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Ter um estilo de vida mais ativo �, provavelmente, um dos mais populares itens da lista de resolu��es de ano novo. Para aqueles que desistem s� de pensar em passar horas suando, um estudo recente traz um incentivo: n�o � preciso muito tempo nem alta performance para colher benef�cios � sa�de. Os pesquisadores n�o sugerem largar a academia nem deixar o clube de corrida. Eles mostram, por�m, que mexer o corpo, mesmo que aparentemente de forma ineficiente, pode levar a resultados surpreendentes.

Na Universidade de Sydney, na Austr�lia, os pesquisadores descobriram que momentos curtos e intensos de exerc�cios inseridos na rotina di�ria, de apenas um a dois minutos, est�o associados a uma taxa menor de mortalidade prematura. A pesquisa � a primeira, segundo os autores, a medir com precis�o os benef�cios da chamada atividade f�sica vigorosa intermitente no estilo de vida, ou Vilpa, na sigla em ingl�s. O artigo foi publicado na revista Nature Medicine.

Trata-se de per�odos muito breves de atividades, de um at� dois minutos, que fazem parte da rotina di�ria, como correr atr�s do �nibus ou brincar de pique-pega com as crian�as. Segundo os pesquisadores, somente tr�s a quatro sess�es de 60 segundos di�rios de Vilpa est�o associadas a 40% de redu��o na mortalidade por todas as causas, incluindo c�ncer, e at� 49% em rela��o a �bitos decorrentes de doen�as cardiovasculares.

"Nosso estudo mostra que benef�cios semelhantes ao treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) podem ser alcan�ados por meio do aumento da intensidade de atividades incidentais feitas como parte da vida di�ria. E quanto mais, melhor", disse o principal autor, Emmanuel Stamatakis, professor de atividade f�sica, estilo de vida e sa�de da popula��o no Centro Charles Perkins da Universidade de Sydney. "Algumas sess�es muito curtas, totalizando tr�s a quatro minutos por dia, podem ajudar muito, e h� muitas atividades di�rias que podem ser ajustadas para aumentar sua frequ�ncia card�aca por um minuto ou mais." O n�vel de atividade f�sica dos participantes foi medido por sensores, aumentando a precis�o dos resultados.

Segundo Stamatakis, pesquisas globais indicam que a maioria dos adultos acima dos 40 anos n�o pratica exerc�cios ou esportes regularmente. Ele diz que o novo estudo mostra como a atividade f�sica incidental, ou seja, n�o planejada, pode trazer benef�cios a essa popula��o. "Aumentar a intensidade das atividades di�rias n�o requer comprometimento de tempo, prepara��o, matr�cula em academias ou habilidades especiais. Trata-se simplesmente de aumentar o ritmo ao caminhar ou de fazer as tarefas dom�sticas com um pouco mais de energia", indica.

Sete anos

Os pesquisadores usaram dados de rastreadores de pulso do UK Biobank, um amplo banco de dados biom�dicos do Reino Unido, para medir o movimento de mais de 25 mil pessoas n�o praticantes de exerc�cios que relataram n�o fazer esportes ou atividades f�sicas no tempo livre. Pelo m�todo, portanto, eles conclu�ram que qualquer movimenta��o registrada nesse grupo era n�o intencional, realizada como parte da vida cotidiana. A equipe, ent�o, acessou dados de sa�de dos participantes, o que os permitiu acompanhar os volunt�rios ao longo de sete anos.

Os resultados indicaram que 89% deles faziam alguma Vilpa diariamente, totalizando, em m�dia, seis minutos. No geral, cada atividade durava cerca de 45 segundos. Os benef�cios � sa�de foram proporcionais a maiores quantidades de sess�es: 11 di�rias associaram-se a uma redu��o de 65% no risco de morte cardiovascular e 49% por c�ncer, comparado a quem n�o registrou nenhum exerc�cio n�o intencional. No caso de quatro ou cinco Vilpas, a mortalidade por essas causas foi 40% e 48% menor, respectivamente. Os autores lembram que o estudo � observacional, ou seja, n�o � poss�vel estabelecer uma rela��o direta de causa e efeito.

Ao comparar as conclus�es da amostra com dados de atividade vigorosa de 62 mil pessoas que praticavam exerc�cios regularmente, os cientistas encontraram resultados similares. Isto �, os benef�cios � sa�de s�o semelhantes para pessoas que se exercitam fazendo esportes ou frequentando academias e para aquelas que se movimentam intensamente em tarefas do dia a dia.

At� 2020, a Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) considerava como exerc�cio f�sico apenas os estruturados (intencionais). Por�m, a comiss�o das Diretrizes Globais da OMS sobre Atividade F�sica e Comportamento Sedent�rio, copresidida por Stamatakis, reconheceu que toda forma de manter o corpo em movimento conta. Al�m disso, foi removida do texto a indica��o de que s�o necess�rias sess�es acumuladas de, no m�nimo, 10 minutos.

"O estudo � observacional. Portanto, sempre h� a possibilidade de causa��o reversa, ou seja, � poss�vel que pessoas com n�veis naturalmente altos de condicionamento f�sico tamb�m exibam outros fatores constitucionais que os protegem de doen�as", observa David Stensel, professor de metabolismo do exerc�cio da Universidade de Loughborough, na Inglaterra, que n�o participou da pesquisa.

O especialista tamb�m alerta que os autores n�o demonstraram que a atividade f�sica vigorosa e intermitente no estilo de vida aumenta a aptid�o cardiorrespirat�ria — um mecanismo potencial para explicar as descobertas. "No entanto, as conclus�es s�o importantes e provocativas e devem estimular mais pesquisas, gerando maiores percep��es sobre os potenciais benef�cios para a sa�de desse tipo de atividade", acredita.

Andar desengon�ado tamb�m ajuda

Andar de um jeito desengon�ado por alguns minutos pode ser mais divertido e levar a um gasto cal�rico mais elevado que a caminhada comum, segundo um estudo publicado na revista The British Medical Journal. Os pesquisadores avaliaram um estilo de andar que ficou c�lebre pela com�dia “Ministry of silly walks”, do grupo Monty Python, uma s�tira � inefici�ncia da burocracia no servi�o p�blico brit�nico. No programa, os personagens Teabag e Putey, interpretados por John Cleese e Michael Palin, se deslocavam de uma forma engra�ada, com golpes de perna para frente e para tr�s.

Glenn Gaesser, principal autor do estudo e pesquisador da Faculdade de Solu��es em Sa�de da Universidade Estadual do Arizona, nos EUA, explica que a ideia de estudar o gasto cal�rico desse tipo de caminhada surgiu do fato de que as taxas globais de sedentarismo n�o sofreram altera��o nos �ltimos 20 anos, apesar das campanhas de est�mulo � atividade f�sica e ao aumento da capacidade cardiovascular. Ele imaginou que um estilo mais divertido e r�pido de exerc�cio poderia atrair pessoas que n�o se sentem confort�veis com as modalidades habituais.

Para isso, realizou testes com 13 pessoas saud�veis entre 22 e 71 anos, que assistiram a um v�deo ensinando a caminhada de “Ministry of silly walks”. Depois, os volunt�rios testaram esse tipo de deslocamento por cinco minutos, percorrendo um circuito interno de 30m. Eles usaram equipamentos de monitoramento que permitiram calcular a velocidade m�dia, o consumo de oxig�nio, o gasto energ�tico e a intensidade do exerc�cio. Surpreendentemente, andar como os personagens da com�dia brit�nica resultou em uma queima de calorias 2,5 vezes maior que a caminhada comum.  

Gasto energ�tico

Os pesquisadores estimam que os adultos podem atingir 75 minutos de atividade f�sica de intensidade vigorosa por semana caminhando no estilo de Teabag — em vez do usual — por cerca de 11 minutos di�rios. Deslocar-se dessa forma de 12 a 19 minutos por dia aumentaria o gasto energ�tico em aproximadamente 100kcal no per�odo. Os ganhos para a sa�de s�o muitos, argumentam, destacando o aumento de aptid�o cardiorrespirat�ria e a redu��o do risco de mortalidade. “Nossa an�lise da energia consumida durante diferentes estilos de caminhada procura estimular as pessoas a moverem o pr�prio corpo de maneira mais en�rgica e, esperan�osamente, alegre”, sustenta Gaesser.