(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas EM FAM�LIA

Ciro isolado e Cid escondido: os bastidores do racha entre irm�os Gomes no Cear�

Desentendimentos sobre apoios pol�ticos a advers�rios de um e de outro e desuni�o em assuntos de interesse das duas partes s�o algumas das causas do racha


21/09/2023 07:01 - atualizado 21/09/2023 08:08
440

Cid e Ciro Gomes juntos no Senado, em 2021, no dia do aniversário de Ciro, 6 de novembro
Cid e Ciro Gomes juntos no Senado, em 2021, no dia do anivers�rio de Ciro, 6 de novembro (foto: Facebook/Cid Gomes)
Era 2 de abril de 2022 quando Izolda Cela, ent�o no PDT, tornou-se a primeira mulher governadora do Cear�. Tr�s de seus antecessores, arquitetos daquele momento hist�rico, comemoraram. Abra�ados, os pedetistas Ciro e Cid Gomes e o petista Camilo Santana cantaram "Terral", sucesso de Belchior, Ednardo e Amelinha que exalta a cearensidade.

"Eu sou a nata do lixo, sou do luxo da aldeia, sou do Cear�", cantaram em un�ssono e numa sintonia refletida at� nas camisas brancas. Quase um ano e meio depois, a cena, com Ciro entre Camilo e Cid, parece uma lembran�a long�nqua.

Ao longo de 2022, o ent�o candidato � Presid�ncia e seu irm�o romperam, pondo fim a uma trajet�ria de d�cadas de lealdade e, de quebra, ao acordo de 16 anos entre PDT e PT no Cear�. Com a elei��o municipal de 2024 se aproximando, o racha se aprofunda.

Naquele momento de descontra��o de abril de 2022, Camilo, hoje ministro da Educa��o do governo Lula, tinha acabado de renunciar ao governo para disputar o Senado. Tentaria, com Ciro, reeditar o arranjo de 2018, quando foi reeleito sem apoiar no primeiro turno o ent�o presidenci�vel do PT, Fernando Haddad. Nos santinhos do petista cearense, quem aparecia ao seu lado era Ciro.

O clima ameno entre Ciro, Cid e Camilo ruiu pouco depois do v�deo deles cantando abra�ados. Os meses seguintes foram marcados por crises e disputas nos bastidores entre os l�deres de PT e PDT em torno da sucess�o estadual.

L�deres dos dois partidos consideravam que Izolda Cela, empossada governadora, seria candidata natural � sucess�o. Segundo aliados de Ciro, por�m, a converg�ncia em torno de Izolda veio abaixo por a�odamento de Camilo.

O petista quis lan�ar Izolda candidata logo ap�s a posse dela. Ciro foi contra: queria que ela ganhasse musculatura e se cacifasse para a reelei��o de forma natural. Desta forma, chegaria � elei��o n�o como a "candidata de Camilo", mas como um nome forte amparado por um grupo pol�tico amplo e diverso.

Em seu n�cleo mais pr�ximo, no entanto, Ciro apontava ainda outro motivo para n�o escolher Izolda. Apesar de ter ingressado na pol�tica com o apoio da fam�lia Ferreira Gomes, o ent�o presidenci�vel achava que a aliada tinha uma afinidade grande com o PT e poderia tra�-lo para mergulhar na campanha de Lula.

Um dos motivos para isso, segundo alegava, era o fato de Izolda ser casada com o petista Veveu Arruda. Ciro temia que, assim que fosse eleita, a governadora deixasse o PDT e se filiasse ao partido do marido.

T�o logo Izolda tomou posse, Camilo passou a elogiar a governadora. Para o meio pol�tico, os sinais eram claros: o petista indicava sua prefer�ncia no PDT, que ainda tinha como postulantes o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cl�udio, o deputado federal Mauro Filho e o deputado estadual Evandro Leit�o.

No acordo entre os dois partidos, era a vez de o PDT indicar o candidato ao governo cearense. A movimenta��o de Camilo foi vista como uma tentativa de interferir na escolha dos pedetistas.

Ciro questionou a atitude do ex-governador e ouviu de Camilo que a decis�o tinha sido tomada em conjunto com Cid. A estrat�gia, contudo, n�o passou pelo PDT. Ciro viu o movimento como uma trai��o, rompeu com o irm�o e intensificou a estrat�gia de ataques a Lula na campanha presidencial.

Com o racha, Ciro declarou apoio a Roberto Cl�udio, que acabou consagrado na conven��o como candidato ao governo. Ali, o PDT sepultou a alian�a estadual com o PT, que indicou o deputado Elmano de Freitas para a sucess�o estadual. O petista foi eleito no primeiro turno.

A atitude do irm�o revoltou Cid, que, temendo romper de vez a rela��o entre os partidos, se afastou da disputa. Deixou a coordena��o da campanha de Ciro e, em julho, viajou para seu s�tio em Meruoca, cidade vizinha a Sobral. Licenciado do mandato no Senado, desligou o celular e n�o atendeu nem os aliados que foram a sua casa.

Cid n�o foi nem mesmo � conven��o que oficializou o irm�o como candidato � Presid�ncia, em julho de 2022. O evento aconteceu na sede do PDT, em Bras�lia, mas o senador j� estava em Meruoca. Sua aus�ncia foi sentida por correligion�rios.

A resposta que dava para n�o se envolver na elei��o � que estava cansado da vida pol�tica e queria se aposentar logo. Seus planos, por�m, eram outros.

No per�odo de afastamento, Cid se reuniu uma vez com Camilo Santana, em 21 de julho, e disse que se manteria distante da elei��o estadual. Quatro dias depois, recebeu Ciro, que havia desembarcado em Sobral para gravar inser��es para o hor�rio eleitoral.

Juntos, os irm�os beberam vinho e jantaram um macarr�o � bolonhesa preparado pelo pr�prio Cid. Na conversa, definiram que o senador voltaria a atuar na campanha de Ciro ao Planalto --o que n�o aconteceu.

Em agosto, Cid voltou para Fortaleza, mas seguiu distante da campanha. Enquanto Ciro era abandonado por aliados e pelo pr�prio partido, seu irm�o fazia poucas agendas para distribuir santinhos: foi a Sobral e Juazeiro do Norte.

Imerso na campanha presidencial, Ciro vivia um c�rculo vicioso. Dizia que o afastamento do irm�o era culpa do PT e intensificava os ataques a Lula. E quanto maior a ofensiva contra seu concorrente, mais o pedetista se afastava de Cid e se isolava dentro do pr�prio partido.

Sem crescer nas pesquisas, o presidenci�vel do PDT passou a ser alvo de uma a��o pelo voto �til em Lula. At� mesmo Roberto Cl�udio, a quem apoiou para ser o candidato ao governo estadual, o escondeu na campanha.

Ciro sentia-se tra�do tamb�m por Camilo, a quem qualificava como seu devedor pelos apoios anteriores.

O sentimento s� aumentou quando o viu de m�os dadas com o ex-senador Eun�cio Oliveira (MDB) para a campanha de Lula. A rela��o entre o ex-presidenci�vel e o emedebista � p�ssima. Ciro responde at� hoje na Justi�a pelos ataques que fez a Eun�cio na primeira disputa de Camilo ao governo.

A aproxima��o j� era indigesta para o pedetista desde 2018, quando Camilo e Eun�cio se uniram ainda no primeiro turno. Ter os dois no mesmo palanque, a favor de Lula, foi a p� de cal para Ciro.

Ap�s a derrota de Ciro na disputa presidencial, Cid Gomes reapareceu no segundo turno. O pedetista se tornou ativo na campanha de Lula, o que aprofundou ainda mais a insatisfa��o que o irm�o sentia.

Em entrevista � Folha de S.Paulo, Cid disse que n�o se manifestou no primeiro turno para n�o esfacelar o grupo no Cear�. A aliados afirmava que o pleito polarizado entre Lula e Jair Bolsonaro (PL) n�o deixava espa�o para Ciro. Por isso, n�o entrou na campanha para n�o aumentar ainda mais o v�cuo entre o PDT e o PT.

Cid disse tamb�m que tudo o que previu se confirmou: a derrota de Ciro e de Roberto Cl�udio, e a consequente debandada de prefeitos para as asas do novo governador.

A migra��o para a base de Elmano Freitas, no entanto, n�o foi s� nos munic�pios. O pr�prio Cid liderou um movimento para reatar a alian�a com o PT no estado. Trouxe para seu lado os irm�os Ivo Gomes, prefeito de Sobral; Lia Gomes, deputada estadual; e L�cio Gomes, que assumiu a Companhia Docas do Cear�.

Pedetistas apontam que, nesse novo cen�rio de racha entre Cid e Ciro, h� um desequil�brio de for�as --com o ex-presidenci�vel enfraquecido dentro do partido.

Ciro teve o pior resultado de sua trajet�ria em uma campanha presidencial, o quarto lugar, com 3% dos votos. Tamb�m brigou com aliados pr�ximos e com a executiva nacional do pr�prio partido.

Aos olhos de hoje, aliados de Cid e de Ciro veem o rompimento entre PT e PDT como o resultado de uma sequ�ncia de erros que inclu�ram falta de comunica��o, disputa de egos e pol�tica feita com o f�gado em meio a querelas pessoais.

Sobre o racha, Cid tem dito que a quest�o familiar se resolve em casa. Mas as feridas seguem abertas: no dia em que assumiu o comando do PDT cearense, em julho, o senador evitava at� mesmo citar o nome do irm�o nas entrevistas.

Foi questionado sobre o motivo e emendou: "Ciro, Ciro, Ciro, Ciro, Ciro. N�o tenho nenhum problema em falar o nome dele. Eventualmente, eu vou ter uma posi��o, ele vai ter outra. Mas o importante � que gente trate isso de forma respeitosa."

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)