Boneco mostra pontos de acupuntura onde a agulha deve ser aplicada

A acupuntura foi considerada especialidade m�dica no Brasil em 14 de agosto de 1995

Acupuncture Box/Pixabay
A acupuntura tem origens milenares. � um sistema m�dico complexo, e desde tempos remotos at� os dias de hoje � exercida na China continental e em Taiwan exclusivamente por profissionais com forma��o em escolas m�dicas. Por exig�ncia do Conselho Federal de Medicina (CFM), ap�s an�lise das comprova��es cient�ficas de sua efic�cia e efetividade, foi considerada por aquela autarquia como especialidade m�dica no Brasil em 14 de agosto de 1995.

Desde ent�o, se popularizou e vem sendo recomendada para o al�vio de dores de etiologias diversas, inclusive oncol�gicas (relacionadas ao c�ncer), dores de cabe�a, e de origem musculoesquel�ticas, como as dores lombares, dor ci�tica, disfun��es da coluna vertebral, dos joelhos, ombros, quadril e articula��es em geral. Essas informa��es s�o do m�dico acupunturiatra Hildebrando S�bato, especialista na �rea de dor, presidente do Col�gio M�dico de Acupuntura de Minas Gerais (CMA/MG), diretor e professor do Instituto M�dico Brasileiro de Acupuntura (IMBA) e docente do curso de p�s-gradua��o em dor do Hospital Albert Einstein.

Conforme Hildebrando S�bato, a acupuntura � empregada tamb�m como adjuvante ao tratamento convencional para dist�rbios ginecol�gicos (como nas irregularidades menstruais), neurol�gicos (na recupera��o de pacientes acometidos por acidente vascular cerebral) e na gastroenterologia, para o tratamento de gastrites e m� digest�o, por exemplo. Tamb�m apresenta bons resultados para alergias, sinusites agudas e cr�nicas, algumas doen�as dermatol�gicas e para pacientes estressados pelos h�bitos de vida modernos, como esgotamento, ins�nia e dist�rbios psiqui�tricos.

Médico acupunturiatra Hildebrando Sábato, especialista na área de dor, presidente do Colégio Médico de Acupuntura de Minas Gerais (CMA/MG),

M�dico acupunturiatra Hildebrando S�bato diz que a acupuntura � empregada como adjuvante ao tratamento convencional para dist�rbios ginecol�gicos, neurol�gicos e na gastroenterologia

Arquivo Pessoal


Hildebrando S�bato destaca que, � medida que foi se tornando mais conhecida e esclarecida em seus prop�sitos, a resist�ncia ao tratamento pela acupuntura diminuiu muito nas �ltimas d�cadas. “Como se trata de procedimento invasivo, com a introdu��o de finas agulhas inseridas tanto superficialmente quanto em profundidade no corpo, estruturas nobres, como nervos e �rg�os, devem ser evitados. Isso exige conhecimento da anatomia, e execu��o por m�os habilidosas num treinamento extenso.”

Al�m disso, segundo ele, � importante a realiza��o de um diagn�stico diferencial da doen�a a ser tratada. Em alguns casos, o encaminhamento para um especialista deve ser feito at� com urg�ncia. “� fundamental o entendimento do que est� acontecendo com o paciente, e isso s� o m�dico pode identificar adequadamente, indicar a acupuntura, optar por uma investiga��o mais esclarecedora, ou encaminhar para o tratamento convencional. Essa pode ser uma das raz�es pelas quais os pacientes preferem fazer a acupuntura com um m�dico especialista em acupuntura.”


RECUPERA��O DE PACIENTES


A acupuntura � mais uma aliada na recupera��o do paciente que teve COVID-19 e lida com sequelas. Hildebrando S�bato explica que uma caracter�stica da acupuntura � proporcionar uma atua��o n�o apenas curativa, mas tamb�m moduladora das fun��es autorrevigorantes que o organismo tende a realizar, principalmente quando adequadamente estimulado. “Claro que o �xito desta atua��o vai depender do grau de acometimento da doen�a, sua gravidade, como tamb�m da vitalidade remanescente do organismo acometido. Sob essas condi��es, a acupuntura pode melhorar, em curto/m�dio prazo, sequelas p�s-COVID-19, como cansa�o, esgotamento, dist�rbios de mem�ria, falhas cognitivas e embotamento emocional.”

A sobrecarga de trabalho em dispositivos eletr�nicos, associada � m� postura e a tens�es f�sicas e emocionais sobrecarregam a musculatura cervical, pesco�o e ombros. O resultado � a forma��o dos chamados pontos-gatilhos miofasciais, que promovem por sua vez dores de cabe�a reflexas em determinadas �reas.A acupuntura tem excelente atua��o para estes casos, desabilitando estes pontos, e fazendo cessar a cefaleia quase que imediatamente

M�dico acupunturiatra Hildebrando S�bato, especialista na �rea de dor e presidente do Col�gio M�dico de Acupuntura de Minas Gerais (CMA/MG)

Hildebrando S�bato destaca que cada vez mais ganha espa�o a aplica��o da acupuntura no tratamento e preven��o de diversos transtornos mentais: “H� muitas palestras e cursos para o colega m�dico acupunturiatra com conte�do bem fundamentado para a abordagem dos pacientes com transtornos mentais, tanto do ponto de vista psiqui�trico convencional, quanto da medicina tradicional chinesa e acupuntura m�dica contempor�nea. Discorremos sobre quais seriam os limites da pr�tica acupuntural para esses pacientes; quando, como, e quais casos encaminhar ao psiquiatra e a outros profissionais de sa�de mental, quando associar acupuntura ao tratamento de pacientes j� medicados e em acompanhamento psiqui�trico e psicol�gico, al�m de outras quest�es concernentes � pr�tica m�dica da acupuntura, pormenorizadas para uma atua��o segura e de resultados”.

O m�dico acupunturiatra destaca que, em 2020, participou como coordenador da elabora��o do Mapa de Evid�ncias da Efetividade Cl�nica da Acupuntura, encomendado pelo Minist�rio da Sa�de (MS), realizado e publicado por um conv�nio entre a Opas, Bireme e o Cons�rcio Acad�mico Brasileiro de Sa�de Integrativa (CabsIn). O Mapa foi elaborado a partir de revis�es sistem�ticas recentes, cada uma com dezenas a centenas de trabalhos cient�ficos (RCTs – Ensaios Cl�nicos Randomizados), e est� dispon�vel em https://mtci.bvsalud.org/pt/efetividade-clinica-da-acupuntura/. “Este trabalho apresenta as evid�ncias para desfechos em sa�de, inclu�dos alguns transtornos mentais mencionados, como depress�o e ins�nia, por exemplo, evidenciando efeitos positivos da acupuntura para seu tratamento.”


EFEITOS POSITIVOS 


Hildebrando S�bato enfatiza que o Mapa de Evid�ncias da Efetividade Cl�nica da Acupuntura tamb�m mostra efeitos positivos do tratamento de condi��es dolorosas, como as dores de cabe�a em geral e a enxaqueca em particular. “Evidenciam-se os efeitos da acupuntura n�o s� para as crises agudas, quanto para o acometimento cr�nico, mas tamb�m como adjuvante na preven��o das reca�das. A experi�ncia cl�nica tem demonstrado que as s�ries de sess�es de acupuntura contribuem grandemente para uma melhora na intensidade das crises, assim como num maior espa�amento entre elas, trazendo al�vio e melhora da qualidade de vida dos pacientes acometidos pela enxaqueca.”

Outra condi��o muito prevalente � a chamada cefaleia tensional. Ele explica que ela pode ocorrer pela sobrecarga de trabalho em dispositivos eletr�nicos como laptops e aparelhos celulares, principalmente quando associada � m� postura e a tens�es f�sicas e emocionais que sobrecarregam a musculatura cervical, pesco�o e ombros. O resultado � a forma��o dos chamados pontos-gatilhos miofasciais, que promovem por sua vez dores de cabe�a reflexas em determinadas �reas. “A acupuntura tem excelente atua��o para estes casos, desabilitando estes pontos, e fazendo cessar a cefaleia quase que imediatamente.”

DE GRA�A 


Hildebrando S�bato destaca que a acupuntura est� presente no Sistema �nico de Sa�de (SUS), introduzida pelos m�dicos desde 1982. A rede assistencial em Belo Horizonte, por exemplo, oferece o tratamento em v�rios postos de sa�de, onde � feita por m�dicos especialistas em acupuntura dentro do Programa de Homeopatia, Acupuntura e Medicina Antropos�fica – Prohama, implementado pela Secretaria Municipal de Sa�de.

Al�m disso, por iniciativa do Col�gio M�dico de Acupuntura de Minas Gerais (CMA/MG), ambulat�rios did�tico-assistenciais foram introduzidos no Hospital das Cl�nicas da Escola de Medicina/UFMG, no Hospital Odilon Behrens, e outros conv�nios est�o sendo firmados para ampliar o atendimento de forma gratuita. A sa�de complementar, por meio dos conv�nios de sa�de, tamb�m oferece a especialidade da acupuntura, que pode tamb�m ser realizada em tratamentos particulares em diversas cl�nicas na regi�o metropolitana.


EQUIL�BRIO DAS FUN��ES ORG�NICAS E EMOCIONAIS


“A a��o da acupuntura na sa�de mental envolve fatores diversos, a partir de est�mulos que levam ao relaxamento, controle de processos inflamat�rios e �lgicos, modula��o de neurotransmissores e consequentemente � sensa��o de bem-estar”, destaca V�tor Barbosa, acupunturista e coordenador da especializa��o em acupuntura do Centro Universit�rio Newton Paiva.
 
Vítor Barbosa, acupunturista e coordenador da especialização em acupuntura do Centro Universitário Newton Paiva

O acupunturista V�tor Barbosa alerta sobre cuidados importantes, como a antissepsia adequada das �reas de aplica��o das agulhas, higiene das superf�cies e sempre exigir o uso de agulhas descart�veis

Arquivo Pessoal
Mestre e doutor em patologia investigativa pela Faculdade de Medicina da UFMG, ele explica que a t�cnica promove o equil�brio das fun��es org�nicas e emocionais por meio do est�mulo de pontos espec�ficos do corpo, chamados de acupontos. V�tor Barbosa diz que, al�m da a��o local nos tecidos onde est�o localizados os acupontos, existe a a��o sobre a medula espinhal e a a��o somatot�pica, essa �ltima referente ao processo em que os est�mulos em diferentes pontos do corpo agem sobre �reas espec�ficas do c�rtex cerebral. “Cada diferente �rea do c�rtex estimulada forma uma resposta aferente, que, por sua vez, estimula diversos outros �rg�os e tecidos, como gl�ndulas, vasos sangu�neos, nervos perif�ricos...”

Uma vez adequadamente estimulados, a reatividade gerada permite que o organismo corrija certos padr�es de desarmonia dos Zang-Fu (�rg�os), e assim haja reequil�brio. “Quando abordamos os padr�es de desequil�brio da mente, � necess�rio avaliar quais os �rg�os comprometidos, mas sempre lembrando que, independentemente de qual seja, h� sempre a necessidade de cuidar do cora��o (Xin) e do f�gado (Gan), pois pela racionalidade m�dica chinesa, s�o respectivamente respons�veis por abrigar a mente, o sensorial, e harmonizar as emo��es.”

De acordo com V�tor Barbosa, a acupuntura funciona como “excelente adjuvante” no tratamento de transtornos emocionais, contribuindo para a efic�cia e efici�ncia da resposta terap�utica, como no caso de fobias e p�nico. Os pacientes que buscam o tratamento, normalmente j� fazem o acompanhamento com outros profissionais da sa�de, como psic�logos e psiquiatras, e, segundo ele, relatam evolu��o ap�s in�cio da acupuntura, seja na melhora do estado geral e de bem-estar, seja controlando efeitos colaterais de medicamentos.

“� importante destacar que o acupunturista em momento algum deve desencorajar ou sugerir a retirada de medicamentos prescritos por psiquiatras ou desaconselhar a psicoterapia com profissionais da psicologia. O pensamento � o tempo todo de integra��o em sa�de, j� que o foco principal � o paciente.” V�tor Barbosa conta que nem sempre o tratamento com acupuntura ser� a longo prazo. O paciente normalmente recebe alta ap�s melhora dos sintomas. “Habitualmente, ap�s o diagn�stico energ�tico da medicina chinesa, conseguimos determinar o n�mero necess�rio de sess�es para que possamos fazer uma nova avalia��o, e assim orientar os pacientes a necessidade de mais sess�es ou a alta, caso atingidos os objetivos.”


CONTRAINDICA��O


Imagem de esqueleto feita no computador entre agulhas e remédios

Para o resultado desejado, � preciso seguir as premissas da medicina chinesa e se comprometer com mudan�as de h�bitos

zhuwei06191973 /Pixabay


Ele explica que durante os per�odos de crises dos transtornos emocionais, a acupuntura atua no aux�lio do controle dos sintomas mais inc�modos. “No entanto, segundo a medicina chinesa, a melhor a��o da acupuntura � na preven��o das crises ou das desarmonias do Qi e do Shen. Sendo assim, em momentos de crise � recomendado, em alguns casos, duas a tr�s sess�es semanais. J� se o objetivo � a manuten��o do estado de bem-estar ou preven��o, as sess�es podem ser espa�adas, quinzenais ou mensais ou at� mesmo trimestrais. Obviamente, por seguir as premissas da medicina chinesa, as mudan�as de h�bitos s�o essenciais para melhores resultados.”

V�tor Barbosa assegura que qualquer pessoa pode receber o tratamento por acupuntura, por�m existem algumas restri��es e cuidados espec�ficos com a t�cnica, a depender do estado pr�vio de cada um. “Pessoas fadigadas ou muito debilitadas devem receber n�mero menor de agulhas e est�mulos menos vigorosos; o mesmo vale para usu�rios de anticoagulantes e pessoas que apresentem fragilidade dos vasos sangu�neos, devido ao risco de hematomas e equimoses extensas. Portadores de marcapasso card�aco n�o devem receber eletroacupuntura, sob o risco de interfer�ncia no funcionamento do aparelho.”

Outros cuidados s�o importantes para prevenir poss�veis danos ao paciente, como a antissepsia adequada das �reas de aplica��o das agulhas, higiene das superf�cies e sempre exigir o uso de agulhas descart�veis. Assim, previne-se a infec��o por micro-organismos patog�nicos e o surgimento de doen�as infecciosas. “� de primeira import�ncia tamb�m que o acupunturista esteja sempre pr�ximo ao paciente, pois em caso de sensa��o de mal-estar durante o procedimento, haja pronto aux�lio, com retirada imediata das agulhas.”

 
ACUPUNTURA PARA GR�VIDAS E CRIAN�AS*


  • As indica��es de tratamento por acupuntura, seja no rec�m-nascido ou a partir da primeira inf�ncia at� o final da adolesc�ncia, s�o variadas e abrangem tanto doen�as org�nicas (dermatite at�pica, refluxo do rec�m-nascido, c�licas intestinais, asma, baixa imunidade) como dist�rbios comportamentais (dist�rbios de sono, ang�stia de separa��o, hiperatividade, isolamento, entre outros).
  • A acupuntura, pelo seu n�vel de seguran�a, pode ser aplicada em gestantes durante toda a gravidez, com v�rios benef�cios, inclusive. A Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) recomenda como tratamento principal para as n�useas e v�mitos, t�o comuns nos primeiros tr�s meses da gesta��o, pela isen��o de danos ao desenvolvimento fetal. � medida que a gesta��o evolui, pelo crescimento uterino e descolamento do ponto de equil�brio do corpo s�o comuns as dores na regi�o lombar. A acupuntura, com seu efeito analg�sico, traz al�vio para a dor sem riscos ao feto. A acupuntura tamb�m pode ser prescrita como auxiliar no diabetes gestacional, na hipertens�o grav�dica e na regula��o das contra��es uterinas, tanto diminuindo a intensidade e frequ�ncia das contra��es precoces quanto estimulando as contra��es para o parto.

*Fonte: Col�gio M�dico Brasileiro de Acupuntura