Cena do filme Coringa, estrelado por Joaquin Phoenix: no lado iluminado do personagem, o palha�o Happy busca fama, uma cr�tica � espetaculariza��o da vida privada
Para Renata Feldman, o personagem Coringa, estrelado pelo ator Joaquin Phoenix, vivia, refletia, ria, delirava, sonhava, agia e interagia lan�ado � sua condi��o existencial permeada de dor. “Assim tamb�m caminha a humanidade: cada indiv�duo com a sua hist�ria, passado, travessia, emo��es, idiossincrasias e m�scaras. S�o elas que nos 'apresentam' ao mundo, estabelecendo uma forma de exposi��o e intera��o social a partir dos pap�is que exercemos. A m�scara – ou persona, como denominou Carl Jung em sua psicologia anal�tica –, nos caracteriza e nos representa perante a alteridade por meio da imagem que transmitimos e da nossa forma de reagir ao mundo.”

Ao tentar responder sobre si mesmo a “quem sou eu?”, o homem, destaca Renata Feldman, esbarra no outro – n�o s� nas suas rela��es atuais como tamb�m nas ra�zes que o constituem. “E � a� que muitas vezes ele sente a necessidade de intensificar o uso de suas m�scaras, buscando ser inclu�do, aceito e amado pelo outro. Ou buscando apenas se proteger, lan�ando m�o de mecanismos de defesa e jogos sociais que o coloquem – mesmo que ilusoriamente – numa situa��o favor�vel diante da vida.”

"Mulheres vivem conflitos e ambival�ncias ao exercer o seu papel de m�e: sentem alegria, felicidade, realiza��o, mas tamb�m culpa, ansiedade, esgotamento, frustra��o" - Renata Feldman, psic�loga e psicoterapeuta, escritora, palestrante e professora
Ed�sio Ferreira/EM/D.A PressNa vis�o da psic�loga, a m�scara do Coringa aciona o lado sombrio de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), acarretando-lhe fama e repercuss�o por meio de outros meios. “Da� parece advir uma outra forma de realiza��o, impulsionada pela for�a do coletivo e evidenciada neste pensamento dele: ‘Durante toda a minha vida eu nem sabia se eu realmente existia. Mas eu existo, sim. E as pessoas est�o come�ando a perceber’. A vida real tamb�m contempla outras formas antag�nicas de existir envolvendo a pluralidade humana”. Em sua pesquisa de mestrado, intitulada “As v�rias faces da m�e contempor�nea”, a especialista mostrou uma realidade contrastante com a imagem romantizada da maternidade, em que as m�es s�o tidas como santas ou hero�nas.
No fim, a quest�o �: como manter a sanidade, a verdade, a ess�ncia ainda que m�scaras sejam inevit�veis?. Para Renata Feldman, “a busca do autoconhecimento gera reflex�o, crescimento e fortalecimento emocional. Ao olhar para dentro, o sujeito arranca as m�scaras e se liberta do olhar do outro, encontrando o que h� de mais genu�no em si. Descobre que pode desfrutar da liberdade e autonomia de ser quem se �, buscando uma vida plena e aut�ntica. Foi isso o que o fil�sofo Kiekergaard (1813-1855) – pai do Existencialismo – prop�s ao pensar essa autenticidade que nos tira do desespero: a coragem de sermos quem verdadeiramente somos. Ou, nas palavras do poeta grego P�ndaro, repetidas por Nietzsche: ‘Torna-te quem tu �s’”.

Para Gilda Paoliello, psiquiatra e psicanalista, as pessoas usam m�scaras risonhas nas redes, sonhando em ser reconhecidos, sob imagens fakes
Marcilio Nicolau/Divulga��o
*Para comentar, fa�a seu login ou assine