Luana Martes

Luana Martes admite que adiou o cuidado consigo mesma, ap�s uma gesta��o de g�meos. Resultado: teve endometriose, adenomiose e miomas

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press


A dona de casa Luana Rocha Viegas Martes, de 31 anos, recebeu o diagn�stico de endometriose logo depois da primeira e �nica gesta��o gemelar, em 2019. “Sempre sentia muita dor, bem forte, mas acreditava que fosse c�lica, pr�pria do per�odo menstrual. N�o conseguia trabalhar, n�useas, v�mitos e achava tudo normal. Fui deixando passar. Engravidei e, ao passar por exames mais precisos (j� tinha mioma), o diagn�stico da endometriose foi fechado. Assim que os g�meos nasceram, a dor ficou ainda mais forte, o que me deixava de cama. E com dois beb�s adiei ainda mais o cuidado comigo.”
 
De repente, na corrida rotina de m�e de primeira viagem e de g�meos, Luana se deparou com um caro�o e no ultrassom constatou-se a endometriose, adenomiose e miomas decorrentes da gesta��o. “Enfim, comecei a tratar, depois de enfrentar dor e sangramento que permaneciam o dia todo, o que me levou ao quadro de anemia e fraqueza. Da�, a decis�o m�dica foi pela retirada do �tero”, conta. 
“Farei uma histerectomia, mas antes fiquei livre dos n�dulos da endometriose. Um deles estava do tamanho de uma ma��. Isso em julho de 2022. Preciso me recuperar, porque ainda sinto dor local e o sangramento continua, ainda que menos. Mas todo m�s, j� sei, � incha�o, dor nas pernas e assim sigo.”
 
Na França, entidades e pacientes promovem campanhas ao tratamento de mulheres com endometriose

Em Paris, na Fran�a, entidades e pacientes promovem campanhas para arrecadar fundos destinados ao tratamento de mulheres com endometriose. A faixa diz %u201CEndometriose: vamos sair das sombras%u201D

AFP
 
 
Diante de todo o sofrimento que tem encarado, Luana faz um alerta. “Viramos m�e e nos esquecemos de n�s, n�o pode. Nunca foi uma 'colicazinha'. Fugia dos m�dicos, adiava as consultas e se tivesse enfrentado antes, o caminho seria menos dolorido. Agrade�o a compreens�o e ajuda do meu marido, Wesley, e os meninos, Guilherme e Thiago. S�o um b�lsamo em nossas vidas.”
 

INFERTILIDADE Nas pacientes com infertilidade, a preval�ncia da doen�a � maior, podendo acometer at� 40% das pacientes inf�rteis. “A endometriose impacta a fertilidade da mulher, sendo comum a paciente ter que procurar a reprodu��o assistida para engravidar. Al�m disso, pode ocorrer altera��o da anatomia tub�ria, qualidade ovocit�ria menor (comparativamente �s pacientes sem endometriose) e mudan�as na resposta inflamat�ria endometrial”, comenta �rica Becker, ginecologista, especialista em reprodu��o humana, da Huntington/Pr�-Criar. 
 
“As pacientes com doen�a ovariana (endometriomas) podem ter comprometimento da reserva, podendo precisar de �vulos doados, pela destrui��o progressiva do tecido ovariano. � importante n�o aguardar muito para procurar atendimento especializado. J� pacientes com endometriose sem parceiro no momento, dependendo do grau da doen�a, devem procurar orienta��o para preserva��o de gametas (congelamento de �vulos). � essencial procurar suporte m�dico no diagn�stico para orienta��o e tratamentos adequados.”
 
Quanto aos estudos, �rica Becker conta que as interven��es cir�rgicas t�m evolu�do na tentativa de se preservar cada vez mais o tecido ovariano e as trompas, com foco na fertilidade da mulher. “As cirurgias rob�ticas s�o a �ltima evolu��o tecnol�gica na abordagem da endometriose. A evolu��o das t�cnicas de reprodu��o assistida, do congelamento de c�lulas e tecidos permitem hoje �s mulheres o congelamento de gametas e embri�es para uso posterior.”
 
 

Uma d�cada para ter o diagn�stico

 
Antônio Eugênio Motta Ferrari

Ant�nio Eug�nio Motta Ferrari, especialista em reprodu��o assistida do Hospital Vila da Serra)

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
 
 
C�lica, dor p�lvica, incha�o abdominal, n�usea e fadiga s�o os principais sintomas da endometriose, mas o diagn�stico definitivo pode levar de cinco a 10 anos, segundo estudo de m�dicos do Instituto de Sa�de Materno-Infantil Burlo Garofolo, da Universidade de Trieste e Universidade de Udine, na It�lia. 
 
“O diagn�stico costuma ser tardio, porque os sinais podem ser facilmente confundidos com inc�modos do per�odo menstrual. O quadro pode vir acompanhado de dor durante a rela��o sexual e menstrua��o irregular. � comum ainda mulheres descobrirem que t�m a doen�a cr�nica quando est�o tentando engravidar, visto que a endometriose avan�ada � uma das causas da infertilidade. Exames de imagem e videolaparoscopia s�o os m�todos mais seguros para detectar a condi��o”, explica Ant�nio Eug�nio Motta Ferrari, especialista em reprodu��o assistida do Hospital Vila da Serra.
 

"H� pacientes com grau leve a moderado que t�m dores incapacitantes, o que reflete nas esferas profissional e pessoa"

Ant�nio Eug�nio Motta Ferrari, especialista em reprodu��o assistida do Hospital Vila da Serra)

 
 
Ele acrescenta que o desconforto varia de intensidade e � sempre individual: “H� pacientes com grau leve a moderado que t�m dores incapacitantes, o que reflete nas esferas profissional e pessoal. E h� mulheres com um estado cl�nico severo que n�o sentem dor. Portanto, a abordagem terap�utica dever� ser individualizada”.
 
Para o especialista, os tratamentos mais empregados e eficazes s�o a cirurgia por videolaparoscopia para cauterizar os focos de endometriose e cortar as ader�ncias, uso de p�lula anticoncepcional de forma cont�nua, progesterona oral ou dispositivo intrauterino (DIU) de progesterona.

C�NCER DO ENDOM�TRIO Vale o alerta que a endometriose n�o tem qualquer rela��o com o c�ncer do endom�trio, como enfatiza Ant�nio Ferrari. “A endometriose � uma condi��o benigna que pode afetar mulheres de diferentes faixas et�rias. J� o c�ncer de endom�trio � uma doen�a maligna, mais frequente na p�s-menopausa, cujo sintoma frequentemente � um sangramento anormal.” 
 
De acordo com o Instituto Nacional do C�ncer (Inca), s�o esperados 7.840 novos casos de c�ncer do corpo do �tero (endom�trio) no Brasil para o tri�nio 2023 a 2025, e o diagn�stico precoce � determinante para o sucesso do tratamento. “A ultrassonografia anual da pelve cumpre um importante papel no rastreio de hiperplasias do endom�trio e p�lipos, ou seja, les�es que podem evoluir para um c�ncer”, avisa.