
Ainda em recupera��o de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) sofrido em janeiro de 2017, o diretor e ator Jorge Fernando morreu na noite de domingo, v�tima de um aneurisma dissecante da aorta completa. O corpo ser� velado na ter�a-feira (29), no Rio de Janeiro.
Mas, que doen�a � essa? Ela pode surpreender o paciente? Por que ocorre?
Bruno de Lima Naves, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular e m�dico de angiologia cl�nica e cirurgia vascular do Hospital Madre Teresa, explica que aneurisma � definido como uma dilata��o focal e permanente da art�ria, com aumento de pelo menos 50% do di�metro normal do vaso. “Os aneurismas da art�ria aorta no abd�men s�o os mais comuns, mas todas as art�rias no corpo podem ser acometidas pela condi��o”, frisa.
Entre os fatores de risco para o aneurisma, o m�dico aponta idade avan�ada, sexo masculino, tabagismo, hist�ria familiar – especialmente em parentes de primeiro grau, al�m de hipertens�o e colesterol elevado. Mas lembra: “O quadro pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais frequente entre os 50 e os 80 anos.
Potencial de fatalidade
Naves avisa que aneurismas podem apresentar crescimento e culminar na ruptura da parede da art�ria. Nesses casos, a mortalidade � extremamente elevada. E aqui cabe um alerta:
“Na maioria das vezes, os aneurismas s�o silenciosos e n�o apresentam sintomas, frequentemente sendo diagnosticados por exames de imagem. No caso do aneurisma de aorta abdominal, a ruptura pode causar dor abdominal intensa ou 'dor nas costas' de maneira s�bita, com hipotens�o arterial e morte.”
Tratamento
Segundo o m�dico, o tratamento do aneurisma depende da localiza��o, extens�o e crescimento. Em geral, se for pequeno, pode ser controlado por meio de medicamentos que tratem e/ou controlem os fatores de risco, como hipertens�o e colesterol elevado.
O fumo tamb�m � um fator de risco. “Tanto que � muito importante o paciente cessar imediatamente o tabagismo.”
Uma vez identificado, ressalta o m�dico, o crescimento do aneurisma deve ser acompanhado por exames anuais de ultrassom ou conforme orienta��o do m�dico especialista. No caso de aneurismas maiores ou com taxa de crescimento elevado, a corre��o cir�rgica pode ser indicada para evitar o risco de ruptura e a elevada taxa de mortalidade associada ao quadro. “O tratamento cir�rgico pode ser feito por via endovascular, que tem sido amplamente utilizada, por ser menos invasiva e ter menos complica��es, ou por cirurgia convencional ('aberta'), que apresenta ainda �timos resultados em longo prazo. Quando ocorre o rompimento do aneurisma, a cirurgia � feita de urg�ncia e o quadro � grave.”
O que promove o "rompimento" de um aneurisma?
Naves lista os principais fatores de risco para a ruptura de um aneurisma de aorta: hipertens�o, tabagismo, sexo feminino, tamanho do aneurisma e presen�a de saco aneurism�tico assim�trico, al�m de hist�ria familiar.
No caso do ator e diretor Jorge Fernando, o m�dico afirma que houve pouco o que fazer. “Infelizmente, a ruptura de um aneurisma de aorta � uma importante causa de morte. Dependendo da popula��o estudada, at� 2/3 dos pacientes com ruptura de um aneurisma de aorta podem morrer antes de chegar no hospital. Alguns estudos apontam que a mortalidade por ruptura de aneurisma de aorta pode variar de 74% a 90% dos casos.”
Aneurisma cerebral
Fidel Meira, mestre em neuroci�ncias pela UFMG, neurologista do hospital Madre Teresa e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, discorre sobre o aneurisma cerebral.
O quadro tamb�m consiste na dilata��o de um vaso arterial, que pode aumentar de tamanho e tamb�m se romper. “Na ruptura do aneurisma, ocorre o extravasamento de sangue do vaso para os tecidos cerebrais. Este sangue promove les�o diretamente por uma a��o mec�nica sobre o tecido cerebral e tamb�m por provocar r�pida eleva��o da press�o intracraniana.”
Entre os principais fatores de risco, o neurologista destaca tabagismo, hipertens�o e ingest�o elevada de bebidas alco�licas. “Entre os fatores n�o modific�veis, destaca-se a hist�ria familiar de hemorragia intracraniana pela ruptura de aneurisma (nesta situa��o, sempre � v�lida uma avalia��o m�dica que, eventualmente, pode exigir a realiza��o de exames complementares).”
O m�dico refor�a que a ruptura de uma aneurisma cerebral � um evento muito grave. “A mortalidade pode ultrapassar os 50%, sendo que uma parte consider�vel das pessoas pode falecer antes de chegar a um hospital. Os sobreviventes podem apresentar epilepsia, disfun��o cognitiva e d�ficits neurol�gicos dependendo da localiza��o do aneurisma.
Apesar de ser uma condi��o muito grave, casos com recupera��o completa e retorno a todas atividades de vida di�ria, mesmo em pacientes muito graves, ocorrem.
Diagn�stico e preven��o
O m�dico ressalta ainda que o diagn�stico e o tratamento precoce do aneurisma cerebral s�o importantes para um tratamento eficiente. “O segundo passo consiste no fechamento desse aneurisma, seja por cirurgia aberta ou por t�cnica endovascular. Ap�s essa etapa, o paciente � conduzido ao centro de terapia intensiva, onde s�o institu�das medidas para preven��o de diversas complica��es.”
O m�dico refor�a ainda que os aneurismas acontecem em qualquer idade. “Entretanto, tendem a se concentrar entre os 40 e 60 anos de idade. A maioria das rupturas acontece entre 50 e 55 anos.”
Rela��o com o AVC
Por fim, Meira explica que o Acidente Vascular Cerebral (AVC) � uma situa��o de uma les�o neurol�gica provocada por uma doen�a vascular. A maioria dos AVC’s s�o por isquemia (falta de circula��o) e tem um percentual de 15% a 20% que s�o os AVC’s hemorr�gicos. Entre os AVC’s hemorr�gicos est�o as aneurismas cerebrais. “Ent�o, podemos dizer que a ruptura do aneurisma � um tipo de AVC.”
Em 29 de outubro, a comunidade m�dica celebra o Dia Mundial de Combate ao AVC.
Segundo especialistas, o AVC ocorre quando existe um entupimento ou rompimento de uma veia ou art�ria dentro da cabe�a, dificultando a passagem do sangue para o c�rebro e provocando a paralisa cerebral.
O Minist�rio da Sa�de alerta: O AVC � o motivo mais comum de morte na popula��o adulta no Brasil e ocupa a 4ª posi��o no ranking da taxa de mortalidade entre os pa�ses latino-americanos e o Caribe. Em 2018, acredita-se que a doen�a tenha acometido 18 milh�es de pessoas em todo o mundo.
Dor de cabe�a pode indicar aneurisma?
Confira entrevista com a neurologista Helena Providelli de Moraes, especialista no tratamento de dores de cabe�a:

Podemos definir aneurisma como uma dilata��o anormal de um determinado vaso sangu�neo, o que pode ser gerado, por exemplo, pela fragilidade presente na parede de uma art�ria (de qualquer parte do corpo). Os aneurismas podem ser cong�nitos (ou seja j� nascer com essa fragilidade e dilata��o no vaso sangu�neo, o que ocorre na minoria dos casos) ou ser adquirido (formar-se ao longo da vida). Os vasos que mais comumente apresentam aneurismas s�o as art�rias cerebrais e a art�ria aorta. Acontece que essa dilata��o, ou aneurisma, quando presente nas art�rias cerebrais, ao se romper, pode causar sangramentos dentro do c�rebro, o que � de uma gravidade importante.
Podemos falar sobre fatores de risco para o aneurisma?
Sim. Sabemos que os principais fatores de risco podem ser modificados, como por exemplo: hipertens�o arterial e tabagismo. Podemos ressaltar que algumas doen�as gen�ticas como Ehler-Danlos ou S�ndrome de Marfan geram uma predisposi��o para a fragilidade dos vasos sangu�neos.
Qual � o potencial de fatalidade do quadro? Como se d� o tratamento?
Quando falamos em rela��o � morbidade gerada pela ruptura de um aneurisma, o primeiro ponto a se pensar � sobre a localiza��o do mesmo. Quando o aneurisma se rompe ele gera um sangramento que pode ser de dif�cil controle, estima-se que quando ocorre ruptura de aneurisma cerebral cerca de 30% dos indiv�duos falecem sem chegar a ter atendimento m�dico. O tratamento ap�s a ruptura do aneurisma cerebral se baseia em tentar evitar o ressangramento e a ocorr�ncia de isquemias secund�rias ao evento (vasoespasmos) – bem como manter o controle dos sintomas associados (controle da press�o arterial, crises convulsivas, dores de cabe�a).
O que promove o "rompimento" de um aneurisma?
A ruptura de um aneurisma cerebral est� muito associado ao tamanho e fatores de risco. Ou seja, quanto maior o aneurisma maior ser� a chance de ruptura. Em
rela��o ao fatores de risco podemos citar o descontrole press�rico e o tabagismo.
Temos dados sobre o n�mero de pacientes com a doen�a no pa�s?
Aproximadamente, 6,5mil pessoas morrem anualmente por problemas associados a aneurisma.
� poss�vel identificar o que houve para vitimar Jorge Fernando?
No caso de Jorge Fernando, pelo que foi relatado, ele foi v�tima de um aneurisma da aorta, ou seja, uma dilata��o presente em uma art�ria bastante importante do corpo que bombeia sangue para �rg�os de extrema import�ncia. Quando ocorre ruptura de um aneurisma da aorta falta suprimento sangu�neo para �rg�os importantes do organismo, o que gera preju�zo na fun��o de v�rios �rg�os importantes.
Qual � a diferen�a do aneurisma cerebral para o abdominal (no caso, o que vitimou o Jorge Fernando)?
O aneurisma cerebral acontece em art�rias cerebrais e quando h� ruptura gera sangramento intracraniano e isquemia cerebral.No caso de aneurisma da aorta, quando se rompe pode gerar sangramento intrabdominal ou intrator�cico, o que leva � queda de press�o e falta de suprimento sangu�neo para diversos �rg�os do corpo. N�o existe associa��o entre aneurisma cerebral e aneurisma de aorta.
Como diferenciamos o aneurisma de um AVC? Ou s�o sin�nimos?
Na verdade, a ruptura de aneurisma est� associado � ocorr�ncia de acidente vascular cerebral hemorr�gico. O AVC significa falta de fluxo sangu�neo para determinada regi�o encef�lica, o que pode ocorrer por obstru��o do fluxo sangu�neo por trombos ou co�gulos (AVC isqu�mico) ou ruptura de vasos sangu�neos (AVC hemorr�gico).