
"Essa coisa de depender de algu�m para ficar conduzindo [n�o � comigo]. Eu vou contar minha hist�ria de vida", afirmou Nunes em entrevista � Folha de S.Paulo em seu gabinete, na quarta-feira (13/9).
Bolsonaro, no entanto, diz que o PL pode ter candidato pr�prio na corrida —hoje liderada pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Como noticiou a coluna M�nica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o ex-presidente passou a defender que o partido lance um nome e s� apoie Nunes em eventual segundo turno.
O prefeito, que tem 24% de inten��es no Datafolha, ante 32% de Boulos, � o segundo a participar de uma s�rie de entrevistas com os principais pr�-candidatos.
PERGUNTA - Que fatores o sr., que entra na reta final do mandato, considera que justificam a sua reelei��o?
RICARDO NUNES - N�s tivemos anos bastante dif�ceis na pandemia. Eu ia inaugurar uma escola e voc�s [da imprensa] iam me entrevistar sobre vacina, leitos, mortes. Depois veio aquela elei��o muito polarizada, Lula e Bolsonaro, Bolsonaro e Lula. Deixei de poder comunicar muita coisa por conta disso.
Mas, mesmo assim, a gente fez um trabalho importante para a cidade, que foi consolidar a sa�de financeira. E � o pilar de tudo, porque voc� n�o vai conseguir fazer as coisas se n�o tiver isso.
Qual o n�vel de certeza de que o sr. ter� o apoio do ex-presidente Bolsonaro?
R. N. - Certeza, eu n�o tenho. Eu gostaria de ter. O que vou fazer na campanha � mostrar aquilo que a gente fez. A elei��o municipal n�o vai ter essa discuss�o de pol�mica.
Mesmo se Bolsonaro estiver na sua campanha?
R. N. - Sim. Minha hist�ria � de ser uma pessoa que dialoga e governa para todos. Minhas a��es e a composi��o do meu secretariado demonstram isso. A minha cabe�a � de empres�rio, de "qual � o resultado?".
Na elei��o passada, o Bruno [Covas] n�o tinha ningu�m ali apadrinhando, tinha a hist�ria de vida dele. O Jo�o Doria, a mesma coisa. Essa coisa de depender de algu�m para ficar conduzindo [n�o � comigo].
N�o d� para falar que Bolsonaro vai ser um padrinho do sr. na campanha?
R. N. - N�o, padrinho n�o. Eu quero apoio. Acho que est� caminhando para que possa ter esse apoio. [Mas] padrinho, acho que nem a Marta Suplicy [�], nem o Bolsonaro. � um conjunto de pessoas que entendem que essa frente � importante contra o que a gente entende ser a extrema esquerda.
Como v� a amea�a dos bolsonaristas de lan�arem um nome por considerarem que o sr. n�o ser� o candidato da direita?
R. N. - Eu n�o recebi amea�a. Pelo contr�rio. Vi uma entrevista do presidente do PL, o Valdemar [Costa Neto], falando da import�ncia de dar continuidade ao apoio tanto ao nosso governo, do qual fazem parte, quanto � elei��o. O presidente municipal declarou abertamente que quer que o PL esteja junto.
E o governador Tarc�sio de Freitas [Republicanos], vai apoi�-lo?
R. N. - Ele publicamente nunca falou, mas tamb�m ningu�m nunca perguntou para ele.
E para o sr. ele j� falou?
R. N. - N�o. Eu tamb�m n�o perguntei. O que ele fala � o seguinte: "Voc� vai ganhar, vai dar certo, precisamos continuar esse trabalho conjunto". Gosto muito dele, ele tem um estilo parecido com o meu. � um cara ponderado, focado, n�o � extremista.
Bolsonaro se tornou ineleg�vel, � alvo de uma s�rie de investiga��es, existe uma dela��o premiada [do ex-ajudante de ordens Mauro Cid] que pode atingi-lo. Como encara isso?
R. N. - Voc� est� falando de um tema que eu n�o tenho conhecimento no detalhe do que � a investiga��o. Agora, o que eu percebi do presidente Bolsonaro sempre foi um posicionamento de seriedade, de n�o ser uma pessoa envolvida com coisas erradas, de ser uma pessoa correta.
Acho que � muito importante o apoio do presidente Bolsonaro, � fundamental. Tenho gratid�o pelo que ele fez pela cidade. Ajudou muito na quest�o da negocia��o da d�vida [do aeroporto Campo de Marte]. Mas o prefeito vou ser eu.
Bolsonaro � um democrata?
R. N. - Eu acho que sim. Se ele foi eleito deputado v�rias vezes, por que n�o seria?
Diante da forma como ele agiu no governo e de alguns temas que s�o alvo de investiga��o agora, como amea�a �s elei��es, cr�ticas �s urnas, tentativas diversas de insinuar golpismo, amea�ar ministros do Supremo, esse tipo de atitude. Isso cabe na imagem de um democrata?
R. N. - Pelo que vi dele, foi uma posi��o democrata. N�o vejo nada que ele tenha feito contr�rio a isso. � um homem que foi pelo voto eleito deputado, se tornou presidente. Ou voc�s v�o querer negar o sistema democr�tico brasileiro. A gente pode gostar ou n�o, mas ele foi eleito.
O sr. sempre cita Bruno Covas, que repetia ser um radical de centro. � poss�vel ser de centro, como o sr. se diz, e ao mesmo tempo ser aliado de Bolsonaro, que � tido como um pol�tico radicalizado?
R. N. - Olha, o prefeito sou eu. Dialoguei com o governo Bolsonaro, dialogo com o governo Lula. Enquanto vereador, dialogava muito com todos os vereadores de todos os partidos.
Isso [fazer alian�as] � natural. O [Fernando] Haddad, na elei��o de 2012, apesar de ser de esquerda, do PT, ele tinha uma apresenta��o como se fosse um candidato de centro. Conversou com a direita, e naquele momento o representante era o [Paulo] Maluf. N�o existia a figura da lideran�a do Bolsonaro.
O Datafolha mostrou apoio ao sr. no eleitorado de baixa renda, grupo em que Lula � um cabo eleitoral forte. A sua posi��o pode ser amea�ada quando o presidente entrar na campanha de Boulos?
R. N. - Acho que n�o. Para mim, est� claro que o eleitor vai discutir a cidade. Na elei��o de 2020, o candidato do Lula [Jilmar Tatto] n�o foi bem. O do Bolsonaro [Celso Russomanno] n�o foi bem. Quem foi bem foi o Bruno, porque demonstrou o que estava fazendo pela cidade.
Eu verdadeiramente vim da periferia. Diferentemente de algu�m que quis criar uma fake, eu morei no Parque Santo Ant�nio, estudei em escola p�blica, usei o postinho de sa�de l� do meu bairro. Estamos com 1.300 obras hoje, a grande maioria na periferia. Ent�o, � natural que o resultado venha. As pessoas se identificam comigo.
O que o sr. diz para o morador de S�o Paulo que tem cr�ticas � gest�o e est� insatisfeito com a situa��o do centro, com as cracol�ndias e tantos outros problemas?
R. N. - Acho que tenho condi��o de poder enfrentar esses problemas de uma forma bastante diferenciada. Sei o que � ser classe m�dia, sei o que � viver na periferia, fui vereador durante oito anos. � essa bagagem de vida que eu pude trazer.
Como isso responde ao problema da cracol�ndia?
R. N. - As coisas j� est�o melhores. Em 2015, eram 4.000 usu�rios. Hoje tem mil e poucas pessoas, mais de 2.000 em tratamento. O que a gente tem que fazer? Continuar insistindo e fazer a��es para diminuir a oferta de crack l�, que � com a pris�o de traficantes.
Qual � o custo-benef�cio da abordagem que espalha a cracol�ndia e gera efeitos colaterais como o fechamento de com�rcios?
R. N. - Ent�o, [a cracol�ndia] � um problema de 30 anos. A gente teve que fazer algumas a��es para permitir que os agentes de sa�de e de assist�ncia social e que as for�as policiais pudessem entrar l�. Era necess�rio tirar aquele dom�nio da organiza��o criminosa, acessar as pessoas e convenc�-las ao tratamento.
Seus advers�rios dizem que o sr. mant�m a verba de R$ 34,8 bilh�es em caixa para us�-la com fins eleitoreiros. Como o sr. responde?
R. N. - N�o tem um centavo em caixa parado. Todos os recursos est�o rubricados, com uma destina��o colocada dentro do plano de metas e das prioridades da administra��o.
O sr. est� fazendo o maior programa de recapeamento da hist�ria sob ataque de movimentos de mobilidade, que argumentam que isso reproduz uma vis�o carroc�ntrica. Como rebate essas cr�ticas?
R. N. - Estamos fazendo investimentos, s� na �rea de mobilidade, de uns R$ 4,6 bilh�es. H� a��es importantes de incentivo ao uso do transporte coletivo, al�m de agilizar a expans�o do metr� e ampliar corredores de �nibus, faixas exclusivas e ciclovias. Em novembro, iniciamos o transporte hidrovi�rio na [represa] Billings.
O que concretamente faz o sr. adjetivar seu rival Boulos como radical e de extrema esquerda?
R. N. - Tudo o que eu e todo mundo viu da hist�ria de vida dele. � uma pessoa que n�o dialoga com todos os setores. Eu nunca invadi nada de ningu�m, nunca depredei nada de ningu�m.
Na quest�o das pol�ticas habitacionais, acho que est� muito claro o que tenho feito. Assinei conv�nios com entidades para a constru��o de 14 mil unidades. S�o as entidades s�rias de movimento de moradia que est�o construindo.
O MTST [ao qual Boulos � ligado] est� nessa lista?
R. N. - N�o. N�o porque a gente excluiu, mas porque eles n�o quiseram participar [dos conv�nios].
Um tema que surgiu no debate eleitoral � o gasto da atual gest�o com publicidade, pelo fato de o sr. ser candidato � reelei��o. Como justifica para o cidad�o esse gasto?
R. N. - N�o tem nada a ver. Todas as propagandas s�o de interesse da popula��o, para comunicar campanhas p�blicas, por exemplo de vacina��o, dengue, servi�os, educa��o. N�o � isso que vai mudar a quest�o do rumo eleitoral. Se isso mudasse, todo mundo que estava no governo ganhava [a reelei��o].
Na quest�o da Sabesp, o sr. assinou o termo de ades�o � URAE, o que foi visto como um passo rumo � privatiza��o. Esse processo depende muito do sr., j� que sem a capital o governador n�o conseguiria seguir adiante. O sr. � a favor da privatiza��o?
R. N. - N�o � que eu defenda a privatiza��o, eu defendo aquilo que � o melhor servi�o. Se a privatiza��o trouxer redu��o de tarifa e a gente conseguir manter ou aumentar os investimentos, para a cidade de S�o Paulo � �timo. A ades�o � URAE n�o quer dizer que tenha rela��o com a privatiza��o, que � uma outra etapa.
RAIO-X | RICARDO NUNES, 55
Empres�rio, � fundador da empresa Nikkey, do ramo de controle de pragas urbanas. Foi presidente da Aesul (Associa��o Empresarial da Regi�o Sul) e fundou a Adesp (Associa��o das Empresas Controladoras de Pragas do Estado de S�o Paulo). Foi eleito vereador de S�o Paulo por dois mandatos (2013 a 2020). Em 2020, se elegeu como vice-prefeito na chapa de Bruno Covas (PSDB) e assumiu o cargo de prefeito ap�s a morte do tucano, no ano seguinte