As autoras Bella De Paulo e Wendy Morris perceberam que pessoas solteiras s�o socialmente percebidas como t�midas, infelizes, solit�rias, inseguras e inflex�veis
Renan Brun/Pixabay
Singlismo. Sabe o que �? Voc� pratica ou combate? O termo ganha notoriedade e agita parte da sociedade que se v� afetada pelo simples fato de ser solteira, seja por escolha, op��o ou por circunst�ncias da vida. Mulheres e homens estigmatizados que recebem estere�tipos negativos por n�o viverem um relacionamento carimbado como casal. Embora muitos n�o se familiarizem com o termo, criado em 2005 pelas psic�logas americanas Bella De Paulo e Wendy Morris, o conceito se refere a um fen�meno cada vez mais comum: pessoas solteiras discriminadas por conta do estado civil. Qual � o problema? Por que incomoda tanto?
Em seus estudos, Bella De Paulo e Wendy Morris perceberam que pessoas solteiras s�o socialmente percebidas como t�midas, infelizes, solit�rias, inseguras e inflex�veis. E, claro, se tal condi��o se apresentar depois dos 30 anos, quando a press�o social aumenta, � ainda pior. Alguma d�vida de que para as mulheres o peso da cobran�a � ainda maior e mais estigmatizado?
O singlismo � mais cruel com as mulheres, ainda mais acima dos 40 anos, do que com os homens. O estigma da “encalhada”, “solteirona”, “ficou pra titia” � comum e habitual, assim como a desconfian�a sobre sua op��o sexual, que vira um julgamento. Os homens s�o retratados como engra�ados, potencialmente charmosos, relaxados, vivendo a vida.
N�o � com todo mundo que a conex�o m�gica de amar ocorre e nem � todo mundo que est� disposto a cumprir as diversas exig�ncias
que um casamento pode demandar
Cynthia Dias Pinto Coelho, psic�loga e sex�loga
A mulher que n�o namora, n�o casou ou n�o tem um relacionamento � apontada como solit�ria, mal resolvida, mal-amada, infeliz ou ent�o uma pessoa que s� pensa na vida profissional. Muitas vezes, ser solteira n�o significa uma escolha e ela se v� pressionada a uma condi��o social imposta pela sociedade.
N�o � s� sobre relacionamentos amorosos
O singlismo n�o recai somente sobre os relacionamentos amorosos. Conforme Bella De Paulo e Wendy Morris, o solteiro, em alguns casos, tem avalia��es negativas em outras searas da sociedade. � visto como desajustado, “coitado” e, de novo, paga caro por isso. Basta pensar que muitos benef�cios legais s� se destinam a quem � casado ou tem filhos. Sendo assim, t�m mais dificuldade de comprovar renda, o custo de vida torna-se mais caro, e alguns costumam ser mais solicitados para trabalhar al�m do hor�rio. J� parte dos homens solteiros s�o vistos como cafajestes, descompromissados, irrespons�veis, infantis, incapazes de cuidar de si pr�prios ou "obcecados por sexo".
Cynthia Dias Pinto Coelho, psic�loga e sex�loga, destaca que a cada dia que passa as pessoas se sentem mais livres para fazerem suas escolhas em rela��o ao seu estado civil
Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Cynthia Dias Pinto Coelho, psic�loga e sex�loga, destaca que curiosamente uma quest�o lingu�stica aponta para a diferen�a de singlismo entre os g�neros. “A cultura popular, quando se refere � mulher diz que ela ‘ficou pra titia’, sugerindo uma passividade em seu estado civil, que aconteceu supostamente pela falta de um candidato a marido. J� quando se refere ao homem, a express�o usada � que ‘ele � um solteir�o’, sugerindo uma atividade na escolha de seu estado civil. A diferen�a � sutil, mas o preconceito mora, muitas vezes, na sutileza.”
No dicion�rio
Em 2020, a cantora Lu�sa Sonza se indignou e compartilhou com seus seguidores do Instagram o resultado de uma busca no Google ao clicar “mulher solteira”. Ela se deparou, primeiramente, com o resultado da defini��o do dicion�rio Oxford Languages, um dos parceiros do site de buscas. No caso, o termo seria “pejorativo” e se referiria a uma “prostituta ou meretriz”.
O livro “Singled out: how singles are stereotyped, stigmatized and ignored, and still live happily ever after”, em portugu�s "Segregados: como os solteiros s�o estereotipados, estigmatizados e ignorados e vivem felizes"), de Bella De Paulo, de 2018, da Editora ? Babelcube Inc., lembra que os solteiros est�o mudando a cara dos Estados Unidos. Eles j� s�o 40% dos adultos do pa�s (mais de 87 milh�es de pessoas). S�o divorciados, vi�vos ou sempre estiveram solteiros. Isso significa que j� h� mais lares formados por solteiros morando sozinhos do que lares de pais casados e seus filhos e os americanos passam mais tempo de sua vida adulta solteiros, em vez de casados.
Cynthia Coelho enfatiza que � dif�cil a sociedade compreender e aceitar a solteirice como uma escolha pessoal. “Desde que o mundo � mundo as pessoas s�o criadas e treinadas para o casamento e para a forma��o de uma fam�lia, tanto do ponto de vista social quanto religioso. Os contos de fada falam sobre os pr�ncipes e princesas encantadas, que encontram o amor m�gico e o t�o sonhado ‘felizes para sempre’. Os cantores e poetas sempre recitaram poesias ou cantaram m�sicas sobre o amor perfeito, que acabou por se tornar o desejo de muitos. Mas na vida real nem todo mundo encontra um grande amor, com quem queira dividir a vida at� o fim. N�o � com todo mundo que a conex�o m�gica de amar ocorre e nem � todo mundo que est� disposto a cumprir as exig�ncias diversas que um casamento pode demandar”, explica.
A especialista acrescenta que a literatura e o cinema j� abordaram o tema in�meras vezes em filmes como “O di�rio de Bridget Jones”, “Casa comigo?” e “Os homens s�o de Marte e � pra l� que eu vou”, entre outros. Todos mostram em formato de com�dia as desventuras de solteiras em busca do amor e do casamento. “J� o livro ‘N�o sou feliz, mas tenho marido’ abre um espa�o interessante para a reflex�o acerca do tema. Realmente vale a pena se submeter a tudo para ter um casamento?”, questiona.
“A cada dia que passa as pessoas se sentem mais livres para fazerem suas escolhas em rela��o ao seu estado civil, o que se abre para in�meras possibilidades al�m do casamento. A verdade � que ter um relacionamento amoroso duradouro s� tem sentido se a rela��o realmente for muito boa, trazendo paz, alegria, cuidados e cumplicidade. N�o � a qualquer pre�o nem para prestar contas � sociedade ou � fam�lia que algu�m deve se submeter a rela��es t�xicas ou abusivas, prevalecendo a m�xima do dito popular: ‘Antes s� do que mal acompanhado’.”
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