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Estado de Minas ATUA��O NA PANDEMIA

Bolsonaro poderia ter evitado 350 mil mortes de Covid, diz Mandetta

Em balan�o retrospectivo do enfrentamento da pandemia pelo governo Bolsonaro, Mandetta afirma que o ex-presidente fez tudo o que um chefe de estado n�o deveria


08/05/2023 11:10 - atualizado 08/05/2023 11:58

Mandetta fala em púlpito com fundo preto.
Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Sa�de, avaliou a condu��o da pandemia no Brasil em sua primeira entrevista ap�s a OMS ter decretado o fim da emerg�ncia sanit�ria mundial (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
“Poder�amos ter evitado metade dos mortos. Se tivesse feito a campanha direitinho, falando todos a mesma l�ngua, diminuindo a velocidade de transmiss�o, ter�amos tido um resultado muito melhor”, avalia Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Sa�de, em sua primeira entrevista ap�s a Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) ter decretado o fim da emerg�ncia sanit�ria mundial.

Pela estimativa de Mandetta, dos  cerca de 700 mil �bitos ocorridos no Brasil - que representam 10% dos registros no mundo - as mortes de 350 mil pessoas por Covid-19 poderiam ter sido evitadas se o governo Jair Bolsonaro n�o tivesse politizado o enfrentamento da doen�a e desmantelado a coordena��o unificada do Minist�rio da Sa�de no combate � pandemia. 

Em balan�o retrospectivo do enfrentamento da pandemia pelo governo federal, Mandetta afirma que Bolsonaro fez tudo o que um chefe de estado n�o deveria, naquele cen�rio de pandemia, se quisesse salvar vidas. “Quando iniciamos o enfrentamento, tivemos alguns princ�pios: proteger a vida incondicionalmente, manter a coordena��o do enfrentamento no Minist�rio da Sa�de, usando  o SUS como meio e a ci�ncia para decidir. Eram os pilares de nossa estrat�gia” , afirma Mandetta.

“Mas a ideia dele (Bolsonaro) era retirar o Minist�rio da Sa�de do  enfrentamento, deixando isso a cargo de governadores e prefeitos, ficando o presidente como cr�tico e oposi��o, transformando a vida de governadores e prefeitos num inferno”, avalia o ex-ministro.

As pessoas acham que ele � louco, mas foi decis�o pol�tica, com come�o, meio e fim.  Foi decis�o deliberada e consciente, porque informei por escrito e avisei qual era a proje��o de mortes nesse cen�rio de confus�o informacional e de falta de coordena��o de Bras�lia, caso fosse adotada a tese da imunidade de rebanho, dentro da m�xima do Paulo Guedes de que entre economia e sa�de, ficaria com a economia”, revela Mandetta. 

A primeira provid�ncia de Jair Bolsonaro, depois da exonera��o de Mandetta - e na sequ�ncia, a sa�da de Nelson Teich - foi desmantelar a estrutura unificada no Minist�rio da Sa�de sob o Sistema �nico de Sa�de (SUS), com um grupo t�cnico de pesquisadores e profissionais das maiores institui��es brasileiras, em contato permanente com os principais centros de pesquisa do mundo, para o embasamento do processo decis�rio. 

Tamb�m a estrutura de comunica��o permanente com a sociedade, para esclarecimento devido, evitando o charlatanismo nas m�dias digitais, foi interrompido. A imprensa brasileira precisou se organizar em cons�rcio para acompanhar e divulgar as estat�sticas da Covid-19, o que era papel do Minist�rio da Sa�de. 

“Fizeram uma interven��o militar no Minist�rio da Sa�de, com o que tem de mais desqualificado no Ex�rcito, o pessoal de log�stica. Se o Ex�rcito tem generais da �rea da sa�de, por que n�o colocaram um deles? Porque queriam uma pessoa servil, que sem compromisso com o combate � Covid-19”, afirma o ex-ministro.

“Foi uma decis�o pol�tica que levou muitas pessoas � morte. E n�o foi decis�o pol�tica tomada  sem ter sido avisado. Fizemos tr�s cen�rios, e o cen�rio mais pessimista que projetamos, foi exatamente aquele que Bolsonaro escolheu: o caos informacional e a desarticula��o do sistema de sa�de. Bolsonaro foi para esse cen�rio de forma completamente consciente. E eu mandei por escrito”, diz Mandetta.

Caos nos estados 


Sem consenso em Bras�lia, os entes federados j� n�o trabalhavam juntos. Governadores e prefeitos bolsonaristas adotavam a narrativa negacionista em confronto com governadores e prefeitos que seguiam as orienta��es cient�ficas.

O grau de politiza��o no trato � doen�a transbordou para diversas institui��es brasileiras, inclusive o Conselho Federal de Medicina, que, em tese, foi criado para zelar pela boa pr�tica m�dica.

“Chegamos ao fundo do po�o.O Conselho Federal de Medicina, valida essa narrativa negacionista e cria dois tipos de m�dicos na ponta: aquele que dava cloroquina e aquele que n�o dava. Politizaram a pr�pria pr�tica m�dica”, assinala Mandetta. 

Atraso das vacinas

Depois de ignorar as oportunidades de adquirir de laborat�rios internacionais as vacinas mais rapidamente, tamb�m a imuniza��o foi politizada e Jair Bolsonaro iniciou a prega��o contra as vacinas. “Politizaram a vacina, porque acharam que haveria imunidade de rebanho. N�o adotaram a minha recomenda��o,  que era de comprar a vacina cedo. Eu assinei e induzi a Fiocruz ao acordo de coopera��o com a Oxford e disse vamos apoiar o Butant� com a China. Sen�o n�o ter�amos tido vacina”, relembra Mandetta, registrando que na segunda onda da Covid-19, morreram, entre 31 de dezembro e 31 de julho, quase 380 mil pessoas.

“Foi um n�mero absurdo de �bitos no primeiro semestre de 2021”, aponta ele. “E foi aquela barbaridade, aquela vergonha de Manaus. E o que fazem? V�o para Manaus e mandaram grupos de pacientes para todas as capitais brasileiras. Os pacientes com a cepa delta”, diz ele, explicando que uma mudinha da cepa foi colocada em cada lugar de concentra��o humana no Brasil.

“Foi o nosso desespero. Curitiba, S�o Paulo ficaram quase sem oxig�nio. N�o existe pa�s no mundo em condi��es de produzir oxig�nio para o pa�s todo com consumo 38 vezes maior do que a m�dia. Foi nosso maior pesadelo. Chegaram a morrer 4.500 pessoas em um �nico dia”, aponta.

Erros no plano internacional

No plano internacional, tamb�m houve erros, aponta Mandetta. A come�ar pela falta de transpar�ncia e de informa��es  no momento em que a doen�a foi detectada em Wuhan, na China.

“A Orgniza��o Mundial de Sa�de (OMS) fez algo at�pico: considerou uma emerg�ncia para a cidade de Wuhan e um alerta internacional. Mas o mundo estava sob a indefini��o:  n�o sabia se estava diante de um v�rus que n�o iria sair daquela regi�o, n�o conhecia a velocidade de propaga��o os n�meros de cont�gio”, diz Mandetta.
 
Quando a It�lia entrou em colapso, a China parou de exportar e come�aram a faltar insumos como m�scaras, agulha e outros, em todo o mundo. “Foi erro mundial concentrar na economia de escala a compra de elementos essenciais de um �nico pa�s”, diz Mandetta. 

Sistematiza��o de erros e acertos

Para Mandetta, o momento agora � de o Minist�rio da Sa�de promover congressos e reuni�es de trabalho para sistematizar a experi�ncia, identificando erros e acertos no enfrentamento da Covid-19, de modo a deixar a contribui��o para as gera��es futuras no enfrentamento das pandemias que vir�o.

“� uma quest�o de tempo”, diz o ex-ministro, que tamb�m aponta para o hist�rico prec�rio das determinantes sociais em sa�de no Brasil. “A Covid-19 foi doen�a infecciosa que ingressou no pa�s pelas classes ricas, diferentemente do que normalmente acontece. Mas sab�amos que seria uma quest�o de tempo para alcan�ar as nossas fragilidades”, diz Mandetta.

“Quando vem uma doen�a assim, ela cobra um pre�o enorme da falta de pol�ticas p�blicas para que as pessoas tenham moradias Como vamos falar de higiene com o Rio de Janeiro, que tem 40% das pessoas em �rea de exclus�o social absoluta, sem saneamento?  E n�s falando em isolamento para fam�lias que vivem em casas de 20m2, sem pia para lavar m�o. Essa li��o, as nossas determinantes sociais em sa�de seguem como nosso ponto fraco”, diz ele.

Erros cometidos no enfrentamento da pandemia

  • No Brasil


  1. Jair Bolsonaro desmantelou o comando do enfrentamento � Covid-19 que em princ�pio fora centralizado no Minist�rio da Sa�de. Com a centraliza��o do processo de tomada de  decis�es, pretendia-se garantir que o Minist�rio da Sa�de, governadores, prefeitos em intera��o com a sociedade, prestassem a mesma orienta��o, evitando ru�dos. Nesse comando centralizado estruturado por Mandetta, havia a participa��o de representantes dos conselhos nacional de secret�rios estaduais e municipais da sa�de; pesquisadores e t�cnicos das maiores institui��es nacionais, em interlocu��o permanente com centros internacionais de pesquisa, para a tomada de decis�o forte e embasada do ponto de vista cient�fico. Jair Bolsonaro fez interven��o militar no Minist�rio da Sa�de e desarticulou toda a estrutura;
  2. Interrup��o do di�logo aberto com a sociedade, em coletivas e boletins di�rios promovidos em princ�pio pelo Minist�rio da Sa�de, para esclarecer as pr�ticas ao enfrentamento, dentro da compreens�o o v�rus ataca a sociedade, o que requer o engajamento de todos; 
  3. Interrup��o da divulga��o das estat�sticas da doen�a, o que foi assumido pelo cons�rcio de imprensa, fun��o que seria do Minist�rio da Sa�de. Dentro da estrat�gia de desqualificar a gravidade da doen�a, ajudou a disseminar narrativas falsas, at� mesmo relacionadas ao registro de �bitos; 
  4. Ao adotar o negacionismo trumpista em rela��o � gravidade da Covid-19, desinformava a popula��o sobre as formas de evitar o cont�gio - como o uso da m�scara, lavar as m�os, n�o aglomerar;  
  5. Politiza��o extrema do enfrentamento da doen�a,  dentro da falsa tese de promover a imunidade de rebanho, n�o atrav�s da vacina��o, mas pelo livre cont�gio, o que levou a mais mortes, � medida em que, sem controlar a velocidade da transmiss�o, o sistema de sa�de colapsou em v�rios estados;
  6. Jogou as popula��es contra prefeitos e governadores que, na aus�ncia da coordena��o do Minist�rio da Sa�de , faziam o enfrentamento: estimulou ao descumprimento das medidas de prote��o;  atacou todas as medidas que destinavam-se a reduzir a velocidade da transmiss�o do v�rus, promovendo aglomera��es e defendendo o n�o uso de m�scara; demorou a adquirir as vacinas e atacou essa forma de imuniza��o. 


  • Erros no plano internacional


  1. Falta de transpar�ncia internacional no momento em que foi detectada a doen�a; o mundo teve pouca informa��o at� a doen�a alcan�ar a It�lia e colapsar o sistema de sa�de;
  2. Concentra��o mundial da compra de itens essenciais � sa�de - m�scaras, agulhas, em �nico pa�s, no caso, a China, que respondia, por exemplo, por 94% da produ��o mundial de m�scaras; um quinto da produ��o de respiradores, al�m de insumos para a produ��o de vacinas. Ao interromper a exporta��o para dar conta da demanda interna, o enfrentamento em todo o mundo foi afetado.


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