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Estado de Minas

Neurodiversidade: o que � e como redes sociais t�m ajudado em diagn�sticos

Conceito de neurodiversidade aponta que a mente pode funcionar de diversas maneiras, e que essas diferen�as s�o apenas varia��es naturais do c�rebro humano. Ou seja, condi��es como ouvir vozes ou autismo s�o diferen�as em um espectro, e n�o problemas espec�ficos a serem resolvidos.


18/06/2022 13:14

Ilustração mostra diversas pessoas, com cores diferentes e mecanismos diferentes no lugar do cérebro, como engrenagens, flores ou peças de quebra-cabeça
(foto: Chris Madden/Getty Images)

Muita gente n�o conhece ou n�o conhecia at� pouco tempo atr�s a palavra neurodiversidade. Mas o termo, usado para descrever as enormes e diversas diferen�as existentes no c�rebro humano, tem se popularizado cada vez mais.

Parte disso se deve a redes sociais como TikTok, Twitter e Clubhouse, que t�m proporcionado espa�o para que pessoas possam falar sobre suas diferen�as neurol�gicas.

E n�o s� isso: para muitos, as redes sociais t�m sido para muitos a prova que faltava para se darem conta de que s�o neurodivergentes.

Isso ocorreu principalmente durante a pandemia, quando pessoas com os chamados "c�rebros diversos" puderam encontrar comunidades e pessoas na internet com as quais poderiam se relacionar.

O conceito de neurodiversidade aponta que a mente pode funcionar de diversas maneiras, e que essas diferen�as s�o apenas varia��es naturais do c�rebro humano. Ou seja, condi��es como ouvir vozes ou autismo s�o diferen�as em um espectro, e n�o problemas espec�ficos a serem resolvidos.

Lawrence Fang, diretor do projeto de neurodiversidade da Universidade Stanford (EUA), define esse conceito da seguinte maneira: "� s� uma forma de descrever que nossos c�rebros s�o diferentes e, como qualquer ser humano, n�o ser� bom em tudo."

Fang diz acreditar que pode ser mais dif�cil para algumas pessoas reconhecerem ou aceitarem as diferen�as que acontecem no c�rebro. "A diversidade de g�nero � algo que pode ser facilmente identificado, assim como a diversidade �tnico-racial, porque se pode enxerg�-la. Mas a neurodiversidade � algo que n�o pode ser visto na maior parte do tempo."

Pessoas consideradas neurodivergentes podem ter varia��es cognitivas como transtorno de d�ficit de aten��o com hiperatividade (TDAH), autismo (espectro de transtornos que geralmente se manifestam em dificuldades no conv�vio social, comportamento repetitivo e, em alguns casos, ansiedade e TDAH), dislexia (transtorno de aprendizagem que dificulta leitura e escrita) ou dispraxia (transtorno neurol�gico de coordena��o motora que envolve dificuldade em pensar e movimento planejado, segundo associa��o de especialistas no tema).

H� tr�s tipos principais de TDAH, e seus efeitos podem variar de uma pessoa para outra: desatento, hiperativo/impulsivo e um misto de ambos. Em geral, esse transtorno � diagnosticado na inf�ncia, mas h� cada vez mais adultos que descobrem vivenciar esse tipo de neurodiverg�ncia.

Rach Idowu
Rach Idowu tem tipos de TDAH que se manifestam de formas diferentes (foto: Rach Idowu)

Blogueira e empres�ria, Rach Idowu explica seu TDAH: "O tipo desatento de TDAH pode significar que voc� exibe sintomas ou caracter�sticas como ser facilmente distra�do e desatento a detalhes, procrastina��o, desorganiza��o e mem�ria ruim. (...) O tipo hiperativo-impulsivo de TDAH mostra tra�os de impulsividade e facilidade de interromper as pessoas. Eu tenho um tipo misto de ambos. E tamb�m sou muito criativa e boa em resolver problemas".

As experi�ncias entre pessoas neurodivergentes podem variar.

Alguns podem ser sens�veis a ambientes que causam sobrecarga sensorial. Outros podem processar informa��es de maneira diferente, enquanto alguns podem n�o conseguir ler express�es faciais ou podem ter dificuldade em identificar n�meros e palavras.

Movimento da neurodiversidade

De acordo com o programa Neurodiversidade no Trabalho, da Universidade Stanford, entre 15% e 20% da popula��o mundial � considerada neurodiversa. O restante seria classificado como neurot�pico.

Durante a d�cada de 1990, houve um movimento que conscientizou sobre a neurodiversidade e abra�ou a inclus�o de todas as pessoas com poss�vel neurodiverg�ncia.

O termo neurodiversidade foi cunhado pela soci�loga australiana Judy Singer em sua tese de 1998 para promover a igualdade e a inclus�o de "minorias neurol�gicas".

Hoje, a neurodiversidade � vista como um movimento de justi�a social e se popularizou ainda mais. Pesquisa e educa��o s�o cada vez mais importantes na forma com que certas defici�ncias e condi��es neurol�gicas s�o vistas.

Diagn�stico complicado

Esse movimento crescente ajudou a aumentar a conscientiza��o sobre a neurodiversidade, mas muitas pessoas ainda lutam para serem diagnosticadas e apoiadas.

Rosie Thomas tem 33 anos e vive em Berlim. Ela foi diagnosticada com TDAH em 2020 durante a pandemia de covid-19. Mais tarde, decidiu se tornar tutora, e hoje trabalha para apoiar outras pessoas como ela.

"Por tr�s d�cadas, eu literalmente pensei que era como uma marciana total. Eu achava que ningu�m mais era como eu", disse Thomas � BBC. "Eu era acompanhada por um psiquiatra, que disse que todas essas coisas com as quais eu estava lutando eram sintomas de depress�o. Eu sabia que n�o estava depressiva e agora sei que eram exemplos de disfun��o executiva".

A disfun��o executiva refere-se � gama de dificuldades cognitivas, emocionais e comportamentais que geralmente ocorrem ap�s les�o nos lobos frontais do c�rebro.

Rosie viu um v�deo no TikTok de uma mulher de 40 anos com TDAH que descreveu sintomas que ressoaram em sua cabe�a.

Ela pesquisou no Google "TDAH em mulheres adultas" e descobriu que correspondia � maioria dos tra�os de car�ter descritos.

Rosie Thomas
Rosie Thomas foi diagnosticada com TDAH quando j� era adulta, mais especificamente durante a pandemia de covid (foto: Rosie Thomas)

Foi ent�o que se auto-diagnosticou como tendo TDAH. "Eu li e chorei. Foi como ler meu di�rio."

Fang, da Universidade Stanford, explica que o processo de diagn�stico formal varia muito ao redor do mundo e pode ser bastante caro. Por isso, muitas pessoas n�o seguem esse caminho formal, mas o especialista ressalta que h� benef�cios significativos ao se procurar ajuda profissional.

"A preocupa��o potencial aqui � que �s vezes h� sites que diagnosticam pessoas com base no que os par�metros dizem, mas, na verdade, n�o � t�o simples assim quanto um diagn�stico de site."

"Por exemplo, as pessoas no espectro do autismo �s vezes t�m comportamentos estereotipados, como comportamentos repetitivos, e isso pode ser confundido com os comportamentos obsessivos no transtorno obsessivo-compulsivo".

"Se voc� tem um diagn�stico incorreto, ent�o voc� est� basicamente seguindo o caminho errado e � por isso que � mais �til - se voc� suspeitar ou se algu�m suspeitar - ter um diagn�stico com um especialista em neurologia", diz ele.

"Pessoas no espectro do espectro de autismo, por exemplo, �s vezes t�m comportamentos estereotipados, como a��es repetitivas, mas elas podem ser confundidas com os comportamentos obsessivos do transtorno obsessivo compulsivo."

Segundo Fang, "se o diagn�stico � feito de maneira incorreta, ent�o a pessoa basicamente envereda por um caminho incorreto (de tratamento, por exemplo)". Por isso, afirma o especialista, se voc� tem alguma suspeita disso sobre si mesmo ou sobre outra pessoa, busque atendimento neurol�gico especializado.

Apoio nas redes sociais

Mas esse tipo de diagn�stico e acompanhamento m�dico n�o � acess�vel para muita gente em diversas partes do mundo.

E por causa desses obst�culos, muitas pessoas como Rosie Thomas est�o recorrendo �s redes sociais em busca de ajuda.

Lyric Holmans
Lyric Holmans deu in�cio a uma hashtag para perguntas a pessoas com experi�ncia de neurodiversidade (foto: Lyric Holmans)

� o caso de Lyric Holmans, uma mulher de 35 anos que vive no Texas (EUA) e se autodiagnosticou com autismo.

Youtuber e blogueira de estilo de vida e neurodiversidade, ela diz � BBC que descobriu estar no espectro aos 29 anos por meio de comunidades de redes sociais.

Ela deu in�cio � hashtag #AskingAutistics (#PerguntandoaAutistas, em tradu��o livre) para ajudar pessoas a tirarem d�vidas sobre esse transtorno.

Holmans afirma que essa hashtag � importante porque permite se perguntar praticamente tudo que se queira saber para pessoas com experi�ncias diferentes de autismo.

"A identidade � invis�vel, especialmente se n�o existe uma linguagem para explicar essa experi�ncia de vida", diz. "� realmente muito dif�cil quantificar essas experi�ncias se n�o h� nenhuma imagem de pessoas como voc�."

Segundo ela, a cada pergunta feita, logo diversas pessoas come�am a interagir entre si, a compartilhar experi�ncia, a se ajudar e a ajudar os outros a pedirem ajuda.

� mais dif�cil para as mulheres

Ainda que as redes sociais estejam tornando mais f�cil para as pessoas obterem apoio, as mulheres ainda s�o menos propensas a serem formalmente diagnosticadas.

Muitas vezes, m�dicos e outros profissionais de sa�de mental ignoram ou n�o sabe identificar corretamente seus sintomas.

No caso de testes de autismo, por exemplo, Fang explica que "os homens tendem a ter um comportamento mais estereotipado, mais repetitivo, algo que menos vistos nas mulheres. E isso torna os homens muito mais f�ceis de se identificar".

Lawrence Fang
Lawrence Fang est� realizando na Universidade Stanford uma pesquisa pioneira no campo de neurodiversidade (foto: Lawrence Fang)

Em sua pesquisa, o pesquisador da Universidade Stanford encontrou muito mais "camuflagem" nas mulheres do espectro em compara��o com os homens.

Camuflagem (ou mascaramento) � o uso de estrat�gias para disfar�ar caracter�sticas autistas e compensar dificuldades sociais associadas a elas. Essas estrat�gias podem ser usadas de forma consciente ou n�o.

Quando se trata de TDAH, Fang diz que h� mais mulheres que s�o do tipo desatento e mais homens que mostram mais o tipo hiperativo-impulsivo.

Em ambientes escolares, por exemplo, Fang observa: "Se voc� passar nos testes (de sala de aula) e ficar quieto, os professores n�o se importam, eles acham que voc� est� bem".

"Estudantes hiperativos e impulsivos s�o tachados de 'encrenqueiros', e � por isso que chamam a aten��o."

Estigma

Embora possa ser mais dif�cil diagnosticar mulheres, tamb�m h� um estigma em admitir e falar sobre neurodiverg�ncia.

Idowu diz que depois de revelar publicamente que � neurodivergente, muitas pessoas de todo o mundo entraram em contato com ela.

Al�m de receber mensagens de mulheres, ele tamb�m fez com que muitos homens negros se apresentassem para dizer que se sentiam neurodivergentes. "Algumas pessoas ficam muito envergonhadas com o estigma associado ao TDAH."

"Eu estava na ComicCon no ano passado. Eu estava falando no palco e ent�o algu�m veio at� mim. Acho que eu estava com 40 e poucos anos, e eles disseram: 'Fui diagnosticado depois de ler seu blog; sou autista.'"

Rach tamb�m foi diagnosticada durante a pandemia e considerou as redes sociais ferramentas essenciais de enfrentamento � condi��o.

"Muitas pessoas, homens, mulheres de todas as idades, descobriram que tinham TDAH durante a pandemia", diz ela "Eu tinha 26 anos na �poca e, na verdade, em um document�rio que assisti na Netflix, havia um homem adulto falando sobre suas lutas com o TDAH e sobre quantos medicamentos para TDAH mudaram sua vida."

Perspectiva positiva

Algo que o movimento da neurodiversidade promove � o autocuidado.

� medida que a conscientiza��o sobre a sa�de mental aumentou nos �ltimos anos, houve tamb�m mais debate e conhecimento sobre os cuidados de sa�de atingindo tamb�m as pessoas neurodivergentes. Isso pode ser um fator que explica por que as m�dias sociais foram prol�ficas como ferramenta de comunica��o.

Simone Biles
Campe� ol�mpica Simone Biles tem falado bastante sobre sua experi�ncia com neurodiverg�ncia como forma de conscientiza��o (foto: Getty Images)

Fang concorda que houve um grande desenvolvimento na maneira como nos sentimos sobre essas condi��es. "Isso � definitivamente diferente de 20 anos atr�s, quando voc� n�o usava as m�dias sociais. Hoje, o estigma de doen�as mentais e doen�as neurodivergentes diminuiu."

Todos com quem a BBC falou disseram como a conscientiza��o e a compreens�o de suas realidades ajudaram a melhorar sua qualidade de vida.

Algumas figuras proeminentes tamb�m falaram sobre seus pr�prios diagn�sticos.

O empres�rio Elon Musk, da Tesla e da SpaceX, disse no programa de com�dia americano Saturday Night Live que est� no espectro do autismo. A ginasta ol�mpica americana Simone Biles, vencedora de quatro medalhas de ouro ol�mpicas, falou abertamente sobre ter TDAH.

Outro exemplo � a modelo, atriz e cantora Cara Delevingne, que tem falado extensivamente sobre dispraxia e TDAH.

Esses relatos de famosos podem fazer mais pessoas pensarem sobre suas experi�ncias e, por sua vez, a se perguntarem: "Eu sou neurodivergente?"

- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61854016


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