Atividades f�sicas: � importante evitar a sobrecarga
�s vezes os pais projetam nos filhos algum desejo de que eles sejam atletas, o que em alguns casos pode contribuir para interromper uma carreira promissora
O ideal � que o trabalho de um ortopedista seja sempre preventivo para evitar desgastes precoces, especialmente nas articula��es. Segundo o ortopedista Wagner Vieira da Fonseca, especialista em p�s e tornozelos, o desejo dos pais em ter um filho atleta, �s vezes, fala mais alto do que a preocupa��o com a avalia��o preventiva.
“Este � um desejo de todos os pais, mas a maioria se esquece de preparar o filho para a sobrecarga de atividades esportivas que vir�o pela frente. � muito frequente que crian�as e adolescentes precisem interromper carreiras promissoras no campo esportivo porque t�m uma pisada para fora (pisada supinada) ou muito para dentro (pisada pronada) e que, a longo prazo, vai sobrecarregar os tend�es laterais ou internos dos tornozelos e levar a les�es que v�o afetar todo o futuro, n�o s� do esporte, mas tamb�m no dia a dia”, afirma Wagner.
J� na vida adulta, o m�dico explica que as les�es degenerativas v�o ocorrer mesmo naqueles que n�o s�o atletas. Geralmente, a caminhada � o in�cio da atividade esportiva de muitas pessoas e, inclusive, � recomend�vel para manter o aparelho cardiovascular funcionando bem. A partir da�, come�a-se um trote, ou corrida leve e os impactos articulares v�o aumentando.
“Depois come�am as les�es tendinosas, como, por exemplo a do tend�o calc�neo, tamb�m conhecido como tend�o de Aquiles. O ideal ent�o � que um ortopedista fa�a uma avalia��o se h� algum fator predisponente para que este tend�o tenha algum problema e, posteriormente, que se fa�a a corre��o, seja com palmilhas, exerc�cios e at� mesmo alguma cirurgia caso haja algum fator mais complexo”, esclarece o especialista.
"� preciso aprender a gostar de gin�stica. Escolha a que mais se adeque aos seus gostos, hoje temos op��es muito boas e baratas"
Wagner Vieira da Fonseca, ortopedista
“O termo cirurgia muitas vezes assusta a todos, mas h� algumas altera��es anat�micas que v�o refletir em sequelas graves futuras e estas, �s vezes, s�o necess�rias profilaticamente”, complementa.
Ap�s os 50 anos, o m�dico enfatiza a import�ncia da avalia��o e acompanhamento das degenera��es do corpo. Segundo ele, as cartilagens articulares - especialmente de joelhos, coluna e tornozelos -, muitas vezes precisar�o de procedimentos como infiltra��es de �cido hialur�nico, e corre��es preventivas de pisada, para prevenir as deformidades que v�o ocorrendo com a idade.
“Outro aspecto fundamental � em rela��o aos cuidados da coluna: na inf�ncia a m� postura de assentar e os encurtamentos musculares que levam � m� postura, v�o levar a sequelas como cifose, escoliose e que na vida adulta ser�o fonte de dores e de m� qualidade de vida constante. E na vida adulta, o cuidado com o sobrepeso e com as atividades muito extenuantes para o f�sico � muito importante, pois isso vai levar a sequelas e dores constantes”, declara.
O arcabou�o m�sculo-esquel�tico � muito sens�vel e desvios de eixo mec�nico levam a les�es constantes, por isso, sempre que se quer praticar algum esporte, especialmente se n�o est� acostumado, o ideal � recorrer a um ortopedista previamente.
PISADAS
Wagner Vieira da Fonseca
Jair Amaral/EM/D.A Press
Wagner explica que esse eixo mec�nico � o alinhamento do corpo humano. No caso das pisadas, por exemplo, quando se pisa para fora, a mec�nica muda as for�as de compress�o e tens�o do corpo e for�a excessivamente um lado do corpo que acabar� tendo les�o, como no caso da lateral dos tornozelos e nos joelhos.
“Quando pisamos muito para dentro, j� ocorre o inverso e pode-se ter dor na face interna dos p�s e tornozelos, face interna dos joelhos, face lateral dos quadris e coluna lombar. Ent�o, � importante fazer fortalecimento muscular e mudar a forma da pisada”, comenta.
Outro aspecto fundamental de quando buscar o ortopedista � na persist�ncia de dores �sseas, musculares, articulares. A maioria das dores s�o mais simples, de alguma tor��o, muscular, m� postura, mas no caso de dores persistentes, que n�o melhoram, pode ter alguma doen�a oculta por tr�s desta dor, como uma doen�a reum�tica ou at� mesmo um tumor �sseo ou de partes moles, por isso, a avalia��o do ortopedista � fundamental.
“Busque um bom profissional para preven��o para evitar ter que somente curar o que foi estragado. Tamb�m � preciso aprender a gostar de gin�stica. Escolha a que mais se adeque aos seus gostos, hoje temos op��es muito boas e baratas. Voc� pode chegar aos 90 anos viajando, passeando, dan�ando e apreciando a vida ou ent�o visitando m�dicos e hospitais sem parar, sofrendo e sentindo que os anos est�o virando um pesadelo”, salienta o especialista.
� preciso conhecer o pr�prio corpo
Num primeiro momento, as les�es mais comuns s�o relacionadas ao retorno das pr�ticas esportivas, desaten��o ao volume e a intensidade, e uso de equipamentos incorretos, como cal�ados e vestimentas inapropriadas, � o que explica o especialista em ortopedia, traumatologia e medicina do esporte Rodrigo Ot�vio Dias de Ara�jo.
Bruno Vignoli foi diagnosticado com tendinopatia por ter exigido demais do corpo ao fazer crossfit
Arquivo pessoal
O professor de filosofia Bruno Vignoli, de 43 anos, � paciente do Rodrigo e conta que, no CrossFit, esporte que pratica, a maioria das les�es � consequ�ncia de uma execu��o inadequada do exerc�cio e da falta de acompanhamento m�dico. “Acho que qualquer esporte precisa do acompanhamento de um profissional. Se quisermos manter a longevidade no esporte, o desempenho, evitar ou corrigir les�es, � fundamental esse acompanhamento”.
Bruno diz que se apaixonou pelo CrossFit e come�ou a praticar quase todos os dias da semana. “Esse esporte possui uma metodologia muito pr�pria, com movimentos bastante complexos que exigem for�a, uma boa capacidade cardiorrespirat�ria e uma boa estrutura das articula��es. Mas, de uns tempos para c�, eu comecei a sentir muita dor nos ombros e cotovelos”, afirma.
No momento do treino, com o corpo quente, a dor n�o impedia o professor de continuar se exercitando. Mas, � na hora que o corpo esfriava e Vignoli sentia fortes dores fazendo movimentos rotineiros, que ele percebeu a necessidade de procurar ajuda e buscar a origem do problema.
Diferentemente do empres�rio Lucas Lemos, o professor de filosofia conseguiu um diagn�stico, mas n�o precisou de nenhum tratamento invasivo. Bruno foi diagnosticado com tendinopatia – uma classe de doen�as que afetam os tend�es ao longo do corpo – tanto no ombro quanto no cotovelo e uma bursite na fase inicial.
“Meu problema foi consequ�ncia da alta exig�ncia do esporte e do esfor�o que tenho feito. A orienta��o do Rodrigo foi diminuir a intensidade do crossfit por um m�s, n�o praticar movimentos que que requerem levantar o bra�o acima da cabe�a e fazer muscula��o. Junto com isso, procurei um profissional de educa��o f�sica que me ajudou a montar uma ficha espec�fica para fazer um refor�o muscular das �reas lesionadas e continuo tomando os anti-inflamat�rios prescritos pelo m�dico”, diz Bruno.
DESGASTE
De acordo com Rodrigo, os protocolos para tratar traumas e contus�es evolu�ram bastante, por isso, o ideal � olhar caso a caso. “Em rela��o �s terap�uticas mais modernas, o que se tem visto � a utiliza��o de condroprotetores (subst�ncias que visam reduzir o desgaste articular) e viscossuplementa��o, t�cnica que objetiva dar mais sa�de �s cartilagens e articula��es”, explica.
“J� em rela��o �s t�cnicas cir�rgicas, tem se dado cada vez mais import�ncia aos m�todos minimamente invasivos e guiados por ultrassom ou mesmo t�cnicas de cirurgias baseadas na utiliza��o da rob�tica para alguns procedimentos”, completa o especialista.
Com brilho nos olhos, Bruno comenta que ap�s se recuperar 100%, o objetivo � se dedicar se desenvolver mais nesse esporte e, por isso, ressalta a import�ncia de manter o acompanhamento m�dico depois do susto que passou: “O crossfit � fascinante e d� resultados muito bons, mas exige muita aten��o e cuidado, ent�o a ideia � manter um acompanhamento de perto para que eu possa pratic�-lo para o resto da vida”.
Depois da experi�ncia, o conselho de Bruno � que cada um pratique exerc�cios f�sicos com que se identifiquem, para ser algo prazeroso e n�o uma obriga��o, e que procurem profissionais do esporte para o devido acompanhamento.
“� preciso conhecer seu corpo e, ao menor sinal de les�o, � essencial parar, procurar um especialista, investigar, tratar e buscar sempre fazer o exerc�cio da maneira correta, porque isso vai fazer com que voc� ganhe resultados mais positivos � longo prazo. Al�m disso, eu aprendi que n�o adianta querer exigir do seu corpo mais do que ele pode te entregar no momento. Tudo � um processo evolutivo que depende de tempo, depende de cuidado, depende de acompanhamento profissional”, afirma Bruno.
* Estagi�ria sob supervis�o da editora Ellen Cristie
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