
Desde o in�cio da prolifera��o do novo coronav�rus no Brasil, em meados de mar�o, diversos h�bitos foram modificados em fun��o do isolamento social. E o v�cio em fumo foi um deles. De acordo com uma pesquisa feita pela Funda��o Oswaldo Cruz, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de Campinas (Unicamp), o consumo de cigarro aumentou neste per�odo.
“Entre as mulheres, o percentual de aumento de cerca de 10 cigarros por dia (29%) foi maior que o dos homens (17%). J� entre os indiv�duos de menor escolaridade, 25% aumentaram cerca de 10 cigarros por dia e 10% mais de 20 cigarros por dia”, informa o site oficial da faculdade mineira.
Para a oncologista do Grupo Oncocl�nicas Fl�via Amaral Duarte, este aumento se d� em raz�o das condi��es impostas pela pandemia, sejam elas de isolamento social, crise financeira ou mesmo aparecimento e/ou agravamento de quadros patol�gicos mentais.
“Parece haver uma correla��o entre um momento de ansiedade, propiciado, por exemplo, pelo receio em perder o emprego ou um ente querido. Deste modo, este mecanismo surge como uma esp�cie de ‘escape’.”
“Parece haver uma correla��o entre um momento de ansiedade, propiciado, por exemplo, pelo receio em perder o emprego ou um ente querido. Deste modo, este mecanismo surge como uma esp�cie de ‘escape’.”
A partir disso, a oncologista destaca os malef�cios que a intensifica��o desse h�bito pode causar ao organismo humano. Isso porque, segundo Fl�via, al�m de o tabagismo ser um dos principais fatores de risco para doen�as cardiovasculares, como infarto e AVC, � o maior respons�vel pelo desenvolvimento da Doen�a Pulmonar Obstrutiva Cr�nica (DPOC) – forma��o de cicatrizes e bolhas no pulm�o, conhecido como enfisema – que prejudica a troca gasosa pulmonar e propicia infec��es pulmonares, o que pode influenciar no aparecimento de tumores cancer�genos.
“Do ponto de vista oncol�gico, o cigarro cont�m in�meras subst�ncias carcinog�nicas, isso �, subst�ncias que induzem � forma��o de c�lulas do c�ncer, n�o apenas do c�ncer de pulm�o, como, tamb�m, de c�nceres de cabe�a e pesco�o – boca, l�ngua, laringe, faringe – e bexiga. Al�m disso, ao considerarmos o contexto da pandemia, um pulm�o fr�gil tende a ser um importante fator de risco para quadros graves de infec��o por COVID-19”, explica.
"� importante ressaltar que o c�ncer n�o espera. Os pacientes precisam buscar ajuda no caso de aparecimento de sintomas, assim como os especialistas precisam se esfor�ar para que o tratamento adequado seja oferecido com toda seguran�a poss�vel"
Fl�via Amaral Duarte, oncologista do Grupo Oncocl�nicas
Neste sentido, Bruno Ferrari, oncologista cl�nico, fundador e presidente do Conselho Administrativo do Grupo Oncocl�nicas, destaca que, para al�m dos danos causados na sa�de do organismo pelo v�cio em fumar, o tabagismo pode desencadear piora em quadros cl�nicos de c�ncer j� est�veis. Isso porque, de acordo com Ferrari, o fator estresse pode trazer o h�bito de volta, visto que muitos pacientes em recupera��o de c�ncer j� fumaram e pararam com o v�cio pela interfer�ncia do costume na efic�cia do tratamento.
“O pulm�o inflamado cronicamente pelo cigarro, al�m de outros aspectos, como perda de massa muscular, leva, obviamente, a um impacto maior no bem-estar do paciente com c�ncer que segue fumando. Por isso, quando falamos de tabagismo, falamos em tratamento de apoio psicol�gico e medicamento. A mensagem que precisamos refor�ar �: nunca � tarde para parar de fumar”, recomenda o oncologista cl�nico e presidente do Instituto Oncocl�nicas.
Conten��o do tabagismo e preven��o do c�ncer de pulm�o
De acordo com os especialistas, a preven��o do c�ncer de pulm�o est� diretamente ligada � conten��o do tabagismo. Isso porque o fumo pode interferir e prejudicar a sa�de dos pulm�es, permitindo o aparecimento e/ou agravamento de tumores.
Justamente por isso, o controle de ambos depende de uma s�rie de medidas, sejam elas governamentais ou pessoais, que “caminham” juntas. Por�m in�meros desafios tendem a atrasar esse processo.
Justamente por isso, o controle de ambos depende de uma s�rie de medidas, sejam elas governamentais ou pessoais, que “caminham” juntas. Por�m in�meros desafios tendem a atrasar esse processo.
“Muito j� foi feito ao longo dos anos, com o aumento dos pre�os de cigarros, proibi��o de propagandas e educa��o da popula��o. Entretanto, programas de cessa��o do tabagismo s�o extremamente importantes e eficazes. Uma equipe multidisciplinar incluindo pneumologistas, radiologistas e psic�logos, em conjunto, como um centro integrado para diagn�stico precoce e tratamento do c�ncer de pulm�o s�o essenciais”, afirma Fl�via.

“Esses cigarros perderam a raz�o, e acabou sendo uma porta de entrada para o tabagismo de uma maneira mais pesada. De um modo geral, vamos ter que combater o tabagismo novo e o tabagismo cl�ssico, que s�o um grande problema para a sociedade em si – muitas pessoas acabam iniciando o h�bito com o cigarro eletr�nico e v�o para o cigarro comum.”
Deste modo, a preven��o do c�ncer, principalmente de pulm�o, fica, tamb�m, comprometida, tendo em vista que, em est�gio inicial, a doen�a n�o apresenta sintomas e a maior parte dos casos � diagnosticada em fases mais avan�adas.
“Em fun��o deste diagn�stico tardio, alguns quadros j� n�o s�o mais pass�veis de tratamento curativo. Soma-se, ainda, a esse fato a semelhan�a entre sintomas causados pelo consumo prolongado de cigarros e os causados pelo pr�prio c�ncer, como tosse, pigarro, rouquid�o”, comenta Fl�via.
“Em fun��o deste diagn�stico tardio, alguns quadros j� n�o s�o mais pass�veis de tratamento curativo. Soma-se, ainda, a esse fato a semelhan�a entre sintomas causados pelo consumo prolongado de cigarros e os causados pelo pr�prio c�ncer, como tosse, pigarro, rouquid�o”, comenta Fl�via.
A oncologista frisa, ainda, que a literatura vem apontado o rastreamento de pacientes selecionados com tomografias computadorizadas como uma forma eficaz de diagnosticar precocemente a doen�a, com impacto, tamb�m, na redu��o da mortalidade.
“Mas, � importante ressaltar que o c�ncer n�o espera. Os pacientes precisam buscar ajuda no caso de aparecimento de sintomas, assim como os especialistas precisam se esfor�ar para que o tratamento adequado seja oferecido com toda seguran�a poss�vel”, completa.
“Mas, � importante ressaltar que o c�ncer n�o espera. Os pacientes precisam buscar ajuda no caso de aparecimento de sintomas, assim como os especialistas precisam se esfor�ar para que o tratamento adequado seja oferecido com toda seguran�a poss�vel”, completa.
Precisa de motiva��o para parar de fumar?
Os oncologistas recomendam que n�o s� fumantes ativos se incentivem a interromper o v�cio em cigarro, mas, tamb�m, que aqueles declarados como passivos, ou seja, que sofrem os danos do tabaco em fun��o de fumantes pr�ximos, motivem aqueles que t�m o h�bito a largar. Isso porque, de acordo com a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), somente em 2017, um milh�o de pessoas morreram em raz�o do tabagismo. Al�m disso, segundo dados da entidade, cerca de 93 mil mortes s�o causadas pela passividade do fumo. E isso sem considerar os casos de morte por c�ncer de pulm�o, normalmente associados ao v�cio do fumo.
Deste modo, a OMS elenca uma s�rie de benef�cios que podem ser percebidos ao longo do tempo sem o v�cio. Por isso, se motiva��o � o que falta, confira as dicas do �rg�o de sa�de:
- Dentro de 20 minutos, o ritmo card�aco e a press�o arterial baixam;
- Em 12 horas, o n�vel de mon�xido de carbono no sangue cai para o normal;
- De duas a 12 semanas, a circula��o sangu�nea melhora e a fun��o pulmonar aumenta;
- Entre um a nove meses, a tosse e a falta de ar diminuem;
- Em um ano, o risco de desenvolver uma doen�a coronariana cai pela metade (em rela��o a um fumante);
- Em cinco anos, o risco de ter um acidente vascular cerebral � reduzido ao de um n�o fumante – cinco a 15 anos ap�s parar de fumar;
- Em 10 anos, o risco de c�ncer de pulm�o cai para cerca de metade em rela��o a um fumante e o risco de c�ncer de boca, garganta, es�fago, bexiga, colo do �tero e p�ncreas tamb�m diminui;
- Em 15 anos, o risco de doen�a card�aca coron�ria � o mesmo de um n�o fumante.
Em pauta
O assunto foi tema de discuss�o em uma transmiss�o ao vivo feita pelo Grupo Oncocl�nicas, nesta quinta-feira (27), por meio da plataforma Webcast. O debate, intitulado “Combate ao fumo: o tabagismo durante a pandemia e os desafios na preven��o do c�ncer de pulm�o”, contou com a presen�a dos entrevistados Bruno Ferrari e Carlos Gil e, tamb�m, de Clarissa Mathias, oncologista cl�nica do Grupo Oncocl�nicas e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Cl�nica (SBOC).
* Estagi�ria sob supervis�o da editora Teresa Caram