
Um velho vendedor de mel, ateu e anarquista; um menino sem futuro, entregue � pr�pria sorte. A aproxima��o dos dois personagens, em uma amizade improv�vel, � o ponto de partida de “O velho e o menino: O rio”, obra de estreia do escritor mineiro Jos� Carlos Martins, professor de letras e advogado aposentado.
A hist�ria � narrada por Manuel, um imigrante portugu�s com mais de 70 anos, met�dico, franzino e n�o religioso, por influ�ncia do pai, de quem tamb�m herdou a tez morena. Um dia, aparece um menino, sem obriga��o alguma e com acesso livre �s casas dos clientes, que passa a ajudar o velho em sua tarefa di�ria.
Os dois primeiros elementos que intitulam o livro eram desconhecidos, sem nenhuma rela��o de parentesco, mas que tinham algo em comum: ambos rejeitados pela sociedade na qual viviam e ambos amparados pelo terceiro elemento, o rio.
Manuel � rejeitado por ser ateu e anarquista e a crian�a por ser “menino de rua”, como explica Jos� Carlos. “Por n�o serem aceitos pelas pessoas daquela pequena cidade, eu quis um elemento natural para receb�-los e recompens�-los pelo amor que ambos sentiam pela natureza.”
O rio entra em cena para mostrar que n�o � preciso morrer para encontrar alento. “Poderia mat�-los no final da hist�ria e dar-lhes o c�u como recompensa: o autor tem esse poder. Mas era preciso dar-lhes esse conforto aqui na Terra, por isso coloquei o rio para acolh�-los, porque o rio � �gua e �gua � vida”, afirma o autor.
Ambientada em 1970, a narrativa oscila entre presente e passado, ao trazer as recorda��es de Manuel sobre sua inf�ncia e de outros tempos t�o dif�ceis quanto aqueles vividos durante a ditadura militar no Brasil. O autor, assim, faz o leitor refletir sobre o status quo em �reas como pol�tica e religi�o.
Segundo o escritor, foi preciso questionar tantas “verdades” recebidas de gera��o em gera��o. Nascido em fam�lia cat�lica, Jos� Carlos conta que sempre teve quest�es angustiantes e respostas "porque assim � o certo" ou "porque Deus quis assim" nunca o satisfizeram. Por isso, ele criou um personagem velho, ateu e anarquista: “Fiz isso para que, atrav�s dele, eu me perguntasse: ‘Mas � isso mesmo?’. Fiz v�rias perguntas pela boca do velho vendedor de mel.”
INF�NCIA
Como personagens secund�rios, Jos� fez quest�o de colocar v�rios “habitantes pitorescos” de sua inf�ncia, que morreram sem deixar descendentes. “N�o poderia deixar que suas hist�rias fossem apagadas para sempre. Quis coloc�-las no livro para que sobrevivessem ao seu passamento. Alguns eram carism�ticos, outros nos metiam medo, mas os deixei viver eternamente no meu livro”, declara.
“O velho e o menino: O rio” nasce de um conto, “O vendedor de mel”, em uma experi�ncia dolorosa e profunda do autor, que ficou adormecida por uma d�cada. Jos� Carlos comenta que o processo de escrita � como soltar pipa, ou papagaio. “No in�cio, � preciso um grande esfor�o para faz�-la levantar voo, a pipa teima em voltar � terra, mas depois que pega uma rajada de vento, basta dar a ela linha e mais linha.”
“O voo � tranquilo, com alguma turbul�ncia, claro, mas indo cada vez mais alto. Ent�o, no dia em que me aposentei, sentei-me para escrever um conto: ‘O vendedor de mel’. No in�cio foi dif�cil, corri de um lado a outro, sem que a pipa pegasse o jeito de voar, mas depois que levantou voo foi s� dar linha. Acrescentei hist�rias paralelas � principal – dei tanta linha – que acabou virando um livro”, esclarece o professor.
A obra � tamb�m uma homenagem a Jo�o Guimar�es Rosa, leitura di�ria do escritor. “Fiz-lhe uma pequena homenagem, iniciando no pr�prio t�tulo do livro, com a utiliza��o dos dois pontos de que ele tanto gostava.”
* Estagi�ria sob supervis�o da editora Ellen Cristie

Servi�o
T�tulo: “O velho e o menino: o rio”
Autor: Jos� Carlos Martins
P�ginas: 234 p�ginas
Pre�o: R$ 50
Venda: Amazon