
Irritado com a facilidade com que os invasores chegaram ao Pal�cio do Planalto, Lula criticou, duramente, o desempenho de sua equipe frente aos atos de vandalismo que resultaram na depreda��o da sede do Executivo federal e tamb�m dos pr�dios do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal).
Enquanto acompanhava a evolu��o dos ataques por meio de publica��es nas redes sociais, Lula se queixou, especialmente, de M�cio e do ministro-chefe do GSI (Gabinete da Seguran�a Institucional), general Gon�alves Dias, —aos quais telefonou, em tom de cobran�a, j� no in�cio das invas�es.
Segundo seus aliados, Lula reclama que M�cio tenha subestimado amea�as � seguran�a, apostando na sa�da gradual dos bolsonaristas acampados diante do quartel do Ex�rcito em vez de determinar sua retirada, como, por fim, aconteceu nesta segunda-feira (9).
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No domingo, relatam, Lula demonstrou irrita��o com os acampamentos, afirmando que j� tinha perdido a paci�ncia com sua manuten��o.
De acordo com relatos desses interlocutores, Lula avalia que faltou firmeza a M�cio na rela��o com os comandantes das For�as Armadas e que o ministro n�o teria exercido sobre eles qualquer influ�ncia.
Esse descontentamento ficou evidente, tamb�m segundo esses aliados, no fim da tarde de domingo, quando Lula respondeu rispidamente � possibilidade de o Ex�rcito atuar na conten��o dos golpistas por meio de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem).
Segundo relatos feitos � reportagem, o presidente rejeitou a oferta apresentada por M�cio, negando-se a convocar os militares para auxiliar as for�as de seguran�a durante os atos.
O ministro da Defesa estava com o comandante do Ex�rcito, general J�lio C�sar de Arruda, na tarde de domingo. O militar indicou a M�cio que teria 2.500 militares de prontid�o para atuar caso o governo federal considerasse necess�rio.
A sugest�o para uma poss�vel GLO foi descartada, ao telefone, por Lula quando o petista ainda estava em Araraquara (SP). A solu��o adotada pelo presidente foi costurada com o ministro da Justi�a, Fl�vio Dino, com decreto para interven��o federal na seguran�a do Distrito Federal.
Sob o calor dos atos, o presidente reclamou ainda de M�cio ter classificado de democr�ticos os acampamentos em que os opositores de Lula pedem por interven��o militar. Hoje, a avalia��o � que os extremistas deveriam ter sido retirados antes.
Uma outra cr�tica feita a M�cio e chefes militares foi a permiss�o para que os bolsonaristas radicais voltassem ao quartel-general do Ex�rcito, em Bras�lia, ap�s a depreda��o dos pr�dios dos Poderes.
Na noite de domingo, colegas de Minist�rio chegaram a question�-lo sobre a perman�ncia dos bolsonaristas nos arredores do quartel mesmo depois dos ataques.
Em meio ao processo de fritura, aliados de Lula afirmam que o presidente est� preocupado com a rela��o entre governo e militares caso M�cio n�o se consolide como comandante das for�as.
A avalia��o de interlocutores de Lula que estiveram com o presidente no domingo � que M�cio saiu bastante desgastado do epis�dio. Apesar disso, aliados de Lula descartam hip�tese de exonera��o, lembrando que o presidente reconhece em M�cio um habilidoso negociador.
Em defesa de M�cio, afirmam que h� um entendimento de que a tarefa que ele desempenha � dif�cil. Pesa ainda a avalia��o de que a fonte maior do problema est� no governo do Distrito Federal, cuja pol�cia n�o conteve o avan�o dos golpistas.
Ainda assim, M�cio foi submetido � fritura at� nas redes. No fim da tarde, a Executiva do PT divulgou nota afirmando que a orienta��o de Lula para o epis�dio exige uma atua��o firme do governo, especialmente do Minist�rio da Defesa, para assegurar a disciplina e a hierarquia nas For�as Armadas.
Nas redes sociais, o deputado federal Andr� Janones (Avante-MG), que atuou na coordena��o da campanha presidencial de Lula, afirmou. "Com todo respeito ao Ministro M�cio, mas bandido tem que ser tratado como bandido, e ponto final!", escreveu no domingo.
Em entrevista, o ministro da Justi�a, Fl�vio Dino, atestou a delicadeza da situa��o ao dizer que n�o concorda integralmente com o colega, mas pedindo que n�o haja julgamentos precipitados e dizendo haver lealdade e sinceridade de M�cio ao comandar uma das �reas mais dif�ceis do governo.
Segundo Dino, M�cio optou por um caminho de di�logo com as institui��es militares e n�o pode ser condenado por isso. "O resultado, depois, pode levar a julgamentos precipitados. Eu prefiro acreditar que o ministro M�cio, nas condi��es dif�ceis que ele atua, fez o m�ximo com sinceridade e com lealdade".
Dino afirmou que cabe � na��o fazer o julgamento pol�tico do epis�dio.
"A minha vis�o n�o � nesse sentido de martiriza��o do ministro M�cio como sendo o grande vil�o desse processo, eu n�o compartilho dessa vis�o e tenho, ao contr�rio, solidariedade ao ministro M�cio, o que n�o significa concord�ncia integral com as opini�es dele".
Um interlocutor de Lula afirma que ainda "� cedo" para falar na sa�da de M�cio do governo.
Apesar de um sentimento de insatisfa��o com a atua��o do ministro diante dos atos golpistas, de saque e de vandalismo, um aliado do presidente defende esperar "a crise passar" para ent�o ser avaliado o cen�rio.
Na tarde de ter�a-feira (10), ao chegar ao Pal�cio do Planalto e ser questionado por jornalistas sobre a atua��o de M�cio na desmobiliza��o dos acampamentos, o deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL) endossou as cr�ticas que aliados de Lula fazem ao ministro da Defesa.
"Eu concordo com essas cr�ticas. Primeiro, cabe ao presidente Lula definir os seus ministros e lidar com os seus ministros. Agora o ministro Jos� M�cio dizer que as manifesta��es pedindo golpe militar em frente aos quart�is s�o democr�ticas, desculpe, mas isso n�o � a minha opini�o, n�o � a opini�o da maioria da sociedade brasileira e, tenha certeza, n�o � a opini�o do presidente Lula", afirmou o l�der sem-teto.