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Estado de Minas ASSISTENCIALISMO

Bolsa Fam�lia: 45% dos filhos de benefici�rios conseguiram emprego formal

Entre 2015 e 2019, cerca de 5,2 milh�es da primeira gera��o de dependentes de fam�lias do programa entraram ao menos uma vez no mercado de trabalho formal


10/06/2023 19:20 - atualizado 10/06/2023 19:20
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Bolsa Família
Mais de 21,1 milh�es de benefici�rios receberam, em m�dia, R$ 670,33 no primeiro m�s do novo Bolsa Fam�lia (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Ao entrar para o Bolsa Fam�lia, em 2003, Vera Nuzia Boaventura, 52, n�o imaginava que o benef�cio seria o primeiro passo que mudaria para sempre a sua realidade e a de seus quatro filhos. Com o recurso, come�ou a sobrar um pouco de dinheiro e a auxiliar de limpeza p�de entrar para um curso de inform�tica que a capacitou para um emprego na �rea de telemarketing.

Um novo curso mais tarde levaria a m�e solo da periferia de S�o Paulo a trabalhar na biblioteca de uma faculdade e tr�s de seus filhos conseguiram bolsas de estudos na institui��o. Hoje ela � coordenadora de um Creas (Centro de Refer�ncia Especializado em Assist�ncia Social) na capital paulista.

"Todos os dias, eu me vejo nessas m�es que atendo. Fa�o quest�o de contar a minha hist�ria para elas, do quanto j� chorei por n�o ter como comprar roupa ou material escolar para os meus filhos, trabalhava para ter o b�sico e nada sobrava. � uma vida permeada de muitas viol�ncias, mas olhar para tr�s me d� muito orgulho."

A servidora conta que ter um curso superior para ela e os filhos era o passaporte para uma vida mais digna. Seu emprego na faculdade dava direito a tr�s bolsas – antes de se formar, aproveitou para que as filhas estudassem log�stica e o filho, administra��o. J� formados, eles puderam ter melhores oportunidades.

"Eu, que n�o tinha o ensino m�dio completo, passei a transitar por outras realidades. O Bolsa Fam�lia criou essa possibilidade de mudar de vida, e meus filhos puderam ter um futuro, sem precisar do programa", diz.

A emancipa��o do Bolsa Fam�lia n�o ocorreu apenas na casa de Vera Nuzia. Cerca de 5,2 milh�es dessa primeira gera��o de dependentes de fam�lias do programa, que tinham de 7 a 16 anos em 2005, foram encontrados ao menos uma vez na Rais (pesquisa oficial de mercado de trabalho formal) de 2015 a 2019.

Isso significa que 44,7% dos 11,6 milh�es de filhos do Bolsa Fam�lia acessaram o mercado de trabalho formal no per�odo ao menos uma vez.

Os dados s�o de um estudo exclusivo feito por pesquisadores do IMDS (Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social), em parceria com a consultoria Oppen Social e um pesquisador da FGV EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finan�as, da Funda��o Getulio Vargas).

Os pesquisadores cruzaram registros da folha de pagamento do Bolsa Fam�lia e da Rais (Rela��o Anual de Informa��es Sociais) e puderam n�o apenas mensurar a emancipa��o por meio do trabalho com carteira, mas tamb�m medir a qualidade do emprego conquistado por eles.

Dessa forma, descobriram tamb�m que metade desses filhos do Bolsa Fam�lia que conseguiram um emprego formal estava empregada entre 20% das ocupa��es consideradas de menor remunera��o e com baixa quantidade de trabalhadores com ensino superior. Entre os jovens de mesma idade que n�o foram beneficiados, o percentual de pessoas nessas fun��es cai de 50% para 32%.

Os dependentes egressos do programa estavam distribu�dos em micro (28%), pequenas (26,4%), grandes (22,5%) e m�dias empresas (11,6%). Uma parcela menor estava, ainda, na agropecu�ria (5,9%) e na administra��o p�blica (4,9%).

Emprego formal � term�metro de emancipa��o, dizem pesquisadores 

 

O Bolsa Fam�lia � um programa de transfer�ncia de renda, voltado para a popula��o mais vulner�vel. A conquista do emprego formal mais tarde pelas crian�as e jovens que participaram do programa n�o �, portanto, seu objetivo central.

Mas esse � considerado um efeito colateral positivo, segundo os pesquisadores. Quando a fam�lia tem suas necessidades b�sicas atendidas, o horizonte para melhorar de vida e conquistar um emprego est�vel aumenta.

� como se as m�es e pais que buscaram pelo benef�cio em um momento de dificuldade para as fam�lias abrissem possibilidades para a gera��o seguinte. Claudio Fernandes, que recebeu o benef�cio na adolesc�ncia, mais tarde se tornou assistente administrativo do governo de Tocantins.

"Cresci com Bolsa Fam�lia", disse a cantora Pabllo Vittar, em uma entrevista de 2021.

"� preciso lembrar que os jovens que foram beneficiados pelo Bolsa Fam�lia estavam no passado em uma situa��o de precariedade. A maioria dos postos no Brasil n�o � boa, o pa�s n�o est� crescendo em ritmo satisfat�rio h� cerca de 40 anos e, para quem antes dependia da transfer�ncia de renda, � um enorme avan�o estar no mercado de trabalho formal", diz Paulo Tafner, diretor-presidente do IMDS.

"H� v�rios indicativos mostrando que quem sai do Bolsa consegue acessar o mercado formal, mas s�o postos de menor qualidade. Estar no emprego formal traz um conforto maior, um acesso �s pol�ticas de seguridade que s�o mais favor�veis, mas comparados ao grupo que n�o participou do programa, eles n�o estavam t�o perto assim", diz Giovanna Ribeiro, coordenadora de projetos do IMDS.

Ela complementa que a rede de apoio criada em torno do Bolsa Fam�lia -com condicionalidades como frequ�ncia escolar e vacina��o das crian�as ou o pr�-natal para mulheres gr�vidas- pode ajudar futuramente esses jovens.

"A condicionalidade do programa como elemento indutor em investimento em capital humano dos filhos � crucial", avalia o pesquisador Valdemar Neto, da FGV, outro dos coautores do estudo.

"O mercado formal brasileiro tem peculiaridades, a informalidade � alta e a perman�ncia no emprego � baixa. Quanto mais pessoas no domic�lio com carteira assinada, maior � a chance de emancipa��o do programa pela renda."

Os dados tamb�m apontam que 31,8% dos benefici�rios com ensino superior estavam na faixa de maior rendimento, enquanto 48% dos n�o benefici�rios com a mesma idade estavam na mesma situa��o.

Quando considerados aqueles com ensino fundamental completo, � poss�vel verificar maior atua��o dos benefici�rios (8,8%), em rela��o aos n�o benefici�rios (4,7%), em atividades de agropecu�ria.

J� entre aqueles com curso superior completo, a maior concentra��o de n�o benefici�rios est� em empresas de grande porte (29,9%), enquanto a maior concentra��o dos benefici�rios est� na administra��o p�blica (27,1%).

Entre as principais ocupa��es na administra��o p�blica conquistadas por esses ex-benefici�rios com superior completo est�o a de professores do ensino fundamental (15%), agentes e auxiliares administrativos (11%), dirigentes do servi�o p�blico (10%) e enfermeiros e afins (3%).

"Al�m da retribui��o, tendo a crer que os ex-benefici�rios querem ocupar postos que d�o garantia de renda, eles s�o menos propensos a arriscar no setor privado, preferem ter uma renda mais est�vel -e � muito razo�vel que seja assim, sendo que ele viveu a pobreza e desejar ter uma garantia de renda � algo positivo", diz Tafner.

Ainda assim, os jovens com um diploma universit�rio que foram benefici�rios do Bolsa Fam�lia t�m rendimentos m�dios menores em compara��o aos n�o benefici�rios.

Enquanto 4,5% dos n�o benefici�rios com pelo menos ensino superior ganhavam acima de dez sal�rios m�nimos, esse percentual era de 0,8% entre os benefici�rios. Mais da metade (52,4%) dos que tinham at� o ensino m�dio tinham remunera��o m�dia de 1 sal�rio m�nimo a 1,5 sal�rio m�nimo.

"Uma medida importante para aprimorar o programa seria estimular a continuidade dos estudos. O objetivo � pensar a mobilidade de crian�as pobres, refor�ar a educa��o entre esse grupo faria com que fosse mais representativo no mercado de trabalho, em empregos melhores", diz Eloah Fassarella, coordenadora do laborat�rio de dados da Oppen Social.

Para evitar resultados distorcidos, o estudo considera dados at� 2019, o que n�o compreende o per�odo da pandemia.

Os pesquisadores devem trabalhar em um estudo no futuro para avaliar os efeitos da crise gerada pela emerg�ncia sanit�ria no emprego e renda dos ex-benefici�rios.

Por uma grande parte deles ocupar fun��es de menor remunera��o e escolaridade, portanto mais fr�geis, n�o se pode descartar que a emancipa��o do programa tenha sido perdida por muitas dessas fam�lias.

Na casa da assistente social Liliane C�sar, 56, a vida tamb�m se divide entre antes e depois do programa.

Desempregada, ela precisou pela primeira vez buscar ajuda do governo. "Foi o que me salvou no per�odo da pandemia, por pouco n�o fui despejada por n�o conseguir pagar aluguel."

Foram quatro ou cinco meses em que ela recebeu o benef�cio at� conseguir um trabalho com remunera��o suficiente para deix�-la fora dos crit�rios para receber o Bolsa Fam�lia (atualmente, a renda de cada pessoa da fam�lia deve ser de at� R$ 218 por m�s).

"Os R$ 600 parecem pouco, mas serviram para ajudar em uma �poca em que tudo que eu tinha eram bicos como faxineira, de 15 em 15 dias. Distribu�a curr�culos, mas me sentia invis�vel."

Ela agora trabalha no atendimento a fam�lias de um Cras (Centro de Refer�ncia de Assist�ncia Social) em Santo Andr�, na Grande S�o Paulo, vendo no trabalho uma forma de retribuir o apoio que recebeu.

"Hoje, estou do lado de c� da mesa, mas sei a import�ncia de ser acolhida. O fato de ter passado por tudo isso faz pensar que a seguran�a � uma coisa ainda mais importante", diz Liliane. Sua filha, hoje com 29 anos, foi morar nos Estados Unidos, onde participa de um programa au pair (interc�mbio geralmente atrelado aos cuidados de crian�as de uma fam�lia no exterior).

Criado em 2003, ainda no primeiro mandato do presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT), o Bolsa Fam�lia � considerado uma das principais bandeiras do petista. Tanto que Lula voltou a cham�-lo assim em 2023, ao assumir o terceiro mandato -ap�s o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ter trocado o nome do programa para Aux�lio Brasil.

Mais de 21,1 milh�es de benefici�rios receberam, em m�dia, R$ 670,33 no primeiro m�s do novo Bolsa Fam�lia. Os pagamentos incluem os R$ 150 do Benef�cio Primeira Inf�ncia, para crian�as de 0 a 6 anos.

 


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