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Estado de Minas ELEI��ES 2022

Lula viu pavor de aliados em noite do 1� turno e buscou abafar susto com Bolsonaro

Depois da apura��o, Lula subiu sorridente e tranquilo em mais de um palco para discursar, tratando a extens�o da campanha como "apenas uma prorroga��o"


12/10/2023 10:28 - atualizado 12/10/2023 12:14
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Lula discursa na Avenida Paulista, em São Paulo, depois de classificar-se para o segundo turno das eleições em 2022
Lula discursa na Avenida Paulista, em S�o Paulo, depois de classificar-se para o segundo turno das elei��es em 2022 (foto: Ricardo Stuckert/Divulga��o)
A noite em que Lula (PT) soube que iria ao segundo turno contra Jair Bolsonaro (PL), em 2 de outubro de 2022, foi marcada por expectativas conflitantes no hotel onde o hoje presidente acompanhou a apura��o ao lado de seu n�cleo duro de campanha e de apoiadores, na regi�o central de S�o Paulo.

�s 20h02, com 70% das urnas apuradas, Lula virou o placar da apura��o sobre Bolsonaro, com 45,74% para o petista e 45,51% para o ent�o presidente. A comemora��o, no entanto, foi mais contida do que o esperado.

Contrariando os progn�sticos otimistas que davam como poss�vel uma vit�ria j� na primeira etapa da elei��o, a noite se encerrou com um discurso em que Lula tentava animar sua milit�ncia a perseverar diante do susto com o desempenho de Bolsonaro e o pavor com o risco de reelei��o.

Encerrada a apura��o naquele dia, Lula surgiu sorridente e aparentando tranquilidade no palco montado em um audit�rio do hotel. No pronunciamento, transmitido ao vivo, tratou a extens�o da campanha como "apenas uma prorroga��o" e falou que gostaria de ter ganhado j� na rodada inicial do pleito, "mas nem sempre � poss�vel".

Nos bastidores, o clima tinha sido mais tenso -mas n�o pelas rea��es do presidente, segundo relatos de dez aliados ouvidos pela Folha. Lula duvidava de uma vit�ria naquele dia e demonstrou conformidade e seguran�a, com o couro grosso adquirido ap�s cinco campanhas presidenciais, sendo duas vitoriosas.

Apoiadores convidados para irem ao hotel tinham sa�do da euforia com a chance de o petista vencer, ou ao menos abrir uma dianteira sobre o advers�rio, para um estado de incredulidade. Isso se deu n�o s� com o resultado de Bolsonaro, mas tamb�m de correligion�rios dele que disputavam outros cargos.

A virada de Marcos Pontes (PL) sobre M�rcio Fran�a (PSB) na briga pela vaga de S�o Paulo no Senado e a vit�ria de figuras de proa do bolsonarismo, como Hamilton Mour�o (Republicanos-RS), Damares Alves (Republicanos-DF) e Eduardo Pazuello (PL-RJ), causaram perplexidade nos petistas.

O ex-presidente registrou 43,2% dos votos v�lidos naquele domingo, encostando nos 48,4% de Lula. Na v�spera, a pesquisa Datafolha apontava, respectivamente, 36% e 50%. O bolsonarismo tamb�m mostrou for�a no Congresso e nos governos estaduais. O cen�rio era desalentador para a esquerda.

Foi naquela noite que caiu a ficha, inclusive para parte do comando de campanha do atual presidente, de que o rival era competitivo e a batalha seria mais acirrada que o previsto. O impacto foi pior para a milit�ncia e os aliados de Lula menos habituados �s emo��es de uma apura��o.

A surpresa determinou uma mudan�a de rumos. At� ent�o, a campanha do PT priorizava a compara��o entre governos e acreditava que a neglig�ncia de Bolsonaro na pandemia apressaria sua derrota. Seria preciso, no entanto, entrar de cabe�a na guerra de valores morais e religiosos que tinha sido at� ent�o a aposta bem-sucedida do campo rival. N�o era uma elei��o como as outras.

"A surpresa foi constatar o pensamento do povo em rela��o � pol�tica e � democracia", diz Jilmar Tatto (PT-SP), que � secret�rio de comunica��o do partido e foi eleito naquele dia deputado federal. Outro l�der da sigla que testemunhou as cenas no hotel, falando sob anonimato, admite que a legenda subestimou o car�ter ideol�gico do pleito.

A claque daquele dia se dividiu por ao menos tr�s ambientes do Novotel Jaragu�. Artistas, influenciadores digitais, representantes de movimentos sociais e assessores foram acomodados em um audit�rio maior, onde alternavam os olhares entre um tel�o e as telinhas dos celulares.

Numa sala do segundo andar, Lula reuniu parte da fam�lia, a esposa, Janja, e aliados mais chegados, como o ent�o candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, al�m de auxiliares diretos. E uma antessala foi ocupada por um leque mais amplo de apoiadores, inclusive de outros partidos da coliga��o. Alguns deles acessavam a �rea restrita onde o petista estava.

O petista Aloizio Mercadante, que havia coordenado o programa de governo e hoje preside o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social), circulava pelo hotel com a suspeita de que a briga iria para o segundo round, como pensavam outros colaboradores do presidenci�vel.

Mercadante sustentava sua posi��o em um dado que evidenciava o potencial de incumbentes na tentativa de reelei��o. Um gr�fico exibido por ele aos colegas, baseado em 150 pesquisas eleitorais presidenciais no mundo, destacava que 74% dos candidatos em busca de recondu��o chegavam ao segundo turno.

Pesquisas internas do PT tamb�m apontavam para uma elei��o dura e polarizada e para ser resolvida em duas fases. Talvez por isso Lula tenha mantido o ar de normalidade e at� consolado os companheiros mais frustrados, como contam pessoas que dividiam o ambiente com ele.

Nos dias anteriores, contudo, o PT explorava o chamariz da possibilidade de vit�ria em primeiro turno, o que desencadeou uma campanha por voto �til repreendida pelos ent�o presidenci�veis Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).

Do palco montado no hotel, o discurso de Lula, sem apoio de texto escrito, foi improvisado a partir dos di�logos que tivera com conselheiros e durou pouco mais de oito minutos.

A fala teve trechos mais pausados, em que o pol�tico transpareceu certo abatimento, mas buscou dissipar o sentimento de des�nimo expresso por alguns nos corredores do edif�cio. Janja, Alckmin e Gleisi, por exemplo, foram vistos com semblante preocupado durante a apura��o.

"Acho que ningu�m nunca teve coragem de admitir, mas a realidade � que foi um clima de vel�rio total", diz Andr� Janones (Avante-MG). Segundo o deputado federal, a inje��o de �nimo feita por Lula no palco foi antecipada nos bastidores, onde "todo mundo estava arrasado por dentro, mas fingindo estar bem".

"Eu errei, o Lula n�o. Achei que a gente ganharia no primeiro turno, e de lavada, com uns 60%", segue o parlamentar, contando que Lula n�o se abalou e motivou o entorno com firmeza e serenidade. "Ele tamb�m considerava a possibilidade de perder e [lidava com isso] sem desespero."

A historiadora Lilia Schwarcz, que tinha se engajado pela primeira vez em uma campanha eleitoral por considerar imperioso tirar Bolsonaro do poder para preservar a democracia no pa�s, estava entre os apoiadores no hotel que nutriam esperan�a de liquidar a elei��o naquele dia.

"Foi uma ducha de �gua fria, n�?", diz ela. "Mas n�o havia demonstra��o de desespero. Eu lembro de, na minha ignor�ncia, ter ficado muito impressionada com o Lula, porque ele estava animado, feliz."

Para Lilia, ficou claro o equ�voco de achar que Bolsonaro estava morto e que o bolsonarismo era p�gina virada. "Todo mundo saiu temeroso. N�o era um resultado confort�vel."

Entre os mais preocupados, o c�lculo era o de que o bolsonarismo havia ganhado, no m�nimo, 28 dias para operar a m�quina federal e, ainda mais grave, tentar viabilizar um golpe militar. A opera��o da PRF (Pol�cia Rodovi�ria Federal) no segundo turno e, sobretudo, o 8 de janeiro comprovaram os receios.

Gleisi diz que foi Lula quem decidiu manter o plano de sair do hotel e ir discursar na avenida Paulista, palco da vit�ria adiada. "Frustrou um pouco, mas n�o foi um balde de �gua fria", relativiza.

"Depois de tudo que passamos, dava para olhar por outro prisma. Est�vamos disputando contra algu�m sentado na cadeira da Presid�ncia. Viemos de um processo de desconstru��o, fake news, muita estrutura de governo jogada contra n�s, persegui��o judicial a Lula e ao PT. Foi um sucesso ter terminado na frente, ter reconquistado a confian�a do povo brasileiro."

O atual presidente destacou, no in�cio do discurso, o contraste com sua situa��o quatro anos antes, quando ele, preso pela Opera��o Lava Jato, "era tido como se fosse um ser humano jogado fora da pol�tica". Ele enxergava o momento como s�mbolo de sua ressurrei��o pol�tica.

A ideia na ocasi�o era fixar a mensagem de que o candidato do PT tinha vencido o primeiro turno, embora enfrentasse o derrame de recursos p�blicos por Bolsonaro nos meses anteriores.

Havia o desejo de afastar a aura de derrota -mais percept�vel entre os militantes que estavam no local do que entre os pol�ticos, mais calejados no assunto-, festejar o que seria uma etapa cumprida e incentivar a base a se manter mobilizada e lutar at� a "vit�ria final", como definiu o ent�o presidenci�vel.

Passou a imperar a racionalidade, como descreveu um dirigente de um dos partidos da coliga��o. Era hora de mapear as regi�es priorit�rias para o segundo turno e angariar todos os apoios poss�veis. A ideia de frente ampla precisaria ser maximizada, trabalhando para atrair nomes do centro e da direita. Na vis�o de um colaborador, aquele domingo antecipou a estrat�gia que seria adotada na composi��o do governo.

 


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