Henrique Lessa - Correio Braziliense

Outros l�deres, como o pastor Ap�stolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, optaram, at� o momento, pelo sil�ncio. N�o patrocinaram os movimentos golpistas de alguns apoiadores inconformados com a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas tamb�m n�o saudaram a vit�ria do presidente eleito.
� esse sil�ncio, ao menos nos assuntos mundanos da pol�tica, que se observa em templos evang�licos de todo o pa�s. Com estrat�gia baseada em uma teologia de guerra santa, na qual Bolsonaro seria o ungido por Deus, e Lula a representa��o do mal, gerou-se a sataniza��o, tanto do advers�rio, como at� mesmo do 'irm�o' que discordava da orienta��o pol�tica do pastor. Agora, com a 'vontade de Deus' pela elei��o do petista, h� um dilema teol�gico entre os fi�is.
� o que observa o antrop�logo e pesquisador da tem�tica, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ronaldo de Almeida. "Voc� vai nas igrejas, e eles n�o sabem como explicar para o fiel como o Deus que est� no comando escolheu Lula e n�o Bolsonaro. � uma igreja que sai fraturada, que j� saiu fraturada em 2018, e agora mais ainda, pois jogaram todas as fichas na elei��o do Bolsonaro", aponta o professor.
Apesar de afirmar que ir� orar pelo presidente e que respeita o resultado das urnas, Malafaia chegou a dizer que deseja dist�ncia de Lula e seu governo. J� o bispo Edir Macedo foi mais cauteloso, escolheu o genro, pastor Renato Cardoso, para falar mal do presidente eleito. Sua �nica declara��o a respeito do resultado ap�s o segundo turno eleitoral foi sobre o perd�o ao presidente eleito, aceitar o resultado e "bola para frente". "� um movimento esperado das grandes denomina��es evang�licas que sempre "s�o governo"", avalia Almeida.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que dispensa o perd�o de Edir Macedo. "Ele � quem precisa pedir perd�o a Deus pelas mentiras que propagou", retrucou a parlamentar. O bispo, em r�plica, afirmou "n�o dever nada nem a Lula nem a Bolsonaro". Mas Almeida lembra que a IURD e a Record foram privilegiadas, tanto nos governos de Lula, quanto de Bolsonaro. Ainda no governo Lula a diplomacia brasileira foi atuante para atender os interesses da IURD em Angola, pa�s onde hoje a igreja enfrenta problemas com o governo. J� no governo Bolsonaro a verba publicit�ria, antes concentrada na TV Globo, migrou em grande parte para o SBT e para a TV Record do bispo.
Almeida aposta que tanto Macedo quanto Malafaia devem voltar a se aproximar do governo petista. "Essa caracter�stica governista das corpora��es da f� est� ligada aos interesses particulares de cada igreja", completa o antrop�logo.