuss�o sobre o resultado das pesquisas no primeiro turno alcan�ou o Congresso Nacional e parlamentares da base governista chegaram a discutir a cria��o de uma Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) para investigar os institutos e um Projeto de Lei que propunha puni��es para quem errasse os resultados das urnas. Para Felipe Nunes, a rea��o do Legislativo ecoou uma leitura equivocada da opini�o p�blica sobre o papel das pesquisas. Ele reitera que os levantamentos n�o t�m objetivo de prever resultados e esse aspecto precisa ser melhor compreendido.

“Mesmo tendo passado a elei��o inteira repetindo ‘pesquisa n�o � progn�stico, � diagn�stico’, todo mundo acaba julgando o trabalho como se o eleitor n�o pudesse mudar de ideia de s�bado para domingo. Ou seja, embora a gente venda diagn�stico, a sociedade compra como se estivesse adquirindo predi��o. Precisamos trabalhar junto com os jornais e jornalistas para evitar que isso continue assim. O conselho de Opini�o P�blica da ABEP, preocupado com isso, organizou um semin�rio no come�o do ano sobre esse e outros assuntos para auxiliar jovens jornalistas a utilizar corretamente os dados de pesquisa, mas a sociedade n�o incorporou isso”, diz Nunes. 

Andrei Roman, CEO do AtlasIntel v� na movimenta��o dos parlamentares um discurso de campanha sem car�ter construtivo. “N�o houve realmente um interesse forte em termos de melhorar as pesquisas. Infelizmente, foi uma tentativa de captar politicamente em cima de um fato de que as pesquisas ,na m�dia, erraram o resultado do Bolsonaro e ent�o seus aliados no congresso tentaram capitalizar durante o per�odo eleitoral. As pesquisas que erraram a favor do Bolsonaro nunca eram citadas, por exemplo”.

Para Murilo Hidalgo, do Paran� Pesquisas, a discuss�o sobre criminalizar os institutos n�o � vi�vel, mas ele prega que se preste contas sobre os resultados. Ele v� com bons olhos medidas que tentem atualizar as regras para as pesquisas eleitorais.

“Tor�o para que v� para frente no sentido de aperfei�oar a lei, n�o no sentido de discutir o passado. N�s pesquisadores somos como qualquer outra profiss�o. Se voc� contrata um engenheiro e aparece uma rachadura na sua casa, voc� vai querer que ele se explique. N�o � criminalizar, porque os erros n�o s�o cometidos de prop�sito, mas alguma responsabilidade temos que ter tamb�m. N�o � prender, mas deve-se explicar o m�todo, mostrar onde houve o erro e esclarecer”, prop�e.


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