
De Belo Horizonte
O mundo n�o est� e nunca estar� pronto. E, � cada quest�o respondida, sob qualquer aspecto, in�meras outras se abrem. Tomemos por exemplo o transporte na nossa vida. Do lombo do cavalo ao avi�o, passando pela carro�a, trem e autom�vel, muitas e enormes melhorias foram alcan�adas. Todas elas aumentando gradativamente o conforto, a rapidez, as possibilidades de se ir mais longe. Apareceram outros problemas: maior n�mero de acidentes, polui��o do ar, gasto excessivo do petr�leo etc.
A tecnologia e a ci�ncia avan�am sem fim, dando respostas �s nossas dificuldades e criando outras. Isso se repete em todas as dimens�es da nossa exist�ncia. Por mais que nos incomode, sempre teremos problemas. Viver � resolver problemas emocionais, t�cnicos, financeiros, religiosos e de relacionamento. O mundo e o homem s�o incompletos por natureza e isso significa, a um s� tempo, desafios e possibilidades.
� na incompletude das coisas e das pessoas que podemos criar, reinventar, crescer e progredir. �, pois, da ess�ncia da vida, a mudan�a, a melhoria e a transforma��o. O pessimista pensa e deseja neuroticamente o contr�rio disso. Ele deseja um mundo perfeito, completo, terminado. Seu sofrimento � consequ�ncia da luta incessante contra a realidade. Ele quer organizar a vida, que, por princ�pio, � relativa.
Toda ordem � uma organiza��o tempor�ria do caos. Toda harmonia se faz no gerenciamento e na concilia��o dos opostos. J� dizia o fil�sofo Her�clito. Para nossa mente mec�nica, linear e l�gica � dif�cil perceber o material fazendo parte do espiritual, o erro fazendo parte do acerto, a loucura fazendo parte da sanidade. O pessimista v� tudo pelas metades, com a agravante de enxergar prioritariamente a banda podre da exist�ncia.
Diante de uma roseira florida, ele se fixa no esterco que a rodeia e reclama do seu mau cheiro. Imagine algu�m que ficasse insatisfeito e reclamasse todas as vezes que visse as cores das coisas. O pessimista sofre e se queixa do erro, da queda, da doen�a, dos negativos. Essas coisas colorem o mundo, sobretudo, de verde. Verde esperan�a. A esperan�a � a melhoria “poss�vel” do ruim. A luz � a possibilidade esperan�osa das trevas. O pessimista n�o acredita nas pessoas. N�o as v� em processo. Da� a sua desconfian�a. A estrutura mental do pessimista, fruto de sua forma manique�sta de ver o mundo, leva-o inevitavelmente � depress�o e � acomoda��o.
Depress�o porque ele se culpa, se acusa, tem pena de si mesmo ao se perceber feito de barro. Ele n�o se perdoa pelas suas fraquezas. Eu “deveria”. Voc� “deveria”. O mundo “deveria”. Acomoda��o porque, na estupidez da sua l�gica moralista, nega o mundo que �, infelizmente, e n�o tem jeito de n�o ser do modo como �. O mundo � mau, est� cada vez pior, � muito violento, rumina o pessimista. E sua contribui��o reduz-se ao queixume.
Duas atitudes podem informar nossa atitude diante da realidade negativa: situar-se nas lamenta��es, no choro, na tristeza, na postura de v�tima, ou se situar na resolu��o dos problemas, na constru��o da realidade, na participa��o ativa da melhoria cont�nua. As pessoas se dividem em dois blocos: as que fazem e as que criticam. As que agem e as que assistem � vida, sofrendo. As que amam e lutam e as que invejam e sucumbem.
O pessimismo cria uma linha paralisante entre mim e as condi��es humanas. Nosso destino, ainda que n�o queiramos, � fazer do barro um vaso, da perda um ganho, da morte um existir intenso. Qualidade � divertir-se com o quebra-cabe�a di�rio dos nossos problemas.
A vida n�o � pra ser analisada ou decifrada; � para ser vivida e transformada. A alquimia consiste em transformar o chumbo em ouro. Isso exige paci�ncia e, sobretudo, humildade.
O pessimismo � orgulhoso. Est� acima da realidade. � juiz de tudo. Ele pensa a vida e vai-se enclausurando, perdendo contato com o diamante que se esconde atr�s do cascalho. Para quem quer ser Deus, � horr�vel ser humano. Felizmente, em todo pessimista existe, escondida, a sua verdadeira natureza de um ser amoroso, criativo, cheio de luz e energia. Apenas precisa de um “despertar” e de um empurr�ozinho para sair da sua zona de conforto, para sair da sua casca ilus�ria e defensiva. Resta-lhe apenas descobrir que o entusiasmo vem do botar a m�o na massa.
Que esse artigo nos ajude a sair do conforto m�rbido dos que n�o querem ver. Uma rosa � uma rosa, com todos os seus espinhos.