
A figura materna � o objeto de fasc�nio de todo beb�, mas, para a psican�lise, a menina se afasta da m�e para que o “�dipo” aconte�a. Tal distanciamento n�o ocorre de forma pac�fica, e geralmente � imerso em hostilidades, contribuindo para que o forte la�o entre m�e e filha trafegue pelo ressentimento, e at� mesmo pelo �dio. Por outro lado, a rela��o com a m�e n�o ser�, de todo, abandonada: ela vai marcar o futuro da menina com o pai, o marido e a maternidade.
Em “Sra. Capa”, drama psicol�gico de estreia de Fabiana C.O, Sol � uma mulher que desde a adolesc�ncia fantasia sua m�e com uma imensa capa vermelha. Entre os sentimentos de amor e admira��o, ela mergulha na pr�pria hist�ria ao se deparar com m�goas ocultas, nunca observadas. A autora explica que a inspira��o para o livro come�ou com a figura da m�e.
“Estruturei a hist�ria por meio do olhar da filha, e de como o uso da capa precisava ser questionado como algo familiar e enraizado nas gera��es. Entendi que para falar sobre capas e afins eu deveria come�ar com o primeiro relacionamento que temos: que � com a nossa m�e”, afirma Fabiana.
Os pilares do livro s�o empatia, amor-pr�prio e consci�ncia sobre sa�de mental e sobrecargas que cercam o universo feminino. � uma obra que oferece ao leitor um relato afetuoso, por vezes dolorido, e joga luz sobre a capacidade do ser humano em ressignificar hist�rias, e partir para uma jornada de autodescoberta.
“Idealizei falar sobre sa�de mental em formato de hist�ria e ‘fic��o’. Quis conectar e trazer a import�ncia do buscar ajuda, de falar sobre, de se conhecer e de entender sobre as capas/m�scaras que usamos ao longo de nossas vidas. Quis trazer o olhar do papel feminino muitas vezes sobrecarregado e que ainda n�o sabe sobre a import�ncia de se conhecer”, comenta a autora.
Em um momento em que nunca se falou tanto sobre sa�de mental, a obra, narrada em primeira pessoa, reflete sobre a depress�o. Para Fabiana, falar sobre depress�o tem sido uma miss�o de vida. “Eu passei por muitas crises desde os meus 15 anos. Posso dizer que experimentei a doen�a e convivi em grau ‘leve’ com ela por mais de 15 anos.”
“Depois que me tornei m�e, percebi que precisava achar a minha cura. Foquei em fazer pelas minhas filhas e por mim. Mas entendi, durante o meu processo, que precisava primeiro me amar e depois amar o pr�ximo. Desde 2016, iniciei imers�es em um curso de desenvolvimento pessoal. J� fazia terapia e estava nessa busca pelo autoconhecimento, e consegui por meio das imers�es conhecer os meus n�s, e ressignificar parte da minha hist�ria e traumas”, explica.
Idealizadora do projeto Eu Posso Ser Voc�, que tem como principal objetivo mostrar a import�ncia do autoconhecimento e amor-pr�prio para mulheres de todas as idades, Fabiana destaca que todos t�m hist�rias e dores diferentes, e � preciso ter um olhar mais humano para nossas trocas e rela��es. “Eu desejo que as pessoas entendam sobre a import�ncia do autoconhecimento, da troca e de tratarmos a depress�o com mais naturalidade.”
Ao ler “Sra. Capa”, voc� tem a chance de identificar a hist�ria das personagens, traumas e tudo que de alguma forma faz parte do ser humano. Entender o processo da personagem principal traz ao leitor reflex�es sobre depress�o e sobre a import�ncia de tratar a doen�a. “Acredito que uma lente para compreender o outro � usada depois da leitura, principalmente com as pessoas mais pr�ximas, em especial com nossas m�es. Costumo dizer que “Sra. Capa” nos faz ter um olhar diferente para o outro. O que muitas vezes julgamos como frescura, entendemos que precisa de aten��o.” Se o leitor tem algum problema, ou conhece algu�m com problema de sa�de mental, com certeza ele ter� uma cabe�a diferente para dar os pr�ximos passos. “O leitor entende que ele n�o est� sozinho e precisa sempre pensar que ajuda profissional se faz necess�ria. Depress�o n�o � frescura. Desejo gritar que por tr�s das mulheres temos dores, capas e temos a necessidade de conex�o”, afirma Fabiana.

Servi�o
Livro: “Sra. Capa”
Autora: Fabiana C.O
Editora: Independente
Pre�o: R$ 39,90
P�ginas: 184