Falar sobre os efeitos de se tornar av�, av� � um tema caro para o m�dico psiquiatra Cl�udio Costa, especialista em psiquiatria da inf�ncia e adolesc�ncia, ele que tamb�m j� faz parte deste rol t�o acarinhado pela sociedade, mas tem uma vis�o real deste papel, que n�o � s� feliz.
Segundo ele, tornar-se av�/av� parece algo natural, acontecimento quase inevit�vel � medida que uma pessoa envelhece, sempre uma descoberta: h� um misto de alegria e conformismo: – Eu, av�? J�?, – Ah, voc� j� � av�? Est� ficando velha, heim?, – Que maravilha, que pr�mio!
Com os recursos da internet, o m�dico psiquiatra Cl�udio Costa, av� de duas crian�as, diz que todos s�o brindados com as fotos e v�deos das netinhas e encontros virtuais via aplicativos
arquivo pessoal
As emo��es desse novo status podem variar caso a caso, pois nem tudo � igualmente rom�ntico para todos. “As novas configura��es familiares e as tormentas econ�micas acarretam necessidade de arranjos nem sempre agrad�veis: os encontros podem se sujeitar a calend�rios pr�-estabelecidos, perdendo-se a espontaneidade e o casual.
Al�m disso, estat�sticas demonstram que muitos av�s se sentem constrangidos a arcar com despesas que garantam a sobreviv�ncia dos netos e sua educa��o, quando os idosos se tornam arrimos de fam�lia. Ou, pior, perdas de entes queridos, trag�dias t�o comuns em tempos de pandemia.”
Pessoalmente, Cl�udio Costa confessa que “sinto que o imagin�rio e as lembran�as infantis cont�m elementos das viv�ncias dos tenros anos, quando a presen�a dos av�s fazia parte do cotidiano, numa conviv�ncia rica em afeto e ensinamentos. De cada um dos meus av�s paternos e maternos, mantenho recorda��es indel�veis, hist�rias pitorescas e epis�dios inesquec�veis: meu av� motociclista, minha av� t�o piedosa, a quitandeira sempre sorridente e o sensato e ilustrado comerciante. Ouso dizer: exemplos maravilhosos serviram de pano de fundo para minhas fantasias acerca de como 'avoecer' bem quando chegassem os netos”.
EMPATIA
Por isso, conforme o m�dico psiquiatra, os resultados dos estudos desenvolvidos e publicados por James Rilling, professor de antropologia da Emory University, n�o o surpreenderam: comprovam o elo afetivo que une av�s e netos, al�m de elucidar o substrato neuropsicol�gico revelado pelas tecnologias das neuroci�ncias.
O psiquiatra explica que o cientista denomina o v�nculo entre av�s e netos como “empatia”, quase uma capacidade de “sentir-se dentro” do outro, mais do que “com o outro”. O retorno imagin�rio � inf�ncia do av� e da av� acrescenta novo sentido ao fluir implac�vel do viver.
Cl�udio Costa conta que, das raras fotografias amareladas que ele guarda de seus av�s �s atuais capturas digitais brilhantes e coloridas das suas duas netas, Maria Lu�sa e Beatriz, “vejo-me neto e av� ao mesmo tempo: reconhe�o-me na alegria do abra�o da primeira, j� com 8 anos, e do sorriso surpreso e gritinhos de j�bilo desta que completou 1 ano por agora”.
Com os recursos da internet, Cl�udio Costa lembra que “todos s�o brindados com as fotos e v�deos das netinhas, encontros virtuais via aplicativos e, em ligeiros minutos, a emo��o atualiza todo o carinho que sentimos. No tempo das m�dias digitais com quase tudo na nuvem, temos que deixar marcas mais ou menos permanentes e concretas que nos servir�o de refer�ncia ao longo da vida: em nossa casa, Am�lia e eu temos os porta-retratos com as fotos das meninas, 'pontos de enlace' que d�o significado � nossa hist�ria. Assim, nos inscrevem em narrativas pessoais sobre quem somos, de onde viemos e onde estamos hoje. Num instante, o retrato na parede captura nosso olhar e evoca nossa hist�ria. O impermanente fluir do tempo toma sentido �nico: onde eu era, a� eu sou”.
Aliado contra a depress�o
Estudo feito pelo Boston College, nos EUA, comprova os benef�cios da rela��o entre av�s e netos. Durante 19 anos, foram estudados 374 av�s e 356 netos. O objetivo era entender a influ�ncia dessa conviv�ncia, tanto na vida das crian�as como na dos idosos. Os resultados revelam que os dois lados se beneficiam. Para os av�s, a conex�o permite contato com uma gera��o muito mais nova e, consequentemente, uma abertura a novas ideias. Para os netos, os idosos oferecem a sabedoria adquirida durante a vida – e esse conhecimento acaba sendo incorporado pelas crian�as quando elas se tornam adultas. Os av�s tamb�m costumam passar �s novas gera��es hist�rias sobre o passado, o que � enriquecedor para qualquer crian�a. Os pesquisadores tamb�m conclu�ram que a rela��o av�s-netos pode ajudar a diminuir sintomas depressivos para ambas as partes.
Saiba mais
Prote��o contra o Alzheimer
Em pesquisa sobre a rela��o entre av�s em netos desenvolvida pela Universidade da Calif�rnia, nos EUA, os cientistas elaboraram uma hip�tese de que os av�s com a mente saud�vel aumentam as chances de sobreviv�ncia dos filhos de seus filhos porque, assim, s�o capazes de transmitir a eles seus conhecimentos e habilidades. Como um refor�o � teoria, eles procuraram e conseguiram identificar em v�rios genes muta��es relativamente novas que protegem contra doen�as neurodegenerativas como o Alzheimer, que costuma aparecer em pessoas idosas. Conforme os cientistas, parece ocorrer uma sele��o natural diante de nossos olhos. Ou seja, as pessoas que t�m esses genes vivem mais (porque est�o protegidas contra as doen�as neurodegenerativas) e, consequentemente, conseguem colaborar mais com a cria��o dos netos, pois est�o saud�veis.
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