Para enfrentar os problemas, � necess�rio refletir para entender o que est� acontecendo, ser forte para tomar as decis�es necess�rias e sempre contar com ajuda
"Tinha perdido totalmente a minha identidade, chorava todos os dias, eu j� n�o sabia quem era eu. O risco de algo pior era iminente. Eu tinha duas escolhas: continuar como estava ou voar. Pois eu decidi voar"
Katiuscia Le�o, de 42 anos, sex�loga, que acabou se divorciando do marido
S�o tempos dif�ceis e de vulnerabilidade. Estar bem em termos de sa�de passa por sutilezas – h� muito o que faz bem, mas tamb�m os preju�zos podem ocorrer nos detalhes. O ser humano, ao mesmo tempo em que encontra for�a onde n�o parecia haver, � fr�gil.
"Quando pensamos em problemas relacionados � sa�de, tanto a nossa quanto a de entes queridos ou de amigos muito pr�ximos, a impress�o � de que o mundo est� desabando. Perdemos o ch�o, pegamo-nos divagando sobre o futuro, se ele existir� e por quanto tempo", diz a m�dica paliativista da empresa Sa�de no Lar, especializada em home care, Michelle Andreata.
Em momentos de dificuldade, ela ressalta, o medo, a incerteza, a ansiedade e as preocupa��es parecem n�o deixar enxergar as pequenas alegrias do dia a dia, muitas vezes fazendo com que o indiv�duo perca o autocontrole, focando apenas nos problemas. "� nesse per�odo que muita gente encontra e tira for�as de onde nem elas mesmas sabiam que tinham", aponta.
Michelle lembra que a sa�de, ou a falta dela, n�o significa o fim da vida. Pode ser, temporariamente, o come�o de uma nova etapa, de ressignifica��o das coisas, de valores e da melhora do bem-estar, f�sico e mental. "� fundamental termos � nossa volta uma grande rede de apoio, tanto profissional multidisciplinar quanto espiritual, familiar e de amigos. Devemos entender que a pessoa precisa ser ouvida e assistida, e que isso faz toda a diferen�a para que encare a situa��o de doen�a com mais leveza", diz a m�dica.
A vida � finita, mas s� acaba com a morte, acrescenta Michelle. Mesmo em diagn�sticos irrevers�veis ou de dif�cil solu��o, enquanto h� vida h� esperan�a. "Tais dificuldades, sejam grandes ou pequenas, confrontam-nos com frequ�ncia, e a forma como lidamos com isso � que pode fazer a diferen�a. � necess�rio invocar a for�a, a coragem ou a flexibilidade para lidar com problemas previstos e imprevistos."
E realizar atividades que tragam prazer, conversar sobre o que est� acontecendo, sobre outros assuntos que geram alegria, estar ao lado de pessoas queridas, fazer passeios, praticar exerc�cios f�sicos, manter uma alimenta��o equilibrada e sono de qualidade s�o mais indica��es para tornar a crise mais amena. "Tamb�m buscar t�cnicas de medita��o, ioga e respira��o que consigam, de alguma maneira, contornar momentos de mais ansiedade", recomenda Michelle.
Michelle Andreata, de 45 anos, m�dica paliativista
Arquivopessoal
"Tais dificuldades, sejam grandes ou pequenas, confrontam-nos com frequ�ncia, e a forma como lidamos com isso � que pode fazer a diferen�a. � necess�rio invocar a for�a, a coragem ou a flexibilidade para lidar com problemas previstos e imprevistos"
Michelle Andreata, de 45 anos, m�dica paliativista
Crise e reflex�o
A dona de casa e estudante de nutri��o Elisabeth Torres, de 45 anos, � m�e de Vitor, de 21, e Rafaela, de 14. Para ela, uma �poca dif�cil foi experimentada quando o filho mais velho passava pela adolesc�ncia. Entre Beth e o garoto, a rela��o era de conflitos constantes, para ela um fator de estresse e ansiedade extremos, inclusive com quadros de crises nervosas.
A dona de casa conta que, ao espelho da m�e, que em sua cria��o foi muito r�spida, sua rela��o com o filho tamb�m era de rigidez, por mais que tentasse ser flex�vel. E os confrontos e enfrentamentos aconteciam em diferentes situa��es. Para Beth, as atitudes do filho, na verdade, eram espelho de suas pr�prias atitudes – mas s� p�de perceber isso com o tempo.
"N�o tinha autocontrole. Pensava que o problema era com ele. S� depois caiu a ficha. Eu � que precisava de ajuda. Suas atitudes eram reflexos das minhas a��es. Dava dimens�es extremas a coisas que nem tinham tanta dimens�o", relata. E assim ela procurou aux�lio psicol�gico.
Com o tempo de terapia, Beth diz que consegue entender melhor as situa��es vividas, e encara tudo com mais leveza e clareza. "Agora eu paro, observo e analiso minhas pr�prias atitudes. Me conhecer � muito importante. Consigo entender como reajo em cada situa��o, o que me faz perceber como devo lidar frente �s diferentes quest�es. Em mudei, e tudo automaticamente melhorou. Hoje nossa rela��o � de respeito", conta.
Para ela, a li��o que fica � a necessidade de compreender que cada um tem uma personalidade, um jeito de ser, e n�o d� para exigir a perfei��o de ningu�m, como fazia com o filho. "Eu tamb�m n�o sou perfeita. Como crist�, entendo o significado de, de fato, entregar tudo aos cuidados do Senhor, para que Ele me livre das ansiedades. E continuar ensinando aos meus filhos sobre em qual caminho eles devem andar. Agora, levo as coisas mais na brincadeira. Quando o assunto � s�rio, sento e converso."
Perda da identidade
Para a sex�loga Katiuscia Le�o, de 42 anos, mestre em sexologia pela ISEP Madrid, um epis�dio de crise teve a ver com o casamento, que durou tr�s anos. Quando tudo come�ou a entrar em desequil�brio, ela conta que chegou a ficar paralisada, influenciada por est�mulos negativos, com o companheiro fazendo com que acreditasse que n�o era capaz. As crises de choro eram constantes. Ainda no tempo de namoro, lembra-se de que sua inten��o era ter um neg�cio pr�prio, mas depois de casada tudo o que o marido fazia era podar suas vontades e projetos.
"Recebi tantas palavras desmotivdoras que se criaram em mim emo��es negativas a ponto de eu acreditar que n�o daria conta, mas tive for�as para buscar uma psic�loga que me ajudou a reconhecer o meu pr�prio valor e potencial. Em 2017, me divorciei, morando em Arraial D'Ajuda, com uma vida aparentemente tranquila", recorda.
Alguns a julgaram "louca", em suas palavras, sobre a mudan�a de volta para Belo Horizonte, mas o que as pessoas n�o sabiam, conta, � que estava vivendo a vida do outro. "Tinha perdido totalmente a minha identidade, chorava todos os dias, eu j� n�o sabia quem era eu. O risco de algo pior era iminente. Eu tinha duas escolhas: continuar como estava ou voar. Pois eu decidi voar."
Retornou � capital mineira, ent�o, "com uma m�o na frente outra atr�s", como diz, e se lembra das dificuldades. Em 2018, depois de conhecer a forma��o em relacionamento e sexualidade, a identifica��o foi instant�nea, e ela decidiu trabalhar com sexualidade. "Me aperfei�oei fazendo v�rios cursos na �rea. Fui impulsionada a me movimentar e agir na dire��o daquilo que eu queria. O universo � t�o poderoso que colocou no meu caminho as pessoas certas, na hora certa, e as portas foram se abrindo. Hoje, tenho mestrado em sexualidade cl�nica em Madrid."
Para Katiuscia, o mais importante � se conhecer: "Voc� � o que precisa ser, ningu�m � capaz de mud�-la", diz. Para a mulher que est� passando por uma situa��o de abuso a frustra��o � maior, porque aprende desde nova que deve satisfazer o outro. "Todos n�s temos talentos diferentes. Encontre o seu e, quando encontrar, n�o deixe que ningu�m a desanime. Assuma um compromisso com voc� mesma e lembre-se: voc� � a pessoa mais importante da sua vida. Vire o mundo de cabe�a para baixo se preciso, mas n�o perca de vista aquilo que voc� deseja."
Ela aprendeu que s� pensar positivo n�o resolve – colocar no papel, planejar e agir � a postura correta. Para a sex�loga, se n�o tivesse tido a coragem de sair da zona de conforto, enfrentar as dificuldades e os pr�prios monstros e medos, nada teria melhorado. "Hoje, percebo que tudo depende da intensidade do nosso desejo e do quanto acreditamos. Nunca duvide de voc�. O que aprendi com isso? N�o vou mais aceitar que me menosprezem. Sou capaz, eu consigo. Foi o que me ajudou a vislumbrar onde eu poderia estar e como fazer para realizar o meu sonho de ser dona do meu nariz. Se voc� deseja com intensidade, saber� quando uma oportunidade chegar."
Rede de apoio
Josielle Fernandes, de 36 anos, t�cnica de enfermagem
Arquivo Pessoal
"Passar por uma doen�a desse tipo � muito esgotante e desgastante. A gente fica sem ch�o e sem esperan�a por ser doen�a trat�vel, mas n�o cur�vel. Poder contar com a assist�ncia multidisciplinar (...) nos ajudou, a ela tamb�m, a enfrentar tudo com mais serenidade
Josielle Fernandes, de 36 anos, t�cnica de enfermagem, ao relatar os problemas de sa�de da av�
Para a t�cnica de enfermagem Josielle Fernandes, de 36, a perda da av�, que faleceu aos 98, em 2022, depois de passar por cuidados paliativos por seis anos, foi um momento dif�cil. A senhora era portadora de Alzheimer desde antes de 2005. A doen�a foi evoluindo, conta Josielle, e, em 2014, ela quebrou o f�mur, quando o est�gio do Alzheimer piorou ainda mais.
Ao inv�s de lev�-la para o CTI, o geriatra que acompanhava o caso indicou mant�-la sob os cuidados paliativos em um quarto no hospital. � �poca, familiares e amigos foram chamados para se despedir. Em 2017, com alguma melhora, a av� teve alta e passou a receber os cuidados em casa.
"Passar por uma doen�a desse tipo � muito esgotante e desgastante. A gente fica sem ch�o e sem esperan�a por ser doen�a trat�vel, mas n�o cur�vel. Poder contar com a assist�ncia multidisciplinar prestada pelo home care, com equipe de m�dicos, enfermeiros, fonoaudi�logos, nutricionistas nos ajudou, a ela tamb�m, a enfrentar tudo com mais serenidade. Principalmente por ser um momento de falta de esperan�a, de muitas d�vidas e o p�nico em pensar no que est� acontecendo com quem a gente mais ama na vida", relata Josielle.
Para ela, o apoio profissional em casa foi um abra�o naquele momento. "As pessoas que est�o passando por esse processo n�o devem perder a f� e tentar de tudo pelo ente querido. Ter essa rede de apoio foi um cuidado de Deus para n�s. � algo que conforta. E com f�, sempre. Deus nos encaminha anjos", diz.
Seis dicas para encontrar al�vio
1) Procure fazer um pitstop
2) Nos momentos de des�nimo ou cansa�o, com quem voc� pode contar para lhe dar palavras de encorajamento? Que tal combinar uma conversa?
3) Qual lazer voc� poderia usufruir para espairecer?
4) Reflita sobre o momento de crise em que se encontra
5) Procure distinguir as emo��es, a raz�o e o espiritual
6) Busque perdoar-se
Fonte: Marcela Bezerra Dias, psic�loga e psicopedagoga
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