
"N�o sei nem se o presidente da Rep�blica (Jair Bolsonaro) veio aqui, a n�o ser para fazer presen�a em momentos de cat�strofe, (como) enchentes - e veio muito r�pido. � preciso que a voz de Minas seja mais efetiva e respeitada no processo decis�rio", afirma, ao Estado de Minas.
Abi-Ackel � mais um participante da s�rie de edi��es do "EM Entrevista", podcast de Pol�tica do Portal Uai, com deputados federais eleitos pelo estado. "O governador de Minas tem sempre de ser ouvido pelo presidente da Rep�blica. Os presidentes vinham a Minas pedir a opini�o de Juscelino Kubitschek quando ele era governador. Isso aconteceu, tamb�m, com Tancredo Neves, Itamar Franco e A�cio Neves", lembra, citando a disposi��o do PSDB de ajudar na interlocu��o entre Minas e os poderes federais.
Paralelamente aos debates nacionais, o tucano � defensor de uma inje��o de investimentos no interior e em Belo Horizonte. Ele aponta a condi��o das estradas como lacuna que precisa ser preenchida o mais r�pido poss�vel.
"Minas � o cora��o do pa�s. Pelo estado, passam todas as art�rias, que s�o as estradas federais. Minas precisa de investimentos na malha rodovi�ria, e isso � um consenso na bancada (do estado)".
Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista, dispon�vel na �ntegra no canal do Portal Uai no YouTube.
Qual ser� a prioridade de seu novo mandato?
As mesmas de meus outros mandatos. Em primeiro lugar, a defesa dos interesses de Minas, do pa�s e das cidades mineiras que represento, atrav�s da obten��o de recursos federais e de investimentos, melhorando a vida, sobretudo, das cidades mais carentes. Uma das principais fun��es do Congresso � votar a Lei do Or�amento. Com ela, conseguimos enviar recursos federais para investimentos nas cidades mais remotas.
Em outra vertente, (vou) trabalhar fortemente na atividade legislativa, n�o s� discutindo as leis propostas e emitindo pareceres e ideias de meus colegas, (mas) participando dos grandes debates nacionais.
O senhor tem bom tr�nsito entre os colegas da bancada mineira. Em sua vis�o, que pautas podem ser capazes de conseguir unir os 53 eleitos pelo estado?
Belo Horizonte precisa de investimentos vultosos. H� a demanda do metr� e o Anel Rodovi�rio, que precisamos resolver rapidamente, e o problema das enchentes. BH tem uma pauta de consenso entre os deputados - mesmo entre os que s�o de outras regi�es do estado. Eles compreendem que a capital precisa de uma inje��o de investimentos.
A melhoria das estradas federais tamb�m � importante. Todos sabem o qu�o dolorido � o problema da BR-381.Em �ltima an�lise, a duplica��o das rodovias federais em Minas, que � uma s�ntese do Brasil; � o cora��o do pa�s. Pelo estado, passam todas as art�rias: as estradas federais. Minas precisa de investimentos na malha rodovi�ria, e isso � um consenso na bancada.
H� necessidade cada vez maior de investimentos nas cidades do interior. Muitas delas estavam, at� alguns anos, entrando em estado de atraso social, (com) falta de infraestrutura, tratamento de esgoto e de �gua. H� muitas cidades no interior remoto de Minas que precisam de investimentos dessa natureza. Nos �ltimos dois ou tr�s anos, gra�as a esse novo modelo de envio de recursos federais ao interior do Brasil, a situa��o melhorou.
A minera��o, com o caso da Tamisa na Serra do Curral, al�m das trag�dias de Mariana e Brumadinho, pautou o debate eleitoral deste ano. Como avalia a rela��o entre Minas Gerais e a minera��o? H� uma depend�ncia excessiva da explora��o e, por consequ�ncia, a necessidade de buscar fontes alternativas de receita?
A diversifica��o das fontes de receita precisa ser preocupa��o permanente. A discuss�o sobre minera��o tem evolu�do. Evoluiu, infelizmente, com mais velocidade ap�s essas duas cat�strofes. Temos avan�o razo�vel - ainda precisamos fazer outros - para fazer com que as �reas de minera��o possam ser reflorestadas e recuperadas. Para que n�o fique, como heran�a da minera��o, um estado com topografia danificada. Tenho a impress�o de que essas cat�strofes e suas li��es trouxeram legisla��es novas e, portanto, mais seguran�a.
Minas tem de ter outras atividades. H� o agroneg�cio em expans�o, energia solar no Norte e uma atividade industrial muito forte. Para incrementar isso, temos de ter sistemas rodovi�rio e ferrovi�rio melhores, bem como energia el�trica melhor. Temos de ter, tamb�m, uma m�quina p�blica mais eficiente. E, sobretudo, um pacto entre os estados no campo fiscal. Minas perdeu ind�strias em raz�o de benef�cios fiscais oferecidos por outros estados. Temos de contribuir para uma reforma tribut�ria que preveja que um estado n�o fa�a uma competi��o com outro. Os estados s�o diferentes uns dos outros. O Esp�rito Santo � geograficamente menor e tem popula��o menor; pode se dar ao luxo de dar descontos tribut�rios, tornando-se mais atrativo. A equa��o econ�mica l� � completamente diferente da equa��o de Minas, que n�o pode se dar ao luxo de prescindir da arrecada��o dos impostos estaduais tanto quanto pode um estado menor.
S�o Paulo teve imensa acelera��o industrial h� 30 anos por ter tido condi��es de organizar a infraestrutura. No momento em que tivermos as BRs 116, 262, 381 e outras estradas federais duplicadas, (al�m de) boa estrutura ferrovi�ria, poderemos dar imenso salto de desenvolvimento. Para isso, precisamos de investimentos federais. Minas, com os recursos estaduais, n�o tem condi��o de arcar com isso, at� porque as estradas s�o federais.
O governador ga�cho, Eduardo Leite, disse recentemente que o PSDB perdeu parte da sua identidade. Concorda com isso?
N�o acho que tenha perdido a identidade. Houve uma mudan�a geracional e os grandes nomes da funda��o do partido est�o se aposentando, como Jos� Serra, Fernando Henrique Cardoso e Aloysio Nunes. H� uma nova gera��o de membros do PSDB. Estamos vivendo um per�odo de polariza��o entre esquerda e direita. O PSDB sempre foi de centro e, por isso, perdeu um pouco seu espa�o. Diminuiu de tamanho. Mas a pol�tica � din�mica e muda sempre. Quando estivemos na presid�ncia da Rep�blica, em um governo em que o pa�s deu certo, sab�amos que o ciclo se encerraria em algum momento. Nenhum democrata acha que vai se eternizar no poder. Veio o per�odo petista, um pouco maior, e o pa�s foi experimentar um governante de direita (Bolsonaro) em um ciclo de quatro anos.
Nada impede que o centro democr�tico, que tem o PSDB como partido central, seja chamado a apresentar um nome daqui quatro anos - ou daqui oito - e volte a governar o pa�s. Da mesma maneira, em Minas. Em regra geral, concordo com as coloca��es de Eduardo Leite, a quem tenho grande respeito e admira��o - e espero que ele presida o PSDB a partir do ano que vem, como tem sido ajustado entre as for�as pol�ticas do partido. Mas diria que � mais uma decorr�ncia da polariza��o e da mudan�a geracional do que, propriamente, uma mudan�a de identidade.
O senhor acaba de citar Minas, onde o PSDB teve candidatura pr�pria ao governo, com Marcus Pestana, mas n�o alcan�ou 1% dos votos. Antes da elei��o, A�cio Neves disse que os tucanos se preparavam para voltar a governar o estado - se n�o em 2022, em 2026. O que fazer para reverter o desempenho ruim deste ano?
Atribuo a possibilidade de voltar a governar Minas � din�mica do processo pol�tico. Tivemos um ciclo muito virtuoso em Minas. Foram 12 anos de governos do PSDB. Era natural que, ao fim dele, o eleitorado preferisse o partido antagonista: no caso, o PT, com Fernando Pimentel. Depois, o eleitor, em vez de desejar o retorno do PSDB, optou por um novo modelo de gest�o. Come�a, ent�o, o per�odo de Zema. Ele, por melhor governador que venha a ser, n�o vai se eternizar no governo. H� dia para terminar. Ele pode at� tentar fazer o sucessor, mas este, se ganhar, n�o vai ficar eternamente l�. Logo, estaremos em campo para disputar as elei��es de quatro em quatro anos.
Mas a que o senhor atribui o desempenho ruim da chapa pr�pria do PSDB em Minas?
Era natural que fosse pequeno (o desempenho do PSDB). N�o t�nhamos expectativa de que fosse diferente. Havia uma polariza��o, tal qual no cen�rio nacional, entre o PT e o lulismo, e o bolsonarismo. Em Minas, isso se repetiu. Se repetiu, tamb�m, em S�o Paulo e em tantos outros estados, espremendo a terceira alternativa. � absolutamente normal na pol�tica. No passado, a UDN disputava com o PSD; depois, o MDB com a Arena. Depois, come�ou a fase da multiplica��o de partidos. Retornamos um pouco ao passado, com a bipolariza��o. O que n�o quer dizer que amanh� n�s n�o estejamos � frente de um desses p�los - ou, que, em um fracionamento, possamos ter uma terceira via. Ningu�m fica eternamente sentado na cadeira de governador. Quem tem servi�os prestados, fez grandes governos, fez grandes obras e tem bons nomes, como o PSDB, sempre estar� preparado.
Quando o PSDB lan�ou a candidatura pr�pria, houve uma fratura p�blica na rela��o com Zema - o vice-governador, Paulo Brant, que � do partido do senhor, acabou isolado. Ao longo do primeiro mandato, os tucanos estiveram na base aliada ao governo. Essa alian�a vai se repetir a partir de 2023?
Por ora, desejo a Zema muito sucesso na gest�o. Fa�o, de p�blico, o reconhecimento de que ele tem feito um bom trabalho. Tem organizado o estado e � um homem absolutamente s�rio. N�o nos furtaremos a contribuir para que isso (o bom desempenho do governo) aconte�a, como fizemos no primeiro governo. A pequena distens�o que houve na rela��o pol�tica se deveu, em grande parte, ao fato de que o partido dele desejou algo bastante inovador, estranho � pol�tica mineira, que era escolher um nome estranho �s nossas rela��es, como se nosso fosse, para ocupar a vice-governadoria em nosso nome. Tentamos explicar ao governador que isso n�o existia na cartilha da boa pol�tica.
O senhor se refere � costura que tentou emplacar o jornalista Eduardo Costa (Cidadania) como vice de Zema?
N�o quero polemizar. Tenho o maior respeito por Eduardo Costa, grande profissional. Mas, de fato, quando nos foi feita essa coloca��o, explicamos ao governador que n�o t�nhamos como levar adiante. T�nhamos um compromisso com o vice-governador Paulo Brant. Ficaria muito deselegante com Brant fazer isso. J� havia, tamb�m, em outra hip�tese, a possibilidade da candidatura de Pestana. Explicamos a Zema que, infelizmente, n�o t�nhamos condi��es de atend�-lo na solicita��o. Nada contra os nomes citados. Isso est� superado.
N�o temos nenhuma inten��o de participar do governo. Queremos, quando nada, contribuir com ideias e nossa experi�ncia, para o �xito das pol�ticas de Estado que sejam boas para Minas. E (tamb�m) contribuir em Bras�lia para os investimentos federais chegarem a Minas. Falta uma voz mais ativa do governador do estado no processo decis�rio de Bras�lia. Mas acho que ele at� est� buscando se adaptar a ser um l�der pol�tico, algo que ele, curiosamente, n�o gostava de ser. Parece, agora, estar vestindo mais o figurino do l�der pol�tico, embora pare�a que o Novo n�o se sinta � vontade fazendo pol�tica. Mas a pol�tica, desde o in�cio da civiliza��o, existiu.
O senhor diz sentir falta da voz de Minas nos processos decis�rios nacionais. Pode citar exemplos de onde essa falta apareceu?
O governador de Minas tem sempre de ser ouvido pelo presidente da Rep�blica. Os presidentes vinham a Minas pedir a opini�o de Juscelino Kubitschek quando ele era governador. Isso aconteceu, tamb�m, com Tancredo Neves, Itamar Franco e A�cio. N�o eram nem os governadores que iam a Bras�lia; o presidente vinha ao Pal�cio da Liberdade perguntar se Minas estava de acordo.
Sinceramente, n�o sei se isso est� acontecendo nos �ltimos quatro anos. N�o sei nem se o presidente da Rep�blica veio aqui, a n�o ser para fazer presen�a em momentos de cat�strofe, (como) enchentes - e veio muito r�pido. � preciso que a voz de Minas seja mais efetiva e respeitada no processo decis�rio.
Vejo isso acontecer com S�o Paulo e Rio de Janeiro. Ningu�m toma decis�o nenhuma sem ouvir o governador de S�o Paulo. O (novo) governador da Bahia (Jer�nimo Rodrigues), daqui para frente, vai ter voz importante no governo Lula. O PSDB pode ser, quando nada, �til para fazer com que Minas seja mais ouvida. Mas, para isso, � preciso o governador cumprir sua parte. Temos por Zema enorme respeito e simpatia. Ele pode ter, conosco, a certeza de que desejamos muito �xito. Estamos prontos para ajud�-lo em tudo o que pudermos.