Depress�o ou transtorno bipolar? Quais sinais diferenciam um do outro?
Caracter�sticas similares entre as duas patologias dificultam o diagn�stico. No Brasil, 6 milh�es de pessoas s�o bipolares, segundo dado da ABP
O transtorno bipolar � comumente confundido com depress�o
�ngel L�pez/Unsplash
Epis�dios de depress�o que iniciam ainda na adolesc�ncia, hist�rico de transtornos de humor na fam�lia, per�odos de altera��o do sono, al�m de instabilidade de humor s�o apenas alguns dos 16 poss�veis sinais de quem sofre de transtorno bipolar. Segundo dados da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS), estima-se que 140 milh�es de pessoas sofram com a doen�a no mundo. J� no Brasil, esse n�mero chega a 6 milh�es, segundo levantamento da Associa��o Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Mas para o psiquiatra Renato Silva, especializado em bipolaridade e depress�o, a maioria dos pacientes ainda n�o conta com um diagn�stico conclusivo, uma vez que o transtorno bipolar � comumente confundido com depress�o. "� realmente uma an�lise desafiadora, tanto para os pacientes como para os profissionais. Mas existem caracter�sticas que, somadas, podem ajudar a identificar a bipolaridade com mais precis�o", assegura.
De 10 a 18 anos para identificar o transtorno bipolar
Renato Silva alerta que a dificuldade em fazer um diagn�stico preciso ocorre porque as caracter�sticas dos transtornos bipolares s�o muito semelhantes � de outros transtornos. "O caminho entre a procura de um m�dico e o diagn�stico correto demora, em m�dia, de nove a 10 anos para identificar um transtorno bipolar do tipo 1 e algo entre 13 e 18 anos para diagnosticar transtorno do tipo 2", enfatiza o m�dico.
Psiquiatra Renato Silva alerta que � uma an�lise desafiadora, tanto para os pacientes como para os profissionais, identificar a bipolaridade. Mas h� caracter�sticas que, somadas, ajudam na precis�o do diagn�stico
Arquivo pessoal
O psiquiatra explica ainda que o transtorno bipolar � marcado pela altern�ncia entre epis�dios de mania, que s�o per�odos com aumento da atividade ps�quica e f�sica, onde a pessoa fica mais impulsiva, irritada ou at� mesmo intensamente agitada e per�odos de depress�o.
“Na maioria das vezes, quem sofre de bipolaridade passa a maior parte do tempo tamb�m deprimido e, em alguns per�odos, em fase de ativa��o. Isso faz com quem seja comum confundir os diagn�sticos. Um estudo feito na Austr�lia revelou que 48% das pessoas depressivas tamb�m t�m transtorno bipolar. Ent�o, � preciso que o m�dico estude todo o hist�rico do quadro de depress�o do paciente para ver se existem caracter�sticas de bipolaridade”, acrescenta Renato Silva.
CID E DSM n�o s�o suficientes para fechar diagn�stico
Para identificar o transtorno bipolar, os especialistas, geralmente, utilizam manuais internacionais de classifica��o diagn�stica, como o CID e o DSM, que apontam uma lista de sintomas que podem ajudar na an�lise. Mas Silva afirma que os dois manuais n�o s�o suficientes. “O objetivo do CID e do DSM � uniformizar os diagn�sticos entre os profissionais do mundo inteiro. Existem outras caracter�sticas que o m�dico precisa analisar efetivamente. A realidade e as nuances de vida de cada pessoa v�o ajudar a ser mais assertivo na identifica��o da bipolaridade”, esclarece.
Para auxiliar os especialistas nesta busca por um diagn�stico mais preciso, Renato Silva apresenta 16 caracter�sticas que devem ser analisadas quando o transtorno bipolar � levado em considera��o.
“Obviamente, nenhuma dessas caracter�sticas define bipolaridade. � preciso uma soma de fatores. Se a pessoa apresentar um ou dois desses comportamentos, n�o significa que ela tem bipolaridade. Agora, se ela tiver mais de cinco, as chances de se chegar a esse diagn�stico s�o maiores”, afirma.
O psiquiatra ainda ressalta que o pr�prio paciente depressivo pode analisar essas caracter�sticas e procurar um profissional se identificar muitos comportamentos.
Caracter�sticas que podem indicar transtorno bipolar
Quadros de depress�o antes dos 20 anos de idade;
Depress�o psic�tica antes dos 25 anos de idade, ou seja, com sintomas psic�ticos (alucina��es, quebra de realidade do pensamento como achar que est� sendo perseguido)
Perda de efic�cia do tratamento de depress�o ou necessidade de alterar medica��o antidepressiva mais de tr�s vezes
Depress�o recorrente: mais de cinco epis�dios de depress�o
Depress�o p�s-parto: 50% das mulheres bipolares v�o deprimir no p�s-parto
Epis�dios depressivos muito curtos
Quando a pessoa tem depress�o que afeta os movimentos: retardo psicomotor (lentid�o para falar, se mover etc.)
Hipersonia: dormir por mais de 10 horas
Sazonalidade: deprime sempre na mesma �poca do ano. Depress�o sempre no inverno, por exemplo
Hist�rico familiar de bipolaridade: tem diagn�stico de bipolaridade ou marcadores como suic�dio, etilismo (principalmente em mulheres), depress�o recorrente em parentes de primeiro grau
Alta densidade gen�tica: tr�s ou quatro gera��es com transtorno de humor
Oscila��o de humor
Temperamento hipert�mico: uma personalidade caracterizada por boa disposi��o
Hipomania com antidepressivo: a pessoa apresenta energia em excesso, impaci�ncia, agita��o e impulsividade mesmo se tratando com antidepressivo
Estado depressivo misto: humor est� para baixo, mas atividade motora est� agitada
Excita��o sexual durante epis�dio depressivo.
Combate ao preconceito
Outra pondera��o que o psiquiatra faz tem rela��o com o estigma da bipolaridade: “O preconceito s� est� na cabe�a das pessoas. Cada paciente tem a sua bipolaridade. Ser diferente, � ser diverso. Dar o diagn�stico � essencial para que o paciente tome as r�deas da sua vida. Temos muitas op��es de tratamento para conseguir estabilizar os sintomas. E a maior parte do tratamento � a pr�pria pessoa que faz. Sono importa muito, por exemplo. A partir desse conhecimento a pessoa busca solu��o”, finaliza Renato Silva, que � formado pela Universidade Federal de Uberl�ndia (2011), com resid�ncia em psiquiatria pela Universidade de S�o Paulo (USP).
*Para comentar, fa�a seu login ou assine