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Estado de Minas NOVO GOVERNO

Argentina, Uruguai, China e EUA: a estrat�gia de Lula ao escolher destinos para visitas no in�cio do mandato

Meio ambiente e reaproxima��o com a Am�rica Latina s�o pontos importantes para a agenda do novo governo.


21/01/2023 06:32 - atualizado 21/01/2023 07:33


Lula
Lula deve se encontrar com Alberto Fern�ndez na segunda-feira 23 (foto: Getty Images)

Antes mesmo de tomar posse, o presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) j� havia anunciado sua inten��o de escolher a Argentina como seu primeiro destino oficial no exterior.


Lula deve desembarcar em Buenos Aires na segunda-feira (23/1) para participar da reuni�o de c�pula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) na ter�a-feira (24/1).


O Brasil voltou a integrar o bloco regional, composto por outros 32 pa�ses, ap�s dois anos fora do grupo. Ele tamb�m tem encontro marcado com o presidente argentino, Alberto Fern�ndez.


Em seguida, Lula parte para Montevid�u, onde tamb�m j� est�o programadas reuni�es bilaterais com o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, e outras autoridades locais.

O ministro das Rela��es Exteriores, Mauro Vieira, j� anunciou que o petista deve visitar tamb�m, nos tr�s primeiros meses de governo, Estados Unidos e China — os dois principais parceiros comerciais do Brasil atualmente.

Para a professora de Rela��es Internacionais da Universidade Federal do ABC Paulista (UFABC), Tatiana Berringer, as escolhas de destinos iniciais de um novo presidente costumam ser indicativas de sua estrat�gia de pol�tica externa.


"Quando Lula anuncia seus primeiros destinos, ele j� exp�e ao mundo o que planeja para seu governo", diz.


"E � importante lembrar que o Lula j� tem uma viagem para Portugal sendo preparada para abril, ou seja, a Europa tamb�m est� na lista de prioridades, assim como a negocia��o do acordo entre Uni�o Europeia e Mercosul."


A BBC News Brasil conversou com especialistas em Rela��es Internacionais para tentar entender quais as estrat�gias por tr�s das escolhas de primeiros destinos do novo governo.

Argentina

� tradi��o que o pa�s vizinho seja escolhido por novos presidentes para as primeiras viagens oficiais. Mas, segundo analistas, a decis�o de Lula de estrear sua agenda internacional com a ida � Argentina simboliza antes de tudo uma clara mudan�a de rumo nas rela��es entre as duas na��es — e entre Brasil e Am�rica do Sul de forma geral.


"A escolha aponta para uma percep��o do car�ter estrat�gico das boas rela��es com os vizinhos e para a inten��o de resgatar os la�os — com a Argentina em especial, tendo em vista o relacionamento conflituoso entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e [o presidente argentino] Alberto Fern�ndez", diz Tatiana Berringer.


A inten��o de aprofundar os la�os com os vizinhos j� foi manifestada em diversos momentos por Lula e membros de sua equipe, e a pr�pria decis�o de reintegrar a Celac e usar a reuni�o de c�pula do grupo para uma viagem oficial � Argentina aponta nessa dire��o.


Lula recebeu o presidente da Argetina, Alberto Fernandez, em São Paulo pouco após sua vitória
Lula recebeu o presidente da Argetina, Alberto Fernandez, em S�o Paulo pouco ap�s sua vit�ria (foto: Getty Images)

H� ainda um componente ideol�gico forte que aproxima os governos de Lula e Fern�ndez. O argentino foi o primeiro chefe de Estado a visitar o petista ap�s o an�ncio do resultado das elei��es, e a visita a Buenos Aires pode ser entendida tamb�m como uma retribui��o da cortesia.


Segundo a professora da UFABC, existe a inten��o de mostrar antagonismo em rela��o ao governo anterior, quando os la�os foram prejudicados.

Para Feliciano S� Guimar�es, professor do Instituto de Rela��es Internacionais da Universidade de S�o Paulo (USP) e diretor acad�mico do Centro Brasileiro de Rela��es Internacionais (Cebri), o Brasil tem muito a ganhar economicamente com a reaproxima��o, j� que a Argentina est� entre os tr�s principais destinos das exporta��es nacionais.


"A sintonia entre Fern�ndez e Lula pode dar mais for�a para negociar a fase final do acordo entre Uni�o Europeia e Mercosul", diz.


"O fortalecimento dos la�os tamb�m poderia impulsionar a reindustrializa��o mais uma vez, e, ao que parece, essa � uma das prioridades do governo Lula no momento de negociar os termos do acordo."


Para os especialistas, os setores de exporta��es de manufaturados e outros produtos de grande valor agregado dependem especialmente de um Mercosul mais ativo para gerar crescimento econ�mico, empregos e desenvolvimento socioecon�mico em geral.

"Se n�o houver uma rela��o funcional entre os presidentes brasileiro e argentino, nenhuma grande iniciativa regional ou coordena��o ampla pode avan�ar", afirma Oliver Stuenkel, professor de Rela��es Internacionais da Funda��o Get�lio Vargas (FGV).


Especula-se ainda que Lula possa usar sua passagem por Buenos Aires e participa��o na reuni�o da Celac para reuni�es bilaterais com outros l�deres sul-americanos.

Segundo fontes do governo, o presidente deve se reunir com os l�deres de Cuba, Miguel D�az-Canel, e da Venezuela, Nicol�s Maduro.

Uruguai


O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, e o ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília em 2021
O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, e o ex-presidente Jair Bolsonaro em Bras�lia em 2021 (foto: Marcos Corr�a/PR)

Assim como na viagem � Argentina, os especialistas consultados pela BBC News Brasil veem a visita ao Uruguai como parte de uma estrat�gia de reaproxima��o regional.


"H� sempre uma demanda por garantir a perman�ncia do Uruguai — assim como a do Paraguai — no Mercosul, porque s�o pa�ses mais voltados para a exporta��o agr�cola e podem ser mais 'assediados' pelas grandes pot�ncias", diz Tatiana Berringer.


Segundo a especialista, manter a coes�o do bloco � especialmente importante em um momento em que ambas as na��es possuem governos mais conservadores, que n�o est�o no mesmo espectro pol�tico do governo brasileiro atual.


"Uma visita ao Uruguai pode ser fundamental para manter essa coes�o", diz a professora da UFABC.

China e EUA

J� a escolha de China e Estados Unidos como prioridades simboliza a inten��o do novo governo de manter rela��es produtivas e pragm�ticas com ambas as pot�ncias, que atualmente travam uma disputa por influ�ncia pol�tica, econ�mica e militar em algumas regi�es do globo.


Bandeiras dos EUA e China
EUA e China travam uma disputa por influ�ncia (foto: Getty Images)

"Estamos cada vez mais atuando em um mundo bipolar, causado pela piora da rela��o entre Pequim e Washington. Ent�o demonstrar logo no in�cio que o Brasil manter� rela��es produtivas com os dois polos de poder me parece uma estrat�gia muito sensata", avalia Stuenkel, da FGV.


"Isso me parece uma estrat�gia para engajar os dois simultaneamente: sempre que um pa�s apertar ou pressionar o Brasil por algo, corremos para o outro para tentar uma posi��o melhor", afirma S� Guimar�es. "� uma pol�tica pendular."


Para o diretor acad�mico do Cebri, esse estilo pol�tico pode abrir as portas para um interc�mbio interessante entre o Brasil de Lula e os Estados Unidos de Joe Biden.

Segundo S� Guimar�es, temas que podem beneficiar os dois lados s�o meio ambiente e defesa da democracia — pautas que ambos os presidentes t�m demonstrado interesse em desenvolver.


"As rela��es do governo Bolsonaro com os Estados Unidos n�o eram das melhores desde que Joe Biden assumiu a Presid�ncia. E � curioso notar que as �ltimas autoridades americanas que visitaram o Brasil antes do novo governo deram muita �nfase � necessidade de preservar a democracia e n�o questionar o resultado das elei��es."


Lula e Biden durante encontro em 2009
Lula e Biden durante encontro em 2009 (foto: Getty Images)

J� quando se trata da China, existem setores poderosos absolutamente interessados na manuten��o de boas rela��es com o pa�s, como � o caso do agroneg�cio e da minera��o.


Para Tulio Cariello, diretor de conte�do e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), o afastamento entre Bras�lia e Pequim durante o governo de Jair Bolsonaro "foi uma a��o 'teatral' de uma minoria do governo passado", que n�o deve impactar em nada os la�os daqui para frente.


"Minha percep��o sobre a rela��o com a China � que agora teremos maior interesse da parte brasileira em explorar novas formas de coopera��o, inclusive em organismos multilaterais em que os dois pa�ses est�o presentes, al�m de maior boa vontade em rela��o a projetos de tecnologia e infraestrutura", diz Cariello, que aposta tamb�m em uma amplia��o do di�logo na �rea de meio ambiente.


"At� mesmo parte da ind�stria (aquela que compra insumos importados) busca intensificar as rela��es com a China."

Davos

Apesar do calend�rio inicial de viagens cheio, Lula decidiu n�o comparecer ao F�rum Econ�mico Mundial, em Davos, na Su��a. O presidente preferiu enviar os ministros do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), e da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para represent�-lo.


Segundo interlocutores de seu governo, a ida � COP-27, a confer�ncia da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) que discute as mudan�as clim�ticas, antes da posse, em novembro, j� teria servido como uma boa interlocu��o com outras autoridades e uma vitrine para seus planos futuros.


Lula durante a COP-27 no Egito
Lula durante a COP-27 no Egito (foto: Getty Images)

Mas, para S� Guimar�es, a decis�o pode ter sido equivocada. "S� participar da COP-27 e falar sobre o meio ambiente, que � a pedra angular da pol�tica externa dele, n�o � suficiente. Ele precisa entrar mais no palco internacional", diz.


Segundo o professor da USP, a reuni�o poderia servir como um pontap� inicial para as discuss�es levantadas pelo G20, grupo do qual o Brasil ser� o pr�ximo presidente pelo per�odo de um ano, a partir de novembro de 2023.

"Presidir o G20 significa sediar centenas de encontros preparat�rios para a reuni�o de c�pula que acontece em setembro de 2024. � uma grande oportunidade de pol�tica externa, mas tamb�m para as �reas de economia, finan�as e meio ambiente."

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64349674


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