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Estado de Minas MINISTRA DO PLANEJAMENTO

Tebet sobre bolsonaristas: 'Os lobos solit�rios est�o espalhados'

Tebet diz ser necess�ria aten��o a novas investidas golpistas como a do dia 8 e afirma ter feito a escolha certa ao apoiar o presidente Lula


18/01/2023 07:47 - atualizado 18/01/2023 08:29

Simone Tebet
Tebet afirma que pretende fazer propostas para um arcabou�o fiscal e que a reforma do Imposto de Renda deve ocorrer de maneira gradual (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
A ministra do Planejamento e Or�amento, Simone Tebet, n�o tem d�vidas de que fez a escolha certa ao apoiar o presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) e sente um al�vio de miss�o cumprida por ter participado da derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do negacionismo que ele representou.

Na avalia��o dela, "o bolsonarismo se mostrou maior do que Bolsonaro". "Os frutos, lamentavelmente, v�o cair e, isoladamente, pelo Brasil. Assim, n�s temos que dormir com o olho aberto, porque os lobos solit�rios est�o espalhados", disse, em entrevista ao Correio.

A ministra integra o rec�m-criado Conselho de Acompanhamento e Monitoramento de Riscos Fiscais Judiciais, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pretende fazer propostas para o novo arcabou�o fiscal. Nesse sentido, ela � a favor de uma regra focada no controle de gastos. "Acho que tem que olhar para o gasto p�blico", defendeu.

A ministra ressaltou, tamb�m, que a reforma tribut�ria � a prioridade do momento e que reforma do Imposto de Renda, prometida por Haddad ainda para o primeiro semestre, na avalia��o dela, dever� ser gradual. Assim, a promessa de Lula de elevar a atual faixa de isen��o de R$ 1,9 mil para R$ 5 mil, dever� ocorrer "at� o fim do mandato". A seguir, os principais trechos da entrevista.

D� para ter uma no��o do que ser� poss�vel fazer neste ano dentro de um Or�amento t�o apertado?
Olha, eu acredito que sim. Dizem que � nos momentos de crise � que se cria. Quando se chega no fundo do po�o, ou voc� fica ali, ou voc� d� um impulso e sai dele. N�s estamos vivendo um momento t�o at�pico por todas as raz�es. E o pen�ltimo domingo foi o �pice do governo disfuncional que foi o do ex-presidente Jair Bolsonaro. N�o teve outra sa�da, n�o s� para a Frente Democr�tica, Frente Ampla, mas tamb�m para grande parte da direita, a n�o ser, num primeiro momento, hipotecar apoio ao Brasil, � democracia e ao governo Lula. Ent�o, acho que esse � um ponto que precisa ser ressaltado. Se havia alguma d�vida por parte dos �ltimos democratas, do Congresso Nacional e da classe pol�tica, n�o h� mais d�vida de que a Frente Ampla tem que se fortalecer e que temos que ajudar nessa travessia, que � o governo Lula, e ajudar o Brasil a sair das crises. Estamos falando n�o s� da crise econ�mica e social, mas tamb�m da crise pol�tica, que � a m�e de todas elas. Ent�o, diante disso, estamos com um congresso receptivo num primeiro momento. H�, pelo menos, boa vontade em rela��o �s propostas da equipe econ�mica do governo Lula.

N�s chegamos no fundo do po�o, seja na crise pol�tica, seja na crise econ�mica. N�o h� crescimento sustent�vel, duradouro, com d�ficit de mais 2% do PIB. Isso n�o existe. Todo mundo sabe para onde iria, ou iria o Brasil a se manter isso nos pr�ximos dois anos. Ent�o, voc� cria uma incerteza de que o Brasil vai honrar os seus compromissos, os juros n�o caem, com juros altos o Brasil n�o cresce. E sem crescimento voc� n�o tem emprego e renda e voc� come�a a impulsionar uma classe m�dia para a pobreza ou para os servi�os p�blicos, ent�o, impacta ainda mais os gastos do Estado. A gente tira o filho da escola particular, se � que ainda tem. Ele deixa de pagar o plano de sa�de e come�a a usar a rede p�blica de sa�de no Brasil. Ent�o, diante de tudo isso, eu estou otimista nesse quesito do apoio pol�tico que o governo Lula vai ter para aprovar as medidas necess�rias no Congresso Nacional no que se refere � nossa pasta, que � a pasta econ�mica. 
 

A senhora disse, em entrevistas recentes, que o plano que j� foi apresentado � insuficiente. O que que vem pela frente em termos de mais ajuste?
Estou replicando o que o ministro Haddad disse naquela coletiva. O programa de reestrutura��o fiscal que foi apresentado, numa an�lise otimista, se tudo aquilo der certo, n�s zeramos o d�ficit este ano ainda temos um pequeno crescimento, um pequeno super�vit, que, na planilha, est� em R$ 11,13 bi, na melhor das hip�teses. A� a pergunta que foi feita pela jornalista para o ministro Haddad foi, 'mas isso aqui tem que ter tudo d� certo para a gente cumprir essa meta'. Ele falou, olha, n�s estamos sendo conservadores no crescimento da receita, na vis�o dele, de crescer R$ 36,4 bilh�es. Mas, se isso n�o for suficiente, palavras dele, poderemos apresentar outro programa de reestrutura��o. Estou replicando o que o ministro disse e com o qual eu concordo. Se, a cada trimestre, fizermos levantamento das estimativas e o programa se mostrar insuficiente, poderemos colocar um programa de reestrutura��o, um segundo plano. Esse � um ponto.

O segundo ponto em rela��o a isso � que eu fui chamada, mas minha equipe ainda n�o est� pronta. O meu minist�rio ainda n�o existe. Ele passa a existir a partir do dia 24, quando os atos ser�o todos publicados e a reestrutura��o feita. Estamos tendo que dividir contratos internos, que antes eram do Minist�rio da Fazenda e que mant�m os minist�rios funcionando. Fui chamada, participamos, demos sugest�es e modificamos os decretos sob a �tica da despesa, n�o sob a �tica da receita. Em rela��o � receita, fomos comunicados, discutimos, mas o programa, o pacote, � do ministro Haddad. O que significa? Significa que n�s poderemos, nos pr�ximos 30, 40 dias, apresentar sob a �tica da despesa, novas sugest�es de conten��o de gastos.

Essa parte de corte dos gastos do pacote ainda � muito t�mida. Que outras medidas a senhora acha que s�o poss�veis fazer? Vai ser poss�vel atacar a conta de subs�dios, um discurso do governo anterior que n�o se concretizou, e que custa mais de 4% do PIB?
Sob a �tica das despesas, fizemos, num primeiro momento, o que � poss�vel fazer. N�o podemos chegar com o pacote pronto. A minha equipe est� trabalhando numa an�lise, mas n�o vamos nos esquecer que, s� de restos a pagar do governo passado para an�lise, e, veja, � an�lise, n�o significa que vai ter um centavo de corte, ainda estamos analisando R$ 100 bilh�es. O que foi colocado no plano, alguma coisa de poss�vel corte, algo em torno de R$ 25 bilh�es. Ao mesmo tempo, revis�o dos contratos, programas e a��es. S�o dois decretos distintos, porque estamos sucedendo um governo disfuncional, que teve muito dinheiro extra, inclusive para pandemia, e que agora � hora de olhar com lupa se tem ilegalidade, se tem interesse p�blico. Porque, (a despesa) pode ser legal, mas n�o atender o interesse p�blico. E pode ser ilegal, a�, obviamente, vai ser cortado e, ou mais ainda, ele pode at� ser legal, atender o interesse p�blico, mas ficar com alguns com uma certa gordura.

Cada minist�rio ter� que fazer a sua parte em rela��o a isso. E, em rela��o ao pacote, na minha vis�o, e tamb�m pelas conversas que eu tenho com o ministro Haddad, acredito que tamb�m seja a vis�o dele, � como uma perna, um bra�o de outras medidas que precisar�o vir e vir�o. Eu citaria tr�s, especificamente.

Quais?
Esse programa de reestrutura��o fiscal e a reforma tribut�ria s�o as duas pernas. H� uma unanimidade de que a reforma tribut�ria precisa sair. Qual reforma � uma outra quest�o, mas nunca estivemos t�o pr�ximos. Os 27 governadores deram ok para aquela proposta que est� no Senado (PEC 110). N�s t�nhamos votos para votar na CCJ, t�nhamos votos para votar no plen�rio. Poder�amos ter entregue para a C�mara dos Deputados ainda no fim do ano passado, se n�o fosse a m� vontade ou a n�o-vontade, e o descaso do ministro Paulo Guedes (ex-ministro da Economia) em rela��o a essa reforma tribut�ria. Ent�o, n�s temos a quest�o da reforma tribut�ria, como o segundo ponto. E a terceira perna, ou bra�o, � a quest�o do novo arcabou�o fiscal que a gente vai come�ar a discutir agora. Quer dizer, o governo, o Minist�rio da Fazenda, come�am a analisar, a pensar nas propostas e sempre nos chama para dialogar.

E, fazendo um par�ntese, estamos sendo chamados para todas as discuss�es, seja na Casa Civil, quando envolve o Minist�rio do Planejamento, o Minist�rio da Gest�o tamb�m; seja com o pr�prio ministro Haddad e com a equipe dele. Ent�o, essas tr�s medidas, eu diria sim, s�o fundamentais. E a�, na quest�o dos subs�dios, quando falarmos de reforma tribut�ria, n�s estaremos sim falando de gastos tribut�rios. Ali�s, j� est� se discutindo qual seria a alternativa, o que cortar, o que n�o cortar. Mas isso � dentro do Minist�rio da Fazenda. Est� sendo feita essa discuss�o dos gastos. E nossa equipe vai preparar a partir do dia 24, algumas medidas. Tem muitas coisas que podem ser mais simples de serem executadas, por mais complexas.

Por exemplo?

Por exemplo?

Esse � um problema de voc�s pedirem para eu antecipar e eu, com muita boa vontade, antecipando. Ontem, eu estava batendo o martelo em rela��o � indica��o de presidente do Ipea. Abaixo das secretarias, a Secretaria do Or�amento Federal (SOF), por exemplo, tem cinco diretorias da Secretaria de Avalia��o. Em todas elas eu dei autonomia para os meus secret�rios, mas passa por mim a palavra final. Assim a gente est� trocando o pneu com o carro andando. O Minist�rio est� sendo recriado. O presidente Lula nos deu at� o dia 24. N�s estamos usando todos os minutos desse prazo que foi dado.

O minist�rio n�o tem nem portal ainda. Se voc� quiser saber a minha agenda p�blica, n�o h�, porque o meu minist�rio n�o existe. Eu fa�o quando me perguntam, �s vezes, eu posto na minha rede particular, alguma coisa que nem � oficial, porque ela n�o tem como ser oficial. Eu falo que, no meu caso, estou com tr�s pneus com o carro andando.

A senhora disse que vai tamb�m colocar o PPA para funcionar, que � uma coisa que sempre foi subvalorizado em todos os governos. O que garante que o PPA "agora vai"?
Primeiro, a recria��o do Minist�rio do Planejamento, ent�o, � um minist�rio s� do or�amento. Segundo, que vamos ter duas secretarias. Isso � in�dito. A Secretaria do Planejamento e a Secretaria de Avalia��o de Pol�ticas de Monitoramento de Pol�ticas P�blicas, que vai ser concomitante � execu��o das pol�ticas p�blicas. Antes, voc� fazia a revis�o, a posteriori, pelo Tribunal de Contas da Uni�o, vinha o controle interno, ou mesmo externo, sempre muito atrasado. Escolhi pessoas com muita experi�ncia. Aceitei o cargo porque acompanho isso, falo disso h� muito tempo. A gente sabe que a desigualdade no Brasil tem cor, tem g�nero, tem lugar. � de uma mulher negra do Nordeste. Essa cara mais pobre do Brasil. Essa � a verdadeira desigualdade que a gente tem ali, social e regional.

Ent�o, dentro desse processo, temos a estrutura e n�s temos a vontade pol�tica da ministra. Muitos acham que o PPA deve ser extinto. Mas essa � uma decis�o pol�tica que envolve o Congresso Nacional, ent�o, n�o vamos discutir. Eu, particularmente, sou contra a extin��o do PPA. Eu prefiro utilizar essa ferramenta poderosa para torn�-la efetiva, tir�-la do papel. E agora n�s temos todas as ferramentas em rela��o a isso. O PPA tem que estar pronto j� agora, em agosto. O cronograma j� est� sendo executado. Ontem, por exemplo, eu j� despachei com a Leany (Lemos, secret�ria de Planejamento) n�s temos um cronograma e falta s� eu dar um ok. Dei liberdade para trazer a melhor equipe que ela queira e n�s vamos rodar o Brasil. J� conversei com M�rcio Macedo, secret�rio geral da Presid�ncia da Rep�blica. Eu, se puder, pelo menos, farei uma viagem por regi�o. Quando eu n�o fizer, Leany far�. E uma �ltima informa��o: Escolhi para a SOF, que � a dor de dente do minist�rio, Paulo Bijos, um rapaz que veio da C�mara, que tem como uma das prioridades modernizar o processo or�ament�rio. E isso passa por duas grandes prioridades. A primeira, que tem a ver com o que a gente falou, � o or�amento de m�dio prazo. Temos que parar de achar e ter essa vis�o distorcida e equivocada, essa vis�o curta, de que alocar recursos p�blicos � feito anualmente, como se os problemas do Brasil fossem anuais.

Os problemas do Brasil perduram por quatro anos, por uma d�cada, talvez por duas ou tr�s d�cadas. Ent�o, o Or�amento em articula��o com PPA sobre, obviamente, a gest�o da Leany, o Or�amento vai ampliar esse horizonte de aloca��o para al�m de um ano, numa proje��o de m�dio prazo de quatro anos. A partir do ano que vem, teremos uma coisa mais concreta para apresentar. Assim, nesse aspecto, estou muito otimista. N�o teremos um Brasil envolvido num modelo de desenvolvimento econ�mico sustentado, que � o que h� de mais moderno, com qualidade de pol�ticas p�blicas, sem planejamento. E o PPA vai ser o cora��o disso tudo, de pensar o pa�s, por exemplo, a partir da nossa diversidade, da nossa pluralidade, das nossas particularidades econ�micas nacionais e regionais, respeitando a determina��o do presidente Lula, que � colocar o pobre no Or�amento. Mas, n�o s� o pobre, � a mulher, o negro, a diversidade, as pol�ticas que s�o essenciais, como educa��o, sa�de, meio ambiente, com o �bvio respeito ao or�amento que n�s temos, mas � escolher prioridades. O Brasil gasta muito e gasta mal.

Ent�o, ele tem que, no m�nimo, gastar bem o muito que ele gasta. E �bvio, o meu papel, paralelo a isso, como a gente ainda tem o deficit, a gente vai ter que tamb�m cortar, n�? N�o h� como. � o que gastar, como gastar e o que cortar. Eu acho que n�o tem como. Esse � o meu papel. E vou ser a chata da hist�ria. Mas � isso que vai fazer com que a gente possa, depois, e eu n�o digo a m�dio prazo, � pequeno prazo mesmo, um ano, come�ar a ver o Brasil efetivamente crescer. N�o d� para falar s� de pol�ticas p�blicas de excel�ncia � custa da carga tribut�ria. Ent�o, voc� tem, de um lado, os servi�os p�blicos de excel�ncia, fazer muito com pouco que tem, mas, de outro lado, � ser eficiente nesses gastos para que a gente possa sinalizar e garantir seguran�a jur�dica socioambiental. E, n�o podemos esquecer nunca essa palavra, de previsibilidade para o setor produtivo, que � quem investe.

Agora, ministra, a senhora est� falando de carga tribut�ria. A gente j� tem uma carga tribut�ria pesada e quando se fala em reforma tribut�ria, existem v�rias quest�es ainda pendentes. Porque uma das cr�ticas assim, apesar do consenso em torno da tribut�ria, h� um problema a� da quest�o do imposto sobre a renda. Como � que vai ficar a corre��o da tabela em janeiro?
Eu acho que s�o duas coisas paralelas. Ali�s, o Brasil precisa de tr�s reformas tribut�rias: sobre o consumo, sobre a renda e sobre o trabalho. Como resolver o problema da informalidade, que � uma outra hist�ria. N�o estou dizendo que tem que se fazer uma de cada vez, pode se fazer concomitante. Por exemplo, a reforma sobre a renda � uma lei complementar. Ent�o ela � muito mais f�cil de ser analisada e votada. N�o depende desse pingue pongue, desse vai e volta, a casa revisora tem a �ltima palavra e matou a quest�o, o qu�rum mais simples. E ela trata de pontos espec�ficos, bem menores que a reforma tribut�ria sobre o consumo. Ent�o, a reforma sobre a renda, que � o que voc� perguntou e que o ministro Paulo Guedes apresentou, est� parada. O que ela faz? Ela mexe na tabela de Imposto de Renda para dar um f�lego para a classe m�dia, porque a tabela est� muito defasada. Ent�o, ao isentar um n�mero maior de contribuintes do pagamento do Imposto de Renda, voc� gera uma despesa, uma diminui��o da arrecada��o de x e esse x precisa ser compensado de outra forma. A justi�a tribut�ria exige que voc�, nesse caso, em tese, tribute os super ricos, que, no Brasil, a gente sabe que paga infinitamente, proporcionalmente, menos imposto do que a classe m�dia e os mais pobres.

Ent�o, diante disso, a alternativa seria eu estou dizendo, sob a �tica da gest�o passada, eu n�o conversei sobre este assunto, que � muito mais ligado � Casa Civil, que � uma decis�o pol�tica, e ao Minist�rio da Fazenda. Cabe a mim a parte t�cnica, fazer n�meros, conta, e ver a viabilidade mais t�cnica. E se for consultada politicamente, eu falarei. Ent�o, o que que eles previam? Eles previam duas formas: a alternativa de tributar lucros e dividendos. O Brasil � um dos �nicos pa�ses do mundo que n�o tributa. Tem muita gente que hoje que tem dividendo e acha que tem que ser tributado, porque ganha muito e acha injusto n�o se tributar nada, desde que seja um valor razo�vel para compensar a diminui��o da carga tribut�ria dessa classe m�dia que paga Imposto de Renda hoje. Esse � um ponto mais do que o Guedes efetivamente queria para mexer na tabela de imposto de renda para recriar o imposto, que � CPMF, que � imposto digital. Esse imposto tem uma grande rejei��o de grande parte da sociedade. Quando eu digo sociedade, eu estou falando dos economistas, dos investidores, dos setor produtivo.

Ent�o, assim � poss�vel mexer. E o pr�prio presidente Lula, no seu programa de campanha, disse que iria isentar do Imposto de Renda uma parcela da popula��o com renda mensal de at� R$ 5 mil. Ele vai fazer. N�s temos quatro anos para fazer bem mais que isso. O prazo n�o est� definido. Eu n�o sei. Mas sabe o que eu posso dizer � que a prioridade � nossa hoje, n�s estamos trabalhando nisso e eu tenho conversado com Haddad sobre isso. E ele j� escolheu uma pessoa para ser secret�ria especial da reforma. � a reforma tribut�ria sobre o consumo, que � uma PEC. E, como eu disse, ela est� bem adiantada no Senado. Se vai come�ar na C�mara, eu n�o sei. � uma decis�o pol�tica que come�a a ser feita pelo ministro Haddad junto aos presidentes da C�mara e do Senado Federal.

Essa quest�o de lucros e dividendos � controversa. Muitos economistas, como o Guilherme Melo, defendem com unhas e dentes. Ele acha que � a sa�da agora. Mas j� ouvi muita gente dizendo 'ah, se eu fizer isso, vai afugentar o empres�rio do Brasil'...
Bom, eles sempre v�o dizer isso. Mas estou falando sob a �tica do que aconteceu na Legislatura e na gest�o passada. Havia duas alternativas. A primeira alternativa, que o Guedes queria, era recriar a CPMF, que impacta Deus e o mundo. E a segunda seria ou isso (a taxa��o de lucros e dividendos), a princ�pio, teria se descartado come�ar a tributar imposto e colocar imposto sobre grandes fortunas, que foi descartada, ou lucros e dividendos. Essa discuss�o, em nenhum momento, chegou na minha mesa. Eu n�o fui chamada para tratar da reforma do Imposto de Renda. O que j� fui chamada para tratar mais de uma vez com o ministro Haddad, j� fazendo uma an�lise sobre a �tica pol�tica do Congresso. Ele falou: Quem sabe nos ajude l� no Senado, como conhece a casa, ficou oito anos l�, sobre a quest�o da reforma tribut�ria sob a �tica do consumo. � essa que est� na mesa. E � mais necess�ria neste momento, j� que o presidente Lula tem quatro anos para resolver a quest�o do Imposto de Renda, acho que, a partir do ano que vem, sen�o ainda esse ano, na minha ideia, ele pode come�ar a mexer nessa tabela. Essa mudan�a na tabela, de forma gradual, at� chegar a R$ 5 mil (a partir dos R$ 1,9 mil atuais). Acredito que todo o campo das hip�teses. Eu disse que essa entrevista est� muito antecipada, mas voc�s pediram, eu estou dando entrevista.

Em rela��o � reforma tribut�ria, a senhora acha que � realmente a PEC 45 ou a PEC 110? Tem um texto no Senado juntando as duas PECs...
O Bernard Appy (secret�rio especial da Reforma Tribut�ria da Fazenda) vai trabalhar e tem consci�ncia de que o IVA, o imposto �nico, dificilmente passa. O que tamb�m � adiantado � o IVA dual, que � uma mistura da PEC 110 com a PEC 45. Mas ela vai servir como base agora para o Appy, de certo, fazer um ajuste ou outro. E sobre esse assunto, � importante lembrar o seguinte: essa reforma garante neutralidade tribut�ria. Ela n�o aumenta a carga tribut�ria no Brasil. Acontece que um ganha e outros perdem. Na parte dos munic�pios, a maioria mais do que absoluta, mais de 4 mil munic�pios ganham, e uns 800 e poucos perdem. Ent�o, a chiadeira � bem menor. Mas o setor de servi�os � mais impactado � mais impactado para favorecer um setor que, proporcionalmente, � mais tribut�rio no Brasil, que � o setor industrial. Se a gente n�o aliviar a carga da ind�stria no Brasil, a gente n�o consegue reindustrializar o pa�s. N�s continuaremos sendo o Brasil sempre do futuro, sempre, o Brasil em desenvolvimento nunca desenvolvido, porque n�s exportamos terra, min�rio, nos espantamos a riqueza bruta, que s�o commodities, sem valor agregado, sem gera��o de emprego qualificado e, depois, importamos o mesmo produto, muito mais caro.

Eu me lembro que na campanha uma coisa me chamou aten��o no Esp�rito Santo. Eles falaram exatamente do problema do caf�, onde eles exportavam gr�os de qualidade e depois esse gr�o vinha ensacado, processado, infinitamente mais caro do que um de um pa�s da Europa. Era processado e depois vinha ensacado para o Brasil. � o fim da picada. N�o tem sentido isso. A�, voc� entra em toda uma quest�o de carga tribut�ria, seja a carga tribut�ria em cima da renda, seja em cima da pessoa jur�dica, seja em cima do trabalhador. N�o interessa isso tudo est� sendo analisado. Mas a reforma tribut�ria d� um alento, num primeiro momento. Ela porque num primeiro momento. Mas ela tem esse objetivo, e mais: ao n�o tributar no consumo, ela beneficia os mais pobres, porque os mais pobres v�o continuar pagando o tributo sobre a cesta b�sica, mas eles v�o ter um sistema inteligente, de computador. Aqueles que t�m o cart�o do Bolsa Fam�lia v�o ter devolu��o, no m�s seguinte, desse imposto, que, numa cesta b�sica, d� algo em torno de R$ 9 e R$ 12, por m�s, � devolvido em imposto para ele, que � muita coisa. Ele compra sei l�, um quilo de feij�o, compra uma d�zia de ovos, enfim. Mas estou falando da reforma que eu acompanhei. O projeto ainda nem come�ou. Quem vai cuidar disso � o Appy, que foi nomeado para isso. Estou falando da reforma que eu acompanhei. Eu acompanho a reforma tribut�ria desde que eu comecei a dar aula, portanto, h� 32 anos. O ex-presidente Fernando Henrique tentou.

E porque nunca conseguiram?
Mas sabe qual � o meu otimismo? � a primeira vez que os 27 governadores apoiam, porque � preciso a unanimidade, tanto que que os 27 secret�rios de Fazenda e dizendo o seguinte n�s concordamos com essa reforma. O mais dif�cil era isso. O mais dif�cil era o ICMS (Imposto sobre Circula��o de Mercadorias e Servi�os), que dependia do acordo do Confaz (Conselho Nacional de Pol�tica Fazend�ria), mas, quando chegava no ICMS, que � uma parte muito importante da reforma tribut�ria, n�o tinha acordo. Agora tem. Por isso, eu n�o acredito no IVA �nico, no imposto �nico. Voc� n�o consegue quebrar todos os ovos para fazer esse omelete. O que for a decis�o do governo, vamos defender. O Haddad fala em seis meses, mas eu acho que, se conseguirmos at� dezembro, vamos fazer um gol de placa.

Sobre o novo arcabou�o fiscal, qual � a sinaliza��o que o presidente Lula deu? Na sua avalia��o, tem que olhar para o gasto como o mercado e muitos especialistas defendem?
Eu acho que tem que olhar para o gasto. N�s vamos olhar para o gasto p�blico e, no momento que tiver maduro, vamos apresentar algumas pequenas ou grandes propostas para a Casa Civil, para o Minist�rio da Fazenda, que tem essa vis�o tamb�m de que tem que olhar. A Fazenda est� pensando em algumas alternativas em rela��o ao novo arcabou�o fiscal. Como eu cheguei agora e n�o havia anunciado o secret�rio da SOF, eles j� estavam discutindo isso. Na verdade, combinamos que quando Haddad voltasse de Davos, a gente come�aria a discutir. N�s j� tratamos sobre v�rios assuntos, mas n�s n�o tratamos ainda sobre o novo arcabou�o, porque eles ainda est�o buscando algumas alternativas. Ent�o, na hora que ele tiver mais ou menos o boneco, a gente vai conversar sobre isso. A impress�o que eu tenho � que eles est�o com duas, tr�s propostas na mesa e est�o fazendo avalia��o, est�o fazendo contas.

Agora falando sobre o MDB, especificamente, o partido est� pacificado? O governo pode contar com o MDB?
Pode. Bem recebido pelo Senado quase 100%. Voc� pode ter um ou dois e em determinadas alturas, muito particulares, contr�rios. Porque o MDB do Senado � um pouco mais progressista e sempre esteve mais alinhado ao governo do PT. Na C�mara s�o 42 deputados. Tem alguns ainda, especialmente os do Sul, que no segundo turno, apoiaram o Bolsonaro e � natural. Deve ter uns cinco, seis. Mas se voc� olhar, por exemplo, a bancada do Par�, fez sete ou oito deputados federais do MDB na nova Legislatura. Se voc� comparar, pega a bancada do Sudeste, a bancada do Nordeste, eu n�o vejo sustos n�o. A maioria absoluta est� com o governo, se sentiu contemplada com as indica��es, enfim. Eu acho que a bancada nesse ponto est� bem coesa, inclusive para a elei��o da presid�ncia do Senado. Eu acho que tem todos os votos do Rodrigo Pacheco (presidente do Senado).

Sobre esses atos antidemocr�ticos. A senhora acha que o pa�s passou essa etapa de inseguran�a democr�tica ou a senhora ainda teme? � preciso ficar atento que podemos ainda ter a� problemas nessa seara, num futuro pr�ximo? Como a senhora avalia?
Bom, primeiro que eu acho que o pen�ltimo domingo foi sem d�vida, um dos dias mais importantes da nossa hist�ria. E � assim no aspecto, no sentido negativo, na gravidade, foi um dia tomado por ataques � Constitui��o, ao Estado Democr�tico de Direito, externando exatamente aquilo que o ex-presidente Bolsonaro plantou durante quatro anos de governo. N�s n�o podemos imputar isso a decis�es isoladas de uma minoria da popula��o brasileira. N�s vivemos quatro anos de negacionismo � vida; de ataques � Constitui��o, �s institui��es democr�ticas, ao Supremo, ao Congresso Nacional, � pol�tica, de discursos de �dio e de mentiras deslavadas que foram transformadas em fake news, que viralizaram pelo Brasil, dividindo os brasileiros e fazendo uma verdadeira lavagem cerebral.

O pior do ex-presidente Bolsonaro n�o foi, n�o foi s� o negacionismo, negar a vacina, dividir o Brasil, a vis�o equivocada, armamentista, mis�gina e vis�o homog�nea de mundo, de o que serve � aquilo que eu penso que os demais que se adaptem ou ou caiam fora. � que ele teve a capacidade de extrair o que h� de pior em algumas pessoas. O que n�s vimos, ao meu ver, no domingo, n�o se encerrou no domingo. Sob a �tica da democracia, n�s demos a demonstra��o de que ela est� forte e as institui��es funcionam. As respostas foram, depois, imediatas. O pacto dos governadores dos 27, e por parte do Congresso Nacional, apoiando a interven��o federal. Isso n�o se discute. Agora, a semente foi plantada. Os frutos, lamentavelmente, v�o cair e, isoladamente, pelo Brasil. Assim n�s temos que eu j� disse isso, dormir com o olho aberto, porque os lobos solit�rios, agora, est�o espalhados.

Por qu�?
Foi feito uma lavagem cerebral. � uma convic��o totalmente distorcida e disruptiva de morrer pela p�tria, para defender uma causa que, de p�blica, n�o tem nada. Ataques � democracia, n�o mais ataques �s institui��es e ataques espont�neos e isolados, n�s podemos sim. N�o podemos, depois de domingo, desconsiderar isso que eu estou dizendo . N�o d� para desconsiderar que a gente n�o criou lobos solit�rios, que, mesmo sem chefe. De forma objetiva, acabou de se confirmar que o bolsonarismo passou a ser maior que Bolsonaro � tudo de mal que isso significa. N�s estamos atentos. O Brasil, na elei��o, na posse do Lula, retomou o curso normal da hist�ria. Um presidente democrata. E aqui vai um elogio espont�neo ao presidente Lula. Numa compara��o (com o anterior), hoje n�s temos um presidente que tem a alma. E, com isso, eu quero dizer exatamente o que eu quis dizer: n�s acabamos nas urnas derrotar um presidente desalmado e desumano. Ent�o, assim, s� isso faz toda a diferen�a. Um presidente que tem alma e que � democrata. Imagina a gente em pleno s�culo XXI, tendo que colocar isso como elogio que � pr�-condi��o de um homem p�blico.

A senhora se sente segura no Brasil?
Olha, eu nunca tinha tido, mesmo com as minhas tomadas de decis�es, mesmo com o impeachment, da presidente Dilma, por exemplo, eu nunca tinha tido nenhum tipo de ataque pelas decis�es que tomei. Foram v�rias decis�es, muitas vezes as amargas dentro do Congresso, com vota��es complexas. Sempre tive lado, sempre defendi e tornava p�blica minhas decis�es. Nunca fugi de uma vota��o e tudo mais. E passei por quest�es graves. Eu nunca fui atacada na rua e nunca fui agredida verbalmente. E, quando tomei a decis�o logo de imediato, ap�s o resultado, no mesmo dia. A partir de ent�o, eu sofri amea�as. Eu tive ataques verbais na rua. No caso espec�fico, foram dois mais assim e um de menor import�ncia. E, no WhatsApp tamb�m, eu tive situa��es onde a direita nos grupos, uma parte, imputou a mim a derrota do Bolsonaro, porque a diferen�a foi muito pouca. Mas isso n�o me causa nenhum stress assim no esp�rito, assim estou em paz. Eu acho que eu nunca estive t�o em paz na minha vida. A princ�pio n�o ia aceitar o minist�rio. Eu tinha convic��o de que o meu papel havia terminado e a p�gina tinha se virado, ou um cap�tulo se, eu decidi de �ltima hora, depois da �ltima conversa que tive l� pelo Natal. E, menos de 24 horas eu mudei totalmente de ideia. Mas eu tinha convic��o que se um dia eu entrei para a vida p�blica, apesar de tudo o que eu j� fiz, acho que fiz muita coisa boa, entre os equ�vocos que devo ter cometido.
 
Fui a primeira mulher prefeita, a primeira vice-governadora. Como prefeita, foi a que mais gerou emprego em toda a hist�ria do meu estado. Mas, devido � import�ncia que tive na vida do meu estado, eu acho que tudo convergiu para que eu tivesse que cumprir uma miss�o na minha vida pol�tica. E ela foi cumprida, que foi meu papel na elei��o e no segundo turno. Ent�o, acho que nada que eu fa�a, no futuro, vai ter tamanha import�ncia quanto isso. Eu estava no lugar certo, na hora certa, e Deus permitiu que eu tomasse a decis�o certa. Assim, � uma convic��o que eu tenho, posso est� equivocada, mas ainda assim. S�o 20 anos de vida p�blica, que eu praticamente levei quatro anos tentando n�o entrar. Eu fazia pol�tica de outra forma, eu era de movimentos, e nunca me imaginava com mandato eletivo. Mas eu entrei para a vida p�blica foi para que, naquele dia, do segundo turno, para eu tomar a decis�o n�o s� de apoiar, mas vestir a camisa da candidatura do Lula como se fosse a minha.

Eu fui para a rua, fui para o campo. Eu acho que o que eu tinha que cumprir, eu cumpri. O que tiver que acontecer, vai acontecer. Obviamente, a gente toma todos os cuidados. Eu n�o tenho medo do que acontece comigo. Eu tenho medo do que acontece com o pa�s. O que vai acontecer com o pa�s acontece com as minhas filhas e com as filhas e filhos do Brasil. Acho que � isso. Esse � o receio, o receio de a gente nunca voltar, o curso normal da hist�ria. E n�s precisamos desses quatro anos para voltar ao curso normal da hist�ria. O que significa e significa enquadrar essas pessoas que s�o golpistas, v�ndalos e pessoas extremistas e punir com rigor da lei e debelar qualquer tipo de novo movimento que possa vir. � um processo lento e de educa��o e insist�ncia em todas as entrevistas em todo o momento dentro das escolas. N�s vamos participar e n�s vamos ter que colocar a import�ncia da democracia na vida de cada brasileiro, nas p�ginas dos jornais e na agenda pol�tica brasileira.

J� bateu tamb�m o martelo para a presid�ncia do IBGE?
IBGE, n�o. Estou analisando cinco curr�culos, mas eu j� posso dizer que a pessoa est� chegando, eu fa�o convite oficial, vou fazer um convite especial pra essa pessoa. Ent�o n�o vou nem adiantar, porque vai que essa pessoa j� foi sondada. Mas assim vai aqui, chega aqui e fala n�o, n�o quero, a� n�o posso antecipar.
 

Ministra, para concluir, qual vai ser o crit�rio para o comando do Ipea e do IBGE? V�o ser duas mulheres?
O meu minist�rio vai ser parit�rio e j� est� sendo. Tem tr�s mulheres e tr�s homens na c�pula. Da mesma forma, agora, os adjuntos, diretores de presidentes de �rg�os. Vou procurar escolher um homem e uma mulher. Estou analisando os curr�culos e deverei fechar ainda nesta semana. Eu vou ver aqui se a paridade � para ser um homem ou uma mulher em cada instituto. Eu vou procurar escolher um homem e uma mulher para cada instituto. Mas, no geral, eu estou falando de qualidade, sen�o eu acabo prejudicando o curr�culo. Por exemplo, pode ser que os dois curr�culos melhores para os institutos sejam de homens e eu tenho que procurar colocar mais mulheres em diretorias e em adjunto e tudo mais. Vou fazer for�a para que seja mulher. Vai depender tamb�m do curr�culo. Curr�culo igual, a mulher ganha. Mas curr�culo diferente e se o homem tiver um curr�culo melhor, a escolha vai ser de um homem. Quem vai cometer misoginia �s avessas, desta vez, sou eu. As mulheres sofrem com isso o tempo todo.


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