
Entre outras afirma��es j� desmentidas (e ignoradas por seus advogados nas alega��es finais do processo), Bolsonaro afirmou na ocasi�o que o pr�prio TSE (Tribunal Superior Eleitoral) disse que os resultados de 2018 podem ter sido alterados e que n�o � a corte quem faz a contagem dos votos.
O discurso de Bolsonaro no evento � caracterizado pela defesa com express�es como "ponto de vista", "d�vidas leg�timas" e "tentativa de exposi��o de aprimoramento do processo eleitoral".
"Tudo que vou falar aqui, est� documentado, nada da minha cabe�a", disse aos embaixadores. "Tudo que eu falo aqui ou � conclus�o da PF ou � diretamente informa��es prestadas pelo TSE", completou.
"N�s n�o podemos enfrentar umas elei��es sob o manto da desconfian�a. N�s queremos ter a certeza de que, para quem o eleitor votou, o voto vai exatamente para aquela pessoa. O pr�prio TSE diz que em 2018 n�meros podem ter sido alterados", afirmou.
A apura��o citada por Bolsonaro teve in�cio em novembro de 2018 ap�s o tribunal acionar a PF. Trechos desse mesmo inqu�rito tinham sido lidos por Bolsonaro quase um ano antes, em agosto de 2021, em entrevista � R�dio Jovem Pan e divulgados em suas redes sociais.
A reportagem entrou em contato com a defesa de Bolsonaro questionando o motivo de a defesa n�o ter buscado demonstrar o embasamento das afirma��es do ent�o presidente na reuni�o com embaixadores, mas n�o obteve resposta at� a publica��o do texto.
Entre as provas inseridas na a��o do TSE, mas sem acesso p�blico, est� o inqu�rito policial sobre o referido ataque hacker.
Nesta segunda-feira (26), ap�s uma reuni�o com deputados do PL na Assembleia Legislativa de S�o Paulo, Bolsonaro disse "n�o ser justo falar em ataque � democracia" para descrever o encontro. Tamb�m se referiu a suas falas como "cr�ticas ou sugest�es de aperfei�oamento do sistema eleitoral".
O julgamento no TSE teve in�cio na �ltima quinta-feira e ser� retomado nesta ter�a (27), com o voto do relator, a partir das 19h.
Em seu parecer, o vice-procurador-geral eleitoral, Paulo Gonet, afirma que Bolsonaro descontextualizou as informa��es do inqu�rito da PF, ignorando contesta��es j� feitas pelo pr�prio TSE sobre o assunto.
"N�o houve alus�o a essas contesta��es no discurso aos embaixadores, tendo sido apresentados como fatos certos o que eram especula��es sem base id�nea, sabidas inverdades ou conclus�es desavindas do seu contexto", diz.
Ainda em 2021, o tribunal divulgou nota em que afirmava que o ataque investigado "n�o representou qualquer risco � integridade das elei��es de 2018". Al�m disso, o delegado Victor Campos, at� ent�o respons�vel pela investiga��o, respondeu em depoimento n�o ter identificado nos autos qualquer elemento que permitisse afirmar que houve manipula��o de votos ou fraude em qualquer elei��o.
Tamb�m ao falar de transmiss�es de 2021, Gonet, do Minist�rio P�blico Eleitoral, diz que "a partir da ocorr�ncia de um fato verdadeiro [houve um ataque de hacker ao TSE, embora desvinculado de finalidade eleitoral], o investigado extrai o que dele n�o se deduz".
O parecer menciona que Bolsonaro fez men��o a documento do ent�o secret�rio de Tecnologia e Informa��o do TSE, Giuseppe Dutra Janino, com confirma��o da a��o do invasor, mas deixa de lado a ressalva feita por ele de que a invas�o foi limitada, n�o atingindo o sistema de vota��o, apura��o e totaliza��o dos votos.
No discurso aos embaixadores, Bolsonaro tamb�m tirou de contexto e distorceu a fala de um servidor do TSE sobre as elei��es de 2020, para afirmar que n�o seria a corte quem totaliza os votos. "N�o � o TSE quem conta os votos, � uma empresa terceirizada. Acho que nem precisava continuar essa explana��o aqui", disse o ent�o presidente.
A totaliza��o dos resultados � realizada pela corte, assim como o desenvolvimento do sistema de totaliza��o. A empresa Oracle � contratada para fornecer o servidor (supercomputador), que fica fisicamente no TSE, e o sistema de gerenciamento de bancos de dados, que � administrado por equipe do TSE.
"A afirma��o de que uma empresa terceirizada faz a contagem dos votos � simplesmente falsa e somente compreens�vel num contexto de prop�sito de abalar a credibilidade do processo eleitoral", escreveu Gonet em seu parecer.
Os advogados do ex-presidente sustentam que, na reuni�o, Bolsonaro "exp�s, �s claras, sem rodeios, em linguagem simples, f�cil e acess�vel, em rede p�blica, quais seriam suas d�vidas e os pontos que –ao seu sentir– teriam potencial de comprometer a lisura do processo eleitoral".
Tamb�m afirma que o ent�o presidente "possui d�vidas leg�timas acerca da seguran�a do processo eleitoral, fundamentadas em documenta��o que lhe foi entregue", fazendo men��o a relat�rio do TCU (Tribunal de Contas da Uni�o) sobre auditoria do processo eleitoral.
No cap�tulo das alega��es finais que trata sobre a reuni�o com os embaixadores especificamente, essa � a �nica refer�ncia a documenta��o externa para buscar justificar a fala de Bolsonaro. O trecho citado, contudo, n�o tem rela��o com as afirma��es de Bolsonaro apontadas como falsas ou descontextualizadas.
J� em um outro cap�tulo das alega��es, a defesa aborda a entrevista � Jovem Pan e as outras duas lives de 2021 que foram adicionadas � a��o por decis�o do relator da a��o no TSE, o corregedor-geral eleitoral Benedito Gon�alves.
A defesa rebate que tenha havido "divulga��o de informa��o falsa", mas se restringe a citar trecho de relat�rio do inqu�rito que, em resumo, reconhece a ocorr�ncia do ataque hacker, sem dar sustenta��o contudo �s conclus�es e ila��es que Bolsonaro faz a partir do epis�dio.
