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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Vi�s de negatividade: por que os efeitos das cr�ticas duram muito mais do que os dos elogios

A maioria de n�s est� sujeita a insultos e coment�rios sarc�sticos no dia a dia %u2014 mas n�o fomos feitos para lidar com um fluxo constante de cr�ticas.


24/07/2022 07:39 - atualizado 24/07/2022 10:51


Homem triste e mulher alegre sentados em um banco
(foto: Getty Images)

Na inf�ncia, muitas vezes somos ensinados a usar a express�o "o que vem de baixo n�o me atinge", quando ouvimos um insulto.

Mas, com a experi�ncia, os adultos entendem que este velho ditado est� longe de ser verdade.

Enquanto les�es f�sicas podem levar semanas para cicatrizar, coment�rios negativos podem deixar cicatrizes para o resto da vida.

Seja uma cr�tica feita serenamente por um professor na sala de aula ou um coment�rio cruel disparado no calor de uma discuss�o por um amigo ou namorado, tendemos a lembrar muito melhor das cr�ticas do que dos coment�rios positivos.

E isso se deve a um fen�meno chamado vi�s da negatividade.


Discussão de trabalho durante reunião
Os insultos e as cr�ticas negativas podem ficar conosco por muito mais tempo do que os coment�rios positivos (foto: Getty Images)

Na verdade, uma s�rie de efeitos complexos pode ser explicada por este vi�s, que � a tend�ncia universal das emo��es negativas nos afetarem com mais for�a do que as positivas.

Isso nos faz prestar aten��o especial �s amea�as e exagerar os perigos, de acordo com Roy Baumeister, psic�logo social da Universidade de Queensland, na Austr�lia, e coautor do livro The Power of Bad: And How to Overcome It.

Embora focar no lado mais sombrio do mundo que nos rodeia possa parecer uma perspectiva deprimente, isso ajudou os seres humanos a superar tudo, desde desastres naturais a pragas e guerras, deixando-os mais bem preparados para lidar com estes eventos (embora haja evid�ncias de que o otimismo tamb�m possa ajudar a nos proteger de situa��es extremas).


Imagem do cérebro em computador
(foto: Getty Images)

O c�rebro humano evoluiu para proteger nossos corpos e nos manter vivos — e possui tr�s sistemas de alerta para lidar com novos perigos.

H� o antigo sistema de g�nglios basais que controla nossa resposta de luta ou fuga; o sistema l�mbico que desencadeia emo��es em resposta a amea�as para nos ajudar a entender os perigos; e o c�rtex pr�-frontal mais moderno, que nos permite pensar logicamente diante de amea�as.

"Nossos ancestrais que tinham esse vi�s [negativo] eram mais propensos a sobreviver", diz Baumeister.

Os seres humanos s�o programados para procurar amea�as e, com apenas oito meses, os beb�s se viram com mais urg�ncia para olhar a imagem de uma cobra do que de um sapo mais amig�vel.


Pirulitos coloridos com carinhas que representam diferentes expressões
(foto: Getty Images)

Aos cinco anos, eles aprendem a priorizar uma cara de raiva ou medo, em vez de uma feliz.

Baumeister diz que focar primeiro nos problemas pode ser uma boa estrat�gia. "Primeiro, se livre dos (aspectos) negativos e resolva os problemas. Essencialmente, estanque a hemorragia."

Mas, embora focar no lado ruim possa nos manter seguros em situa��es extremas, o vi�s da negatividade pode se provar in�til no dia a dia. Baumeister acredita que at� que aprendamos a superar o impacto desproporcional do negativo, ele distorce nossa vis�o de mundo e como reagimos a ele.

Por exemplo, a vida tende a parecer sombria ao folhearmos as p�ginas de um jornal. Os jornalistas s�o frequentemente acusados %u200B%u200Bde buscar m�s not�cias, uma vez que as mesmas vendem jornais e atraem os espectadores.


Homem lendo jornal
(foto: Getty Images)

Isso pode ser parcialmente verdade. Os pesquisadores mostraram que os leitores s�o naturalmente atra�dos por hist�rias calamitosas e s�o mais propensos a compartilh�-las com outras pessoas.

Rumores sobre perigos potenciais — mesmo que sejam improv�veis — se espalham com muito mais facilidade do que rumores que poderiam ser ben�ficos.

Em um estudo, cientistas da Universidade McGill, no Canad�, usaram a tecnologia de rastreamento ocular para analisar em que not�cias os volunt�rios prestavam mais aten��o.

Descobriram que os participantes geralmente escolhiam hist�rias sobre corrup��o, reveses, hipocrisia e outras m�s not�cias, em vez de hist�rias positivas ou neutras.

As pessoas que estavam mais interessadas em temas da atualidade e pol�tica eram particularmente propensas a escolher not�cias ruins — mas, quando perguntadas, diziam que preferiam as not�cias boas.

O que lemos e assistimos no notici�rio pode aumentar nossos medos.

Por exemplo, nosso medo do terrorismo � pronunciado mesmo que o n�mero de pessoas mortas por grupos terroristas nos �ltimos 20 anos nos EUA seja menor do que o n�mero de americanos que morreram em suas banheiras durante o mesmo per�odo, explica Baumeister em seu livro.


Pessoas olhando capas de diferentes jornais
(foto: Getty Images)

Embora a preocupa��o com uma situa��o hipot�tica, mas horr�vel, possa nos deixar com medo, uma pequena experi�ncia ruim pode ter um impacto desproporcional em todo o nosso dia.

Efeito duradouro da cr�tica

Randy Larsen, professor de ci�ncias psicol�gicas e cerebrais da Universidade de Washington em St Louis, nos EUA, revisou evid�ncias sugerindo que as emo��es negativas duram mais do que as felizes.

Ele descobriu que tendemos a passar mais tempo pensando em eventos ruins do que bons, o que talvez ajude a explicar por que momentos embara�osos ou coment�rios cr�ticos podem nos assombrar por anos.

Pode ser dif�cil n�o remoer coment�rios ofensivos de um namorado, parente ou amigo. "Acho que os coment�rios negativos das pessoas que amamos e confiamos t�m mais impacto do que de estranhos", diz Baumeister.

Isso acontece em parte porque temos expectativas de como nossos amigos e familiares devem se comportar conosco.

Em alguns casos, coment�rios negativos de pessoas que amamos podem provocar feridas mentais duradouras e ressentimentos que podem levar ao rompimento de relacionamentos.


Felix Baumgartner
Felix Baumgartner, o primeiro paraquedista a romper a barreira do som (foto: Getty Images)

Pesquisadores da Universidade de Kentucky, nos EUA, descobriram que as rela��es raramente se salvam quando os parceiros ignoram os problemas da rela��o para permanecer "passivamente leais".

"N�o s�o tanto as coisas boas e construtivas que os parceiros fazem ou deixam de fazer um pelo outro que determinam se um relacionamento funciona, mas sim as coisas destrutivas que fazem ou deixam de fazer em rea��o aos problemas", afirmaram.

Outro estudo, que acompanhou casais por mais de 10 anos, mostrou que o grau com que expressavam sentimentos negativos um pelo outro nos dois primeiros anos de casamento previa se iriam se separar — com n�veis de negatividade mais altos entre os casais que se divorciavam.

O vi�s da negatividade explica por que muitos de n�s podemos ser culpados por dar como garantidos nossos relacionamentos quando est�o indo bem — mas rapidamente perceber imperfei��es e inclusive transformar quest�es menores em problemas maiores.


Paraquedista Felix Baumgartner
Felix Baumgartner usou t�cnicas de visualiza��o para ajudar a minimizar pensamentos negativos durante salto da estratosfera em que bateu recorde (foto: Getty Images)

As cr�ticas tamb�m s�o amplificadas quando chegam em grandes quantidades, tornando as redes sociais uma potencial c�mara de eco da negatividade.

Apesar de ser autora do �lbum mais vendido de 2019, a cantora Billie Eilish contou ao programa Breakfast, da BBC, que evita olhar os coment�rios.

"Estava arruinando minha vida", disse ela. "Quanto mais legais as coisas que voc� faz, mais as pessoas te odeiam. � uma loucura. Est� pior do que nunca."

A estrela pop Dua Lipa e Nicola Roberts, ex-integrante do grupo Girls Aloud, s�o outros exemplos de celebridades que falaram sobre o impacto da chamada trollagem.

Baumeister afirma que n�o temos a capacidade de lidar com a negatividade nas redes sociais, porque nosso c�rebro evoluiu para prestar aten��o e nos advertir sobre uma comunidade pr�xima de ca�adores-coletores, em vez de centenas ou milhares de estranhos.

"Ent�o, ouvir coisas negativas de um grande n�mero de pessoas tem que ser devastador", diz ele.

� claro que o impacto de ser trollado online ou criticado por um amigo varia de pessoa para pessoa.


Billie Eilish
Billie Eilish prefere n�o olhar os coment�rios nas redes sociais (foto: Getty Images)

Efeitos f�sicos de coment�rios negativos

Mas receber, internalizar e refor�ar quaisquer coment�rios negativos pode aumentar o estresse, a ansiedade, a frustra��o e a preocupa��o, observa Lucia Macchia, cientista comportamental e pesquisadora visitante da Universidade London School of Economics (LSE), no Reino Unido.

"Lidar com estas emo��es negativas tem um grande impacto no nosso corpo, j� que podem at� criar e exacerbar a dor f�sica", acrescenta.

Dezenas de estudos mostram, no entanto, que as pessoas tendem a olhar para o lado positivo � medida que envelhecem.

Os cientistas se referem a este efeito como "vi�s da positividade" — e acreditam que come�amos a lembrar mais de detalhes positivos do que de informa��es negativas a partir da meia-idade.

Baumeister acredita que isso acontece porque precisamos aprender com os fracassos e as cr�ticas na juventude, mas esta necessidade diminui � medida que envelhecemos.

No entanto, os coment�rios negativos podem ser prejudiciais em qualquer idade, especialmente em momentos em que estamos particularmente sugestion�veis %u200B%u200Bou vulner�veis.

"Quando voc� j� est� deprimido, � mais dif�cil se recuperar, ent�o pode n�o ser um bom momento para ouvir coment�rios negativos", diz Baumeister.


Idosas fazendo pose felizes ao lado de estátua
(foto: Getty Images)

Como se proteger dos impactos negativos das cr�ticas

Um tema altamente debatido � se pessoas com certos tipo de personalidade s�o mais propensas � negatividade do que outras.

Mas um estudo recente n�o encontrou "evid�ncias consistentes" da rela��o entre os tra�os de personalidade ou ideologia pol�tica de algu�m e o vi�s da negatividade.

"Todos n�s somos sens�veis a coment�rios negativos no sentido de que n�o h� tra�os de personalidade 'mais fortes'. Lembrar que todo mundo recebe coment�rios negativos pode nos ajudar a lidar com eles... e pode ser uma boa estrat�gia para proteger nossa pr�pria sa�de mental", ela acrescenta.

"Outra estrat�gia �til poderia ser considerar que os coment�rios est�o mais ligados � pessoa que os faz do que a quem os recebe."

Ao reconhecer o vi�s da negatividade, podemos anular as respostas indesej�veis %u200B%u200Be at� aproveitar seus benef�cios.


Dua Lipa
A cantora Dua Lipa tamb�m se manifestou sobre a negatividade nas redes sociais (foto: Getty Images)

Por exemplo, Shelley Taylor, professora de psicologia social da Universidade da Calif�rnia em Los Angeles (UCLA), nos EUA, mostrou que mulheres com c�ncer de mama �s vezes criam cren�as otimistas, mas pouco realistas, para ajud�-las a lidar com a situa��o.

Estas "ilus�es positivas" est�o associadas a benef�cios para a sa�de mental e f�sica, sugerindo que podem ajudar a nos centrar em momentos de necessidade.

O trabalho de Taylor tamb�m lan�ou luz sobre uma resposta comumente usada diante da negatividade, chamada de minimiza��o, que � nossa capacidade de "atenuar, minimizar e at� apagar o impacto desse evento".

Por exemplo, as pacientes com c�ncer no estudo de Taylor �s vezes se comparavam a mulheres que estavam em situa��o pior do que a delas, para fazer com que seu problema parecesse menor.

O paraquedista Felix Baumgartner, destemido profissional, pode n�o ser algu�m que voc� imagine que precisaria usar t�cnicas de minimiza��o para enfrentar seus medos.

Mas Michael Gervais, psic�logo que trabalha com atletas ol�mpicos, recorreu a estas t�cnicas para ajudar Baumgartner a alcan�ar seu objetivo de se tornar o primeiro paraquedista a romper a barreira do som.


Pedestres caminhando rápido
(foto: Getty Images)

De acordo com entrevistas que concedeu, Baumgartner tinha medo de ficar preso em seu traje especialmente confeccionado.

Em vez de v�-lo negativamente como uma pris�o em potencial, Gervais o ensinou a visualizar como o traje poderia transform�-lo em um super-her�i, ampliando os benef�cios e diminuindo as desvantagens.

Usando uma combina��o de t�cnicas de respira��o e uma forma de terapia cognitivo-comportamental (TCC), Baumgartner conseguiu cumprir seu objetivo e se tornar o "Fearless Felix", o "Destemido Felix".

Poucos de n�s compartilhar�o as grandes ambi��es de Baumgartner, mas todos n�s podemos aprender com ele.

Ao anular o negativo e acentuar o positivo, podemos ter mais chances de alcan�ar nossos sonhos.

Esta mat�ria foi originalmente publicada em https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-62037524

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.

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