O valor alegado do conjunto de joias e uma estatueta ornamental de cavalo, de US$ 1 milh�o (R$ 5,15 milh�es) no auto de apreens�o inicial e € 3 milh�es (R$ 16,5 milh�es) numa avalia��o posterior, � enorme mesmo para o padr�o perdul�rio da Casa de Saud, que fundou o reino petrol�fero em 1932.
Os valores fizeram saltar os olhos de diplomatas com experi�ncia em protocolo, e n�o s� pelo fato de que usualmente presentes s�o simb�licos no Ocidente, para evitar a pecha da vulgaridade da ostenta��o. Uma compara��o poss�vel dada a transpar�ncia americana � avaliar o quanto os sauditas destinaram em mimos para autoridades dos Estados Unidos, seu maior aliado pol�tico e militar.
Ao todo, Riad deu US$ 5,2 milh�es, em valores n�o deflacionados, ou 75% do total de presentes que chegaram � Casa Branca e adjac�ncias. Corrigido s� esse total, o que � impreciso porque os agrados foram distribu�dos ao longo dos anos, chega-se a US$ 6,56 milh�es hoje —ou R$ 33 milh�es, pouco mais que o dobro do teto de valor atribu�do ao pacote apreendido pela Receita.
Em 2003, o reino deu seu presente mais caro registrado: um quadro retratando ca�ada de b�falos do americano C.M. Russell avaliado em US$ 1 milh�o (US$ 1,63 milh�o hoje, ou R$ 8,4 milh�es) para George W. Bush, ent�o esbanjando poder ap�s a invas�o do Iraque —que n�o foi apoiada pelos aliados sauditas, contudo.
Em segundo lugar come�am a brilhar o ouro, os diamantes, esmeraldas e rubis. Ele � ocupado pelos US$ 780 mil (US$ 985 mil corrigidos, ou R$ 5 milh�es) em diamantes e afins dados em 2014 a Teresa, a mulher de John Kerry, ent�o respons�vel pela diplomacia de Barack Obama e hoje enviado de Joe Biden para quest�es clim�ticas.
Outra Michelle, a Obama, caiu nas gra�as diplom�ticas de Riad. S� em 2014, ela recebeu US$ 1,3 milh�o (US$ 1,64 milh�o deflacionados, ou R$ 8,4 milh�es) em dois conjuntos separados de joias, de toda forma aproximadamente um ter�o do total que teria sido enviado para a sua colega brasileira na mochila de um assessor do ent�o ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia).
Esse per�odo de maior gastan�a coincide com o final do reinado de Abdullah bin Abdulaziz al Saud, que assumiu em 2005 mas afastou-se por motivos de sa�de do governo a partir de 2010, at� sua morte aos 90 anos em 2015.
De l� para c�, as coisas ficaram bem mais modestas, relativamente. O �dolo de Bolsonaro Donald Trump, por exemplo, teve como destaque na sua cole��o de presentes sauditas um painel com colunas ornadas de caligrafia �rabe doado em 2017 de US$ 14,4 mil (US$ 17,6 mil hoje, ou R$ 90 mil).
O pr�prio brasileiro, hoje residente na Fl�rida, est� na lista dos que quiseram agradar Trump, no caso com um banco de madeira esculpida em forma de on�a-pintada, avaliado em US$ 1.175 em 2019 (US$ 1.370 hoje, ou R$ 7.060).
Com tudo isso e a opacidade das vers�es em torno do que realmente ocorreu, at� porque negativas de Bolsonaro acerca de conhecimento pelo caso foram confrontadas com oito tentativas de seu governo de reaver o conjunto apreendido, diplomatas questionam a natureza do presente saudita.
A Folha entrou em contato com a embaixada do reino em Bras�lia, mas ainda n�o obteve resposta. Como o jornal mostrou, seja qual fora a origem do agrado, o Planalto considerava que ele iria ou para o acervo pessoal de Bolsonaro ou para o da Presid�ncia.
Nos EUA, todo presente com valor superior a US$ 415 (R$ 2.136) dado a funcion�rio p�blico tem de ser entregue aos superiores e catalogado. Uma vez por ano a lista de presentes � atualizada pelo Escrit�rio do Chefe do Protocolo e publicada online, geralmente tamb�m com itens de outros per�odos. Ningu�m fica com nada, sendo o destino de tudo os Arquivos Nacionais, por vezes alimentando as biblio tecas presidenciais.
A exce��o � para quem est� disposto a pagar pelo valor de mercado do presente, como a ent�o secret�ria de Estado Hillary Clinton fez com um colar de quase US$ 1.000 que ganhou em 2012 (hoje valendo US$ 1.300, ou R$ 6.700) da l�der birmanesa Aung San Suu Kyi. Mas ela desistiu de repetir a dose com os US$ 400 mil (US$ 550 mil, ou R$ 2,8 milh�es hoje) que a Ar�bia Saudita lhe deu em joias em 2010.
Do governo de Joe Biden s� h� dispon�vel o relat�rio sobre 2021, primeiro ano de seu mandato. O presidente ou sua fam�lia nada ganharam dos sauditas. Seu secret�rio de Estado, Antony Blinken, levou um pacote de t�maras, um vaso e mel, no valor de US$ 630 (R$ 3.200).
Curiosamente, o presente mais caro que Biden ganhou na sua estreia no cargo foi do arquirrival Vladimir Putin. Quando se encontraram em junho para concordar em discordar sobre v�rios temas, mas a Guerra da Ucr�nia n�o estava no horizonte, o russo o presenteou com jogo de canetas em estojo de laca de US$ 12 mil (R$ 62 mil). J� do aliado Volodimir Zelenski, presidente da Ucr�nia, ganhou uma bandeira americana de US$ 700 (R$ 3.600).
O afeg�o Ashraf Ghani, figura constante na lista de galanteadores diplom�ticos, deu um tapete de seda de US$ 9.600 (R$ 50 mil) poucas semanas antes de ver Biden evacuar suas for�as do seu pa�s, o que o fez fugir e deixar o caminho aberto para a volta dos fundamentalistas do Talib� ao poder.