Homem segura beb� no colo
Para David Levine, o divisor de �guas veio quando ele imaginou que tivesse sacudido seu beb�.
O ano era 2013 e seu filho tinha duas semanas de idade. Ele o havia colocado em uma esteira "talvez de forma um pouco mais bruta do que deveria", relembra ele.
Na �poca, incapaz de pensar com clareza, ele tinha certeza de que tinha errado. E, como pediatra, ele sabia que sacudir o beb� pode causar les�es cerebrais e at� a morte. Ele ficou horrorizado.
A dor e a frustra��o de Levine vinham se acumulando desde o nascimento da crian�a. Como muitos rec�m-nascidos, levou tempo para que o beb� se ajustasse ao mundo exterior. Mas, para Levine, a impress�o era que ele chorava sem parar.
Levine adorava crian�as. Desde que come�ou sua carreira como pediatra em Nova Jersey, nos Estados Unidos, ele havia ouvido de v�rios pais: "voc� ser� um pai muito bom algum dia."
Ele havia ficado entusiasmado quando sua esposa ficou gr�vida e deu � luz. Levine se sentia �til quando ela teve dificuldades para amamentar e podia usar seu conhecimento m�dico para ajudar a incorporar a f�rmula na alimenta��o do beb�.
Mas, depois, o seu papel mudou. Ele n�o precisava ser m�dico; ele precisava ser pai. E, quando surgiram as dificuldades com as tarefas pr�ticas da paternidade, como fazer seu filho parar de chorar, Levine achou que a culpa fosse dele.
"Foi quando as coisas come�aram a se agravar", ele conta. Levine menosprezava seu filho e gritava com ele. Ele come�ou a ver imagens de viol�ncia com seu filho e consigo pr�prio. E n�o sabia como fazer as coisas melhorarem.
"Eu dizia para a minha esposa que era o fim da nossa vida", relembra. "Tudo o que eu conseguia visualizar era o ciclo de desespero que seriam as nossas vidas."
No seu trabalho como m�dico, Levine examinava as m�es para diagnosticar poss�veis casos de depress�o p�s-parto (DPP), uma doen�a depressiva que aparece no primeiro ano depois de dar � luz. Ela � normalmente considerada uma condi��o feminina. Mas poderia ocorrer tamb�m com os pais?
Levine nunca havia ouvido falar nisso e n�o era o �nico. A DPP � uma condi��o de sa�de mental que pode fazer com que as m�es e os pais se sintam mal permanentemente, ap�ticos ou at� com pensamentos suicidas no primeiro ano ap�s o parto.
� um fen�meno bem conhecido entre as mulheres, embora ainda permane�a subdiagnosticado em todo o mundo e nem sempre seja adequadamente tratado, o que �s vezes traz consequ�ncias tr�gicas. O que � menos conhecido, mesmo entre os m�dicos, � que os homens tamb�m podem ter depress�o p�s-parto.
Muitos dos recursos que podem ajudar no diagn�stico e tratamento da DPP (que v�o desde os question�rios de diagn�stico usados pelos m�dicos at� as redes de apoio, como grupos de pessoas) foram estabelecidos para as mulheres. Mesmo os sintomas normalmente associados � depress�o p�s-parto costumam referir-se mais �s mulheres do que aos homens.
Acrescente-se a isso a estigmatiza��o que os homens podem sentir ao expressar problemas de sa�de mental e os especialistas afirmar�o que n�o s�o apenas as m�es que estamos deixando de diagnosticar com DPP. Milh�es de pais deprimidos podem tamb�m estar desamparados.

A vida muda dramaticamente quando nasce um novo beb�, mas a maioria dos homens n�o recebe as ferramentas, os recursos ou o reconhecimento necess�rio para lidar com essa transi��o
Getty ImagesDoen�a escondida
"Embora tenha aumentado a circula��o de informa��es sobre as doen�as mentais, como a depress�o p�s-parto nas mulheres, � fato que ela tem sido muito menos reconhecida nos homens", afirma Grant Blashki, consultor cl�nico da organiza��o australiana de sa�de mental Beyond Blue.
Ainda assim, estima-se que cerca de 10% dos pais sofram depress�o no primeiro ano ap�s o nascimento do beb�, o que � o dobro da incid�ncia dessa condi��o na popula��o geral masculina. E h� pesquisas que indicam que 10% talvez seja muito pouco. No per�odo de tr�s a seis meses ap�s o parto, cerca de um em cada quatro pais exibe sintomas de depress�o.
Muitos pais tamb�m sofrem de ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e estresse p�s-traum�tico, segundo Daniel Singley, psic�logo em San Diego, na Calif�rnia (Estados Unidos), especializado em problemas masculinos. Mas relativamente poucos desses homens expressar�o seus problemas (ou mesmo acreditar�o que t�m um problema, para come�ar).
"Na minha experi�ncia, � interessante que, mesmo entre pessoas com boa escolariza��o ou profissionais de sa�de, ainda haja alto n�vel de estigmatiza��o sobre os problemas de sa�de mental entre os homens", afirma Grant Blashki. "E isso pode resultar em nega��o, baixa procura de ajuda ou na sensa��o de que voc� deveria simplesmente resolver aquilo sozinho."
Geralmente, os homens tendem a evitar cuidados m�dicos, mais do que as mulheres. No Canad�, por exemplo, pesquisadores conclu�ram que cerca de oito em cada dez homens n�o procuram assist�ncia m�dica a menos que suas parceiras os conven�am.
Mas tamb�m existem, em muitos casos, sensa��es de constrangimento ou vergonha por ser um homem (especialmente um pai) com depress�o.
"[Os homens] realmente n�o querem buscar ajuda para a sa�de mental, pois isso � estigmatizado e feminizado. E eles com certeza n�o querem buscar ajuda durante o per�odo perinatal", afirma Singley.
Ele prossegue explicando que, em casais heterossexuais com filhos, a mensagem normalmente recebida pelo pai � de que a gravidez e o parto fazem parte do universo feminino.
Os pais podem ser exclu�dos das consultas pr�-natal, dos cursos ou at� do pr�prio parto. Quando est�o presentes, muitas vezes s�o instru�dos apenas a oferecer apoio, independentemente da ansiedade e do medo que eles tamb�m possam estar sentindo.
Singley ressalta que esse tipo de mensagem ativa o estere�tipo masculino de "prover e proteger", ignorando um elemento fundamental: os pais precisam apoiar as m�es, mas eles tamb�m precisam de apoio.
Como disse um pai aos pesquisadores de um estudo recente no Reino Unido, "olhando em retrospectiva, as institui��es, a fam�lia e eu pr�prio nos concentramos em como eu apoiaria minha esposa e a �nfase era que eu permanecesse forte".
'N�s precisamos ser a rocha'
� claro que existe a press�o dos estere�tipos masculinos. Se os pais devem ser fortes e fornecer apoio, o que acontece com eles se tiverem depress�o?
No mesmo estudo brit�nico, outro participante afirmou que se "sentia um fracasso, n�o um verdadeiro homem". Outro perguntou: "que tipo de homem fica com depress�o depois de ter um beb�?"
E alguns eram ainda mais duros consigo pr�prios sobre receber tratamento. Um homem que recebeu licen�a do trabalho depois de um diagn�stico de problema de sa�de mental afirmou que, quando ficou dif�cil formar uma nova rotina com o beb�, a sua depress�o piorou, "pois eu senti que n�o estava apenas fracassando como pai, mas como marido". J� outros mencionaram preocupa��es com a possibilidade de suas parceiras os deixarem.
"Ainda s�o frequentes muitos mitos sobre problemas de sa�de mental como sinal de fraqueza ou algo que o homem deveria simplesmente poder resolver sozinho", concorda Blashki. "Esse tipo de mito pode ser intensificado pela sensa��o de que o homem deveria ser a parte forte durante essa grande fase de transi��o para a m�e e o beb�."
Levine, por exemplo, s� contou para sua esposa como era forte a sua DPP cerca de um ano mais tarde, quando, depois de conversar sobre DPP com um paciente, que indicou seu nome adiante, foi convidado a compartilhar sua experi�ncia no programa de entrevistas de Charlie Rose, nos Estados Unidos.
"Ela n�o sabia que eu tinha depress�o", relembra. "Ela n�o sabia que eu tinha certos sentimentos com rela��o ao nosso filho. E ela tamb�m n�o sabia que parte da raz�o por que nunca contei a ela foi porque eu achava que cairia no seu conceito."
"Os homens n�o falam sobre seus sentimentos, certo? N�s precisamos ser a rocha para nossas esposas. Eu n�o tinha ningu�m com quem falar sobre isso. E achava sinceramente que, se eu contasse para ela, ela iria me deixar. E a minha esposa � uma pessoa maravilhosa", prossegue Levine.
Universo feminino
Outro obst�culo � o fato de que a depress�o p�s-parto muitas vezes � associada principalmente �s mulheres. Por isso, � menos prov�vel que um homem, ou as pessoas � sua volta, incluindo profissionais m�dicos, reconhe�am os sintomas da DPP.
� verdade que quem d� � luz tem mais possibilidade de ter depress�o no per�odo p�s-parto que os seus parceiros. Um estudo concluiu que, em m�dia, cerca de 24% das m�es t�m depress�o, contra 10% dos pais. E tamb�m � verdade que parte dos motivos da DPP das m�es s�o as mudan�as hormonais no c�rebro que acontecem ao dar � luz.
Os sintomas tamb�m tendem a ser diferentes nos homens e nas mulheres. Enquanto a imagem comum da DPP pode ser uma m�e chorosa e incapaz de sair da cama, os pais com DPP s�o mais propensos a adotar comportamentos de fuga: aumentar a carga de trabalho, por exemplo, ou passar mais tempo ao telefone. E eles est�o mais sujeitos a abusar de subst�ncias ou do �lcool e a ser indecisos, irrit�veis ou autocr�ticos.
"�s vezes, [os homens] mostram o que chamamos de 'apresenta��o depressiva masculina mascarada', que parece um pouco diferente da forma t�pica em que pensamos sobre a depress�o", afirma Singley. "Pode haver tend�ncia � somatiza��o", que � a presen�a de sintomas cl�nicos em vez de emocionais, como dores de est�mago ou enxaquecas.
Algumas pessoas afirmam que os pais n�o est�o sofrendo DPP "real", mas sim depress�o gen�rica, um pensamento exacerbado pelo fato de que os pais s�o mais propensos � depress�o p�s-parto se j� tiverem sofrido depress�o anteriormente.
Quando se diz aos homens que eles precisam ser a 'rocha', suas pr�prias dificuldades muitas vezes s�o ignoradas ou minimizadas
Embora haja alguma verdade nisso, � algo enganoso, segundo Michael Wells, professor do Departamento de Sa�de da Mulher e da Crian�a do Instituto Karolinska em Estocolmo, na Su�cia, e pesquisador de sa�de p�s-parto e DPP masculina.
Na verdade, n�o s� os pais s�o mais propensos � depress�o p�s-parto se tiverem sofrido depress�o no passado, mas tamb�m as m�es. "N�o s�o s� os horm�nios", afirma Wells.
Al�m disso, pesquisas recentes conclu�ram que os horm�nios dos pais tamb�m se alteram desde o per�odo pr�-natal. Os n�veis de testosterona dos pais caem durante a gravidez da parceira, por exemplo, enquanto o estrog�nio aumenta mais para o final da gesta��o. E existem evid�ncias de que a DPP paterna possa estar relacionada com essas altera��es.
Causas psicol�gicas � parte, m�es e pais comprometidos enfrentam uma s�rie de mudan�as depois que o beb� nasce.
"O ajuste ao novo beb�, mudan�as no relacionamento, mudan�as na vida sexual do casal, novas responsabilidades, lidar com o estresse do parceiro e press�es financeiras", afirma Blashki. "Pode ser, de forma mais geral, uma �poca de reflex�o sobre a identidade da pessoa e muitos homens podem ficar preocupados com a responsabilidade necess�ria para cuidar de um beb�."
Fatores de risco espec�ficos podem tamb�m fazer com que alguns pais sejam mais propensos � DPP. Um deles � a sa�de mental da parceira. O risco de o pai desenvolver depress�o p�s-parto � mais de cinco vezes maior se a m�e tiver DPP (e, se o pai tiver DPP, a m�e tamb�m � mais propensa a desenvolver a condi��o).
Outros fatores de risco incluem a falta de estabilidade no emprego, gravidez n�o planejada, baixa satisfa��o no relacionamento, falta de informa��o sobre a gravidez e o parto, pouco apoio social, falta de sono e expectativas irreais da paternidade.
� interessante observar que n�s associamos a DPP aos pais novos, mas a pesquisa desenvolvida por Wells e seus colaboradores concluiu que n�o s�o apenas os pais de primeira viagem que apresentam risco de depress�o p�s-parto. Muitos pais com outros filhos tamb�m desenvolvem DPP.
O fato de que mesmo algu�m como Levine, que tinha um emprego e um casamento est�veis, nenhum hist�rico de problemas de sa�de mental e pleno conhecimento m�dico sobre a gravidez e os beb�s, pudesse ter DPP t�o r�pida e profundamente demonstra que essa condi��o pode afetar qualquer pessoa.
De sua parte, Levine acredita que sua DPP tenha sido exacerbada por n�o compreender totalmente como pode ser dif�cil ser pai, ou qual era o comportamento normal dos rec�m-nascidos. Ele n�o percebeu que muitos beb�s simplesmente acordam com frequ�ncia ou choram muito. E achava que a culpa era dele pr�prio.
'Minha personalidade mudou'
Isso soa muito familiar para Mark Williams, do grupo de apoio brit�nico Fathers Reaching Out.
Quando seu beb� nasceu, em 2004, Williams, que mora no Pa�s de Gales, era trabalhador aut�nomo. Ele esperava voltar ao trabalho em duas semanas, mas nada saiu conforme o planejado.
Primeiro, o parto da sua esposa foi traum�tico. "Tive um ataque de p�nico na sala de parto e o m�dico disse que a minha esposa iria para a sala de cirurgia" para uma cesariana n�o programada, segundo ele.
E, enquanto ela estava l�, ningu�m disse a ele o que estava acontecendo. Ele achava que a esposa e o beb� iriam morrer.
Depois desse incidente traum�tico, Williams foi lan�ado aos desafios da vida com um rec�m-nascido, sofrendo ainda a press�o de voltar ao trabalho "sem dinheiro e com a hipoteca para pagar". Sua esposa tamb�m teve forte depress�o p�s-parto.
"Comecei a consumir �lcool e evitar situa��es. Minha personalidade mudou", ele conta. Williams sentia raiva e era agressivo. Certa vez, ele socou o sof� com tanta for�a que quebrou a m�o.
Ele tomou conhecimento da DPP masculina em uma conversa casual com algu�m na academia. A esposa daquela pessoa tamb�m teve DPP e os dois homens acabaram se sentindo deprimidos. Mas, quando Williams procurou saber quais tipos de grupos existiam para os pais, como havia para as m�es, ele voltou com as m�os vazias.
Ao longo dos anos, ele conseguiu superar sua depress�o com terapia cognitivo-comportamental, medica��o e mais apoio. Williams tamb�m recebeu diagn�stico de transtorno de d�ficit de aten��o e hiperatividade (TDAH).
Mas ele queria ter certeza de que, se outros pais superassem a estigmatiza��o da DPP masculina e pedissem ajuda, eles poderiam encontr�-la. "N�o havia nada para eles. Ningu�m realmente falava sobre aquilo", ele conta.
Em 2010, Williams lan�ou a Fathers Reaching Out, para conectar os pais e oferecer apoio e aconselhamento sobre sa�de mental. Essa organiza��o se dissolveu posteriormente por "falta de financiamento", segundo Williams.
Ele rapidamente ouviu n�o apenas os pais, mas tamb�m suas parceiras. "As m�es diziam 'meu marido est� com muitas dificuldades, seu comportamento mudou desde a gravidez e o nascimento do beb�'", ele conta.
Williams dedicou-se n�o s� a apoiar outros pais, mas tamb�m ao ativismo. Ele d� palestras, trabalha com acad�micos, escreveu um livro, criou o Dia Internacional da Sa�de Mental dos Pais e fez lobby junto ao governo brit�nico para que oferecesse an�lises de sa�de mental aos pais se a parceira sofresse de alguma condi��o de sa�de mental, com sucesso.
A consci�ncia sobre a sa�de mental em geral e a DPP masculina em particular aumentou, segundo Williams, mas n�o o suficiente. "Melhorou muito, mas ainda falta muito reconhecimento", afirma ele.
"As orienta��es NICE [as recomenda��es nacionais de sa�de e assist�ncia da Inglaterra] n�o mencionam os pais. A OMS s� tem informa��es sobre as m�es, n�o sobre os pais. � preciso um grande impulso nacional, ou que alguma celebridade venha e realmente leve isso adiante", segundo Williams.
Michael Wells destaca outro problema, que � o fato de que, como a DPP foi considerada um transtorno de sa�de mental das mulheres por muito tempo, as ferramentas de diagn�stico utilizadas pelos profissionais de sa�de (que normalmente consistem em um question�rio a ser preenchido pela paciente durante a consulta) foram idealizadas para as mulheres.
Ou seja, os m�dicos s�o menos propensos a detectar aquelas manifesta��es cruciais de DPP masculina e emitir o diagn�stico correspondente.
E ainda existem profissionais da medicina que pensam que a DPP � um problema s� das mulheres, segundo Wells. Ele conta: "falei [recentemente] com uma enfermeira e perguntei 'voc�s est�o diagnosticando pais?'. Ela respondeu 'n�o, os pais n�o ficam com depress�o'. Para ela, tudo era hormonal e tinha a ver com dar � luz. Por isso, os pais n�o podiam ter."
Como ajudar os pais
N�o buscar ajuda pode ter um alto pre�o. Os homens dos pa�ses ocidentais t�m quatro vezes mais propens�o ao suic�dio que as mulheres (naturalmente, n�o s� devido � DPP).
E existe tamb�m o efeito sobre as fam�lias. Os pais desempenham um papel fundamental no desenvolvimento inicial dos beb�s. Um estudo demonstrou, por exemplo, que, se o pai sofrer de depress�o no primeiro ano de vida de um beb�, a crian�a ter� maior probabilidade de enfrentar mais dificuldades de comportamento, ter desenvolvimento mais fraco e menor bem-estar com quatro ou cinco anos de idade.
Uma solu��o para ajudar no diagn�stico e tratamento da DPP, segundo os especialistas, � a inclus�o dos pais, priorizando sua sa�de mental al�m da sa�de das m�es, desde o princ�pio. Wells, por exemplo, descobriu na sua pesquisa que, quando os pais recebem mais apoio das parteiras, enfermeiras e das suas parceiras, eles t�m menos possibilidade de desenvolver depress�o.

Desestigmatizar a DPP masculina e o papel do pai em geral pode ajudar os homens a entender que eles precisar�o de apoio e onde procurar por ele
Getty Images"O pai muitas vezes n�o recebe aten��o dos m�dicos ou das enfermeiras", afirma David Levine. "Voc� estabelece essas fam�lias com a ideia de que a m�e � a mais importante e o pai � secund�rio. E isso n�o � verdade."
"Minha esposa n�o sofreu depress�o p�s-parto; eu tive. Mas a minha depress�o p�s-parto poderia ter despertado DPP ou ansiedade nela. Ou, se ela tivesse tido [DPP], haveria 50% de possibilidade que eu tamb�m tivesse. E ningu�m conta essas coisas. Os pediatras, que s�o os �nicos m�dicos que normalmente veem os dois pais a todo momento, n�o est�o diagnosticando essas fam�lias", prossegue ele.
Daniel Singley acrescenta que tamb�m � importante deixar claro para os pais que eles precisar�o de apoio. Esse apoio pode ser algo como procurar amigos que s�o pais. Ou podem ser grupos de pais, onde os homens se re�nem para falar sobre os desafios da paternidade.
Al�m das comunidades presenciais, esses grupos tamb�m podem reunir-se online, como fazem os grupos organizados pela Postpartum Support International, norte-americana, ou pelo grupo de apoio brit�nico Pandas.
Mas tamb�m � preciso que os homens se abram. Somente falando sobre os problemas de sa�de mental poderemos desestigmatiz�-los, ajudando a garantir que os homens consigam ajuda quando precisarem.
Todos os especialistas est�o de acordo neste ponto: Levine, Singley, Wells e outros. E eles acrescentam que o aumento da licen�a-paternidade e mudan�as da cultura do ambiente de trabalho, para que passe a aprovar e n�o estigmatizar os pais que tirarem licen�a-paternidade, tamb�m fariam diferen�a.
Os pais podem n�o precisar se recuperar fisicamente do parto como as m�es, mas tamb�m precisam de tempo para ajustar-se. E a licen�a-paternidade pode tamb�m permitir que os pais se sintam mais empoderados e comprometidos, o que pode proteg�-los contra a depress�o p�s-parto.
Quando o filho de David Levine completou tr�s meses de idade, ele tirou licen�a-paternidade.
"Foram tr�s semanas e meia em casa com ele que me causaram imenso impacto, pois eu era seu �nico cuidador, era respons�vel por ele e ganhei confian�a nas minhas habilidades como pai", relembra ele.
"Eu precisava aliment�-lo e vesti-lo, lev�-lo no carro para encontrar minha esposa na cidade, ir � casa dos meus pais ou visitar um amigo para almo�ar. Comecei a perceber que eu conseguia fazer essas coisas. E isso trouxe um grande impacto para a minha autoestima", ele conta.
Rejeitando a 'Grande Mentira'
Levine afirma que, de forma geral, as pessoas tamb�m precisam ser mais honestas sobre a paternidade.
Ele fala frequentemente �s pessoas sobre o que ele chama de "a Grande Mentira": a ideia de que voc� pode ter tudo. Voc� pode trabalhar em tempo integral, ser pai em tempo integral e tudo parecer� como nas imagens brilhantes de quartos de beb� perfeitos e filhos sorrindo que voc� v� nas redes sociais.
As pessoas muitas vezes pensam nisso sobre as m�es. Mas tamb�m pode ocorrer com os homens, que podem ainda sofrer a press�o de g�nero para prover financeiramente suas fam�lias.
"Por isso, quando as coisas n�o parecem sair como voc� achava que deveriam parecer, voc� problematiza isso e diz 'devo ser eu. Eu devo estar estragando tudo. Porque vi pessoas lidando com isso a vida inteira'", explica ele. "N�o deve ser motivo de vergonha dizer apenas 'sim, ser pai � dif�cil. Ser pai � divertido. Mas ser pai � dif�cil, especialmente no come�o."
Para Levine, o medo de admitir que ele tinha problemas fez com que precisasse de mais algumas semanas, e incentivo da sua esposa, para buscar ajuda.
Ele falou com uma terapeuta na empresa onde trabalhava. Ela era especialista em depress�o p�s-parto e compreendia que os homens podiam ter DPP, mas nunca havia sido procurada antes por um paciente homem.
Levine come�ou a fazer terapia cognitivo-comportamental. E, com a ajuda de uma enfermeira para o beb� � noite, ele come�ou a dormir melhor.
Mas ele acrescenta que nem tudo eram flores. Quando seu segundo filho nasceu, quatro anos depois, Levine teve DPP novamente. Mas, desta vez, ele reconheceu os sintomas.
Ocupando a diretoria de uma organiza��o chamada Postnatal Support International desde 2018, da qual ser� vice-presidente a partir de julho, Levine ir� falar sobre DPP masculina na conven��o deste ano da Academia Norte-Americana de Pediatria.
Ele conta sua experi�ncia a todos os pais que chegam com um novo beb�. Sua miss�o � desestigmatizar a DPP masculina.
Levine ainda sabe que tudo poderia ter sido muito diferente.
"Quando passei por isso, se n�o fosse pediatra, se n�o tivesse o trabalho que eu tinha, � poss�vel que eu n�o estivesse agora falando com voc�", relata ele. "Porque algo realmente terr�vel poderia ter acontecido."
Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) na se��o Family Tree do site BBC Worklife.
Onde buscar ajuda?
- Centros de Aten��o Psicossocial (CAPS) e Unidades B�sicas de Sa�de (UBS) — cl�nicas da fam�lia, postos e centros de sa�de;
- Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h);
- Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (SAMU 192);
- Hospitais;
- Prontos-socorros;
Apoio emocional e preven��o ao suic�dio:
- Centro de Valoriza��o da Vida (CVV) — funciona 24 horas por dia pelo telefone 188 (liga��o gratuita de qualquer linha telef�nica fixa ou celular), e tamb�m atende por e-mail e pessoalmente (confira no site do projeto).
- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-61753907
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